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Luna Oliveira

— Você está tão para baixo hoje, quase não falou nada o dia inteiro. — Angelique comentou, me olhando com atenção. Estávamos arrumando e limpando as mesas, os clientes já tinham ido embora e os portões estavam meio fechados por ser tarde da noite. — Aconteceu alguma coisa?

— Não, está tudo bem. — Menti, forçando um sorriso. A única pessoa que sabia dos meus problemas no morro era a Gabriela; para o resto do mundo, eu escondia tudo.

— Se quiser, pode desabafar comigo. Às vezes, eu ajo como uma maluquinha, mas sou confiável. — Ela sorriu. Balancei a cabeça e continuei jogando Veja de limpeza nas mesas, esfregando com o pano.

O barulho do meu celular tocando no bolso me impediu de responder. Atendi depois de identificar o nome da Gabi na tela quebrada.

— Já chegou em casa? — Ela falou rapidamente. Sua voz estava um pouco baixa devido aos ruídos da ligação e uma música alta que tocava no fundo, onde ela deveria estar.

— Não, daqui a pouco estou indo. Por quê? — Perguntei enquanto terminava de organizar tudo e me aproximava de Angelique, que estava limpando o balcão de bebidas.

— Estamos tendo uma resenha aqui no bar do Veinho, vem para cá, amiga. — Sua voz estava cheia de animação, e ela riu de algo que alguém comentou.

— Ficou doida? Hoje ainda é quinta-feira, amanhã temos escola. — Rebati, me sentando na velha banqueta do bar.

— Por favorzinho, só está faltando você aqui... — Gabi pediu, num tom de choro. Apesar de tudo, eu era muito grata a ela por insistir tanto em me incluir em sua vida, mesmo eu sempre dizendo que não.

— Ah, não inventa, Gabi. Estou morta de cansaço. Só quero minha cama agora e acordar cedo amanhã para a aula.

Angelique ergueu as sobrancelhas e fez um gesto negativo com a mão, como se me incentivasse a ir para onde quer que Gabriela me chamasse.

— Você precisa se divertir um pouco, está muito caidinha hoje. E tudo por conta daquela garota. — Bufou. — Não aceito recusa, hein! Pelo menos uma cervejinha, amiga, por favor.

Fiquei em dúvida. Queria chegar logo em casa e descansar, mas, inesperadamente, também me peguei desejando ir encontrá-la no bar.

— Tudo bem, mas só vou ficar um pouco, ok? — Respondi e abri um sorriso sincero quando ela comemorou do outro lado.

Desliguei o celular e o guardei no bolso novamente. Angelique olhava para mim com felicidade, pois sabia que eu não era muito de sair.

Mas eu realmente só ficaria um pouco lá e depois iria para casa. Não estava nos meus planos beber nem mesmo uma lata de cerveja, principalmente porque não tinha dinheiro para gastar com bobagens.

— Pode deixar que eu fecho o bar. — Angelique se adiantou, me olhando por cima do balcão.

— Tem certeza, Angel? Eu posso ajudar você a fechar. — Hesitei em aceitar.

— Absoluta, vai lá e se divirta!

Dei um abraço nela, guardei o meu avental no armário dos fundos e aproveitei para buscar minhas coisas.

— Já estou indo, até amanhã! — Gritei da porta e, assim que Angelique se despediu, eu saí de Portuga.

A rua estava deserta, assim como o ponto de ônibus, mas do outro lado da calçada eu já podia ver a contenção da CDD e alguns dos guardinhas na frente. Dei boa noite e passei por eles, caminhando em direção ao escadão que dava para a rua de trás do Veinho.

Sombras do Amor [M]Where stories live. Discover now