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Bernard Chapman: No ano 2000, trezentas pessoas desapareceram nos pântanos da Luisiana. Em 1988, cerca de duzentos desaparecimentos foram registrados no Maine, em um período de cinco meses. Em 78, uma série de assassinatos e sumiços assombrou Maryland. 87 pessoas no total. Alguns corpos foram encontrados em uma igreja abandonada no meio da floresta. Não estavam marcados como aqueles de Fallpound, mas havia semelhanças: dentes e olhos arrancados, por exemplo. 1975, em Virginia; 1967, em Leavenworth. Ninguém nunca notou o padrão.

Justin Pullman: Todas essas pessoas mortas ou desaparecidas ao longo dos anos, e ninguém nunca notou nada? Isso é estranho, mesmo com os intervalos entre uma série de assassinatos e outra.

B.C: Sabe, desde Fallpound, eu me faço todo dia a mesma pergunta: como é possível eles terem assassinado centenas de pessoas ao longo dos anos e não serem pegos? Tínhamos a teoria de que Abukcheech possuía seguidores instalados em lugares estratégicos: políticos poderosos, xerifes, policiais, gente no alto escalão. E que eles encobriam os casos. Mas, na minha opinião, isso é a mais pura besteira. Ninguém consegue abafar esse número de desaparecimentos. Ninguém. Nem se você for a porra do presidente dos Estados Unidos. É simplesmente impossível.

J.P: E o que você acha que realmente acontecia, então?

(Longo silêncio).

B.C: Deixe-me contar ao senhor uma história. Meu único tio por parte de pai morreu quando eu tinha 14 anos. Ele era um bom homem, sempre levava meu irmão e eu para pescar nos fins de semana. Meu tio Oswald trabalhava em uma fábrica de montagem de carros e, juro por Deus, era tão forte quanto o Arnold Schwarzenegger. O cara conseguia me levantar do chão com um braço, e eu nunca fui o que o senhor pode chamar de pequeno. Um dia, de uma hora para outra, ele começou a perder peso. Lembro-me muito bem de como seu rosto parecia mais fundo durante as pescarias, e como ele passou a reclamar de uma dor constante no estômago. Meu pai dizia para ele ir ao médico, mas meu tio o ignorava. Ficava dizendo que estava tudo bem, que estava tudo bem. Repetia essas palavras como se elas fossem um mantra. Ele parecia acreditar que, se fechasse os olhos para o que ocorria, sairia bem daquilo. Não foi o que aconteceu. Meu tio tinha um câncer no estômago que o matou três semanas depois de descoberto.

"Acho, realmente acho, que foi mais ou menos isso o que ocorreu com as pessoas naquelas cidades, enquanto as mortes aconteciam uma atrás da outra. Ninguém precisou esconder nada delas, porque elas não queriam ver. Porque, assim como meu tio, ficavam dizendo a si mesmas que estava tudo bem, que não havia nada de errado, que aquilo iria passar. Bom, às vezes as coisas passam e desaparecem, e, às vezes, elas passam e levam você com elas para a escuridão. Aquilo tudo era tão horrendo que todo mundo preferiu ignorar o pesadelo até que ele acabasse. Abukcheech poderia arrastar alguém pelos cabelos até o meio da praça e cometer um assassinato bem ali, que as pessoas iriam continuar apenas caminhando, assobiando, como se nada tivesse acontecido. Simples assim.

J.P: E como ele era? Abukcheech?

B.C: Os habitantes da tribo indígena o chamavam de demônio da floresta. E, no fim, ele era exatamente isso.

J.P: Vocês o pegaram naquela noite?

B.C: Não. Apenas na seguinte. Naquela noite, voltamos para o hotel, onde estudamos as informações, relemos o caso, etecetera, etecetera. Estávamos todos exaustos e, para falar a verdade, satisfeitos. Tínhamos um suspeito, um nome, um rosto. A tribo nos contara, como eu já disse, sobre um lugar na floresta onde, segundo eles, os Monstros faziam sacrifícios para um espírito ancestral. Então, bom, tínhamos para onde ir em seguida. Só precisávamos traçar um plano de ação. E foi exatamente o que fizemos. Até que os tambores começaram a rufar.

"Aqueles malditos tambores, rufando como se as legiões do inferno estivessem marchando sobre a Terra".


A Voz da Escuridão.Where stories live. Discover now