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Luna Oliveira

DOIS MESES DEPOIS

Minha vida parecia estar constantemente sem controle, como um trem descarrilhado. Sempre que as coisas pareciam se encaixar e melhorar, algo tinha que dar errado para me lembrar de como eu estava ferrada.

Depois de muita conversa e persuasão, consegui convencer Dona Lúcia a me deixar continuar morando em sua casa, contanto que eu pagasse o aluguel em dia. Um atraso seria o fim do acordo, sem uma terceira chance. Por enquanto, estava garantindo que o nosso combinado se cumpriria abrindo mão da energia elétrica.

Conseguia me virar perfeitamente assim, mas confesso que era um pouco ruim ficar sem luz, principalmente na hora de me banhar em dias frios. Felizmente, a maioria dos dias no Rio de Janeiro era quente, embora de vez em quando tivéssemos uma chuvinha.

Por outro lado, tinha o problema da minha irmã. Ela simplesmente sumiu, desapareceu do mapa, sem dar notícias, não voltou um dia sequer em casa para comer como fazia antigamente. Eu até tentei encontrar pistas perguntando a algumas pessoas conhecidas no morro se alguém a tinha visto, mas ninguém sabia onde ela estava. Parecia que ela nunca existiu de verdade, e no fundo, eu temia que Russo não tivesse cumprido sua parte no acordo.

Suspirei enquanto terminava de vestir uma saia jeans, a mais comprida que encontrei no guarda-roupa da Lara. Era bonita, com alguns rasgos propositais, e ia até a metade das minhas coxas, mostrando um pouco mais do que eu considerava necessário.

— Pode melhorar essa cara de bunda aí, Lua. Vai ser divertido. — Gabi murmurou, sentada no pé da cama.

Eu a olhei com uma expressão entediada enquanto calçava meus tênis. Gabi acabou me convencendo através de chantagem emocional a ir com ela para o baile.

— Não vou me afastar de você nem por um minuto, a menos que você arrume um bofinho. — Ela riu, provocando-me.

— O Russo me disse para não me envolver com mais ninguém, você sabe disso. — Revirei os olhos. Apesar dele nem me dar atenção quando nos cruzamos pelo morro, comecei a suspeitar que ele nem se lembrava de quem eu era, e agradecia por isso.

Talvez ele tenha esquecido do nosso acordo e me deixaria em paz dali em diante.

— É só você fazer no sapatinho que ninguém fica sabendo. — Gabi respondeu, me cutucando na cintura. — E outra, o Russo tem a esquisita da mulher dele, não vai ficar reparando no que você faz.

— Ah, sei lá... — Murmurei meio sem graça. Eu não era do tipo que ficava beijando garotos por aí, especialmente em um baile funk, onde a maioria estava envolvida com coisas erradas.

Assim que fechei a casa, subi com Gabi para a quadra lá em cima. Meu estômago revirava só de pensar na possibilidade de encontrar o Russo lá e ele se lembrar de mim.

— Já aviso que vou chapar até perder o juízo, amiga. — Gabi avisou avisou quando os refletores do baile começaram a se acender na ladeira.

— Cuidado com isso, Gabi. — Alertei-a com preocupação. Gabriela riu, sem dar muita importância, e me puxou para dentro do baile, fazendo meus tímpanos quase estourarem com o som alto.

Minha amiga era muito imprudente, vivia apressada a beça como se cada dia fosse o último. Às vezes eu tentava trazer um pouco de bom senso para sua cabecinha linda, mas era difícil demais.

Sombras do Amor [M]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora