12

236 46 9
                                    

O cheiro de pólvora e fumaça ainda impregnava o apartamento de Jéssica Shepard quando Chapman chegou, uma hora e meia depois de levar Sophia de volta ao hotel. Ele encontrou Grimmes sentado no sofá da sala, uma mão pendendo entre os joelhos e a outra segurando uma bolsa cheia de gelo que ele pressionava contra o alto da cabeça enquanto fazia caretas. A máscara de sangue que antes cobria seu rosto tinha desaparecido, mas sua camisa estava pontilhada de gotas vermelhas. Chapman reparou na Glock que Grimmes deixara em cima da almofada, bem ao alcance dos dedos.

- Grimmes? – chamou Chapman. Ele bateria na porta, se ela não estivesse caída no meio da sala.

Grimmes virou os olhos para ele e acenou, mas não se levantou.

- Oi, chefe.

Chapman entrou. Os dois policiais que ele deixara com Grimmes para fazer a segurança de Jéssica Shepard também se encontravam na sala, e um deles acenou com a cabeça para Chapman. Havia outros três policiais – duas mulheres e um homem – na cozinha, sentados à mesa de quatro lugares típica de um apartamento de solteiro e tomando café com biscoitos. Chapman imaginou que Jéssica deveria ter preparado o lanche, e olhou em volta em busca da garota.

Os sinais do que acontecera há menos de duas horas naquele apartamento estavam visíveis para quem quisesse ver: a estante contra a qual o homem de máscara negra arremessara Chapman continuava no chão onde desabara, formando uma pilha de livros e prateleiras quebradas; o corredor cravado de balas – só então Chapman notava a quantidade de buracos negros na parede, espiando-o como pequenos olhos de escuridão; o banheiro onde Jéssica se trancara, agora aberto e revelando uma pia, o espelho acima da torneira feito em pedaços pelos tiros que vararam a porta. O pior de tudo, no entanto, era a grande mancha vermelha no piso, marcando o lugar onde Watson desabara e quase sangrara até morrer.

Chapman adiantou-se para Grimmes.

- Onde está a garota?

- No quarto – disse Grimmes. Ele retirou a bolsa de gelo, fez uma careta e colocou-a de volta na cabeça. – Acho que está dormindo.

- Tem certeza de que não quer ir a um médico? – Chapman lembrava-se com clareza do barulho que o crânio de Grimmes fizera ao ser golpeado pelo soco inglês. Um crasssssh que significava, no mínimo, uma concussão séria.

- Estou bem. Parece que estão travando a Terceira Guerra Mundial dentro da minha cabeça, mas vou sobreviver. E Yuri?

- No hospital. Liguei para lá a caminho daqui, e ele está na sala de operação neste instante. A bala ficou alojada no pulmão.

Grimmes fez uma careta e, dessa vez, não por causa da dor em sua cabeça.

- Ligou para a família dele?

Suspirando, Chapman fez que não.

- Ainda não tive tempo – nem coragem. – Vou falar com ela agora. Quer vir?

- Claro – Grimmes se levantou, ainda segurando a bolsa de gelo contra a cabeça, e bambeou de um lado para o outro. Chapman agarrou-o pelos ombros e sentou-o de volta.

- É melhor você ficar aqui – disse Chapman, olhando com preocupação para o amigo. – E depois vou levar você ao médico.

- Não acho que seja preciso, chefe. Sério.

- Estou pouco me fodendo para o que você acha.

O garoto abriu a boca para começar a protestar, depois fechou-a.

- Tá, tudo bem – ele concordou, emburrado. – E Sophia?

- Não se preocupe com ela – disse Chapman. – Fique aí e tente descansar. Vou lá ver a garota.

A Voz da Escuridão.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora