𝟶𝟻𝟷

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Luna Oliveira

No sábado, acordei de manhã com a Lara passando mal no banheiro. Ela estava debruçada por cima da privada, vomitando tudo que tinha comido no dia anterior. Além da febre, agora tínhamos que lidar com os enjoos.

Segurei seus cabelos em um rabo de cavalo enquanto ela continuava expelindo tudo, até água.

Shh, vai ficar tudo bem. Estou aqui com você, ok? — Sussurrei, alisando suas costas. Assim que ela terminou, fechou a tampa da privada e começou a chorar sem parar.

Sua pele estava amarelada de um jeito bizarro.

— Por favor, não chore. Eu aguento tudo, menos ver você assim. — Falei com a voz embargada e me sentei ao seu lado, a puxando para o meu colo.

— Só me dá um pouquinho, Lua... está doendo muito. — Ela implorou, tremendo nos meus braços. Em todas as crises, ela pedia para usar drogas.

— Você sabe que não posso. Essa vontade é forte agora, mas vai passar. — Acariciei seu rosto e a fiz me olhar. — Um dia de cada vez, lembra?

Ela concordou bem fraquinho e não mostrou resistência quando a coloquei embaixo do chuveiro morno. Os sintomas da abstinência estavam ficando cada vez piores; talvez fosse melhor levá-la ao postinho.

Sei que a enfermeira me pediria para interná-la em uma clínica de reabilitação, porque lá teriam as pessoas certas para tratar do seu vício, mas aquela opção estava fora de cogitação. Minha irmã ficaria aqui em casa, comigo.

Depois do banho, Lara deitou na cama e voltou a dormir. Dei um beijo no topo da sua cabeça e desci para fazer o almoço.

Daqui a pouco eu teria que sair; fiquei de ajudar o PH a cobrar algumas pessoas do caderninho da boca.

Luna Oliveira: Consegue ficar com a Lara aqui em casa? Ela passou mal agora de manhã, mas está dormindo.
Enviada às 11h18

Fiz arroz, feijão e uma carne cozida com batatas, depois subi para tomar meu banho. Gabriela me respondeu quando eu já estava terminando de me vestir.

Gabizinha 🌻: Consigo sim, tô só terminando de ajudar minha mãe aqui e já vou pra sua casa, beijos amiga!
Recebida às 11h53

Como eu confiava cegamente na palavra da Gabriela, tranquei a porta de casa, coloquei a chave no esconderijo e fui em direção à boca da 13.

— Finalmente a princesa resolveu aparecer, né? — PH zombou assim que me viu chegando. Atrasei só alguns minutinhos, ele que estava impaciente. — Toma aí, se alguém vier de gracinha para cima de ti, atira! — Alertou, me entregando uma pistola.

Foi uma escolha minha não levar armas ou drogas para a minha casa, principalmente por conta da minha irmã.

— Por quê? — Perguntei, observando PH subir na sua moto e eu montei logo atrás, segurando-o pela cintura.

— Porque esses viciados do cacete não sabem receber um não. — PH falou alto e acelerou a moto. — E você está ligada que o bagulho é o seguinte, paga ou morre, não tem historinha.

Era difícil ter que fazer exatamente a mesma coisa que resultou na destruição da minha vida: cobrança de dívida.

PH parou no primeiro endereço e foi o de muitos que viriam a seguir. Era sempre a mesma coisa, a gente entrava na casa da pessoa – se ela não abrisse por vontade própria, nós arrombávamos a porta –, e fazia uma ameaça para que ela pagasse o que devia à boca.

Se não tivesse dinheiro na hora, levávamos todos os itens de valor da casa.

Era perto das 16h quando fomos para o último nome do caderno. PH deu pancadas na porta da frente, era uma casa bem velha de apenas um andar e a laje caindo aos pedaços.

Sombras do Amor [M]Where stories live. Discover now