Ceres - O Retorno Da Escuridã...

By erika_vilares

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TERCEIRO LIVRO DA SÉRIE AS ADAGAS DE CERES Após o hediondo banho de sangue e o regicídio ocorrido no reino no... More

Prólogo
Capítulo Um - Parte II
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
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Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta - Parte I
Capítulo Trinta - Parte II
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Nos capítulos anteriores das Adagas de Ceres...
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Capítulo Trinta e Sete
Capítulo Trinta e Oito
Capítulo Trinta e Nove - Parte I
Capítulo Trinta e Nove - Parte II
Último Capítulo - Parte I
Último Capítulo - Parte II
Último Capítulo - PARTE III
Agradecimentos + Novidades
PRÉ VENDA

Capítulo Um - Parte I

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By erika_vilares

Capítulo Um

Quando os primeiros raios de sol atravessaram o céu cinzento na silenciosa alvorada, Elliot Norwood percebeu que por mais que temesse o que estava por vir, a hora chegaria. Ver aqueles primeiros feixes de luz polida da primavera trouxe inevitavelmente a recorrente memória dos lustrosos cabelos dourados de Anna Campbell, brilhosos como a luz solar sobre aquela vastidão gris. Lembrou-se especificamente da conversa que tiveram a beira do lago, ao pé do coreto. Sua voz angelical perguntava se, um dia, ele gostaria de ser rei. Talvez, em outra realidade ele gostasse de ser rei, porém naquela a ideia era completamente aterrorizante.

O crepúsculo viera e se fora lentamente dando espaço para o amanhecer. Elliot não pregou seus olhos ansiosos, ele não conseguia fazê-lo desde o Baile de Sangue. Assim fora chamado a hedionda noite onde seus pais foram brutalmente assassinados, nobres como servos mortos pelo aço, pelo fogo ou pisoteados pelo desespero. Naquele dia, o norte ganhara a batalha, mas ao mesmo tempo perdera tudo.

Ele caia em luto enquanto a guerra se erguia.

Elliot acreditava estar tendo um pesadelo de olhos abertos. Eles tinham tudo numa noite: um futuro grande aliado, confiança, um novo herdeiro na família real. Era a iniciação de um futuro brilhante para os nortenhos e subitamente, numa única noite, tudo fora dizimado.

O príncipe afastou-se lentamente da porta de vidro que levava até a sacada e rodopiou pelo quarto cinza perolado. Seguiu até a penteadeira de sua irmã e fixou o olhar na fita de seda azul que ela guardava pendurada no espelho. Pensava constantemente se Amélia saberia como reagir naquele momento. Se ela estaria menos assustada que ele estava diante toda aquela responsabilidade. Ansiava perguntá-la, mas até mesmo Mia, sua irmã, tinha morrido naquela noite.

Disseram que ela estava na tribuna quando o teto desabou, que o fogo tinha engoliu-a junto dos cadáveres de seus pais. Outros diziam que Gardênia tinha a sequestrado. Alguns sussurravam que fora a própria princesa que começou o incêndio, que ela havia queimado pessoas vivas. Mas a única coisa que Elliot sabia foi que três corpos foram encontrados carbonizados na tribuna, de um homem e duas mulheres.

Enquanto sua irmã ficara no meio do caos, Elliot estivera trancado com os irmãos desesperados dentro de um quarto, muitos disseram que ele fora corajoso por ter protegido os seus sangues, entretanto não era assim que ele sentia.

Era inconcebível, irreal e indizível que aquilo poderia ser verdade. Algo em Amélia fazia parecê-la importante, intocável e imortal. E no entanto, ela acabara morta como muitos outros nortenhos apenas porque um teto em chamas desabou. Não foi uma morte heroica, foi vazia. Aquilo fez Elliot voltar atrás com todas suas crenças, não haviam privilégios, todos morreriam de qualquer forma; degolados, enforcados, atacados por monstros, esfaqueados ou queimados. Não havia importância de quem era ou do que fez. A morte era certa para todos, e nem sempre era uma morte memorável ou digna.

Um ar gelado correu por sua boca quando ele se afastou do espelho e sentou-se sobre os cobertores de algodão estirados em cima do colchão de penas. Quase todos os dias Elliot ia ali, no quarto de Amélia, para pensar. Apesar de nem mesmo ele entender seus motivos.

Uma sombra surgiu no quarto e a voz do Conde Butler ressonou com polidez:

– Procuram por você, Vossa Majestade.

Elliot não se deu o trabalho de levantar seus olhos, eles estavam fixos na sua própria imagem refletida no espelho. Usava um gibão negro com detalhes e medalhas douradas, era um modelo que seu rei costumava usar, mas que fora reajustado, porque o rei era mais alto e mais forte. Elliot não era baixo e tinha músculos definidos, mas tudo que ele via no reflexo era um garotinho assustado e fraco.

– Eu sei – ele murmurou, seco. – Como me encontrou aqui?

– Pensei como se fosse você. Também viria nos aposentos da antiga futura rainha procurar por respostas.

Elliot bufou, com certa ironia. Esquecia-se de que Aspen Butler era um dos homens mais inteligentes do reino, talvez fosse o maior, mas ninguém gostava de afirmar. Não foi atoa que seu pai o colocou como seu principal conselheiro mesmo sendo tão jovem.

– A cerimônia iniciará em poucas horas, se me permite aconselhá-lo Vossa Majestade, deveria tomar o seu café da manhã. Passará muitas horas sentado no trono sem poder comer nada, não é bem visto.

– Se eu comer ou deixar de comer sentado no meu trono não me fará parecer mais sério, ou menos fraco do que eles acham que sou.

– Eu sei que você essa assumindo grandes responsabilidades meu rei, mas...

– Não há, mas, Conde Butler. A maioria deste reino estava preocupado com a ideia de ter pela primeira vez uma rainha. Entretanto, todos eles aceitavam porque sabiam que seu sucessor não era firme, não era tão forte para ser uma segunda opção respeitável.

Aspen mantéu o silêncio, pois sabia que Elliot ainda não tinha terminado seu desabafo.

– E aqui estou eu, há alguns passos de minha coroação para ser o próximo senhor e rei do Norte afundado num poço de medo e desespero. O norte está em desespero, sobretudo porque eu devo guiá-los numa guerra inevitável.

– Gardênia ainda não se pronunciou pelo ataque, talvez isso não seja um início de uma guerra.

– Meu pai e minha mãe foram assassinados em seus tronos durante um baile! Minha irmã foi morta durante o ataque! Isso são sinais de guerra!

– Você tem a opção de não aceitar a guerra.

– E todos me tomarão por fraco.

– Guerras custam caro, além de poupar dinheiro poupará vidas. Essas pessoas estão traumatizadas pelas histórias do Dias de Escuridão.

Elliot abaixou sua cabeça sobre as mãos, era inegável que estava em pânico.

– Essas pessoas perderam pais, filhos, irmãos e amigos por esse ataque! Se eu renunciar à guerra, eles renunciarão meu governo.

– Essas pessoas querem vingança Elliot – Aspen retorquiu abandonando no momento as formalidades, nem mesmo ele deveria ver o jovem Elliot como um rei. – Vingança não nos trará vitória.

– E Amélia traria? – Elliot inquiriu, fatigado. – Ceres traria?

O Conde tinha a resposta, mas sabia que Elliot não queria ouvi-la. O futuro rei respirou fundo e esfregou suas têmporas, mal tinha subido no poder e já havia tomado o gesto que seu pai fazia constantemente.

– O Conselho será logo após a cerimônia, então por que está aqui, Conde Butler?

Aspen direcionou-se para o centro do quarto, andando aprumado e com as mãos atrás das costas.

– Porque este será seu primeiro Conselho, Vossa Majestade. E diferente da princesa Amélia, creio que você não conhece seus participantes.

– Não sou ignorante a este ponto, sei quem participa. O Grande Sacerdote, o Comandante e o Senhor do Vilar.

– Não duvidava de que soubesse quem são seus participantes, mas sim de suas personalidades. Seu pai odiava os três.

Elliot fitou o Conde sem mais nada dizer. Esperava que ele fosse mais claro.

– Durante uma guerra, o rei não tem o poder de tomar decisões sozinho, se o fizer, pode haver consequências. Tudo é decidido por voto, e o seu nessa época vale como qualquer outro. O conselho é formado por homens velhos e tradicionais, orgulhosos e teimosos. São homens que nunca estão de acordo, nem contentes, porém, agora o rei é mais novo e inexperiente. Eles tentarão manipulá-lo, cada um de sua maneira. Essa é a parte que você deverá agradar cada um. Do contrário, se eles estiverem descontentes, podem fazer alianças perigosas sem você.

Butler falava como se ele não fizesse parte do conselho, mas talvez seu discurso tinha o propósito de mostrar que estava do seu lado. Ou que suas opiniões e votos deveriam ser sempre os mesmos.

