NI: Esse capítulo não tem música, pois, durante a minha revisão, adicionei algumas coisas e com isso o número de palavras aumentou drasticamente, então estou dividindo o capítulo em três partes.
**
- Vamos, Henrique! – Chamava pela terceira vez, tentando puxá-lo pelo punho.
Os três rapazes do time de futebol pareciam nervosos em ter de esconder algo dele. Mudando o peso dentre uma perna e outra, e Henrique continuava lá, inerte pela conversa. Ah droga! Se mexa.
E lá foi ele, prolongando a conversa, será que ele estava notando algo? Puxei seu pulso novamente, desta vez com mais força.
Arregalei os olhos para um dos rapazes e ele pareceu notar a deixa.
- Cara, sua garota quer te levar para algum lugar, veja só. – Um dos meninos de olhos verdes balançou a cabeça na minha direção.
Enrubesci e sorri em seguida, jogando os cabelos diante do rosto, tentando me esconder de toda e qualquer forma.
Henrique nem me olhou. Será que ele estava desconfiando de algo? Tentando fazer com que alguém contasse algo para ele?
Ele pode ter notado pelo fato de o pessoal ter ficado alheio de ir lhe desejar os parabéns. Mas todos nós havíamos combinado assim, para a surpresa ficar um pouco mais significante.
Henrique continuou a conversar a todo vapor, mas, mesmo assim, sorri para o garoto em agradecimento que me retribuiu com uma piscadela.
Bati o pé no chão, irritada por não conseguir tirá-lo de lá.
Me movi para trás dele, enquanto os garotos olhavam de Henrique para mim, provavelmente tentando adivinhar a tática que eu utilizaria para tirá-lo de lá o mais rápido possível. Já havia sentido meu celular vibrar umas trezentas vezes e nem precisava puxá-lo do bolso para saber que era Cate.
Mexi, com os dedos, nos bolsos traseiros do jeans de Henrique, sentindo seu bumbum por baixo do tecido, mas lá só tinha sua carteira e aquele não era meu foco. Mexi então nos bolsos da frente e encontrei o molho de chaves da moto, puxando-os e deixando em minhas mãos.
Henrique não se moveu. Bufei e joguei a cabeça para trás, ainda irritada.
Segurei as chaves com força e corri o mais rápido possível. Ouvi as passadas de Henrique atrás de mim e sorri, animada pela conquista. Já estava na hora!
Apressei-me e entrei no estacionamento, estarrecida pela adrenalina que se apossou em minhas veias e com um sorriso no rosto. Deixei o papel do capacete sobre a bancada e retirei o meu do compartimento, mas isso serviu para que Henrique chegasse mais rápido até mim.
Senti meus pés abandonarem o chão quando ele me puxou, com um braço só, pela cintura.
Dei risada, ainda mais feliz por ele ter me alcançado. Abanei os pés no ar.
- Pensei que ficaria lá a noite toda. – Resmunguei, beliscando seu antebraço.
- Ficou irritada? – Ele indagou, sua voz se propagando mais alta pelo estacionamento.
Ele me girou no ar, me deixando tonta e soltando minha gargalhada por todos os lados.
- Ai! Estou tonta! – Reclamei quando ele parou, dentre risos.
- Mais do que já é? – Indagou, brincalhão.
Dei uma cotovelada nas suas costelas.
- Me coloque no chão. Estou com fome. – Pedi.
Na verdade, eu queria arrasta-lo para o centro, Cate nos esperaria lá para fazermos coisas durante a tarde, para ocupar Henrique durante um tempo.
Henrique me colocou no chão e puxou o capacete do compartimento, deixando o papelzinho ao lado do meu. Subimos na moto e ele buzinou para os rapazes, enquanto eu agradecia, mentalmente, pela minha louca ideia de chamar sua atenção.
*
Cate nos esperava em um bistrô na área downtown de Alphaville. Nos sentamos nas cadeiras separadas para nós, mesmo com a cobertinha improvisada dava para sentir o ar denso provocado pelo sol que se estendia das pontas finais dos altos prédios.
Cate me olhou de soslaio, olhos repuxados, aquilo significava encrenca.
- Vocês demoraram. – Ela comentou, subindo o óculos escuros pelo nariz até o topo da cabeça.
