Apenas Meu

By mjesssilva

295K 21.1K 1.8K

APENAS MEU - SÉRIE APENAS - LIVRO 1 Agatha Salazzar é incomum e carrega segredos em sua mala mental. Ela... More

Prólogo
Capítulo 2:
Capítulo 3:
Capítulo 4:
Capítulo 5:
Capítulo 6:
Capítulo 7:
Capítulo 8:
Capítulo 9:
Capítulo 10:
Capítulo 11:
Capítulo 12 (parte 1):
Capítulo 12 (parte 2/3)
Capítulo 12 (parte 3/3):
Capítulo 13:
Capítulo 14:
Capítulo 15:
Capítulo 16:
Capítulo 17:
Capítulo 18 (parte 1/2):
Capítulo 18 (parte 2/2):
Capítulo 19:
Capítulo 20:
Capítulo 21:
Capítulo 22:
Capítulo 23:
Capítulo 24:
Capítulo 25 (parte 1/2):
Capítulo 25 (parte 2/2):
Capítulo 26:
Capítulo 27:
Capítulo 28:
Capítulo 29:
Capítulo 30:
Capítulo 31:
Capítulo 32:
Capítulo 33:
Capítulo 34:
Capítulo 35:
Capítulo 36:
Capítulo 37:
Capítulo 38:
Capítulo 39:
Capítulo 40:
COMUNICADO.
Capítulo 41:
Capítulo 42:
Capítulo 43:
Capítulo 44:
Capítulo 45:
Capítulo 46:
Capítulo 47:
Epílogo:
Agradecimentos:

Capitulo 1:

14.8K 635 88
By mjesssilva

Oi, gente! Vcs vão notar que coloco uma música a cada início de capítulo, vou tentar colocar o link das respectivas canções aqui do lado, ok? >>>> Aí (se vcs quiserem) podem escutar enquanto leem, espero que gostem, beeeijos ;*

*

If you're trying to find pity, then you need to look somewhere else cause I surely can't help you. I'm hurting myself. I've turned into someone else.
Se você está tentando achar compaixão, então você terá que procurar em outro lugar porque eu certamente não posso ajudar você. Eu estou me machucando, eu me transformei em outra pessoa. (Someone Else – Miley Cyrus).

O vendedor da enorme frota de veículos de São Paulo não havia mentido sobre a velocidade da BMW S1000RR. A moto deslizava pela pista asfaltada de Alphaville com uma leveza absurda, e eu não estava correndo apenas porque estava atrasada para o encontro com Catherine Rabello e Bruno Guimarães – meus melhores amigos desde sempre – no apartamento que dividiríamos, presente de nossos pais por temos sido aceitos na Jimks, mas também porque queria correr dentre o sol que emergia dos topos dos prédios. Nossos pais se tornaram próximos devido a nossa amizade de vizinhos e eles sempre estavam juntos quando o assunto era nós três, ou eventos beneficentes e afins.

Cheguei ao edifício enorme com vidros reluzentes, o sol batendo em sua superfície. Parei a moto em um estacionamento adequado para a mesma e caminhei até o hall de entrada usando o capacete, enquanto admirava a escadaria e os portões automáticos de entrada para a garagem. O peito alto de um segurança tomou forma diante de meus olhos e ergui o rosto para fitar o seu.

- Por favor, rapaz, retire o capacete. – Pediu olhando impacientemente em direção ao meu visor.

Ah, merda. Ele pensava que eu era um garoto. Talvez pelo coturno, calça negra e jaqueta de couro ou pela moto. Ou por toda a junção.

Então, como pedido, tirei o capacete e soltei meus longos cabelos negros e lisos. Ele engoliu em seco e se mexeu desconfortavelmente sobre os pés olhando diretamente para meus olhos verdes. Estava vendo meu reflexo pequeno refletir nas lentes de seus óculos escuros.

Dei um sorriso de canto de boca, tentando dizer que já estava acostumada com aquilo e que não precisava se envergonhar.

- Desculpe, senhorita. – Ele se redimiu mexendo os braços, nervoso. – A Srta. mora por aqui mesmo? Ou veio fazer visitas?

- Meus amigos e eu estamos nos mudando. Viemos dar uma olhada no apartamento. – Disse olhando a altura arquitetônica atrás de seu grande corpo.

- Ah, sim. É só seguir em frente, madame, e desculpe pelo mal entendido. – Ele abriu caminho dando um passo para a direita, ainda me olhando com um pedido de desculpas nos olhos.

- Imagine. – Dei de ombros, sorrindo em agradecimento e seguindo pelos degraus que me levaram para o hall de entrada com dois elevadores. Algumas portas de vidro estavam dispostas em um corredor adiante.

- Senhorita... – O porteiro deixou a frase no ar.

- Salazzar. Agatha Salazzar. – Completei o espaço deixado.

Ele revirou algum tipo de lista no computador e me estendeu uma única chave. - Você já sabe o andar, não é mesmo? – Respondi com um aceno em positivo e agradeci, enquanto seguia até o elevador e subia até o décimo andar.

Encontrei uma porta vermelha com os números do apartamento que dividiríamos, o elevador se fechou atrás de mim e fez uma descida silenciosa.

Coloquei a chave na fechadura e abri com um impulso. A felicidade transbordando em minhas ações... meu sorriso desapareceu de súbito, o apartamento estava vazio. Com o assoalho ressecado e não laminado como havíamos planejado. As paredes estavam com partes brancas aqui e ali. As janelas solicitadas não estavam postas. E o balcão que havíamos escolhido não estava no local de costume. Havia peças de construção jogadas pelo apartamento.

- Agatha! – A voz estridente de minha melhor amiga me chamou sobre o ombro. Virei-me e encontrei seus cabelos loiros claros emoldurando seu rosto e seus olhos verdes. Um sorriso largo iluminava sua face redonda com as maçãs levantadas. – O que houve, baby? – Indagou com o apelido que sempre utilizou comigo.

- Não arrumaram a merda do apartamento. – Bruno notou, ao longe vi seus ombros despencarem em desapontamento. Seus olhos azuis reluziram em minha direção com alguns fios de seus cabelos castanhos descendo livremente por sua testa bronzeada. – Oi, docinho. – Me cumprimentou e se curvou dando-me um beijo no rosto.

- Ah! Meu planejamento de filmes foi por água a baixo. – Exclamou Cate apoiando uma mão em meu ombro. – O que faremos?

- Eu não faço a mínima ideia. – Respondi dando de ombros, mas Bruno já estava ao celular assentindo rigorosamente.

- Sem tempo determinado? Não, aguardamos sim. É, precisamos que comecem amanhã. Exato. Isso, passaremos todos os dias para ver os resultados. Obrigado. – Encerrou a chamada com um toque na tela touch de seu celular.

- E então? – Suspirou Cate, dramática como de costume.

- Eles disseram que precisamos arranjar um lugar. – Bruno deu de ombros, guardando o celular no bolso de sua calça jeans.

- Ah, mas que merda! Pagamos tudo direitinho e demos todas as coordenadas. – Cate exclamou.

- Nós poderíamos ir lá para a casa dos meus pais, mas não vou me sentir realmente confortável. – Dei de ombros, eu disse a eles que queria desfrutar de minha liberdade e por isso eles aceitaram – juntos aos pais de meus melhores amigos – em comprar o apartamento para nós. Não poderia simplesmente mudar de ideia e ir para trás com a promessa que fiz diante deles.

- Já sei. – Cate disse puxando o celular de sua bolsa enorme e roxa. – Como não pensei nisso antes?

- Não me diga que vamos passar um tempo indeterminado na casa de Eliot com aquele primo mala dele! – Bruno explodiu apontando o dedo para Cate que o olhou intrigada.

- Tem um lugar melhor, inteligência? Tire esse dedo da minha cara! – Reclamou dando um tapa na mão estendida de Bruno.

- Oi, Liot! Não tem como você vir agora, amor. É, aconteceram uns problemas. Como adivinhou? Estaremos aí em alguns minutos. – Ela terminou a conversa e desligou a chamada.

- Estão cheios de telefonemas hoje. – Notei arqueando as sobrancelhas.

- Me responde uma coisa. – Pediu Cate, fiz um gesto com a cabeça, fazendo com que a mesma continuasse. – Aquela moto preta enorme é sua?

- É a cara dela. Você nem parece melhor amiga dela. – Resmungou Bruno passando o braço sobre meus ombros, aconchegando-os em seu calor caseiro.

- É sim, Cate. Posso levar você para dar uma volta. – Dei uma piscadela.

- Odeio o perigo que aquilo apresenta, mas parabéns pela aquisição.

- Que gentil de sua parte. E aí? Para onde vamos? Pela conversa já temos um destino final. – Eu indaguei.

- Ah sim. Eliot disse para passarmos os dias por lá. – Ela deu de ombros.

- Não vou dormir naquele sofá de novo. – Bruno tremeu o corpo com repulsa. Levantei o rosto e o olhei, tentando entender a situação. – O amigo de Eliot leva as meninas para lá e com certeza transa em cima daquele sofá.

- Ele não transa no sofá! – Catherine o defendeu. – Ele tem tipo um quarto de hóspedes em que faz isso.

- Tentou, mas não conseguiu tornar as coisas melhores, Cate. Já estou com nojo dele. – Torci o nariz.

Sempre tentava me manter afastada deste tipo de rapaz, pois o mesmo me lembrava de um passado nada gracioso para minhas lembranças.

- Ele é um cara legal. – Ela o defendeu novamente dando de ombros.

- Com as garotas que ele não transa e com rapazes. – Bruno disse apertando meu ombro.

- Então ele foi legal com você? – Indaguei erguendo uma sobrancelha.

- O que? Não! Mas também não foi arrogante, como as pessoas dizem que é, só não gosto dele. – Bruno deu de ombros.

- Vamos! Liot está esperando. – Cate reclamou enquanto rebolava até a porta por qual entramos.

 - Imagine? – Bruno começou ainda com o braço em torno de meus ombros. – Tempo indeterminado, docinho! Ficar enfurnado com um cara que come alguma garota todos os dias e um casal apaixonado, enquanto coraçõezinhos estouram em volta de ambos.

Eu ri, à medida que imaginava cada uma das cenas mencionadas. Era incrível como ele conseguia me fazer sorrir nos momentos em que queria entrar correndo em um túmulo ou na foça mais próxima.

*

Estacionei minha moto novamente naquele dia, mas agora ela estava em um estacionamento reservado do edifício em que Eliot morava.

 Esperei Bruno e Cate descerem do porsche que estavam dividindo, e pendurei o capacete no antebraço, enquanto seguíamos em direção ao elevador. O ar ficou tenso no interior do mesmo até o instante em que as portas se abriram outra vez, liberando nossa saída. Parei subitamente ao notar um hall com uma única porta, a decoração era branca e neutra. Catherine tocou a campainha e aguardou.

Bruno parecia pouco a vontade com a situação, mas já estava um pouco conformado com um hall pessoal. Pois havia apenas uma porta, que, com toda a certeza, dava para apenas um apartamento.

Eliot abriu a porta com um sorriso pendendo em seus lábios e Cate jogou seu corpo contra o do mesmo que a abraçou pela cintura erguendo seus pés do chão. Eu tinha de concordar que desde quando nos mudamos para São Paulo e ambos se conheceram, fizeram muito bem um ao outro.

 Eles pararam com os beijos desconfortáveis e Eliot nos fitou com os olhos claros como seu cabelo. A pele bronzeada entrava em destaque com a blusa branca que cobria seus músculos.

- Oi, pessoal! – Ele cumprimentou deixando a porta mais aberta para que entrássemos. Assim que o fizemos, Cate já estava sentada no sofá com as pernas esticadas mexendo freneticamente no botão do controle remoto.

A sala era enorme e dava para fazer uma festa de arrombar ali. Dava para ver outra sala por outra porta. Havia um corredor adiante e um atrás de mim. E uma cozinha a nossa esquerda com o mesmo tipo de balcão que havíamos escolhido, era tudo formal demais, mas desorganizado, talvez pela estadia de dois rapazes. Olhei em volta perplexa com todo aquele espaço e com a decoração cara.

- Sintam-se a vontade.  – Ele disse.

- Ah! – Cate pareceu se lembrar de algo e virou-se com olhos meigos na direção de Eliot. – Você poderia ir buscar nossas malas no carro de Bruno lá embaixo? – Ela perguntou mexendo na gola de sua blusa.

- Dê-me as chaves, chantagista. – Ele brincou dando um beijo leve em sua boca.

Após Bruno entregar as chaves e Eliot sair, Cate veio em nossa direção e pegou em minha mão me puxando em direção ao corredor que eu estava fitando sem parar. – Vamos, vou mostrar o quarto que vocês irão ficar.

- Ah, a gente pode dormir no sofá. – Eu propus em uma tentativa de não incomodar os donos da casa.

- Ah, você não quer dormir no sofá mesmo! Aquele garoto deve trazer todas para esse sofá. – Bruno dizia enquanto nos seguia.

- Tudo bem, Bruno. Já saquei sua repulsa por este cara, estou quase te acompanhando. – Brinquei enquanto era puxada por Cate.

Ela passou por três portas e abriu outra revelando um quarto com cama, duas poltronas, closet e TV LCD.

- Aqui é o quarto de hóspedes.

- Você. – Eu comecei apontando para minha melhor amiga. – Não sabe mesmo informar seus amigos mais próximos. O cara é rico?

- Acho que é bem óbvio. – Uma voz que eu não conhecia murmurou atrás de nós.

Só eu me virei em um pulo. Naquele momento, ao ver aqueles olhos verdes, eu soube que era o rapaz que Bruno tinha raiva e nojo.

- Olá, visitante. – Ele disse erguendo uma sobrancelha negra em contraste com sua pele branquinha. Seu cabelo era bem cortado e rente à cabeça, mas ainda era possível notar que os fios eram negros como os meus.

Seus ombros eram largos e, mesmo com a polo azul-escuro, dava para notar seus músculos esguios extensos.

Fiz um meneio com a cabeça correspondendo ao seu cumprimento.

- Oi, Bruno. – Ele disse e desviou os olhos na direção do mesmo com uma mão estendida em sua direção. Bruno, hesitantemente, deu um aperto na mesma.

- Oi, Henrique. – Ele respondeu.

- Oi, Cate. – Ele cumprimentou e se abaixou para dar um beijo no rosto da mesma.

Ele se virou e meus olhos abaixaram para seu traseiro. Esta parte do corpo sempre chamou minha atenção e sem vergonha alguma eu fitei aquele musculo bem duro, pois mesmo com o jeans dava para notar.

- Quer um babador? – Cate sussurrou em meu ouvido.

Ri e dei um tapa em seu ombro. – Quieta.

- Ah, você não vai querer ele e eu não vou deixar ele te usar como faz com todas. – Bruno ergueu uma sobrancelha e entrou no quarto sentando-se confortavelmente na cama.

- Você sabe que faço a mesma coisa com muitos, Bruno. – Declarei a mais pura verdade.

Fazia aquilo há muito tempo. Não estava em um relacionamento sério e nunca quis estar. Nunca encontrei alguém que realmente valesse a pena e nem ficaria esperando de braços cruzados e com um “x” entre as pernas e na boca. Gostava dos rapazes e não me privava de uma diversão.

- Relaxe vocês dois. Que saco! – Cate esbravejou e abriu a porta do closet se perdendo no corredor com diversas portas.

- Cate? – Eliot chamou com três malas em mãos e claro, a maior era a vermelha, a mala de Catherine.

- Oi, amor! Pode trazer as malas. – Gritou ela do closet.

Eliot soltou a mala vermelha no chão e saiu andando com as demais até o closet.

Fui até o closet com o intuito de arrumar as coisas. – Não vamos passar muito tempo aqui, Liot.

- Imagina, Gata. O tempo que precisar. – Ele disse e tocou meu ombro e mencionando o apelido que... conquistei com o tempo.

- Vai ser um prazer te hospedar, visitante. – A língua de Henrique acariciou as palavras atrás de mim. Me virei e fitei seus olhos.

- Muita bondade de sua parte. – Soltei um sorriso amarelo. Ele ergueu uma sobrancelha com um braço apoiado no batente da porta do closet.

- Estou com fome. – Bruno informou quebrando o elo que havíamos formado.

- Ah, eu e a visitante podemos ir comprar algo para comermos. – Henrique disse estendendo uma mão em minha direção.

- Eu tenho nome, Henrique. – Disse cruzando os braços sobre os peitos e recusando sua mão estendida.

- Ainda estou com fome. – Bruno disse novamente.

- Também estou, Gata. – Cate reclamou atrás de mim.

- Peçam algo por telefone. – Eliot deu de ombros.

Henrique levantou os olhos do meu rosto e fitou Eliot com uma sobrancelha erguida, conversando por uma troca de olhar, como todos os amigos faziam.

- Vocês podem ir buscar algo pra comer. – Eliot reformulou a proposta.

- Vá com Bruno. – Eu sugeri e dei de ombros.

- Não, visitante, quero ir com você.  – Henrique disse.

Repentinamente agarrou meu pulso e passou a me arrastar pelo quarto. Tentei fincar os pés no chão, mas era impossível resistir a sua força. Ele me arrastou de tal forma até chegarmos ao corredor.

- O que? Me solta! – Exclamei puxando meu braço com força.

- Ah não, visitante. Vamos comprar comida juntos. – Henrique informou sem aliviar a pressão em meu pulso.

Finquei meus pés no chão com mais força e Henrique voltou o corpo em minha direção, quase fazendo com que caíssemos juntos, um em cima do outro.

- Tudo bem, eu solto seu braço. – Ele disse e cumpriu com as palavras. Mesmo feliz achei estranho que ele – se mostrando tão teimoso – fizesse o que tinha pedido, abri e fechei os dedos aliviando a dor.

De repente, Henrique sumiu diante dos meus olhos e logo depois vi suas costas. Ele segurava minhas pernas, enquanto meu quadril estava posicionado em seu ombro direito. Ergui o rosto fazendo com que o coque de meus cabelos se soltasse e formasse uma cortina em volta do meu rosto.

- Bruno! – Gritei. – Manda ele me colocar no chão.

- Nem tente, Bruno. – Henrique interrompeu os movimentos do mesmo apenas com as palavras.

Soquei suas costas com as mãos.

- Que mão delicada. – Brincou. Ele parou e se virou para olhar para as três pessoas risonhas atrás de nós. – O que vão querer?

- Uma pizza. – Cate escolheu por todos.

- Tudo bem, nós vamos andando. – Ele disse e se virou novamente seguindo o trajeto até a porta.

- Você quis dizer que você vai andando! Quero andar também, oras.

- Você não queria andar ainda a pouco, visitante. – Disse, enquanto passava pela porta e fechava ela com a outra mão. Como ele conseguia me carregar de tal forma? Com apenas um – forte por sinal – braço?

