. octogésimo quinto ▼ .

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▼ .  « Don't complicate it, don't let the past dictate »-I know you baby.

O meu corpo estava sobre o seu. Ele estava mais quente que o habitual, a nossa pele em contacto podia prova-lo. Os seus rugosos dedos escorregavam pelo interior da minha camisola  –  acariciava a minha pele mesmo que ele também precisasse de um pouco de amor. 

O meu queixo pairou sobre o seu peito. Vi o tamanho do seu espanto quando me encontrou acordada. A minha mão estava sob o meu queixo, sobre o seu peito nu quando suspirei por alguns segundos. O quarto estava iluminado apenas pela brilhante lua que pairava majestosamente no céu. As cortinas continuavam abertas na totalidade oferecendo-nos uma vista que poderia facilmente retirar  o fôlego a qualquer um. 

Movimentei-me sobre ele para conseguir alcançar o seu rosto. Os meus lábios beijocaram o seu queixo forte por segundos indetermináveis, sabia que o acalmava com pequenos gestos como este e gostava que assim fosse.

" Tu devias de estar a dormir, bebé " A sua enorme mão cobriu a lateral da minha cara. Aninhei-me no seu toque doce quando os seus dedos acariciaram as maças do meu rosto. As minhas pálpebras cerraram-se; deliciei-me cegamente com o seu toque. Fiz questão que fosse dessa forma porque recordava-me da voz da minha mãe sempre que dizia: as melhores coisas da vida não estão ao alcance dos nossos olhos. 

Ela estava certa. 

Cobri os seus lábios quando menos esperava. Podia sentir a sua surpresa e achava-a adorável enquanto diminuía gradualmente. As suas mãos rodearam o meu rosto empurrando-me  –  como se fosse uma grande necessidade sua  – contra a sua boca quente. 
Reajustei o meu corpo sobre o seu numa nova e agradável posição, para ambos  – talvez até, mais confortável para ele do que para mim; o importante seria cerca-lo de toda a doçura possível. 

As suas mãos rolaram pelo meu corpo até às minhas pernas articuladas nas laterais do seu torço. Guinchei quando as suas mãos se deslocaram para o meu rabo segundos antes de reverter as nossas posições. A sua gargalhada rouca maravilhou-me  – por mais baixa e rouca que tenha soado, ou talvez por ter sido dessa mesma forma.

Ele estava divertido com a minha reação quando se acomodou sobre o meu corpo e, facilmente, entre as minhas pernas. Os seus dedos cercaram os meus tornozelos forçando-os  – embora que cuidadosamente  – no devido local, lado a lado da sua anca. O seu sorriso era preguiçoso contudo, avassalador. 

Sabia que soaria incrivelmente apática mas ainda assim, murmurei: " tu também ". 

Ele sorriu-me, afetadamente. Os seus ombros encolheram. " Insónias " era a sua explicação e como sempre era breve e básica. 

" Devias falar com ela, estás agitado " 

O seu sorriso desintegrou-se demasiado rápido, quis recuar no tempo  – apenas uns meros segundos  – e conseguir impedir-me de o dizer, mas era a verdade e eu não podia modifica-la.

Decidi remexer nos seus fios de cabelo por alguns segundos; era uma forma de o acalmar a si e à sua mandibula que a cada segundo se forçava horrivelmente. " Ninguém te vai criticar, ninguém o pode fazer porque se tu estás a agir conforme a tua consciência ninguém pode questionar ou difamar as tuas decisões. " 

Pensei que fosse esse o seu grande problema. Harry tentava ser a exata pessoa que todos esperavam e essa não era ele. Ele não é o rude e intocável rapaz que mostra diante das camaras e até de outras pessoas; ele é o doce, cuidadoso e até super protetor Homem que não tinha qualquer motivo para mostrar o que realmente era. 

Entendi que tinha destruído a sua animação por completo quando soltou os meus tornozelos. " Não quero falar com ela, Bárbara " os seus olhos piscaram tão vagarosamente que me possibilitou sentir parte da sua dor. Por mais que a tentasse esconder sob todas as camadas possíveis, eu conhecia-o, conhecia os seus sentimentos e eles para mim não podiam ser camuflados. " Só de me lembrar que está sob o mesmo teto que nós faz-me querer sair para um motel de baixa categoria. " Não pude ver os seus olhos brilhantes por muito tempo quando deixou a sua cabeça cair sobre o meu peito. 

