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Luna Oliveira

Acordei com o sol ardendo no rosto, queimando minha pele. Pisquei várias vezes, meio incomodada, resmungando palavras sem sentido enquanto tentava sair da cama. Bebi demais ontem e perdi a noção do tempo; precisava correr para não chegar atrasada no salão.

Senti um peso no corpo e vi o braço do Théo me abraçando pela cintura. Me soltei devagar, para não acordá-lo, e me vesti às pressas com minhas roupas espalhadas pelo chão.

Antes de sair do quarto, agarrei minha bolsa na cadeira e fechei a porta, tentando deslizar pelo corredor sem fazer barulho, mas a mãe do Théo estava no sofá e me viu assim que apareci.

— Oi, Dona Antônia... — Falei sem jeito, o rosto corando de vergonha. — Desculpe sair a essa hora, eu e o Théo...

Tentei me explicar, mas quanto mais eu falava, mais enrolada ficava.

Eu nunca me acostumaria com essa relação meio estranha com o Théo. Ele nunca pediu para namorar, mas agíamos como um casal. Sempre juntos, mesmo sem falar sobre exclusividade, não ficávamos com outras pessoas.

— Calma menina, não precisa ficar nervosa assim. — Dona Antônia riu, bordando seu pano de prato. — Sei muito bem como são os namoricos de hoje em dia.

— Desculpe, tenho que ir. Estou atrasada para o trabalho. — Disse apressada, dirigindo-me à porta. — Até logo, Dona Antônia.

Respirei aliviada ao sair da casa do Théo, mas me assustei ao dar de cara com o Russo na rua, com um fuzil na mão. Ele fez um gesto com a mão e dois caras que estavam com ele seguiram na frente.

Mordi o lábio para não soltar um palavrão.

Tentei descer o escadão fingindo que ele não estava ali, mas Russo me segurou pelo braço.

— Qual foi, hein? De quem é essa casa aí? — Ele perguntou com a cara fechada, parecendo nervoso.

Ele sempre estava assim. Pelo menos comigo.

— Me solta, está me machucando! — Olhei para a mão dele apertando meu braço, que já estava ficando sem circulação de sangue por conta da força que ele aplicava.

— Responde, porra! Quem mora aí? Não dormiu na sua casa por que mesmo? — Insistiu, com os lábios cerrados.

Aquela cobrança sem sentido me irritou. Quem ele pensava que era para ficar bravo comigo por isso?

— Não vou falar nada, Russo. Não é da sua conta onde ou com quem eu dormi. — Respondi no mesmo tom e forcei ele a me soltar.

— Ah, não? Jaé filhona, foda-se, tenho como desenrolar os bagulhos sem você. — Ele começou a andar em direção à porta da casa do Théo. Fiquei imaginando o que a Dona Antônia pensaria vendo o dono do morro indo lá tirar satisfação por minha causa.

Corri para alcançá-lo antes que batesse na porta e segurei seu pulso.

— Para com isso, Russo. — Pedi num sussurro. — É o Théo que mora aí, tá satisfeito?

— Não rela em mim, sua vadia do caralho! — Ele puxou o braço bruscamente, afastando-se do meu toque como se o mesmo provocasse algo de muito ruim nele. — Devia entrar e meter porrada na cara desse filho da puta.

Recuei alguns passos, minhas costas contra a parede da viela. Do meu lado já começava o escadão que dava para a rua debaixo, perto da casa de Gabi.

— Você não pode falar assim comigo... não mais. — Falei magoada, mas firme. Não podia deixar ele voltar a me tratar daquele jeito, como se eu fosse um objeto da sua posse. Ele era casado, cara. Por que não me deixava em paz? — Não tenho mais nada contigo, lembra? Na verdade, nunca tive. Sempre foi por conveniência.

Sombras do Amor [M]जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें