Capítulo 14- Toda estrada é uma ladeira escorregadia.

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JACKSON FREMONT

Piscar meus olhos não estava funcionando. Ela ainda estava aqui. Eu não estava vendo coisas.

Era realmente ela.

No meu local de trabalho.

Aqueles olhos azuis-glaciais.

A vizinha histérica do outro dia. Dandara Middleton estava sentada na cadeira em frente a minha mesa, parecendo assustada, como se tivesse visto um fantasma.

Se eu a assusto tanto, por que ela continua me perseguindo?

Porque agora essa me parece a única opção. Não existe a possibilidade de acontecer tantas coincidências. Fúria sobe dentro de mim, queimando como ácido
fervente, mesmo quando meu pau fica um pouco mais duro enquanto eu olho para ela ficar de pé. 

— Isso está começando a me preocupar, senhorita Middleton. Estou começando a acreditar que além de criminosa você seja uma perseguidora lunática.
— Eu... ugh. — Ela balançou a cabeça como se estivesse saindo de um torpor e colocou a mão no peito. — Jackson... Fremont. Como eu não liguei o sobrenome?

Meu sangue estava bombeando.

— Qual é o seu problema? O que você está fazendo aqui?

Parecendo perturbada, ela olhou para baixo e ajustou o vestido.

— Eu tenho uma entrevista com o senhor.

Ela o quê?

— Que tipo de jogo você está jogando sua desprovida de cérebro? Será preciso realmente ir à polícia?

Minha fala desencadeou algo nela. A mesma mulher que estava encolhida há alguns segundos endireitou o corpo e olhou para mim.

Inclinando-se, ela levantou a voz. — Pare de me ameaçar ou eu darei uma boa razão para você usar seu conhecimento. Você não me ouviu dizer que eu tenho uma entrevista com você?

O cheiro de algo doce em seu hálito me fez perder a linha de raciocínio por um breve momento. bordo, talvez.

Eu fui rapidamente tirado dessa perda momentânea de foco, quando Geórgia
interrompeu: — Eu não faço ideia do que  aconteceu entre vocês, mas peço por favor que os dois sejam profissionais.

Ela se virou para Dandara.

— Peço desculpas pelo comportamento do Dr. Fremont. E se não se importa, pode nos deixar sozinhos por alguns minutos?
— Claro. — Os olhos de Dandara se demoraram no meu olhar severo antes que ela se afastasse.

Geórgia calmamente se sentou em minha cadeira.
— O que diabos foi isso?

Eu fiz uma careta.
— Eu que pergunto. O que aquela mulher estava fazendo aqui?
— Ela será um ótimo complemento para sua equipe desfalcada.

Meu queixo cai aberto enquanto percebo que esta minha mais nova residente.

Apontando de volta para a porta, gritei: — Aquela mulher? Aquela mulher
não pode ser médica. Ela  é louca e uma invasora. Arrombou minha porta e roubou meu cachorro.
— Bem, você provavelmente deve ter feito algo para merecer. — Ela parecia divertida
com a minha raiva.
— Você só pode está brincando sobre isso.— Comecei a andar, minha pressão arterial subindo. — De forma alguma alguém como ela será uma boa ideia.
— Claro que será. Eu gosto do que vi nela. Acho que ela tem um espírito determinado, e esse é o tipo de energia vibrante que precisamos aqui.

Ela está brincando?

Vibrante.

Para mim, Dandara era como a luz do sol ofuscante brilhando em seu rosto
depois de uma ressaca. Vibrante, talvez mas muito indesejável.

— Ela é uma invasora — Enfatizei novamente.
— Tenho certeza que há dois lados da história. E eu conheço a índole da família dela. Os Schillers são as pessoas mais honestas que já conheci.
— Schiller? Pensei que fosse Middleton. Foi esse sobrenome que ela me deu.
— É Schiller.
— Então ela mentiu. Veja, não posso trabalhar com alguém assim. Não vamos contratá-la.
— Por quê? Nós temos uma posição aberta para a qual ela seria perfeita.
— Ela não seria uma boa opção.
— Isso é besteira.
— Não me dê um tempo difícil, Geórgia. Só não a contrate.
— Me dê um motivo.
— Já dei vários. Ela é mentirosa, louca e invasora.
— Não acho que você está colocando isso no contexto certo. Como eu disse, conheço a família. Você está sendo infantil e usando questões pessoais para castigar a mulher.

