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Luna Oliveira

No sábado, logo cedo, alguém bateu na minha porta. Era um vapor do Russo que veio me dar um recado: ele queria que eu fosse a uma festa na casa de um amigo dele hoje. Não entendi imediatamente a razão pela qual ele queria isso, mas depois percebi que era apenas para me provocar.

Gabriela se voluntariou para me acompanhar – ela nem gostava de uma festinha, não é? –, e eu, esperta, aceitei. Não queria ficar sozinha no meio de um monte de desconhecidos que nunca havia visto antes.

— Vem se aprontar aqui em casa, eu empresto uma roupa para você usar. — Ela disse quando contei que a festa começaria no final do dia, perto das sete.

— Tudo bem, passo aí mais tarde, ok?

— Fechado, até depois então. Beijos, linda. — Gabriela falou empolgada e desligou.

Balancei a cabeça, rindo, e fui limpar a casa. Quando finalmente terminei de fazer a faxina e lavar as roupas sujas, já era quase seis horas. Tomei um banho e lavei os cabelos, em seguida, vesti qualquer roupa e preparei uma mochila com as minhas coisas para deixar na casa da Gabi.

Quando cheguei, ela já estava na frente de sua casa, me esperando. Ela começou a me contar que havia separado uma roupa para mim e que eu ficaria linda. Até tentou me convencer a usar maquiagem, mas eu recusei, dizendo que estava indo por obrigação e não para me divertir.

— Mas por que ele insiste tanto que você vá a essa festa? — Gabriela perguntou confusa, terminando de se maquiar. — Não me lembro dele chamar a Ritinha, pelo contrário, sempre levava a chifruda da Carina para os lugares.

— Acho que é para me testar; ele está com raiva por causa do Théo. — Falei enquanto terminava de me vestir. O vestido curto de alcinhas que Gabriela me emprestou era lindo, porém ficou um pouco largo em mim.

— Isso é outra coisa que não entendo. Desde quando as amantes dele são exclusivas? — Gabriela gargalhou, e eu a encarei sem entender. — Com você é diferente, não percebe? Ritinha nunca parou de sair com outros caras, mesmo estando com ele.

— Claro que sou diferente, não estou transando com ele por vontade própria, mas sim para pagar uma dívida. — Dei de ombros. Para Russo, não devia ser diferente; afinal, ele mal me tocava e o sexo entre nós dois era morno e sem graça.

Gabriela não rebateu mais. Depois que terminamos de nos arrumar, subimos para o endereço que ele rabiscou no papel. A casa já estava uma bagunça, com bastante gente do lado de fora e dentro, usando drogas, bebendo e dançando. Bem cheia.

— Vamos pegar uma bebida? — Ela perguntou, desviando de um homem enorme que estava armado. — Aproveitar que hoje é tudo 0800, né, bebê?

Dei risada e a acompanhei até a cozinha, onde tinha um freezer cheio de bebidas. Peguei uma cerveja e dei um gole, observando a movimentação no jardim. Um casal se pegava bem próximo da janela onde estávamos paradas, mas desviei os olhos quando achei que eles iam começar a transar ali mesmo, na frente de todo mundo.

— Eu hein, que depravados! — Gabi comentou, espiando pela janela também.

Tomei um susto quando ouvi uma batida no armário atrás de nós duas. Me virei e encontrei os olhos de Russo em mim, enquanto ele despejava cachaça em seu copo.

— Por que me pediu para vir aqui? — Perguntei a ele, sem entender.

— Porque eu quis, pô. — Respondeu simplesmente e saiu da cozinha.

— Cavalo... — Gabi murmurou ao meu lado. — Vem, vamos lá fora um pouco.

Fomos caminhando até o jardim, que estava ainda mais agitado. Nas mesas, vários grupos de traficantes bebiam e conversavam alto, enquanto algumas garotas dançavam quase seminuas ao redor deles. Algumas pessoas pararam para olhar quando Gabriela passou, certamente encantadas pela beleza da minha amiga, que parecia alheia a tudo.

Sombras do Amor [M]Where stories live. Discover now