- Já disse que tenho nome, porra! – Esbravejei e chutei o ar.

Notei quando ele se esquivou de minha perna e trocou o peso sobre as suas.

- Seu nome é porra? Que deselegante da parte de seus pais. – Ele brincou.

- O que? – Indaguei parando meus movimentos. – Não. Não disse que esse é meu nome.

Já estávamos no elevador com o ar congelando minha barriga a mostra.

- Ah, então tudo bem, visitante. – Ele concordou saindo pelo elevador e entrando na garagem.

- Vai me chamar assim pra sempre? – Indaguei sentindo meu corpo relaxar em seus braços. O que era estranho, só me sentia à vontade nos braços de meu pai ou de Bruno.

- Propondo uma eternidade comigo? – Ele perguntou e pude ouvir um sorriso em sua voz.

Só então me dei conta do duplo sentido daquilo que dissera. Enruguei a testa e fechei os olhos.

- Ah não, merda. – Reclamei. – Vamos de carro?

- Quer carro ou moto? – Ele perguntou cético andando bem devagar pela escuridão da garagem.

- Tem os dois? – Perguntei incrédula.

- Mas é claro.

- Quero a minha moto. – Frisei as palavras.

- Uau, me convidando para um passeio? – Perguntou desviando o foco da conversa.

- Você é muito irônico. – Exclamei frustrada.

- As meninas costumam me chamar de gostoso, nunca ouvi ninguém me chamar assim.

- É claro! Você só deve comer elas e bye, bye. – Exclamei dando de ombros.

- A gente costuma conversar. – Ele deu de ombros e em um floreio elegante me colocou levemente em pé no chão.

 Ajeitei os cabelos apressadamente e abaixei a ponta da jaqueta de couro, até cobrir a barra do jeans. Um bip soou e ele puxou dois capacetes de uma caixa de ferro acima de nossas cabeças, estendendo um para mim.

- O que, por exemplo? – Perguntei retornando ao assunto e esperando que o mesmo retirasse a moto da garagem. E que bela moto, negra e quase parecida com a minha, talvez um modelo mais antigo.

- Onde moro e que vamos vir de carro e logo depois de todos os murmúrios e gemidos eu as dispenso. – Ele deu de ombros dando partida na moto.

- Não vou sentar aí. Quantas vadias já devem ter ido aí. – Disse enrugando os lábios para o assento.

- A única pessoa que sentou neste banco foi Eliot, e ele não é parecido com uma vadia.

- Nunca trouxe nenhuma garota em motos para cá? – Perguntei olhando diretamente para seus olhos com um ar divertido. – Está brincando, não é?

- Claro que não, esta daqui é o amor de minha vida, só levo pessoas importantes aqui.

- Tipo, quem você quer comer, por exemplo. – Dei um sorriso amarelo cruzando os braços.

- Daqui a pouco Cate te liga reclamando. – Disse e cruzou os braços, impaciente.

- Vou com a minha moto. – Disse dando passos para trás.

 Sua mão foi mais rápida e agarrou meu pulso novamente. – Você é irritante quando me pega assim. – Movi o pulso que ele agarrava.

Ele ergueu uma sobrancelha e com a ponta da língua umedeceu os lábios. Ah, duplo sentido. De novo.

- Vou confiar em suas palavras. – Desviei a conversa.

- Assim que se fala, visitante. – Disse e mais uma vez acelerou a moto, enquanto eu me sentava e cruzava os braços.

Ele acelerou e freou bruscamente, o que fez com que meu peito fosse de encontro a suas costas e eu fosse obrigada a abraça-lo, enquanto minhas coxas cercavam as suas.

- Agora está melhor. – Murmurou e senti seu peito vibrar com as palavras.

A viagem passou rápida, pois o mesmo corria muito na estrada. O que se comparava comigo, mas não estava como motorista, então me sentia em risco.
A moto parou abruptamente fazendo com que nossos corpos se colassem mais – se é que era possível.

