Capítulo 79-Permita-se começar novamente

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DANDARA SCHILLER

Três meses depois...

A parte de trás do meu pescoço dói quando eu movo minha cabeça, tentando aliviar os músculos tensos. Eu coloco meu celular para reporduzir uma música e esfrego meus ombros. Muitas coisas passam por minha mente enquanto eu deixo meu olhar correr por meu quarto, as caixas espalhadas e sem móvel algum aqui. Tomei uma respiração profunda, deixando que a realização fosse tomando espaço. Estes últimos meses tinham sido um turbilhão, toda cidade estava em um alvoroço após a declaração de Wes sobre tudo que aconteceu e a loucura de Peter. E depois disso toda ruindade do maldito louco veio a tona. Dezenas de pacientes revelaram terem sido assediadas e até mesmo violentadas por aquele pedaço de merda que esteve encobrindo seus crimes com a posição no conselho do hospital por todo maldito tempo. E igualmente horrível, ao ser realizado uma busca na casa dele foi descoberto que ele mantinha a própria mãe trancafiada no porão, só a permitindo sair em situações covinientes para manter sua aparência de bom moço. A pobre senhora chorou quando soube da morte do filho, mas não foi um choro de tristeza. Era finalmente sua liberdade, e ela aproveitou para ir embora da cidade no primeiro minuto.

Eu não a culpava. Não mesmo.

Estava difícil morar em St. Augustine nos últimos meses, principalmente se você foi vítima da mente doente de Peter. Se não fosse por Wes eu tenho certeza que a cidade estaria em colapso. Felizmente apesar de ir contra o promotor público, que caiu levando alguns com ele, Wes conseguiu manter seu cargo de delegado da cidade, e eu acho que se ele não estivesse no comando as tragédias continuariam acabando com a magia do lugar.

A população estava polarizada e grupos se formaram após a verdade ter sido revelada. Alguns acreditaram, a maioria na verdade, outros parecem ignorar tudo que houve, mas havia também aqueles que tinham uma imaginação fértil para criar teorias mirabolantes. Esses moradores eram os mais difíceis. Eles parecem não ter noção das próprias ações, de como a mentira contada por eles afetam outras pessoas. Jackson e eu até tivemos que lidar com nossas casas sendo alvo de tentativas de depredação.

Era exaustante lidar com eles.

E esse era o principal motivo de eu estar ansiosa para sair da cidade, apesar de tantas pessoas boas que eu estaria deixando. St. Augustine foi o lugar onde eu busquei refúgio e consegui me reerguer, eu fiz amizades lindas, encontrei meu amor verdadeiro, me reencontrei e tive bons momentos. Sou muito grata por isso. No entanto, quando eu saio nas ruas não é o sentimento de gratidão que eu sinto, e sim o medo. Um pânico que ainda pulsa através de mim como a tensão de uma cerca elétrica. É poderoso e implacável.

Não há como desligá-lo.

Eu posso dizer que sendo filha de um juiz, ser desconfiada faz parte da minha história. Mas eu nunca senti tanta insegurança como sinto hoje em St. Augustine. A morte de Peter deveria ter sido um pano frio em meus nervos, mas ainda sim eu não posso parar o medo porque eu vejo nos olhos de alguns moradores a dúvida, a acusação, o julgamento. Aqueles que me consideram a vilã, que acham que eu trouxe o mal para a cidade. Eles me odeiam. E eu conheço bem o poder do ódio, eu vi o que ele causou em Peter. Eu revivo toda maldita noite, sempre o mesmo. Cada detalhe que me esmaga, que se eu examinar muito de perto, eu vou ser atingida. É preciso um tempo antes de me debruçar sobre eles.

E eu sei que terei um caminho extenso até conseguir enfrentar essas lembranças. Mas eu vou conseguir, não há dúvidas. Jackson está comigo, e ele tem sido tão cuidadoso. Tendo seus braços fortes envolvidos em torno de mim, impedido que minha mente crie buracos dentro da minha alma. Ele é meu homem, meu parceiro e amigo. E não tenho dúvidas que meu destino em St. Augustine era encontrá-lo. Uma história que teve obstáculos iniciais, mas que eu conseguir vencer e agora posso dizer que ele é meu príncipe. Em Nova York nossa história ganhará um novo capítulo, conosco morando juntos e acertados como casal que eu espero que dure por toda nossa vida. Não que ele tivesse falado sobre casamento, mas se o fizesse, eu não diria não. Eu o amava e sabia que era recíproco.

Na batida do teu coração Where stories live. Discover now