Ceres - O Retorno Da Escuridã...

By erika_vilares

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TERCEIRO LIVRO DA SÉRIE AS ADAGAS DE CERES Após o hediondo banho de sangue e o regicídio ocorrido no reino no... More

Prólogo
Capítulo Um - Parte I
Capítulo Um - Parte II
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Conspirações Cerianas agora no INSTAGRAM!
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta - Parte I
Capítulo Trinta - Parte II
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Nos capítulos anteriores das Adagas de Ceres...
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Capítulo Trinta e Sete
Capítulo Trinta e Oito
Capítulo Trinta e Nove - Parte I
Capítulo Trinta e Nove - Parte II
Último Capítulo - Parte I
Último Capítulo - Parte II
Último Capítulo - PARTE III
Agradecimentos + Novidades
PRÉ VENDA

Capítulo Dezoito

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By erika_vilares

Capítulo Dezoito

O Palace Garden era tido como o jardim mais belo dos quatro reinos. Outrora, teria sido, como costumavam dizer, a menina dos olhos de Nádia. Aspirou fortemente que aquela fosse sua casa, porém não era capaz de sentir a mesma atração ou enxergar a mesma beleza. Enquanto andava num passo lento sobre sinuosas pedras que tinham sua superfície gravada com desenhos minuciosos e delicados por artesões renomados era como se tivesse sido levada para cento e cinquenta anos mais cedo.

Naquela época sua caminhada era mais próspera, segurava-se para não saltar todos os instantes que se movimentava. Amava ter pés. Eles a levavam para todos os lugares que quisesse ir, apenas precisava andar. Também podia saltar, mas via poucas pessoas saltando de um lado para o outro, então preferia não se exibir.

Era doce lembrar-se os olhares cúmplices que trocavam com as irmãs, brilhantes e iluminados, Mintaka e Alnitak. Elas riam, e encantavam-se com as inúmeras flores que cercavam. Espécies nas quais elas nunca tinham visto no Vale de Jugend. Escutava ao fundo o cantarolar harmonioso de diversas espécies que viviam naquele lugar.

Rodeadas pela personificação da própria beleza exótica das plantas que cresciam unicamente em Gardênia, adentrar aquela estufa era como penetrar num mundo alternativo, onde o mistério e a beatitude reinavam.

Os odores eram sobretudo estranhamente aprazíveis, por não serem específicos e especialmente fortes, de certa forma oníricos. A visão era dominada por cores exuberantes que atravessavam todas as possíveis misturas de tons e cominações. E o que ainda impressionava a estrela era as pétalas furta-cor das flores, a cada mudança de estação era como se as pétalas trocassem suas vestes.

Eram eternamente gratas pelo convite do rei para ficarem aquela noite num verdadeiro castelo!

No presente, os pássaros ainda cantavam e a beleza ainda existia, apenas era cega aos seus olhos.

Nádia jamais reviveria tal sentimento. Doce e traiçoeira inocência.

Aliviar sua mente de pensamentos sombrios era um exercício por vezes severo, mas necessário, por isso também tinha atenção para relaxar os músculos do corpo. Não tinha nem mesmo a sombra de uma ideia do que lhe esperava do outro lado do Palace Garden, mas deveria com a mente límpida.

A manhã tinha um ar úmido e o azul começava indolentemente tomar seu espaço no céu, até então coberto por nuvens cinzentas. Ainda trajava seu uniforme de couro, retornava de uma missão de sucesso liderada por ela mesma.

Após salvar a vida do imperador, foi uma questão de tempo para a estrela ocupar o lugar da irmã, seu antigo posto de Dominadora. Para seu profundo desgosto, ser a líder das moderatóris era algo que já estava na sua natureza. Todas as missões entregues em suas mãos eram bem sucedidas. E provava sua confiança a cada missão onde mesmo com tentadoras oportunidades de fugir, Nádia prevalecia.

Por mais que soubesse que o fingimento e a mentira faziam partes do seu ser, também sabia que lidava Marcus Lancaster, este em muitos aspectos se demonstrou estar na frente dela.

Recebera o anúncio que o imperador lhe esperava no jardim, no Nascer das Gardênias, era o local específico do poço que decorava o jardim, conhecido como a boca da pantera.

E ali estava Marcus Lancaster, a beira do poço, com o olhar perdido nas flores. Seus cabelos escuros eram enaltecidos pela frágil luz diurna, naquela manhã fria, o imperador usava um gibão marrom, com ornamentos negros, que combinavam com o couro das calças e das botas.

– Aprecia a beleza desse jardim? – Ele perguntou, numa voz distante.

– Por muito tempo, eu o apreciei – Nádia não se censurou.

Assim o silêncio ponderou, intensos segundos.

– Eu o criei – o imperador sussurrou. – Pensei em cada um de seu centímetro, cada canto, cada espécie que aqui viveria. Tudo porque minha irmã não apreciava o fato de o nome desse antigo reino fosse de uma flor e o jardim que cercava esse castelo fosse privado de vida.

Marcus tinha as palavras saudosistas como suas memórias.

– Ela não pudera viver para ver a criação. Morrera antes disso.

Ela ingeriu as palavras, sem entender ao certo a natureza delas. Sobretudo, remarcara que era a primeira vez em anos que ouvia uma referência a algum familiar já vivido ao lado dele.

