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Luna Oliveira

TRÊS MESES DEPOIS

Acordei com o barulho insistente do despertador tocando. Ainda sem abrir os olhos, estendi o braço para fora da cama e o desativei com um tapa certeiro. Minha cabeça pulsava ameaçando doer; a noite mal dormida tinha um preço a ser cobrado.

— Bom dia, Lua. — Lara falou atrás de mim, parecendo animada. Me virei lentamente no colchão e a encontrei parada na entrada do quarto, já vestida com sua farda do colégio. — Como está se sentindo?

— Não dormi muito bem, mas acho que estou melhor. — Murmurei com a boca seca e me arrastei até a beirada da cama, colocando meus pés para fora enquanto tocava minha barriga, que insistia em ficar embrulhada.

— Se quiser, posso ficar aqui com você. — Propôs, mas eu neguei veementemente com a cabeça. Ela estava toda animada porque hoje teria uma confraternização na escola por conta do feriado de Páscoa que se aproximava.

— Não, você já faltou muito na escola. — Respondi e me levantei, caminhando até o armário para procurar uma roupa. — E preciso ir trabalhar hoje; a Tereza já andou reclamando porque não fui ontem.

— Ah, manda aquela velha chata ir caçar um macho! — Bufou, com raiva. — Será que ela não sente nem um pouco de compaixão pelas pessoas?

— Ela já foi bondosa demais comigo em me aceitar no salão, Lara. — Após colocar a peça de roupa em cima da cama, peguei minha toalha e fui caminhando até o banheiro minúsculo da casa.

Lara seguiu atrás de mim, parecendo inconformada com a minha resposta.

— Bondosa? Luna, ela só te aceitou porque você é boa no que faz e porque não sabia que você estava grávida! — Falou indignada, segurando a fechadura da porta para que eu não a fechasse na sua cara.

— Tanto faz, não deixa de ter me empregado no momento que mais precisei. — Dei de ombros e retirei a mão dela. — Agora vai tomar seu café da manhã, vamos sair daqui a pouco.

Mesmo estando contrariada, Lara fez o que eu pedi, e eu fui tomar o meu banho. A minha barriga ainda estava minúscula, se não fosse a pequena saliência, jamais diriam que eu estava grávida de quase quatro meses.

Alisei minha barriga lentamente, olhando para cada detalhe dela. Não faz muito tempo que descobri a gravidez; para dizer a verdade, isso ainda era uma novidade para mim, e não assimilei direito que teria um bebê daqui a alguns meses e que ele também seria filho do Russo.

Descobri mês passado, quando desmaiei no meio do salão. De primeira, achei que era por conta de não estar me alimentando direito; a correria do dia a dia e as preocupações fizeram com que eu me descuidasse um pouco, mas foi na UBS que me avisaram sobre a gestação.

Um choque, era claro. A última coisa que eu esperava naquele momento era ser mãe aos dezoito anos, ainda por cima de um traficante que certamente estava querendo minha cabeça, isso se ele não estivesse morto. Não procurei saber com as meninas; afinal, se eu queria um recomeço, tinha que deixar para trás tudo que envolvia ele.

Além do banheiro e quarto, nosso barraco tinha um pequeno espaço onde fizemos a cozinha, e entre aqueles cômodos, havia um corredor apertado que mal cabia duas pessoas juntas.

Sombras do Amor [M]Where stories live. Discover now