3

184 39 2
                                    

Enquanto Lívia Chapman e Lou Campbell voavam para New Shore, Sophia Manning abria os olhos no Hospital Geral da cidade, no quarto 109. Acordou sentindo como se seu ombro fosse um pedaço de pedra. Sua mão direita coçava terrivelmente e havia um sabor amargo em sua língua. A garota resmungou, ainda sem entender o que fazia ali, e escutou um barulho à sua esquerda. Quando olhou, viu uma enfermeira rechonchuda colocando uma jarra d'água em uma mesinha.

- Ei – disse Sophia.

A enfermeira virou-se para ela, sorrindo aquele sorriso forçado que parecia ser padrão nos hospitais. Ela possuía bochechas grandes e redondas de castor, como se tivesse dentro da boca duas bolas de beisebol.

- Ei você – disse a enfermeira, aproximando-se da cama. – Que bom vê-la de pé. Quero dizer, não de pé, mas acordada.

Sophia engoliu para se livrar do gosto ruim em sua boca e sentou-se na cama. O motivo de seu ombro direito estar tão duro era a enorme atadura que o envolvia. Lembrou-se do tiro. Havia outro curativo branco e limpo em torno do toco em que seu braço agora terminava.

- É melhor ir com calma – disse a enfermeira rechonchuda.

- Meus amigos vieram para cá? – Sophia perguntou. – Um homem e uma mulher? Eles se chamam...

- Querida, fique tranquila. Se seus amigos vieram para cá, então eles estão sendo muito bem cuidados – Sophia abriu a boca e a enfermeira fez um gesto para ela ficar quieta. – Volto já, está bem? E procure descansar.

Ela foi rebolando com seu corpinho roliço até a porta e parou, virou-se de novo para Sophia e sussurrou como quem conta um segredo:

- Tem um policial aí fora – ela disse. – Quer falar com você, mas vou dizer para ele que você ainda não está pronta.

Deu-lhe uma piscadinha esperta no estilo melhores amigas e Sophia sorriu amarelo. Assim que a enfermeira saiu, a garota usou os dentes para arrancar a agulha de soro fincada em sua mão esquerda – sua única mão, ela ficava lembrando a si mesma – e pulou para fora da cama. O mundo ameaçou girar, e Sophia precisou se apoiar no colchão e fechar os olhos até a vertigem passar. Vestia um daqueles aventais verdes de hospital, aberto nas costas, e sentia o vento gelado que entrava pela janela bater em sua bunda.

Que situação de merda.

Era uma boa forma de definir a coisa. Ainda sonolenta devido ao que quer que eles tivessem lhe dado para dormir, Sophia capengou até a porta e saiu do quarto. Deu de cara com um policial sentado em uma cadeira no corredor, lendo uma revista da National Geographic com dois pinguins na capa. O homem ergueu os olhos para ela e começou a se levantar.

- Você não...

Eu ainda estou dormindo lá dentro.

O policial deitou a cabeça um pouco para a esquerda, testa franzida e boca entreaberta, então sentou-se de novo na cadeira, cruzou as pernas e voltou à leitura. Sophia sorriu.

Era bom estar de volta.

***

Aquele andar do hospital estava praticamente vazio, sem sinal de enfermeiras ou pacientes e visitantes perambulando pelos corredores, então Sophia não teve problemas para ir à recepção. A atendente, que digitava freneticamente no computador, não se deu conta da garota até Sophia se debruçar sobre o balcão.

A Voz da Escuridão.Where stories live. Discover now