Niterói fica foda pra caralho no pôr do Sol.
— Vou te levar pra um lugar maneiro, sempre vou pra lá quando preciso pensar.
— Falei pra minha mãe que ia chegar em casa antes das duas da manhã... - sorri - E o Sol quase tá nascendo de novo!
— Qualquer coisa fala que tá comigo! - e acabamos rindo em descontração.
— É, com certeza adiantaria muita coisa! - mexi os ombros e deu um tapa nas costas dele.
Soltamos do ônibus, andamos umas três ruas pra frente, no frescor da madrugada.
E ele me olhava como se eu fosse tudo, menos, qualquer uma. Era como se ninguém estivesse em volta, somente nós.
— É aqui, praia de Itacoatiara! - abriu os braços na direção do mar, deu uma risada, depois me olhou.
— Ótimo lugar pra se poder pensar. - abracei meu corpo quando o ventar da maresia me alcançou.
— É sim! Eu te disse. - sussurrou e foi andando pela areia em direção ao mar.
Tirei os tênis e cravei os pés na areia, fechei os olhos e senti aquela sensação do abraço da natureza. Fazia um tempo que eu não parava pra apreciar nada, já que tudo me irritava e tomava meu tempo.
— Fala sério! Aqui é lindo! - falei baixinho pra mim mesma e fui andando mais de pressa na direção do mar, atrás do príncipe que jurava encantado.
Encostei meus pés na areia molhada e gelada, arrepiei. Desfiz alguns passos pra trás e pude imaginar minha vida inteira a partir daquele momento. Fechei os olhos e respirei fundo, sentindo o ar purificado e gelado entrar nos meus pulmões. Ao abrir os olhos, vi o D no mesmo lugar. Em pé, com as mãos nos bolsos, sentindo o vento bater nas costas, ele parecia estar em casa, exatamente onde ele queria estar.
— Espera só até o Sol resolver nascer. - e se sentou do meu lado. Naquele momento não houve nenhuma troca de olhares, parecia mesmo que ele amava o mar e o Sol mais do que qualquer coisa.
— Tô pronta pra ver isso! - me sentei imediatamente e aquilo foi inédito. O sol beijando o mar, ou vice-versa.
Eu queria fixar o olhar naquele momento mas não poderia perder os detalhes do D, então eu fiquei lá estagnada, encarando aqueles olhos que pareciam uvas verdes. Foi então que, percebi o seu sorriso no canto de sua boca. Admirada, apavorada e observadora, cada detalhe foi exclusivo.
— Você fica maravilhosa com a luz do Sol... - suas palavras embargadas saíram de sua boca até o meu ouvido e eu só consegui manter a seriedade, foi quando fixei os olhos no mar. Engoli seca a saliva.
Sempre odiei esses momentos clichês onde você se apaixona e no final você só se fode.
— Me chamo Ana! - continuei cética olhando pra frente. Juro, naquele momento, foi só o que consegui dizer.
E ele sorriu bem evidente, ele abraçou os joelhos, me olhando fixamente e sussurrou:
— Daniel.