Cruzando meus braços, balancei a cabeça em descrença.

— Você não pode decidir isso sozinha. Serei eu o responsável pelos atos dela. Essa contratação precisa da minha aprovação também.
— Ok. Então me dê uma boa razão porque não devemos contratá-la. Ela é perfeita para o trabalho, tem um histórico fantástico, um currículo longo e impecável e ela é capaz de começar imediatamente. Com Dimitria abandonando sua equipe por sua causa e Charles demonstrando vontade de fazer o mesmo em breve, o momento não poderia ser melhor.

Eu solto um longo suspiro derrotado, fechando meus olhos. Não posso acreditar que vou ter que fazer isso, mas não tenho argumentos além dos pessoais.

Quando abro os olhos novamente, Geórgia está olhando para mim com expectativa.
— Oh, tudo bem.

Sorrindo, Geórgia se levantou e colocou a mão no meu ombro.

— Ótimo. Você pode me fazer um favor e pelo menos tentar fazê-la se sentir bem-vinda?
— Não parece que tenho uma escolha. — Suspirei exasperado.
— Vou tomar isso como um sim. Você pode realizar a entrevista para tirar suas dúvidas e explicar como irá funcionar. A decisão da contratação já foi tomada.

Eu corro minha mão pelo meu rosto. Geórgia começa a caminhar para porta quando para com a mão na maçaneta.

— Sabe Jack, eu não vejo você passional assim, por qualquer coisa, há muito tempo. Bem ou mal, aquela mulher acendeu um fogo dentro de você. Isso é bom —  Ela diz.

Cruzando os braços, recusei-me a reconhecer qualquer verdade nessa afirmação, enquanto o calor permeava a minha pele.

— Não seja ridícula.— Eu disse mas no fundo sabia que ela estava certa.

Dandara tinha desencadeado algo em mim. Manifestou-se como raiva do lado de fora. Mas por dentro, parecia uma excitação indescritível. Sim, ela me irritou por invadir minha casa e roubar meu cachorro. Mas a sua maneira de reagir a minha agressividade causou uma impressão maior em mim que não conseguia explicar. Eu não consegui parar de pensar nela toda a noite. Me preocupei que tivesse sido muito duro com ela, e isso não era comum. Nunca aconteceu de eu me arrepender de ter dito algo. Eventualmente, parei de pensar sobre isso, e não tinha pensado nela novamente até agora. E a visão dela fez toda aquela energia bizarra subir à superfície novamente, mais uma vez
expressando-se como raiva em relação a ela.

Mas por quê? Por que eu me importo
o suficiente para deixá-la me atingir?

Sem dúvidas estava relacionado com a noite de sexo que tivemos. Eu tinha demorado muito tentando encontrar
falhas na nossa foda, dizendo-me que não foi tão boa quanto minha mente dizia. Eu só estava em um período de seca  extenso demais então qualquer sexo teria sido o melhor. Mas cada pedacinho desses pensamentos voaram quando eu a encontrei novamente na casa ao lado da minha. Quando a luxúria bateu em mim, eu sabia que menti para mim mesmo a noite anterior e que ela tinha sido, de fato, a melhor noite da minha vida.

E porra, vê-la aqui em meu local de trabalho me irritou ainda mais porque eu não gosto dessa merda em meus negócios. Enquanto eu brevemente contemplava como seria encontrá-la de novo, eu nunca tinha imaginado esse cenário.

Absolutamente impossível.

Eu posso foder uma vizinha. Alguém do meu trabalho jamais.

É uma ladeira escorregadia.

Na batida do teu coração Where stories live. Discover now