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Luna Oliveira

— Vamos sair para tomar um sorvete? O dia está bem quente e bonito. — Comentei, sentindo os raios do sol queimarem minha pele.

Estava sentada próxima à janela, observando a paisagem lá fora.

— Nós temos dinheiro para isso? — Lara me olhou triste. Abri um sorriso e concordei.

Fazer os trabalhos sujos para o Russo não tinha me deixado rica, mas eu ganhava dinheiro suficiente para não passar mais necessidade.

— Sim, não se preocupe com isso. Vem, abriu uma sorveteria aqui perto. — Estendi a mão para ela, que mesmo hesitante se levantou e veio.

Tranquei a porta de casa enquanto Lara enlaçava o braço com o meu e juntas fomos subindo a rua em direção à praça.

— Você não está bem, Lara. — Observei como sua pele parecia cera de tão branca e ela estava apática boa parte do tempo. Estava começando a ficar preocupada com a saúde dela.

— Não esquenta, não sinto nada. — Com certeza, mentiu. Minha irmã era pequena, o rosto lembrava um pouco o meu.

Decidi por hora fingir que não notei nada estranho, mas depois daria um jeito de levá-la até a UBS para fazer um check-up.

A sorveteria nova estava cheia, por isso fiz nossos pedidos e depois fomos sentar no banco da praça. Ritinha estava ali perto com as amigas, e me olhou feio quando notou que eu a encarava. Ela aparentemente nunca superou o Russo, mas não me incomodava mais.

— Gostou? — Perguntei a Lara, que se lambuzava toda com o sorvete de morango, parecendo uma criança se divertindo.

Minha irmã balançou a cabeça, concordando.

Era triste imaginar que uma criança pudesse ter passado por tantas coisas ruins em tão pouco tempo. Lara e eu fomos obrigadas a crescer muito rápido.

— Está muito bom! — Respondeu feliz. E sua felicidade era a minha também.

Ficamos ali conversando sobre amenidades, aos poucos Lara começava a se soltar. Pelo canto de olho, notei um movimento do outro lado da calçada e olhei, infelizmente me deparando com Russo me sinalizando com a mão para que eu fosse até ele.

— Já volto, não sai daqui. — Avisei a Lara e caminhei na direção dele. A tropa que estava junto começou a se dispersar para dentro de um boteco.

— Preciso resolver umas paradas fora do morro. — Falou assim que eu estava próxima o suficiente. — Arruma uma mala, você vai viajar hoje comigo.

— C-como? — Certamente não escutei direito. Russo me olhou com impaciência, bufando. — Não posso viajar, estou cuidando da minha irmã.

— Leva ela também. — Ele falou sem me encarar.

Olhei-o confusa.

— E para onde nós vamos? — A curiosidade era grande. Russo não costumava sair do morro, era procurado pela polícia por seus crimes.

— Macaé, tenho uns assuntos para resolver com o comando. — Explicou sem entrar muito nos detalhes.

Ainda sim não entendia porque ele queria me levar.

— E por que eu? — Cruzei os braços, na defensiva. — Por que não leva um dos seus amigos?

— Coé, você faz perguntas demais, porra! — Ele começou se afastar de mim. — Vou passar no teu barraco às 20h, vamos pegar estrada de noite.

Não tendo outra alternativa, concordei com a cabeça e voltei a me aproximar de Lara, que continuava entretida com o seu sorvete.

— Nós vamos viajar... — Falei simplesmente. Ela me olhou com curiosidade. — Com o Russo. — Completei.

Sombras do Amor [M]Where stories live. Discover now