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De todas as Coisas Especiais que passaram pela vida de Bernard Chapman, Sophia Manning foi a mais especial de todas.

Quando a conheceu, ele era apenas um estagiário no FBI, trabalhando na Sede em Boston. Aconteceu em uma quarta-feira: naquela manhã, o diretor Harvey pediu para o rapaz ir ao Olimpo, que era como os agentes chamavam a sala da diretoria. Chapman subiu de elevador os dois andares até lá com o coração martelando suas costelas, suando frio e perguntando-se o que Aiden Harvey poderia querer com um moleque que ainda estava longe de terminar seu treinamento.

Parou em frente à porta fechada da diretoria, imaginando Harvey sentado lá dentro como Zeus nas nuvens, com um raio estalando nas mãos e pronto para fustigá-lo. Chapman, ainda com espinhas na cara, vasculhou a cabeça atrás de algo que pudesse ter feito de errado, e não encontrou nada. O que não serviu de muito consolo: deuses não precisam de motivos para castigar os mortais, precisam?

Suspirou fundo e bateu à porta do Olimpo. Harvey gritou para que ele entrasse, e foi o que Chapman fez, sentindo-se mais enjoado do que nunca.

- O senhor me chamou? – não vomite, não vomite, não vomite.

Sentado à mesa do Olimpo estava não um deus furioso, mas um homem de meia-idade vestindo um terno escuro de gravata vermelha e estudando uma pilha de papéis. Harvey ergueu os olhos cansados para Chapman parado à porta e deu-lhe um sorriso.

- Chamei. Bernard, certo?

- Sim, senhor – não me deixe vomitar, por favor, Deus, não me deixe vomitar.

- Prazer em conhecê-lo, filho – disse o diretor. – Chamei você aqui porque preciso usar a sala de reuniões do subsolo. Você é o responsável por ela, correto?

Correto. E responsável também por catalogar todas as armas. E por verificar a autenticidade do crachá de cada agente que parava à portaria. E por organizar e arquivar uma pilha de documentos que daria inveja à Biblioteca Imperial de Constantinopla. Quando você é um estagiário, você apenas aceita o trabalho e fica calado a respeito.

- Sou, sim, senhor.

- Bom. Prepare a sala para mim o mais rápido possível. E vou precisar de um projetor, tudo bem?

Sim, claro, com toda certeza. Naquela época, Chapman queria tanto agradar seus superiores que desfilaria pela faixa de Gaza cantando o Hino dos Estados Unidos da América e balançando um cartaz que dizia "Eu Amo o Presidente Bush", se Harvey lhe pedisse.
Meia-hora mais tarde, a sala de reuniões no subsolo – que nunca era usada para nada – estava pronta. Chapman terminava de fazer os últimos ajustes no projetor sobre a mesa quando o diretor Harvey entrou, acenando para ele e consultando o relógio.

- Eles devem estar aqui a qualquer momento – e olhou em volta, assentindo em aprovação para a sala limpa e o projetor. – Bom trabalho, Bethoveen.

- É Bernard, senhor.

Que fosse. Harvey não parecia nem um pouco interessado em acertar o nome de Chapman. Parecia era nervoso e ansioso, andando em círculos pela sala de reunião e consultando sem parar o relógio. Quando o elevador do andar apitou, o diretor ergueu a cabeça e disse:

- Certo, lá vamos nós.

Chapman ficou na sala, assumindo obediente sua posição ao lado do projetor enquanto o diretor ia receber os visitantes. O estagiário olhou pela janela e viu o exato momento em que as portas do elevador se abriam para relevar um homem alto, vestido em um terno feito sob medida e com cabelos tão brancos que se destacavam na escuridão do corredor. Ao seu lado, de mãos dadas com ele, estava uma garotinha.

A Voz da Escuridão.Where stories live. Discover now