– Como isso é possível? Eu sou o rei, isso deveria ser proibido. Como poderia agradar um religioso, um guerreiro e um economista?

– Você não pode.

Elliot encarou seu Conde estupefato, o que deveria fazer então?

– Por isso, eu aconselho a Vossa Majestade tomar outra decisão. Escolha mais uma ou duas pessoas que possam estar ao seu lado, antes do Conselho iniciar, assim não poderão revogar. Alguém que você saiba que pode contar.

O Conselho começaria depois da cerimônia, isso dava a Elliot poucas horas para pensar. Precisava de duas pessoas de confiança para estarem ao seu lado nas reuniões, mas quem?

– Permitiria-me dar uma outra sugestão de quem poderia ocupar um destes cargos?

Elliot levantou os olhos, assentindo.

– A bruxa Winston.

– Emily está indo embora, Conde Butler. Amélia morreu, sua missão acabou.

– Eu sei, mas uma bruxa original aliada ao castelo, que você confia pode trazer vantagens em muitos pontos. Ela não recusará seu pedido, meu rei.

Elliot deixou o silêncio pairar no ar, mas acenou com a cabeça. Com cordialidade, Aspen Butler se retirou dos aposentos deixando-o sozinho. Ele ficou ali por quase mais uma hora, refletindo, quando um pensamento correu por sua cabeça: o Conde do rei também estaria tentando manipulá-lo?

De fato, ele era quem seu pai mais confiava, mas seu rei agora estava morto. Deveria confiar nele também? Apesar de Aspen sempre se mostrar fiel, Elliot sabia poucas coisas sobre ele. Era filho do antigo Conde Butler que se casara com uma bruxa que vinha do Sul, o que explicava seu parentesco com Emily. Talvez pela rixa entre feiticeiros e bruxos e o desgosto do reino nortenho com o reino sulista, a mãe de Aspen nunca vinha ao castelo nortenho que naquela época ainda tinha feiticeiros que passam por seus corredores. Mas Aspen sim, ele chamara a atenção do rei desde criança por sua inteligência, pela maneira que ele se comportava como adulto e com seu talento. Conquistou a confiança do rei, se tornara seu conselheiro com a idade de Elliot, com a morte do pai.

Ele não tinha nada a perder com a guerra a não ser suas terras, o que já era um bom motivo para querer evitar tal conflito. Elliot não sabia quem deveria confiar, porém sabia que talvez Emily estivesse apta para ser uma dos participantes do Conselho. Ela daria o apoio que ele precisaria.

Mas o que o Conselho, formado por homens tradicionais e orgulhosos, pensaria quando ele trouxesse uma mulher para ocupar uma cadeira?

Aceitavam com mal gosto a ideia de uma rainha que nem existia mais...

Elliot hesitou.

Com esforços e as pernas quase bambas, ele se dirigiu para o lugar onde ocorreria a cerimônia de coroação. Ao chegar no corredor, viu o sorriso gentil no rosto de Ethel Grimhilt que o esperava segurando com esforços um grande manto aveludado de carmim. Ela foi a aia de Amélia nos últimos tempos que a princesa passou no castelo, e era uma moça bonita de traços delicados como se fosse uma boneca de porcelana. Ela pálida e os escuros fios castanhos davam contraste para seus traços que aparentavam ter sido desenhados. Elliot queria se mostrar mais confiante, pelo menos para ela.

– Obrigado por isso – Elliot disse ajeitando com sua ajuda o pesado manto em suas costas, deveria ganhar grande peso com ele.

Ethel bateu suavemente as mãos sobre seus ombros.

– Estou as suas ordens, príncipe Elliot... Me perdoe, Vossa Majestade.

Elliot suspirou com um meio sorriso, virando-se para ela.

– Pode chamar-me apenas de Elliot.

Ela ruborizou e abaixou os olhos, tímida. Ele percebeu seguidamente o quanto aquilo soou estupido, quando um príncipe na véspera de sua coroação pediria para lhe chamarem pelo nome? Que tipo de respeito ele passaria?

– Então – Elliot forçou-se a falar para cortar o embaraçoso momento –, como aparento?

– Digno de uma verdadeira coroa do Norte.

– Agradeço a gentileza – mesmo que não fosse com sinceridade. Ela era sua serva, lhe diria o que queria ouvir.

– Não é apenas gentileza, meu rei.

Elliot quase sorriu vendo como ela ficava tímida quando seus olhares se fitavam.