Henrique pareceu notá-la pela primeira vez, deixando de me olhar.
- Pensei que seria Bruno aí no seu lugar. – Provocou-a.
Ela sorriu amarelo.
- Desculpe te incomodar. Mas acho que não gostaria muito se fosse Bruno, realmente. – Ela disse, tamborilando os dedos sobre o tampo da mesa.
Um rapaz colocou três copos de sucos naturais em nossas mesas. Cate estava aprontando, dava para ver no modo como movia o canudo dentro do copo.
Tudo bem. Ela tinha de entender que não fora culpa minha, mas como eu explicaria agora?! O que ela faria?
Henrique estreitou os olhos, bebericando o suco.
- Não entendi. – Deu de ombros.
- Não iria gostar de Bruno escolhendo roupas íntimas para sua namorada. Ou gostaria? – Indagou, mexendo no lábio com o dedo indicador, fingindo estar pensativa.
Arregalei os olhos. Suei frio. Todas essas coisas que ocorrem quando a ficha de algo estritamente desnecessário lhe cai. Olhei para Cate e ela sorriu para mim.
Ah, aquele era o castigo.
- Roupas íntimas, é? – Henrique indagou, me olhando de soslaio.
Enrubesci, se é que era possível ficar ainda mais vermelha.
– O que estamos fazendo aqui então, Cate? Vamos comprar essas peças! – Ele bateu uma mão sobre a mesa.
Cate sorriu abertamente, ainda mais feliz pela provocação causada. Ela aprontaria mais alguma coisa, tinha certeza disso.
*
Chegamos a uma loja da Victoria’s Secret no centro histórico. Entramos na área refrescante por ar condicionado da loja e uma vendedora pareceu emergir do chão, jogando todo charme possível para cima de Henrique, atrás de mim.
Ele olhava encantado para todas as peças e arqueava as sobrancelhas para os valores.
- Boa tarde! – A vendedora estava animada. – O que vai ser hoje?
Tudo bem, ela não estava perguntando nem para mim e muito menos para Cate, mas sim para Henrique.
Com certeza aqueles músculos delineados escondidos por sua blusa chamaram atenção e ouvi um leve suspirar quando ele levantou os olhos em sua direção. Então aquele tom de verde dificilmente visto também a abalava.
- Vai comprar algo para a mamãe? – Ela indagou.
Entendi o tom de sua pergunta. Ela, na verdade, queria perguntar: “Tem namorada, garanhão?”
- Não, querida. Vai ser para mim mesmo. – Respondi sorrindo e me aproximando, empurrando Henrique para o lado.
Ela me encarou dos pés à cabeça, depois sorriu.
- Ah, sim. Para a irmãzinha. – Ela disse, descarada.
Cate arfou e soltou uma risada irônica.
Henrique ficou quieto me olhando de soslaio. Ele se virou para a garota.
- Não, ela é minha namorada.
Namorada? Namorada, tipo, mesmo? Nossa! Amoleci sobre as pernas e abri um sorriso enorme.
A vendedora ponderou durante alguns instantes. Olhou para mim, outra vez, dos pés a cabeça e olhou para Henrique, demorando mais que o necessário.
Cate deu alguns passos para frente.
- Nos mostre umas peças novas. Já deve saber que o manequim dela é 36, busque lá para gente. – Cate abanou a mão em direção a uma escadaria, fazendo pouco caso.
A vendedora acenou com a cabeça e sumiu, enquanto subia pelo lance de escadas.
- Legal. Vocês gastam muito com essas roupinhas. – Henrique comentou, seguindo a mim e Cate.
Andamos pelos espaços entre as araras com peças íntimas e passamos por uma cortina felpuda e rosa. Chegamos aos vestiários e nos sentamos em um sofá amplo, também rosa.
A garota passou pela cortina com duas sacolas cheias de roupas mínimas. Enrubesci. Henrique não me veria daquele jeito mesmo!
Tirei os sapatos e comecei a mexer no cabelo, jogando-o de um ombro para o outro.
- Adorei essas peças! Quero para mim também. – Cate comentou, puxando algumas delas e as avaliando um pouco.
Se virou para mim, com uma piscadela.
- Venha baby. – Me puxou pelo punho e entramos em um espaço, fechando a cortina atrás de nós. O vestiário era espaçoso, com três espelhos espalhados em ângulos diferentes.