Henrique desceu da moto e tirou o capacete. – Já volto, tá?

Segurei seu capacete e permaneci sentada.

Depois de alguns minutos ele voltou com três sacolas. Franzi as sobrancelhas tentando entender a situação que estava vendo com meus próprios olhos. Uma garota morena e de pele bronzeada vinha rebolando atrás dele. – Visitante, você pode levar?

- Ah, não mesmo. Foi você quem propôs para virmos buscar a comida e praticamente me obrigou. – Teimei com ele, enquanto olhava a garota mascar o chiclete com a boca aberta. Nojento demais.

- Faça isso por mim. – Ele disse tocando uma mão na outra, em forma de reza.

- Você não fez o que eu pedi pelo caminho, não vou fazer um favor para você, Rick. – Teimei mais um pouco, usando um apelido desta vez, vi suas sobrancelhas se enrugarem e um sorriso de canto surgir em seus lábios. Será que nunca ninguém o chamou por um apelido?

- Ah, faça favor! Anda logo, está preocupado porque vai ter de comer sozinho? – A garota atrás dele perguntou como se estivesse falando com um homem. Já estava acostumada com aquilo, então deixei que acreditasse. Henrique ergueu uma sobrancelha sem entender as falas da garota.

- Com licença, a conversa ainda não chegou ao seu patamar. – Disse e me virei para Henrique. – Ah, então você não leva nenhuma na moto, não é mesmo?

- Não, nós vamos andando. – Ele disse pegando a mão da garota atrás de si.

- E vai deixar sua moto aqui? – Perguntei e retirei o capacete, desfazendo o coque frouxo e deixando minhas madeixas caírem lisas sobre meus ombros. Os olhos da garota se esbugalharam sem entender. Pendurei os dois capacetes e tomei as sacolas das mãos de Henrique.

 – Leve a moto. – Pediu atrás de mim.

- Não mesmo. Eu disse que queria vir com a minha. – Disse sem parar de andar e dando de ombros, com um sorrisinho interno me preenchendo.

- Deixe, amor. Ligue para seus seguranças. – A voz ronronante da garota pediu e eles estavam andando atrás de mim, pois podia escutar as batidas dos saltos da garota contra a calçada comercial de Alphaville. – E ela só está preocupada porque foi trocada. Também, se vestindo de tal forma.

Parei abruptamente com os passos, o que fez com que a garota trombasse em minhas costas e desse passos vacilantes para trás em uma tentativa de se fixar nos mesmos. Me preparei para responder algo a altura. Eu sempre conseguia humilhar as pessoas com as palavras, um de meus defeitos, mas que eu enxergava como qualidade.

Engoli em seco e me virei, sabendo que não valeria a pena.

Segui até o apartamento ouvindo murmúrios e beijos estalados atrás de mim. Uma ótima primeira noite em Alphaville.

Continue Reading

You'll Also Like

545K 55.3K 84
🚫DARK ROMANCE - HARÉM REVERSO🚫 ▪︎ Se você é sensível a esse conteúdo NÃO LEIA! Eu fugi dos meus companheiros. Eu lutei para que eu pudesse fica...
25.9K 2K 22
𝗠𝗜𝗔 𝗩𝗘𝗥𝗦𝗧𝗔𝗣𝗣𝗘𝗡 é conhecida no mundo todo por ser irmã mais nova do famoso piloto Max Verstappen. Um dia, a convite de seu irmão, ela vai...
72.7K 8.8K 21
Camila é uma jovem que depois de terminar seu relacionamento, resolve curtir a vida sem se importar com nada e após uma louca noite de curtição, sua...
133K 11.8K 33
Amberly corre atrás dos seus sonhos em outro país deixando o passado pra atrás e ainda frustada com o término e a traição do ex que ficou no Brasil...