– Como ela morreu? – Ela perguntou, neutralmente.

– Pelas mãos de meu inimigo, marcando-me por toda a eternidade a solidão – ele fez a revelação, ainda com os olhos fixados na Boca da Pantera.

Ela engoliu em seco, receando a simples ideia que poderia surgir junto da família.

– Então, acho que você deve imaginar o que significa para mim ter as estrelas, minha família, ao meu lado. Sobretudo, você Nádia – Marcus enfim arqueou seu profundo olhar para sua direção.

Ela pronunciou um quase inaudível sim.

– Entretanto, algo ainda me diz para não tornar a confiar na sua lealdade.

– Se minha lucidez não fosse realista, teria feito proveito de muitas oportunidades de fuga.

Marcus deixou um sorriso charmoso aparecer nos lábios, em seguida de uma risada duvidosa.

– Quer saber o que me deixou completamente intrigado com você? – Ele lançou o desafio, aproximando-se num passo lento dela, com as mãos formalmente escondidas as costas. A pergunta parecia ter sido retorica. – Sua inteligência. É uma visionária, Alnilan. Não foi as cegas que a deixei como Dominadora uma vez, e torno a fazê-lo. Mesmo após uma quebra de confiança drástica. Mas, você faz parte de minha família.

– Tenho consciência disso – tentou dizer numa voz límpida.

– Eu sei que você sabe – a pronuncia viera acompanhada de um manto desconfiado, e de um olhar pesaroso. – Por isso, como um novo gesto de confiança, desejo que siga casa de Blackridge. Suspeito da nova liderança do senhor, por isso peço-lhe que seja meus olhos e meus ouvidos.

II

Lucky Berbatov movia as pernas com cuidado face a um breu vertiginoso. Via suaves silhuetas naquela imensa escuridão, o que lhe permitia de saber se estava afastado ou não das estruturas rochosas daquela caverna. Estava andando a horas, e começava a se incomodar com a falta de luz.

Foi quando vislumbrou um efêmero ponto bruxulear no fundo do infinito corredor. Apertou o passo, andando com mais pressa. Assim, deparou-se com uma gigantesca sala onde largas colunas de base circular estavam enfileiradas, retratadas com um bronze encardido, vinham da porta principal até onde se encontrava o que parecia ser uma mesa de pedras, deviam ser por volta de dez de cada lado. Mais acima, grandes archotes bruxuleavam. Grandes blocos de rocha lisa desgastada repousavam sobre o chão, e as paredes eram feitas da mesma estrutura.

A medida que o arqueiro se aproximava, percebeu incomodamente que as grandes colunas tinham misteriosos arranhões. Berbatov preferiu ignorá-los, porém tornou-se mais vigilante. Avistou ao fundo uma espécie de santuário, onde atrás surgia desenhos de silhuetas de corposde muitas pessoas com seus braços atirados ao alto. Em seguida ele viu o que poderia ser um bebê, sendo erguido aos céus.

Pelo canto do olho, o ladrão percebeu um movimento. Algo a beira de uma das colunas, como uma cobra de fogo mover-se pelo chão. Deveria admitir que estava em alerta e por isso não pensou duas vezes em armar-se com uma flecha e atirar sobre ela.

Foi quando outro vulto surgiu na sua diagonal fazendo o arqueiro girar a direção dos braços e apontar para seu mais novo alvo.

Amélia Norwood.

Ele desarmou-se primeiro, arfando. Seus olhos pareciam não acreditar no que via diante deles.

– Mia – ele suspirou, sentindo uma estranha sensação de já ter vivido aquele momento.

Amélia depois de longos segundos tomou a decisão de abaixar o arco e evitar seu olhar, friamente, lhe deu as costas seguindo para o lado da raposa que se escondia atrás do arco. Pelo bem de Berbatov, ele não tinha a ferido, apenas arrancado um tufo de seu pelo felpudo. Em seguida, ela seguiu para o santuário. Berbatov poderia ter acreditado que era invisível se ele não tivesse percebido o pesaroso olhar que a princesa lhe lançara ao apontar-lhe uma flecha.

– Mia – tornou a chamá-la, mas novamente não obteve uma resposta.

Ela fixou o olhar num papiro que carregava em mãos.

– Mia – ele engrossou a voz, perdendo a paciência e se aproximando.

– Você acredita que estou morta – a voz dela finalmente surgiu, álgida como uma correnteza de inverno. A princesa arqueou o olhar que de fato parecia sem vida.

– Eu... – o arqueiro perdeu as palavras quando a garganta secou-se.

– Estou morta para você? – Ela perguntou com um tom furioso, andando para trás. Lucky observou sua pele se deteriorar como se estivesse sofrendo com um ardente fogo invisível.

–  Amélia – ele soltou quase sem ar, a medida que ela se afastava, mais sua pele tornava-se queimada. Lucky tentou aproximar-se para tentar inutilmente ajudá-la foi quando seus olhos vislumbraram o símbolo, gravado na parede, que já conhecia acima de sua cabeça.

A metade do sol e da lua.

Ben Howard - Oats In The Water

Ao despertar, desnorteado, Berbatov esfregou as pálpebras que aparentavam ter sido coladas umas as outras. O alvo feixe de luz que adentrava pela janela do moinho incomodou sua visão.  Foi obrigado a tornar a fechá-los e nesse momento refletiu sobre o pesadelo. O silêncio na sua mente foi absoluto, em seguida, conturbador.

Ele expirou, pensando com irritação nos acontecimentos da noite anterior. Esfregou os dedos sobre seu cenho e por fim abriu os olhos lembrando-se de como viera parar no moinho. Nada parecia tirá-lo daquele chão.

A voz de Mia repetia na sua mente.

Estou morta para você?

Tudo provava que sim. Todas as versões, todos os fatos, todas as histórias.

O arqueiro se levantou com dificuldade, sentindo os músculos do corpo adormecidos.  Caminhou por volta de uma hora até alcançar a possível pira humana que havia erradicado com a vida da princesa do Norte. O cheiro pútrido da morte ainda pestaneava o ar. Os olhos amarelados fixaram-se no local. Sentiu um sufocante aperto no peito, pensando na dor dela. Sua mente obrigou-o a lembrar-se do olhar apavorado que Mia lhe lançava no Baile de Sangue. Todas suas tentativas de alcançá-la em vão. Mesmo que seus adversários não usassem armaduras, eram ágeis e habilidosos e sem armaduras...

Sua mente foi levada para seu sonho. Sonhara com o dia que encontrara a princesa, numa espécie de templo, logo após um encontro com o Oráculo. Aquelas pessoas desenhadas, erguiam ao céu um bebê. Uma criança que estava sendo iluminada tanto pelo sol, como pela lua.

Berbatov semicerrou os olhos e abaixando o queixo, refletindo com mais atenção no quebra-cabeça que se unia na sua mente.

Quando subia o Vale de Trinton junto de Jared, Ari e Louis.

Após uma provocação maldosa de Legrand, Jared parou de andar, atirou suas malas sobre a neve junto de suas armas, e mesmo com toda aquela correnteza de frio, o irmão atreveu-se a arrancar suas blusas de lã e deixar todo seu torço exposto ao inverno, revelando gigantes cicatrizes e certas deformações no início de sua anca direita que subia até seu peito e pegava metade de som braço direito.

"Eu fui salvo". Lucky lembrava-se de suas palavras. "O povo que mora neste Vale me salvou e eu tive sorte de não perder meu braço".

Lucky fitou a pira onde Ceres tinha sido queimada, sentindo um impactante estalo correr por sua cabeça. Quem era aquele povo? Seria o mesmo que invadira Skyblower? O arqueiro tentou respirar com mais calma, mas uma ansiedade cresceu subitamente no seu peito.

Ele olhou para o Leste. Quais seriam as chances de Thor ter retornado para a Cidade-Livre? Somente o faria se quisesse reencontrar o rei seu pai. Mas, lembrou-se rapidamente das palavras do príncipe afirmando que não desistiria dela. Berbatov olhou para o oeste e rapidamente começou sua caminhada até o cavalo, montou-o com agilidade e se inclinou, indicando para o animal trotar. Assim, correram contra o vento em direção Helkser porque ele sabia exatamente onde ele poderia encontrar o príncipe de Wanderwell.

No final da tarde, o ladrão chegava na cidade de Évora. Estava familiarizado com o pauperismo ocidental, entretanto, a chegada da guerra aparentava ter agravado a situação. Tinha visto mais mendigos do que de costume, dentre muitos crianças, mulheres brigando por comida a porta da padaria e homens sóbrios, o que significava que a situação era pior do que imaginava, quando não se tinha álcool, não se tinha nada.

Encontrar o príncipe talvez não fosse uma tarefa difícil: um homem daquela estatura, branco como inverno e com cabelos da cor do sol se destacava entre os ocidentais. Porém, não devia contar com ajuda alheia. Um estrangeiro como Thor naquelas terras, atraía intenções perversas.

Évora lhe trazia lembranças, assim como deveria trazer para o príncipe. Não parecia que faziam cinco anos que andavam por aqueles solos.

Dimitri liderava a marcha do grupo, afinal estando na sua cidade de nascimento, ele sabia exatamente onde encontrar o que mais necessitavam naquele momento: cervejas.

O mercenário divertia o grupo contando como tinha conseguido ter sexo com duas mulheres simultaneamente e como aquela situação acabou em briga por ciúmes. Berbatov forçou a risada.

– Acho somente que sua mão esquerda tem ciúmes da direita – ele causou uma estrondosa gargalhada no grupo.

– Riam quanto quiser, mas eu comi as duas. Eram irmãs – ele alegou. – E isso passou ser cada vez mais frequente, nos bordéis, quando a mais bonita estava ocupada, sempre havia uma idêntica a ela para outro felizardo.

– Então diz que pagou as meninas para brigarem por você?

– Meu amigo induziu elas – ele replicou com um sorriso malicioso. – Falésia é um continente muito estranho, há gêmeos para todo lado. Sabe como dizem que isso aconteceu? Os falésios acreditam que se se existem gêmeos, é unicamente porque os deuses tentam dividir o bem e o mal.

– Você vem das Terras Além do Mar, grandão – Louis relembrou, olhando para Ari que se mantinha silencioso. – Admita para gente que você comeu seu irmão gêmeo quando estava no ventre da sua mãe!

Legrand estardalhou numa risada. Lucky não evitou rir igualmente.

– Morou quanto tempo em Falésia, Enzo? – Thor quis saber.

– Tantos anos que nem me lembraria mais dizer – ele respondeu vagamente.

– Quantos anos tem? – Thor continuou.

O mercenário atirou um olhar zombeteiro para o príncipe.

– A próxima coisa que irá perguntar é se você quer casar com ele – Berbatov provocou.

Enzo Ford abriu um sorriso perverso.

– Mais velho do que você pensa, caro pretendente – retorquiu por fim.

Após copos repetidos de alcool, seguiram para os extremos oeste da casa de Évora. Chegaram no início de um crepúsculo demasiado abafado. Tinham sido recebidos com muita alegria pelo pai de Dimitri, que obviamente desconhecia a real razão da visita. Berbatov entendera rapidamente de onde viera o caráter apaziguador do amigo quando percebeu que ele era filho de um humilde sacerdote, fiel a Kapelle. Na calada da noite, enquanto o arqueiro comtemplava as estrelas em cima de um cercado bambo e sentia o corpo sofrer com um mormaço, recebeu a companhia de Dimitri. Chegou sorrateiramente e sentou-se sobre a palha salpicada pelo chão e, sozinho, soltou um espreito riso.

–Está bêbado? – Lucky arqueou a sobrancelha.

– Iria perguntar se você não dorme pela ansiedade como eu. Mas lembrei que você raramente dorme.

– Dormir é para os fracos – Berbatov troçou, bebericando seu odre de vinho.

– Mas, está ansioso? – Ele insistiu.

– Para retornar ao nosso antigo inferno? Me pergunto o que passa pela minha cabeça – ele rezingou, dando uma golada na bebida e lhe oferecendo ao amigo. – Apesar de religioso e visivelmente solitário, seu pai me pareceu boa pessoa.

– Desde a morte de minha mãe, tudo que ele pôde se identificar fora o Salucismo.

– Ele soube? – A pergunta era vaga, mas Dimitri entendera expressivamente.

– Sim, ele estava lá no dia em que fui levado. A briga iniciou-se no mercado, quando tentaram roubar os poucos vilares que meu pai tinha para comprar medicamentos para minha mãe. Ela precisava de verdade daqueles remédios e não tornaríamos a ter os vilares nem em três semanas. Eu fiz o que pude para consegui-los de volta... Foi a única coisa que os guardas viram, eu me defendendo. Assim fui levado.

Berbatov mantéu o silêncio, refletindo sobre as palavras. Até mesmo o motivo que levara Dimitri ao Gládio eram nobres.

– Não retornaremos pelas mesmas razões, sabe disso?

– Podemos igualmente nunca mais sair pelas mesmas razões – ele bufou, com o habitual pessimismo.

– Eu sei que, apesar de achar uma ideia ridícula, você quer fazer isso tanto quanto eu.

O arqueiro soltou um riso de escárnio.

– Você retorna nesse lugar para impedir que homens continuem sendo escravizados e mortos em combates até a morte. Eu o faço por vontade de vingança. Tenho os perfeitos semblantes dos guardas que matarei primeiro e com rapidez e os que deixarei por último e farei que implorem para morrer.

– Mostrar empatia pelos outros também é para os fracos?

Lucky deu um sorriso de lado e revirou os olhos.

– Confia em príncipes – ele se contentou de responder. – Isso para mim é burrice, mesmo que venha de você.

– Thor é honesto – Dimitri respondeu, segundos mais tarde. – E é alguém que como você, tenta se encontrar.

– Eu nunca estive perdido – o arqueiro se fez de desentendido.

– Se eu me deixasse levar por primeiras impressões, eu nunca teria lhe ajudado.

Berbatov bufou, sabendo que ele viria com um clássico sermão.

– Lembra-se do que me disse quando eu me ofereci para costurar suas feridas? – Dimitri relembrou as palavras: – Que me mataria de qualquer maneira se nos cruzássemos na arena.

– E ainda assim, limpou e costurou minhas feridas. Não foi algo sensato.

– Assim como não foi sensato quando você decidiu salvar minha vida – ele relembrou, com um ar vitorioso. – Sei que tem uma aversão irreversível pela realeza, e também sei que você não tentará conhecê-lo melhor.

O arqueiro empurrou a bochecha com a língua.

– Então apenas lhe preço, Berbatov. Não o mate, independente do que aconteça, não lhe faça mal.

Cumprira seu pedido, mesmo quando seus punhos tremeram, e sua raiva perfurou seu peito, Berbatov não matara Thor mesmo sabendo que sua morte acontecera porque o guarda do príncipe pensou unicamente em salvar a vida de seu superior.

Os olhos amarelados do ladrão estavam fixados no cercado que envolvia uma propriedade de calcário. No exato local que tivera a última real conversa com seu falecido amigo.

Ele saltou do garrano e seguiu num passo hesitante até a propriedade do sacerdote. Como olharia em seus olhos? De um lado a culpa aparecia por não ter protegido seu filho, mas do outro, um lado sádico pensava que o sacerdote não merecia menos, compactuava com uma Kapelle que queimava pessoas vivas.

Os olhos fixados na casa aperceberam-se tardiamente uma aparição súbita de um golpe. Sentiu o impacto de um cajado de madeira contra o couro cabeludo fazer sua cabeça virar para frente. Irritado, Berbatov viu seu agressor e não se tratava nada mais do que de um homem que deveria ter por volta de sessenta anos com olhos grandes e malucos cercados por rugas.

– Terá que passar por mim primeiro se quiser pegar meu sobrinho! – Ele vociferou, abrindo e fechando as narinas nervosas.

O arqueiro franziu o cenho, visivelmente confuso.

– Saia da minha propriedade, seu bife de rato! – O homem arqueou as mãos ao ar e tentou atirar-lhe um segundo golpe com seu longo cajado de madeira. Lucky estava pronto para segurá-lo e dar uma boa lição no velho quando ele revelou uma agilidade quase absurda e desviou das mãos do ladrão e atingiu sua cabeça. – Você não pegará meu sobrinho!

– Velho maldito! – Ele praguejou. – Nem ao menos sei quem é seu sobrinho, desgraçado!

– Acha que me engana por eu ser velho, acredita que sou burro, filho de uma espantalha! Somente levará meu sobrinho por cima de meu cadáver.

– Quero ver repetir isso quando eu arrancar os restantes dentes de sua boca!

O velhote deixou uma risada perturbada sair dentre os lábios e tentou acertar um terceiro golpe no arqueiro. Lucky desviou, mas antes que percebesse, de uma maneira sobrenatural, o velho conseguiu colocar seu cajado em volta dos pés do ladrão e o derrubou no chão.

– Eu que arrancarei seus perfeitos dentes jovens e venderei no mercado negro! – Ele alegou.

Rangendo os dentes de raiva, Lucky se preparava para pegar uma flecha e acabar logo com aquele maluco. Foi quando uma voz surgiu ao fundo e Lucky viu duas pessoas saindo da casa, reconhecia ambas. O sacerdote, pai de Dimitri, e o segundo era Thor.

– Swamili – o sacerdote chamou –, quem agride desta vez?

– Esse invasor veio por nosso Dimitri! – Ele anunciou, com os grandes olhos arregalados.

A mão do arqueiro largou a seta e soltou uma risada sem humor, levantando-se do chão. Ainda não acreditava que tinha levado três golpes de um velho.

– Eu me lembro de você – o sacerdote disse ao ver Lucky de perto.

– E quem é esse desequilibrado?! – Ele rosnou de volta, tirando  o pó da roupa.

– Não levará meu sobrinho, seu palerma!

– Seu nome é Lucky, não é mesmo? Apresento meu irmão, Swamili. Por vezes, tenho de relembrá-lo que meu filho não está mais entre nós. Ele o machucou?

Lucky bufou, para demonstrar pouco-caso, mas a frase do sacerdote em referência ao filho tinha lhe incomodado.

– Se um velho me machucou? Nem se estivesse amputado – cruzou os braços.

O arqueiro, por fim, olhou para Thor que mantinha uma expressão fria no rosto. Lucky revirou os olhos, depois de um velho biruta ter a sorte de acertar um golpe nele, ainda teria de dizer ao príncipe que estava errado. Seria um longo dia.

– Precisamos conversar – ele disse ao príncipe.

– Eu e Swamili lhe daremos espaço.

O velho com o cajado seguiu seu irmão, com os olhos fixados no ladrão e quando estavam lado a lado. Ele arqueou o cajado rapidamente e Lucky se preparou para o golpe, entretanto Swamili deixou unicamente uma risada estardalhada escapar. Berbatov segurou sua raiva e encarou o velho até ele se afastar. Quando desviou o olhar para Thor, viu sua expressão seria.

– O velho babuíno maluco também tentou bater em você?

– Seu ego ficará menos ferido se disser que sim?

Ele suspirou, e levou as mãos as extremidades do cinto da calça. Balançou a cabeça, sem ter certeza por onde deveria começar.

– Eu estava errado, ambos sabemos disso – ele admitiu, com desgosto.

– O problema não é você estar ou não errado, o problema sempre é a maneira que você reage e você sabe disso.

Ele desviou o olhar, raivoso, Thor não sabia nem mesmo do pior.

– O que você quer, Thor? Um pedido de desculpas?

– Eu quero saber por que você veio até aqui.

– Porque eu não desisti, não de verdade, ainda procuro pela princesa.

– Certo.

Assim, ele viu o príncipe lhe dar as costas. Ele seguiu-o com o olhar, confuso.

– Não irá dizer nada mais? Não terei direito a um sermão?

– Se seguir comigo, terá que ser sob minhas regras. Não lidarei mais com seus ataques de raiva ou com seu mal humor. Ninguém precisa ser assassinado injustamente – Thor parou o passo e lançou um olhar quase que cumplice para o ladrão. – Além do mais, eu não carrego bagagem.

Berbatov segurou o sorriso.

– Quer dizer que vocês procuram por uma princesa? – A voz do velho Swamili surgiu subitamente.

Berbatov franziu o cenho e procurou de onde vinha, tinha quase certeza de tê-lo visto adentrar a casa, mas a voz parecia estar no seu ouvido.

Ele viu Thor encarar o chão e se aproximou, avistou o velho maluco estirado sobre um arbusto não distante deles, com os braços erguidos atrás da cabeça e com olhos fechados, como se estivesse tomando um banho de sol, com uma vagem presa entre os dentes.

– Como ele foi parar ai? – Perguntou em voz alta.

– Seus olhos jovens são muito lerdos para minha agilidade, criança.

– Não me trate por criança.

– Deveria tratá-lo por babuíno velho? – Ele retorquiu abrindo os olhos insanos.

– Não procuramos por ninguém de especial – Thor assegurou, dando as costas e seguindo para casa. Lucky fez o mesmo, temia de ficar e terminar por matar o velho.

– É uma pena, porque jurava ter visto uma princesa.

– Claro que viu, uma em seus sonhos de velho pervertido! – Berbatov replicou, impaciente.

– Ah não, a que vejo em meus sonhos tem cor de cacau! Esta que vi com meus olhos, de escuro somente tinha os cabelos.

No mesmo instante, os dois interceptaram o passo.

– E lindos olhos castanhos-avermelhados!

– O que você disse a ele?! – Lucky inquiriu raivosamente por leitura labial.

Thor fez uma expressão confusa.

– Nada – ele respondeu igualmente.

– Como ele sabe sobre ela então?!

– Eu não sei – Thor insistiu, ainda sem som.

– As garotinhas não cansam de fofocar? – Swamili perguntou, num tom divertido.

– Não me chame de garotinha, babuíno maluco! – Berbatov rosnou, virando-se para ele. O velho deixou os grandes olhos se perderem no céu e ele ficou por longos segundos em silêncio.

– O que você sabe sobre ela?

– Sobre quem?

– A princesa!

– Que princesa?

O arqueiro inspirou profundamente e fitou Thor, mostrando sua irritação.

– Você acabou de citar ter visto uma princesa de cabelos escuros e olhos castanhos avermelhados – Thor tentou manter o tom calmo.

– Essa é a princesa que vocês estão procurando? – O velho perguntou, arqueando as grossas sobrancelhas.

– Sim, onde você a viu? E quando?

– Em meus sonhos.

– Você disse que sonhava com uma princesa diferente em seus sonhos! – Berbatov vociferou.

– Ah, sonhos perversos – ele riu sozinho.

– Está dizendo que tem sonhos de sexo com a nossa princesa?

– Vossa princesa?

– Eu vou matá-lo, Thor. Juro que vou matá-lo.

O príncipe ergueu a mão como se pedisse que ele se acalmasse.

– Sim, nossa princesa com pele de cacau – Thor continuou.

– Não, essa é a minha princesa!

– Não, tenho certeza que essa é a nossa princesa.

– Não! Vossa princesa tem cabelos escuros e olhos castanhos-avermelhados, eu a vi!

– Não, você não a viu. Você viu nossa princesa com pele de cacau.

– Eu vi a vossa princesa e posso prová-lo!

Thor deu um sorriso vitorioso e o velho fez um olhar semicerrado, desconfiado, percebendo ter sido pego no seu próprio jogo. Lucky com os braços cruzados, apenas ouviu a conversa de maluco, que por sua vez nada entendera e somente queria matar o velho.

– Como você pode prová-lo?

– Não posso – Swamili respondeu, fechando os olhos, enfezados.

– É uma pena, teremos de ir atrás de nossa princesa com pele de cacau.

Thor lhe deu as costas e puxou o ladrão pelo braço para lhe acompanhar, foi quando viram o velho saltar do arbusto e sentar-se no chão.

– Não! Deixem minha querida princesa com pele de cacau fora disso, seus perversos! Mostrarei vossa princesa se assim for.

Thor atirou um olhar vencedor para Berbatov que franziu o cenho.

– Você não acredita de fato nele, certo? – Ele viu o príncipe lhe dar as costas e retornar ao velho maluco. – Thor? Não faça isso.

– Mostre-nos.

Swamili levantou-se do mato, levando junto seu fiel cajado. E andou, sem alegar para onde iriam. Foram guiados para o  meio da vegetação, e por mais perguntas fossem feitas, o velho as ignorava, e falava a maior parte do tempo sozinho. Adentraram uma selva estreita na qual diversas raízes dificultavam a locomotiva, mas não para Swamili que movia-se com extrema facilidade, parecia conhecer o caminho.

Lucky tinha dificuldade para acreditar que aquele homem tinha algum parentesco com Dimitri. Viu ao longo do caminho o velho recolher coisas, um casco de tartaruga partido ao meio que estava encostado a uma árvores, certamente lhe pertencia, em seguida arrancou flores ao longo do caminho, e indicou quais frutos eles deveriam apanhar, dizendo os nomes:

– Fruta do dragão, folha milagrosa! Cereja da leoa! Ah, e não poderemos esquecer das flores de pavão!

– Os deuses devem nos odiar – Berbatov fungou, estranhando os fortes cheiros que invadiam suas narinas.

Eles caminharam até um pequeno lago. Swamili indicou que sentassem a beira da água, sobre o mato disperso. Quando o fizeram, viram o velho começar a comer os frutos carregados.

– Estava faminto!

– Se você dizer que nos trouxera aqui unicamente no propósito de alimentá-lo, juro que lhe afogarei nesse rio – o ladrão semicerrou os olhos.

Swamili riu, agudamente, até se engasgar e ficar sem ar. Logo cuspiu os restos das frutas sobre o casco, e encheu-o com água doce e jogou as pétalas flores. Continuou a comer, e balbuciar palavras inteiramente incompreensíveis pela boca cheia de frutos. Enquanto visualizava o que tinha dentro do casco e tudo que Berbatov via era a combinação repulsiva de restos alimentar com cuspe, flores e água. As palavras continuavam sem sentindo à medida em que ele engolia os frutos, frases feitas com sílabas.

Certo de que o velho apenas estava tomando-os por dois idiotas, o arqueiro levantou-se para ir embora, farto de tanta idiotice.

– Posso ver que vocês tem muitos assuntos maus resolvidos no Vale – as frases sem sentido pararam e Swamili engrossou a voz. Berbatov parou o passo, surpreendido. Olhou para trás e viu uma expressão maliciosa no rosto de Swamili.

– O Vale de Trinton clama pelo retorno de vocês, crianças.

III

No cair do crepúsculo, o rei nortenho beneficiou de um longo banho morno, para se livrar de toda a poeira que circulava sobre aqueles extensos dias de viagem. Sentou-se na mesa recém feita em sua tenda real. Perdeu seu olhar por meros instantes na fartura que a vida de rei lhe proporcionara, tinham assado o javali caçado naquela manhã pelos arqueiros há alguns metros da estrada da perdição. Seria sua última refeição numa tenda, na mesma hora do dia seguinte estaria num encontro com os Dez Ministros. Viajava com seu exército a cinco luas, e sua ansiedade crescia com a aproximação. Tentava-se manter positivo apesar de tudo.

Esperava a chegada do Klaus Northstein, Zahari Christoff e Jared Crawford para discutirem pela última vez todos os grandes momentos do dia seguinte. Mas, pedira especialmente para Jared chegar com antecedência.

– Meu rei – ele apresentou suas formalidades quando adentrou os aposentos reais. Vestia negro, como todos os arqueiros, e quase não se diferenciava os cabelos escuros das vestimentas.

Elliot lhe indicou com a mão solene seu assento. O senhor Crawford seguiu para a mesa e uma serva lhe serviu uma taça de vinho. O rei tirava proveito da situação para observá-lo.

– Creio que ter sido o único honrado de ter sido convocado mais cedo – o rei continuou a fitá-lo –, afinal ninguém faria Vossa Magnificência esperar.

– Sim, fora o único. O que tenho para tratar com você não se trata necessariamente da guerra, somente de política.

– Sou todo ouvidos, Vossa Majestade.

– Os sóis têm passado, e por mais que eu tente, não retornei a ver sua mais nova irmã, Nália Crawford.

Jared com uma feição de desconforto explicara para o rei que ela partira junto de dois outros arqueiros na mesma noite em que eles chegaram no castelo do senhor Northstein.

– Gostaria de dizer que fico surpreso, mas a Savannah que conheço sempre foi assim. Tem um gênio forte. Talvez seja de família, não é mesmo? Me recordo quando ouvi falar de você pela primeira vez, senhor Crawford. Mas, lembro-me especialmente de como você enganou e manipulou minha falecida irmã.

– Acredito que a princesa Amélia não tenha lhe dito toda a história, meu rei.

– E por que não?

– Se vocês chegaram na ALDA naquela época foi porque a princesa Mia me dissera onde estariam naquele dia. Disse-me que queria descobrir quem era Lucky Berbatov.

– Ainda assim, você a persuadiu através de métodos certamente contraditórios – Elliot continuou, lançando um discreto olhar para a irmã, vestida com seu vestido vermelho sangue, abeirada da mesa e com os olhos fincados na figura de Crawford.

– Peço novamente que me perdoe por isso.

– O que quero ouvir de sua pessoa, caro Crawford, não se trata de perdão e sim, lealdade – Amélia disse, e Elliot repetiu.

– Me encontro atualmente numa posição decisiva para essa guerra. Sigo para um encontro que mudará a rota dessa batalha. E para garantir que sigo no caminho da vitória, preciso inicialmente ter a certeza que estou cercado de homens de minha confiança. Confiança é algo abstrato, posso confiar que você e Zahari para me ajudarem a alcançar minha vitória, mas posso duvidar da lealdade de vocês.

– Então gostaria de perguntar, com todo o respeito, porque apenas eu sento-me nessa sala, meu rei.

– Porque Zahari Christoff apesar de mostrar-me ser um homem sensato, não me sinto acuado por sua inteligência. Quanto a você, Jared, não posso dizer o mesmo. Algo me diz que não posso mantê-lo afastado o suficiente porque conheço sua esperteza de enganar e manipular pessoas e nem mesmo próximo devido minha falta de confiança em você. E a guerra se aproxima, presumo que se algo aconteça com senhor Christoff, as chances de você comandar os arqueiros são validas... Mas não mais certeiras devido ao retorno da querida irmã perdida da família Crawford.

Jared analisou com cuidado as palavras do rei.

– Deve pensar que vou além de meus conhecimentos – o rei zombou. – Todavia, eu pude ver que Savannah mudou, na primeira noite na casa de Northstein, quando ela veio aos meus aposentos fazer suas exigências. O que me fez repensar se ela não conseguiria a simpatia dos arqueiros como líder. Enquanto você nasceu e criou suas raízes com seu povo, Nália é uma total estrangeira nesse requisito. Entretanto, é uma jovem que devido sofrimentos vividos durante sua vida, ela fala pelo povo, ela enxerga as necessidades deles sem fazer cálculos maiores. Sem ver consequências maiores – Amélia assegurou.

Elliot se levantou e continuou com uma voz branda:

– Jure-me lealdade e fidelidade, e eu garantirei que você seja meu próximo vassalo.

Após longos segundos de contato visual, Jared Crawford se levantou. Virou a borda da mesa e colocou-se de joelhos. E fez seu sermão de fidelidade sem hesitações.

Mais tarde, o jantar aconteceu com a chegada dos dois vassalos do rei. Discutiram assim todos os procedimentos do dia seguinte e da Cidade-Livre. Elliot demonstrou-se confiante diante os homens e decisivo, tudo com a ajuda de sua querida irmã que nunca lhe deixava a deriva.

Quando os três cavaleiros partiram, Elliot deixou um longo suspiro correr de seus lábios. Sentia falta de quando seus jantares não eram acompanhados de três homens e sim de Astrid. Ela fazia falta. Por vezes, pegava-se contando os dias que poderia revê-la, mas lembrava-se que esse reencontro não seria repleto de alegria. Cedo ou tarde a rainha teria saber que Ethel estava grávida, e ele nem conseguia imaginar sua reação, não quando era seu maior sonho sendo entregue a outra.

Preferiu então esvaziar seus pensamentos, deitar-se em sua cama e caminhar para um sono onde ele ganhava a guerra e ele e sua rainha poderiam criar uma família juntos, mas seus sonhos serenos foram brutalmente erradicados quando o rei foi acordado no meio da madrugada por seus homens.

– Me perdoe acordá-lo a esta hora, Vossa Majestade. Porém, há um incêndio se alastrando pelo acampamento e devemos levá-lo para um local seguro – um deles anunciou.

Elliot franziu o cenho e saltou da cama, colocando suas vestes.

– Estamos sendo atacados?

– Não sabemos. Aparenta ser um incêndio acidental. Precisamos sair daqui rapidamente para garantir vossa segurança.

Terminou de se vestir e caminhou para o lado exterior da tenda. Um soldado não familiar aos olhos de Elliot surgiu, anunciando que deveriam se afastar da floresta antes que o incêndio agrava-se. O rei não lhe deu atenção, viu a fumaça erguendo-se no fundo do acampamento, e sentiu um terrível arrepio.

As atrozes memórias do Baile de Sangue surgiram em sua mente, a fumaça escura e o odor forte de queimado. Viu Klaus Northstein chegar com seus homens. Mais ao fundo, Zahari Christoff guiava os arqueiros em direção as chamas, com sacos de areia nas costas.

– Para onde vamos? – O rei questionou, escondendo a voz afobada, cercado por seus homens.

– Existe uma clareira próxima meu rei.

– Fique e garanta que todos consigam afastar-se com segurança até que o incêndio seja controlado – ele disse a um dos guardas e se afastou com o grupo de dez homens.

Sacrilege – Yeah Yeah Yeah – Mosquito

Antes de alcançarem a clareira indicada, a fumaça já era sufocante. Elliot somente conseguiu respirar quando a floresta se abriu e ar fresco adentrou seus pulmões. Tossiu violentamente e verificou rapidamente se todos os dez homens estavam ali.

– Belo dia para um incêndio, não é mesmo? – Klaus ironizou, colocando as mãos nos joelhos e tossindo. Elliot questionou qual era a natureza daquele incêndio. Klaus não conseguiu responder a pergunta por não parar de tossir. Assim como os outros soldados a volta.

O rei sentiu seu peito sufocado e sua garganta secar, também estava com uma incontrolável vontade de tossir. Sua preocupação agravou-se ao ver um primeiro homem a cair no chão, com uma tosse violenta. Em seguida, Klaus foi ao chão.

O desespero de Elliot aumentou. Seus guardas mais fieis correram até ele, na esperança de protegê-lo, mas terminarem por cair no chão pela falta de força. Elliot tossia sem parar, tentou equilibrar-se sobre seus pés. Quando viu todos a sua volta caírem com a exceção de um único soldado, ele percebeu que se encontravam numa armadilha.

O soldado de cabelos negros andou até o rei, que tentou-se se afastar em vão, até tropeçar em um dos seus homens e desabar no chão.

– Tenha bom sonhos, Majestade – o sotaque expressamente sulista ecoou na mente do rei e o fez perder por completo a consciência.

____________
Décimo oitavo capítulo da série As Adagas de Ceres

6291 palavras

Dedico a  obrigada por ter retornado a história e estar acompanhando essa continuação! Amo tê-la aqui!!! 

Desculpe pela demora amores, não estava satisfeita com o capítulo. Mas será que vocês estão psicologicamente preparadas para o próximo ??! Hehehehehehe

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