- Você é louca! – Sussurrei puxando um fio de seu cabelo.
- Ai! – Empurrou meu ombro. – Entenda como um passatempo e ele tá adorando a experiência. Está bem animado. – Piscou um olho.
- Saia já daqui. – Enxotei-a com um empurrão.
Ponderei com os pedaços de renda e cetim entre os dedos. E escolhi, com certeza para começar, por uma peça negra. Retirei-a da embalagem lacrada para trocas e a vesti.
Ah minha nossa, quanta pele para fora.
Um sutiã todo rendado deixava meus seios ainda mais redondos. E a calcinha contrastava com meu tom de pele branco.
Puxei a cortina e coloquei a cabeça para fora, procurando por Cate. Henrique levantou os olhos verdes do celular e me fitou com um sorriso travesso.
- Cadê a Cate? – Tentei evitar o tremor em minha voz.
- Ela disse que eu podia fazer a avaliação. – Henrique guardou o celular no bolso e cruzou os braços na nuca.
- Pervertido. – Comentei, me distraindo um pouco da vergonha.
Cate passou pela cortina com a vendedora em seu encalço.
- Ah. Deixe-nos ver. – A vendedora se mostrou mais animada que o normal.
Acenei em negativo. Ergui um dedo e chamei Cate. Esta caminhou até mim e fechamos a cortina atrás de nós.
- Você é muito safada. – Comentei.
Seus olhos desceram para a lingerie.
- Não mostre essa peça de vovó para ele. – Seu nariz enrugado e olhos arregalados.
Dei risada.
- Quero saber a piada. – Henrique falou lá de fora, sobressaltando-me momentaneamente.
- Quietinho aí, senão não verá roupinhas. – Cate esbravejou, se virando para a cortina como se Henrique estivesse ali dentro.
Ele não falou mais nada. Estreitei os olhos para Cate.
- Vai! Deixe de ser tímida! Eu saio daqui, ok? Conversei com a vendedora e isso vai ajudar a atrasa-lo. – Ela prensou as palmas das mãos umas as outras.
Ponderei. Pensando nos fatos e em como o pessoal estava lutando para conseguir o que queríamos bem rapidamente, muito em cima da hora.
Henrique era meu namorado, agora.
- Estão atrapalhados, lá? – Indaguei, puxando outra peça de renda.
- Estão. Você fica aqui dentro um pouquinho, enquanto ligo para o Bruno e Eliot e depois vamos comprar as roupas e você compra algum presente para ele. – Sussurrou, entregando-me uma peça rosa-clara e preta.
- Tudo bem. – Revirei os olhos. – Mas, isso é por ele, entendeu? – Indaguei, empurrando-a para fora.
- Aproveita, tá? – Cate indagou e sabia que estava dando uma piscadela para ele ao passar.
Vesti-me com uma peça com as bordas de renda rosa-clara. Um fio, bem no centro, ligava a parte superior à calcinha.
Dois fios pequeninos se amarravam nas laterais para segurar a calcinha.
Meu coração estava acelerado, soltei os cabelos para frente dos ombros.
Coloquei a cabeça no espaço da cortina e encarei Henrique. Minhas mãos estavam trêmulas, mas ao vê-lo estas sensações de nervosismo se dispersaram.
- Vem cá. – Chamei movendo o indicador para frente e para trás.
Ele se levantou com um sorriso transcorrendo em seus lábios.
Ele chegou perto e seu cheiro invadiu minhas narinas, um cheiro limpo, másculo. Abriu a cortina, sem tirar os olhos dos meus e a fechou atrás de si.
Naquele momento eu quis descobrir quanto Cate tinha dado para a pobre vendedora.
Só então os olhos de Henrique desceram por meu corpo. Meu coração acelerado, minhas pernas trêmulas e um calor enorme. Um desejo subindo por tê-lo tão perto, com tão pouca roupa. Senti seus olhos pousarem em meus seios mais rechonchudos. Em minha barriga lisa. Por minhas pernas torneadas e voltarem o trajeto, até estarem em meus olhos.
Passei os dedos por seu ombro, sorrindo.
- Diga algo. – Pedi.
Seu sorriso se alargou e suas mãos se instalaram no meu quadril, apertando-o de leve. Arfei.
