Capítulo 21-Quem quer faz acontecer.

801 101 7
                                    

DANDARA SCHILLER

Quando Jackson e eu chegamos na casa de Paxton, a governanta parece estar em um dilema sobre deixar ou não que a gente entre na casa. Por fim ela pede que esperemos enquanto vai chamá-lo. Na sala eu entendo o motivo do comportamento da mulher. Gritos vindo provavelmente de um escritório ecoam por toda a casa.

— Ainda não entendi no que você estava pensando quando agrediu uma médica.— Uma voz furiosa e rouca ruge.
— Foi um acidente. Eu não queria machucá-la. — Paxton respondeu.
— Mas machucou. E agora se prepare porque muito provavelmente o Dr. Fremont irá deixar de tratar você. Eu não o culpo por fazer isso já que você é um risco.— O outro reage, socando a mesa.
— E qual seria o problema, Magno?
— Não me chame assim. Sou seu pai. Tenha respeito.
— Sr. Rossi.  Então, qual seria o problema em o Dr. Fremont abandonar o meu tratamento quando eu já não me importo, Sr. Rossi. Vou virar um vegetal no fim. Você sabe disso. Eu vou precisar de alguém até para limpar minha baba.
— Merda, Paxton.
— Isso! Também vou precisar de alguém para limpar minha bunda.
— Pare de fazer drama! Você perdeu esse direito depois de...
— Depois do quê? Em que ponto perdi o direito de ser dramatico? Depois do diagnóstico? Não, não foi. Então deve ter sido depois que acabei com suas expectativas de assumir a empresa e aumentar a riqueza da família e comecei a gastar dinheiro com um tratamento inútil.
— Não se trata de dinheiro. — O outro diz bruscamente. — É a forma como você lida com isso. Você sabe.

Silêncio. Os dois parecem notar a presença da governanta porque há sussurros em seguida. Então um homem que aparenta estar no meio dos sessenta anos vem nos receber.

— Dr. Fremont, é um prazer revê-lo. —Ele comprimenta.

Os ombros encurvados, a papada sob o queixo e as rugas ao redor dos olhos mostram o peso da idade, mas o homem dentro do corpo em decadência não perdeu ar de uma pessoa impiedosa e implacável. Dá para ver isso em sua boca comprimida e no gelo em seus olhos.

— Eu sinto muito pelo que aconteceu, doutora —Ele olha para minha mão com curativo.
— Esperamos que Paxton também. —Jackson diz.
— Claro. Meu filho está esperando vocês.

Somos guiados para o escritório e foi uma surpresa quando encontrei Paxton com um sorriso breve nos lábios, mas ainda mais quando ele me pediu desculpas antes mesmo de Jackson dizer qualquer coisa. O garoto parece realmente assustado por ter me machucado. E enquanto o Dr. Fremont começa a falar sobre seu comportamento agressivo e que isso pode levá-lo a abandonar seu caso, Paxton me encara com uma expressão de desolamento.

— Se eu ainda estou te dando mais uma chance é graças a Dra. Schiller. Você deve mais que desculpas a ela— Jackson conclui.

Paxton coloca as mãos em sua cabeça, os cotovelos sobre a mesa.

— Eu sei. Eu estou perdido, Dr. Fremont. Vivendo com uma sentença de morte e eu não sei como lidar com isso. Fingir que não sei não está funcionando mais. E eu fico irado toda vez que paro para pensar que não posso mais ter sonhos. 
— Esclerose múltipla não é uma sentença de morte. —Corrigi e Paxton me encarou com o cinismo substituído a confusão e desolação.
— Eu sou a primeira pessoa com EM que você trata, doutora? — Seu tom ainda é o mesmo, sua voz calma, mas suas palavras são cortantes como navalhas.
— Isso realmente importa? Acredito que tenho conhecimento suficiente sobre a doença para afirmar com certeza que  muitas pessoas podem viver vidas perfeitamente normais com isso.

Suas sobrancelhas sobem um centímetro mais alto com isso.

— Só que alguns não são tão sortudos. Não há realmente nenhuma maneira de saber em qual categoria estou.
— Você está certo, só o tempo dirá. E você está concentrado no pensamento do pior cenário, no negativo. Acha que isso ajuda de alguma forma além de tornar sua vida ainda mais deprimente?

Na batida do teu coração Where stories live. Discover now