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Luna Oliveira

Mandela havia dominado a Cidade de Deus por dois longos dias. Quando a facção do Russo se envolveu na história e tomou o morro de volta para o Comando Vermelho, tudo já era esperado por todos. Afinal, Mandela sempre deixou claro que não queria ficar com a CDD; seu problema era diretamente com o Russo.

Agora, quem estava de frente era o braço direito do Russo, o Lui Bala.

Lara e eu tivemos que sair às pressas de lá, no mesmo dia da invasão, visto que estávamos juradas de morte por conta da traição. Por enquanto, mantinha-me escondida em uma pensão no subúrbio do Rio de Janeiro, mas nossas passagens de ônibus para São Paulo já haviam sido compradas desde ontem.

— Não gosto de te ver assim. — Ela comentou ao me encontrar no mesmo lugar, cabisbaixa. A maior parte do tempo, só chorava e rezava para que Deus mantivesse o Russo vivo. O que era uma puta hipocrisia, já que fui eu quem o entregou.

— E como vou ficar, Lara? Olha só o que eu fiz... estraguei tudo, vamos morrer por minha culpa. — Respondi sem tirar os olhos da janela, que estava com a cortina entreaberta.

— Não vamos morrer! — Ela tentou soar confiante, mas notei a sua voz trêmula. Ela estava com tanto medo quanto eu.

— Você não tem noção do que eles são capazes de fazer. — Cutuquei minha cutícula, distraída. — Aquelas pessoas vão fazer de tudo para me encontrar, seja lá onde eu estiver nesse mundo.

— Por que não pedimos proteção para o Mandela? — Lara choramingou, sentando-se ao meu lado. Balancei a cabeça e abri um sorriso triste.

— Prefiro a morte. — Murmurei após soltar um barulho de escárnio com a boca.

— Eu não te julgo pelo que você fez, Lua. — Lara apertou a minha mão. — Você é uma pessoa maravilhosa, jamais faria mal a alguém. Nem quero pensar no que sofreu todos esses anos para chegar a esse ponto.

— O pior de tudo é que eu gosto dele. — Falei, apertando os olhos e depois olhei para cima para evitar começar a chorar de novo. Simplesmente não tinha mais lágrimas para soltar. — Eu acho que amo ele.

Minha irmã me olhou com dó e me abraçou de lado.

— E mesmo que não morra, ele vai me odiar para sempre. — Tampei os olhos com as mãos e voltei a chorar, meus soluços ecoando pelo quarto inteiro.

— Para sempre é muita coisa, não acha? — Lara tentou brincar para amenizar o clima, mas tudo que fui capaz de soltar foi um riso entre as lágrimas. — Não tem nada que você possa fazer?

— Pode até ter, mas não consigo sozinha. — Comentei desanimada, secando meu rosto.

— Eu posso te ajudar, Lua. — Ela falou com os olhos brilhantes.

— Não, você não pode! — Neguei prontamente.

Lara bufou e encolheu os ombros.

— Não existe ninguém, então? — Suspirou.

Parei para pensar e a única pessoa que me veio à cabeça foi o Perninha, ele era amigo do Russo e deveria estar querendo ajudá-lo, mas com certeza não queria me ver na sua frente nem pintada de ouro.

— Talvez tenha, mas primeiro preciso conseguir o número dele. — Murmurei e corri até a minha mala. O meu celular estava repleto de mensagens, principalmente da Gabriela. Sabia que depois da ligação teria que me livrar dele, até porque eles arrumariam um jeito de me rastrear.

Digitei uma mensagem curta para Gabriela pedindo o número do Perninha e ela me respondeu logo em seguida dizendo que iria arrumar. Não sei como ficaria a nossa amizade, depois que eu fosse embora, seria quase impossível colocar meus pés novamente no Rio.

Sombras do Amor [M]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora