Louis ficou olhando para Harry, observando-o dormir por vários minutos, tentando permanecer o mais imóvel possível, até que seus olhos vagaram e ele começou a se incomodar. Ele não podia deixar de morder o lábio inferior quando seus dedos começaram a se mexer involuntariamente.
Ele tinha que fazer xixi.
Vários minutos se passaram e Louis tornou-se cada vez mais desesperado. Ele sabia que era bobagem não acordar Harry pedindo ajuda, mas ele não queria acordar o menino.
Ele tem passado tanto tempo cuidando de mim que deve estar exausto.
Eu tenho que deixá-lo dormir.
Louis fechou os olhos e tentou cantarolar mentalmente algumas musicas, mas as letras logo se tornaram súplicas silenciosas e desesperadas por um banheiro.
Não pense sobre isso.
Não pense sobre isso.
Não pense sobre isso.
Merda. Eu estou pensando sobre isso.
Louis foi até o ponto onde ele tinha certeza que sua bexiga explodiria se ele não se aliviasse em breve.
Ele olhou de volta para o lugar onde Harry permanecia dormindo, secretamente esperando que o outro adolescente ouvisse seus apelos silenciosos e abrisse os olhos.
Quando o estado de consciência de Harry manteve-se inalterado, Louis decidiu que teria que perturbar o menino dormindo.
Ele não era forte o suficiente para caminhar sem o apoio de outra pessoa.
Então ele suspirou quando balançou Harry suavemente.
Harry acordou com uma ingestão rápida de ar e as mãos instintivamente estendeu-se a procura de Louis.
Louis ofereceu a Harry um olhar de desculpas, enquanto o outro adolescente lutava para recuperar o seu estado de alerta.
“Sinto muito.” Louis sussurrou.
Mesmo com o cérebro nebuloso, Harry não pôde deixar de notar Louis, que parecia um cachorrinho que ficou em apuros.
“Você está bem?” Harry perguntou, sua voz soando ainda mais sonolenta do que seus olhos pareciam.
Louis estremeceu, sentindo-se ainda pior por acordá-lo de seu sono, obviamente, muito necessário.
Ele amaldiçoou a sua incapacidade de cuidar de si mesmo.
“Eu tenho que usar o banheiro”, ele admitiu timidamente.
Os olhos de Harry enrugaram, enquanto seu rosto caiu em um sorriso preguiçoso. “Por que você apenas não me acordou?”
“Eu acordei.”
Harry riu. “Eu quis dizer antes. Eu não teria me importado.”
Harry balançou a cabeça brincando, quando ele estendeu os músculos doloridos do pescoço e das costas e levantou-se do sofá.
“Vamos, eu vou ajudá-lo.”
Louis suspirou, desejando mais uma vez que ele não parecesse tão indefeso. Ele estendeu as duas mãos e as conectou com as de Harry, e juntos, ele se pôs de pé.
Harry colocou uma mão de apoio em torno do tronco de Louis e segurou firme.
“Como vai você?” Ele perguntou. “Sente-se bem para começar a andar?”
Louis podia sentir a dor familiar fazendo seu curso através de seus músculos, mas os analgésicos que tinha tomado recentemente ainda estavam fazendo forte efeito, então ele acenou com a cabeça.
“Eu estou bem.”
Harry continuou imóvel por um momento, seus olhos observando o outro menino, a procura por qualquer sinal de falsidade. Quando determinou que Louis estava dizendo a verdade, ele acenou com a cabeça e deu um pequeno passo, incentivando Louis ao seu lado.
Os primeiros passos foram os mais difíceis, Louis teve que forçar seus membros fracos a fazer o trabalho que era feito naturalmente, mas logo ele se viu capaz de dar passos mais longos e cobrir mais terrenos sem aumentar a dor.
Harry sorria a cada passo que Louis dava. “Você está indo tão bem Lou, eu já posso dizer que você está ficando mais forte.”
Louis sorriu para as palavras de incentivo quando atravessou a sala de estar, até que alcançou o corredor e, em seguida, o banheiro.
“Está tudo bem se você espera por mim aqui fora?” Louis perguntou, um resplendor de luz subindo para suas bochechas.
“Tem certeza de que não vau precisar de ajuda?” Harry perguntou. “Eu não quero que você caia.”
O corar de Louis se aprofundou. “Eu vou ficar bem”, respondeu timidamente.
Harry acenou com a cabeça e saiu do seu lugar, no interior da porta do banheiro.
“Só... grite se precisar de mim, ok?” Ele disse com sinceridade. “Eu vou estar aqui mesmo.”
Louis acenou com a cabeça, antes de deslizar sua mão suavemente ao longo da parede ao entrar no banheiro e fechou a porta atrás de si com um click.
Harry esperou do lado de fora, os ouvidos atentos para saber se o menino havia caído lá dentro. Seus nervos corroendo seu estômago, até que ouviu o som da descarga, depois de uma pausa suave a torneira da pia foi ligada. Depois de alguns pequenos guinchos do suporte da toalha balançando para frente e para trás, Harry ouviu Louis agarrar a maçaneta da porta e a abrir.
Quando seus olhos se encontraram, Harry notou certa emoção enchendo os olhos azuis de Louis.
Orgulho.
Ele estava orgulhoso de si mesmo por ser capaz de fazer algo por conta própria.
Mesmo que fosse algo tão simples como usar o banheiro, o fazia se sentir um pouco menos inútil.
E Harry estava feliz por ter ajudado a dar a Louis esse sentimento.
“Posso ajudá-lo a voltar para sala de estar?” Harry perguntou, pegando a mão de Louis e dando-lhe um sorriso largo.
Louis acenou com um sorriso e estendeu a mão para aceitar a mão de Harry.
“Obrigado”.
No momento em que eles faziam caminho em direção a sala de estar, de repente, Anne saiu da cozinha.
“Olá rapazes!” Ela exclamou alegremente. “Fico feliz em vê-lo animado, Louis.”
Ambos sorriram e Louis ofereceu-lhe um aceno agradecido.
“Acho que ele está quase pronto para correr uma maratona”, Harry se gabou orgulhoso com a forma como Louis estava, apenas algumas horas após uma longa internação.
Anne riu e Louis corou.
“Bem, se ele vai sair correndo, ele precisa comer primeiro. Colocarei um par de bandejas na sala de TV para vocês. Vou trazer um pouco de sopa quando vocês estiverem prontos.”
Eles caminharam de volta para a sala lentamente, onde Harry ajudou Louis a encontrar uma posição confortável no sofá.
Louis se virou para encarar Harry e lhe deu um sorriso agradecido.
“Obrigado.” Ele sussurrou. “Eu realmente precisava disso.”
“Da próxima vez, não se acanhe em pedir ajuda mais cedo, Lou.” Harry riu. “Eu realmente não me importo.”
Louis sorriu e acenou com a cabeça. “Você parecia tão tranquilo em seu sono, eu não queria perturbá-lo.”
Harry levantou uma sobrancelha. “Me olhando dormir, hm?”
Louis corou ligeiramente. “Como se você não ficasse me olhando dormir no hospital.”
Foi à vez de Harry corar. “Você me pegou.”
Ambos soltaram risos suaves, quando Anne entrou na sala carregando uma bandeja cheia de duas tigelas fumegantes de sopa caseira de galinha e um prato com torradas.
Uma vez que ela tinha posto as bandejas sobre a mesa, ela se virou para olhar Louis.
“Você está se sentindo melhor?” Ela perguntou. “Descansou o suficiente?”
Louis acenou com a cabeça.
Anne sorriu. “É bom ouvir isso. Agora aproveitem a sopa e daqui a pouco eu volto para recolher os pratos.”
Ela se virou para ir embora, mas percebeu Louis começar a abrir a boca, como se pretendesse dizer alguma coisa.
“O-obrigado, Anne.”
Seu coração sentiu-se aquecido com aquelas simples palavras que o adolescente havia lhe dito. Foi uma ótima sensação saber que estava cada vez se abrindo mais a ela.
“Você é muito bem vindo, querido”, ela respondeu com um sorriso orgulhoso estampado em seu rosto.
O garoto observou-a sair da sala e, em seguida, tomou seu prato de sopa.
“Você gosta disso?” Harry perguntou, com a boca cheia de sopa de galinha.
Louis engoliu um bocado antes de responder. “É muito bom. É bom comer comida de verdade depois de tanto tempo.”
“Sim, os médicos não permitem que você tenha muito comida real, não é?”
Louis sacudiu a cabeça. “Somente compota de maça e pudim de copos, todo o resto era por um daqueles tubos.”
Harry deu um sorriso simpático. “Mas agora você vai começar a desfrutar das habilidades culinárias incríveis da minha mãe. Você vai estar gordo em semanas.”
Louis riu. “Eu vou comer o que ela me der, desde que você me prometa que não vai ter nada de maça ou pudim.”
Harry sorriu antes de gritar. “Mãe, Louis quer um pouco de pudim para sobremesa!”
Em resposta, Louis atirou um travesseiro em sua cabeça, fazendo com que Harry quase derramasse sua sopa. Ele fez uma cara de inocente e levantou as mãos como se dissesse: “o que eu fiz?”.
Os meninos continuaram comendo em suas tigelas de sopa, até que cada um terminou com suas tigelas de sopa, bem como algumas fatias de torrada com manteiga. Harry tinha acabado de por a colher de volta para a tigela, quando Anne entrou na sala com um sorriso.
“Eu senti falta desse riso nas últimas semanas”, disse ela alegremente, olhando para Harry. “Obrigado por trazer esse som de volta, Louis. Eu realmente senti falta.”
Harry corou, enquanto olhava para sua mãe em reprovação simulada.
“Então meninos, terminaram o jantar? Louis há algo que eu quero te mostrar...”
Os olhos de Louis se arregalaram e ele virou a cabeça para encarar Harry, que estava sentado ao lado dele e deu-lhe um aceno de cabeça e um sorriso maroto. Louis voltou seus olhos para Anne e assentiu inseguro.
“Tudo bem, vamos lá.” Anne disse, balançando a cabeça na direção do corredor.
Louis apertou a palma da mão na mesa e apoiou-se para ficar de pé, com um pequeno estremecimento. Harry levantou-se e colocou a mão no antebraço de Louis.
“Vamos ver por que minha mãe está tão animada.”
Eles caminharam pelo familiar corredor, desta vez com Louis andando quase totalmente sozinho. Houve alguns momentos em que ele tropeçou um pouco, mas Harry estava ali ao seu lado para lhe oferecer um braço de apoio.
Eu nunca vou deixar você cair.
Louis ficou surpreso ao ver Anne parar na frente de uma porta fechada em frete a porta que dava para o banheiro. Um largo sorriso se espalhou pelo rosto de Anne quando ela virou a maçaneta e abriu a porta.
“Eu sei que é pequeno. Até alguns dias atrás, era apenas um escritório.” Ela disse, entrando no quarto.
As sobrancelhas de Louis juntaram em confusão.
Ele e Harry deram um passo em direção à porta e quando Louis finalmente foi capaz de ver o que estava dentro do quarto, sua respiração fiou presa e ele sentiu seus joelhos fraquejarem.
Era um quarto.
Um quarto real.
As paredes do quarto foram cobertas com tinta azul escuro, que adicionou um toque de conforto.
Havia uma cama ao longo da parede oposta, com um edredom cinza claro e um cobertor felpudo sobre a extremidade da cama. Dois travesseiros grandes e macios estavam perto da cabeceira da cama em uma cor vermelha brilhante, combinando com o cobertor.
Ao lado da cama havia uma pequena mesa de cabeceira e em cima dela, estava um candeeiro branco com a lâmpada verde, e um pequeno sistema de carregamento de prata para seu telefone. Um candeeiro de pé no lado oposto da cama, que já estava ligado, iluminando o quarto com um brilho suave. Próximo a ele, estava um pequeno teclado de piano.
Louis olhou para o piano por um longo momento, uma memória de uma conversa que teve com Harry há muito tempo correndo em sua mente.
“Eu geralmente toco porque é como uma grande fuga.”
“Eu gosto de tocar quando preciso de um tempo sozinho; quando eu preciso fugir da realidade.”
Louis virou a cabeça para Harry, ele não podia acreditar que o adolescente tinha se lembrado disso. Parecia ter sido a vidas atrás.
Louis voltou sua atenção de volta ao quarto, percebendo uma grande cômoda de madeira na parede oposta e um grande espelho pendurado acima dela. Em cima da cômoda Louis podia ver uma cesta contendo itens pessoais; um pente, shampoo, escova de dente, desodorante, e um monte de outras coisas importantes.
Havia até uma pequena TV de tela plana preta afixada na parede de frente para a cama. Abaixo dela estava uma prateleira cheia de inúmeros DVDs, e um X-box com jogos ao lado.
Ao lado da estante tinha uma mesa de madeira simples, feiras de carvalho de cor escura. Em cima da mesa havia uma pequena lâmpada de prata, um suporte cheio de canetas de cores diferentes e fontes de escritas, e um diário. A cadeira bem acolchoada com rodas ao lado da mesa.
Um grande quadro de avisos pendurados ordenadamente sobre a mesa, um calendário, e uma colagem de diferentes jogadores de futebol e outras coisas de esporte.
O que chamou a atenção de Louis imediatamente foi a imagem de Harry e Anne que estava em um canto mesa.
Um arrepio correu pela espinha de Louis.
Família.
Eles querem que eu seja uma parte de sua família.
“É-é perfeito. O-obrigado”, Louis gaguejou, as emoções que estava sentindo o consumindo.
Ele não podia acreditar em todas as coisas boas que Harry e Anne deram a ele. Quando morava com o pai, antes de sair de casa, ele tinha um monte de coisas caras. Mas no apartamento com sua mãe, eles não podiam pagar por um piano, ou um X-box. E, quando se mudou com Jason, Louis não tinha nada além de algumas roupas, que tinham sido destruídas pelo tempo ou quando o homem ficava com raiva e as lascava.
“Se há alguma coisa que você não gostou, não tenha medo de nos falar. Nós queremos que você seja feliz aqui”, explicou Anne.
Louis sacudiu a cabeça. “Não... e-eu amei tudo.”
Anne sorriu. “Fico feliz. Agora, o banheiro fica aqui em frente, o quarto de Harry continua no mesmo lugar, e o meu fica a direita no corredor.”
Harry não vai ficar comigo?
Louis simplesmente assentiu com a cabeça, tentando disfarçar a decepção e ansiedade com a notícia.
“Louis, eu tenho mais uma coisa para você”, disse Anne caminhando até a penteadeira. Ela abriu a gaveta de cima e tirou alguma coisa antes de voltar para onde Louis estava sentado.
Ela sorriu e colocou o item no colo de Louis.
Era a sua camisa de futebol.
Estava bem passada e dobrada; parecia nova.
Não havia manchas de sangue no tecido, e algumas lágrimas já voltavam a se formar.
Os olhos de Louis nublado de lágrimas e seu lábio inferior tremeu ligeiramente. Quando ele finalmente olhou para Anne, que estava diretamente em sua frente, com um sorriso amoroso, suas emoções borbulhavam até chegar seu clímax.
Ele levantou-se da cadeira desajeitadamente e se jogou nos braços de Anne.
Instantaneamente, ao entrar em contato, as lágrimas começaram a deslizar livremente de seus olhos e ele tremia de emoção quando ela apertou-o com força em seu peito.
“Está tudo bem, querido.” Anne murmurou, correndo os dedos pela franja de Louis. “Vai ficar tudo bem agora.”
Louis continuou a soluçar no peito de Anne por vários minutos, enquanto ela continuava com seus movimentos e palavras tranquilizadoras.
Quando ele finalmente se afastou dela, uma sensação de calor se espalhou pelo seu rosto e ele de repente se sentiu envergonhado por ter perdido a compostura.
Ele olhou o redor do quarto, seu quarto, esperando ver Harry de pé ao seu lado, mas foi surpreendido ao descobrir que ele e Anne estavam sozinhos.
Louis imediatamente se sentiu inseguro e afastou as lágrimas com os dedos.
“Ele saiu um pouco, Louis.” Ela assegurou. “Ele pensou que poderíamos ter um momento a sós.”
Louis concordou felizmente. Ele já tinha chorado o bastante na frente de Harry para durar uma vida.
“Você realmente não estava esperando por isso, estava?” Anne perguntou, correndo os dedos pela maça do rosto manchado por lágrimas mais uma vez.
Louis sacudiu a cabeça e o coração de Anne foi preenchido com uma combinação de tristeza e conforto.
Ele já passou por tanta coisa, eu estou contente que ele nos tenha para amar e cuidar dele.
“Bem, tudo isso é para você.” Ela disse com orgulho, pressionando os lábios em sua testa. “E nós estamos felizes em ter você vivendo com a gente.”
“O-obrigado.” Ele soluçou.
“Aww, querido.” Anne suspirou. “Você é importante para nós. Você é um garoto incrível. Tão valente e forte. É um prazer tê-lo aqui com a gente.”
Louis, em uma perda completa de palavras, só se abriu para a mulher na frente dele.
A mulher que abriu sua casa para ele.
E mais do que isso, abriu seu coração para ele.