- Você é linda de qualquer jeito, mas está gostosa agora. – Deu uma piscadela e meu sorriso aumentou.
Seu rosto se abaixou e se esfregou contra o meu. Esfregou o nariz, testa e por fim lábios.
Sua língua entrou em contato com a minha instantaneamente. Nossos lábios se trombavam, enquanto nossas línguas se tocavam. As mãos de Henrique desceram para o topo do meu traseiro, apertando-o com as pontas dos dedos. Passei os dedos pelos seus ombros e desci por seus braços, acariciando um pouco.
Aquela distração estava bem... interessante.
Ele me empurrou para trás, até que minhas costas quentes tocassem o espelho gelado em contraste com seu corpo. Gemi. O beijo ficou mais firme, com mais propósito. E Henrique começou a vasculhar minha boca com sua língua ágil. Apertou meu quadril com o seu, mostrando o tamanho do seu desejo por mim. Virei a cabeça para o lado contrário da sua, buscando mais facilidade. Sua língua passando pela minha, o som do nosso beijo se soltando daquele contato. Suas mãos agitadas, apertando, esfregando qualquer ponto de pele que ele sentisse.
Ele parou o beijo e passou os lábios nos meus, instigando-me para mais perto e se afastando de forma erótica. Seus dedos começaram a passar por todas as bordas da lingerie. Sorri, sentindo o calor de sua pele contra a minha.
Me decepcionei enquanto tentava alcançar sua boca para beija-lo novamente. Para mostrar para ele o tamanho do meu desejo. Ele me deu um beijinho e afastou o rosto me olhando de perto. Suas mãos pressionaram as laterais dos meus seios e fechei os olhos. Fui carregada por um arrepio gostoso, um líquido quente emergindo de entre minhas pernas.
Suspirei, notando onde estávamos.
- Acho melhor pararmos. – Disse quando ele começou a passar a língua pelo meu pescoço. – Henrique.
Puxei os fios do seu cabelo, tirando sua língua da minha pele.
- Já viu a lingerie e está ótimo. – Argumentei, sorrindo.
- Tudo bem. – Ele acenou com a cabeça, ainda pressionando o corpo contra o meu.
Sorri, sentindo-o cada vez mais próximo. Nosso calor percorrendo o ar ao nosso redor e arfei. Estava complicado para respirar.
- Para já com isso. – Disse olhando profundamente em seus olhos.
Vi alívio lá. Assisti a uma porção de cenas que se passou por minha mente. Vi felicidade composta por desejo retribuído. Vi dor. Vi piedade. E vi agradecimento. Assisti a tudo isso e meu coração se apertou.
Preciso fazê-lo feliz, pensei. Preciso fazer com que se sinta bem. E não estava fazendo aquilo direito. Meu coração estourou, espalhando seu sangue por dentro. Engoli em seco, tentando, a qualquer custo, reprimir aquele incômodo estranho na garganta.
Toquei minhas mãos em seus ombros e comecei a empurrá-lo delicadamente em direção à cortina. Antes que ele fechasse a cortina, Cate atravessou o caminho, sorrindo.
Seus dedos se fecharam em torno do braço de Henrique.
- Vamos garanhão. – Disse brincalhona.
Henrique se despediu com uma piscadela. Correspondi e fechei a cortina em seguida.
Apoiei minhas costas contra o vidro gelado do espelho e fechei os olhos, respirando fundo.
Senti a presença de Cate e abri os olhos. Um sorriso travesso ocupava seus lábios.
- Se troque, precisamos passar em casa agora. Vai dar tempo. – Cochichou. – Me traga as peças que vai levar.
Enruguei as sobrancelhas. Aquilo tudo não era para dar tempo de arrumarem tudo?
- Temos que ir com o plano até o final, baby. – Sorriu, fechando as cortinas diante de seu rosto.
Tirei as peças, as dobrei colocando-as dentro dos saquinhos de troca e vesti minhas roupas. Sai com os dois pares que escolhi e Henrique já estava de pé com os meus sapatos em mãos.
Estendi as sacolinhas para ele e me apoiei em seu ombro, enquanto calçava os sapatos.
Henrique abaixou o rosto e me deu um selinho. Tão delicado ao ponto de me libertar de todo e qualquer pensamento péssimo a nosso respeito.