Capítulo 50- Você é o bastante.

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DANDARA SCHILLER

Jackson escorrega sentado na cama e eu faço o mesmo, esticando as pernas em seu colo. Os olhos dele estavam mortos na janela à nossa frente, e seu rosto estava angustiado quando começou seu relato.

—  Me diz o que você sabe.

Jackson se inclina um pouco para a frente, escorregando as mãos
pelas minhas panturrilhas. Ficamos os dois acompanhando seus
movimentos, antes que ele levante os olhos devagar para me encarar. Seus olhos não revelam nada além de confiança.

— Não muito.

Começo a recolher os pés para me endireitar, mas suas mãos me impedem, e seus dedos continuam a se mover despreocupadamente pelas minhas panturrilhas, para cima e para baixo.

Eu respiro fundo.
— Lindy me disse que sua família estava todos na casa comemorando algo quando o pai de ex paciente seu invadiu a casa e assassinou brutalmente todos como aviso. Ela disse que ele queria se vingar porque achava que você tinha sido negligente com o filho dele que faleceu, e que até deixou uma frase escrita com sangue na parede desta casa. E pouca coisa mais.

Sua cabeça cai de leve.

— A falta de informação faz fofocas serem inventadas criando um conto de terror pior do que de fato foi. —Ele diz, baixo.
— Ela mentiu?
— Ela distorceu. Não aconteceu na casa tampouco houve frase escrita com sangue. Minha família estavam em uma parte deserta da praia, um área onde poucos frequentavam devido a distância, mas minha mãe gostava muito de lá. Os corpos foram trazidos...

Ele se cala e eu me inclino para a frente, colocando minhas mãos nas suas, entrelaçando nossos dedos.
— Começa do começo. Diz o mínimo
ou o máximo que puder.

Ele respira fundo. Então, fala. Jackson diz que sua mãe ganhou uma promoção e ela quis comemorar na praia. Ele conta como, no começo, não quis participar porque estava muito atarefado no trabalho. Que também estava sob supervisão acirrada por conta do processo movido pelo pai incorfomado de um paciente terminal  que alegava que a morte foi causada por negligência. Ele diz que mudou de ideia de última hora.

— Acho que eu sabia que o dia terminaria com notícias ruins— Jackson diz.— Acho que de alguma forma sabia quando acordei naquele dia que ia ser diferente. Estava tudo estranho e eu mais atrapalhando como nunca estive. Entende? Era como se o universo estivesse tentando mandar a mensagem, ou qualquer bobagem do tipo.

Concordo, compreensiva, embora nenhuma experiência minha pudesse ser comparada a isso.

— Naquele dia, uma infiltração comprometeu meu apartamento. O hospital precisou ser colocado em quarentena por conta do perigo de um vírus contágioso, meu carro quebrou. Tudo estava um desastre. Então pensei que comprar um presente e fazer uma surpresa para minha mãe seria uma momento bom em dia péssimo. Antes de entrar no avião eu recebi a primeira ameaça. Na verdade houve outras ditas em minha presença, mas daquela vez ele me enviou um texto extenso com planos que eu acreditei ser tolo e sem importância.

Ele tomou uma respiração profunda
dentro e para fora.

— Eu tinha acabado de ligar o celular após o pouso quando recebi um vídeo enviado do número da minha irmã. Do outro lado da tela, o homem que vinha me fazendo ameaças estava na praia e tinha… tinha corpos ao seu lado. Três homens e três mulheres e duas crianças…

Ele se interrompe, e eu engulo em seco, assustada.

— Eu reconheci. Eram irmãos da minha mãe e suas esposas e filhos, estavam mortos. Ou pelo menos achei que estava. Não tive a chance de confirmar porque a câmera se moveu para minha irmã, ela estava chorando, apontando para os corpos, toda ensanguentada. Meus pais foram os próximos a aparecer e minha mãe estava em estado de choque. O desespero assim como o terror nos olhos dela era real.

Na batida do teu coração Onde as histórias ganham vida. Descobre agora