Senti-me culpada pelo seu estado de espirito. Sei que não pensei em algo mais que não o bem-estar da sua irmã mas agora, penso que me devia ter lembrado que o seu bem-estar era o mais importante.  Porque não existia dúvida alguma, ele estava no topo da lista e não sairia.

" O que pode ter sido tão bom para me deixar, sozinho, com aquele homem, bubé? " o desespero encurralado na sua pequena questão fez-me tremer por de baixo do seu corpo. Os meus braços rodearam-no para o apertar contra mim. " Eu pensava que ela ia voltar, a qualquer momento.. " 

" Eu costumava esconder-me no seu guarda-roupa quando chegava da escola, eu chegava sempre primeiro a casa e fazia-o sempre e ela ia sempre lá buscar-me depois do meu pai voltar a sair. Ele nunca ficava connosco durante muito tempo, apenas o suficiente para nos deixar algumas nódoas negras na cara ou no corpo, não importava ele só queria deixar a sua marca " 

Senti pontadas no meu peito ao ouvi o quão fraca e medrosa a sua voz soava. Esta era uma parte sua, o seu passado. E ele assombrava-o e magoava-o demasiado. Fazia dele um pequeno rapaz indefeso e de mim alguém prestes a explodir num pranto de choro. Não podia evitar, eu amava-o, de verdade, e não conseguia ouvir relatos sobre o seu sofrimento como criança sem derramar algumas estupidas lágrimas. 

Apertei-o contra mim. Os seus lábios chocaram contra o meu ombro com os múltiplos beijos que me dava, a sua mão esquerda acariciou a minha perna direita embrulhando-a à volta das suas costas. Questionei-me mentalmente sobre o que estava a fazer mas a sua voz soou impedindo um raciocínio. " Lembro-me que ele descarregava mais na Gemma até uma certa idade. Ela encontrava-me no seu armário, todos os dias. Um dia ele rebentou o seu lábio inferior e abriu a bochecha dela com um simples estalo. Ele usava sempre anéis então o estrago era sempre amplificado por isso mesmo. "As suas ancas pressionaram-se gravemente contra mim e eu tive a resposta à minha pergunta mental. 

Ele não iria conseguir continuar se não tivesse uma distração suficientemente forte que fizesse o seu passado fluir, em palavras, como se se tratasse de uma simples divagação. 

" A Gemma não chorava à minha frente, ela nunca o fazia mas eu sim.. Fazia-o nos seus braços que estranhamente estavam sempre frios como um raio. Ela costumava ficar comigo durante toda a noite, esperava que eu adormecesse.. " A minha cabeça teria rolado se o colchão não fosse já o seu apoio. 

" Sentia-me tão submetido à sua força. Eu não gosto de ser submisso. " Grunhiu, poderosamente. Não pude evitar, as minhas unhas rasparam as suas costas quando se fez audível, mesmo que abafadamente. 

Esta não era a forma mais correta de falar sobre algo que o estivesse a perturbar mas eu tinha a noção que era a única forma de ele realmente chegar a falar sobre o assunto.  

Ele não gosta de ser submisso. Isso não era uma novidade.

" Harry-- " 

Ele interrompeu-me: " Um dia o meu pai chegou a casa um pouco mais furioso e esse pouco mais foi o suficiente para me deslocar o braço com uma vassoura. " Estremeci sob o seu peso. Os meus olhos arregalaram-se brutalmente com o seu desabafo. A risada que soou no segundo seguinte foi seca e inapropriada o que me assustou. " eu nunca tinha ficado tão magoado como naquela noite e o pior de tudo foi que ninguém me veio tirar do armário, a Gemma não apareceu e a minha mãe não podia estar mais longe. Eu continuei à espera, dia trás de dia.. " A sua voz soou mais pesada e rouca contra o meu ombro. " ela não voltou " os seus movimentos cederam. " Ela não voltou e durante esses meses eu aprendi a aguentar a dor física por mais que a psicológica fosse arrebatadora. Anos depois soube que ela estava internada numa clinica de reabilitação, ela era um caralho de uma drogada e eu não a quis ver mais, eu ainda não a quero ver. " 

Um caralho de uma drogada, era assim que ele me via ao início?

N/a: uh,

uh,

uh, 

ok... podem atirar contra mim, isto está uma bosta 

ps: faltam menos de 7 capitulos +/- para acabar

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