– Poderia lhe perguntar uma coisa? – Elliot assentiu. – Qual é a sensação de ter todos do reino admirando-o?

Ethel tinha um ar inocente quando falava, era possível que nunca ouvira os boatos sobre a opinião pública do futurorei?

– Se fosse apenas admiração, eu me sentiria menos intimidado – as palavras saltaram de sua boca sem nenhuma restrição e na mesma hora Elliot se repreendeu, lá se fora a chance de parecer confiante.

– Por que eles não lhe admirariam? Para mim você será um bom rei.

Elliot novamente sorriu, era a primeira vez que sorria três vezes seguidas num curto espaço de tempo desde o baile, e também era a primeira vez que eles conversaram mais de duas palavras. Logo o príncipe notou que o nó que estava no seu peito pareceu deslaçar um pouco. Outrora, Elliot não se sentiria intimidado por aparecer para os nobres do castelo, mas porque sempre soube que nunca fora aquele que era realmente esperado pelo público.

– Agradeço, senhora Grimhilt.

– Senhorita – ela insistiu.

– Não é casada?

Ela negou com a cabeça com um fino sorriso.

– Vossa Majestade – uma voz chamou atrás deles e era Sor Kaufmann. Hubert Kaufmann estava bem mais velho do Elliot se lembrava, no dia do Baile de Sangue seu pai havia concedido perdão real a Sor Kaufmann após uma longa investigação para encontrar um único vestígio de que ele tivesse ajudado seu sobrinho a trair a coroa, mas em vão.

Qualquer um teria sua família banida para sempre, porém, aquela chance foi concedida pelos anos de serviço e fidelidade de Kaufmann para a família Norwood. Elliot viu que ele não carregava mais a arrogância que costumava exalar, mas conservava a severidade na expressão. Elliot ouvira boatos de que ele fora torturado, mas nunca procurou saber da verdade. Acreditava que para alguém como Hubert, ter o nome de sua casa sujado por seu sobrinho já era demasiada tortura.

– Está na hora da cerimônia.

Elliot aquiesceu e ambos direcionaram o olhar para Ethel que com uma reverência, se afastou apressadamente. O príncipe seguiu os passos de Sor Kaufmann para as grandes portas que o levariam para o salão, dois guardas que ficavam na passagem reverenciaram-se, mesmo sentindo uma falta de ar no peito, Elliot assentiu para que as portas fossem abertas.

Feixes de luz adentraram rapidamente pela passagem e os olhos do príncipe não conseguiram acompanhar a mudança rápida de luz, de modo que sua visão se tornou embaçada à medida que andava. Ele se aproximou da balaustrada e então pôde enxergar a grande multidão que o esperava no piso inferior.

Um frio passou por sua barriga ao notar com clareza todas as cabeças inclinadas observando seu futuro rei. Elliot não conseguia ler com rapidez os olhares que lhe mostravam, mas sabia que neles havia uma mistura de medo e luto.

Ele aprumou suas costas e respirou fundo, dando passos pesados em direção a escadas de mármore perolado, os degraus pareciam largos e grandes demais daquela vez. Limpou a garganta e desceu um por um, concentrando-se na doce música do violino que dançava pelo salão e todos os olhares lhe acompanhavam, ele não queria ouvir os sussurros.

O príncipe andou pelo corredor, formado pelos convidados para verem a cerimônia, até seu trono, todos queriam olhá-lo e examiná-lo. Seu público queria encontrar sua fraqueza como predadores que procuravam fragilidade nas presas. Ele tentava não mancar, entretanto apesar da prótese ter sido feita por Simon Vorins, ela não era perfeita. Elliot mancava sutilmente quando andava normalmente, sobretudo quando estava nervoso. Sentia-se humilhado por não conseguir ter um bom equilíbrio do corpo, mas recusava-se usar uma bengala como o Conde Butler sugerira. Tentou manter-se rijo, forçando seus olhos não observarem o salão. Ele tinha sido fechado para reforma desde o Baile de Sangue, e era a primeira vez que o príncipe entrava ali. O salão não estava com o aspecto solene que costumava ter, porém aparentava num primeiro rápido olhar que estava mais organizado do que esperava.

Todos os tipos de mármores do salão tinham sido rudemente polidos, todavia ainda se via nódulos negros penetrados em algumas superfícies. Os vitrais tinham sido trocados por vidros mais resistentes, todas as cortinas e os panos tinham sido substituído por peças parecidas. Elliot desejou guardar o bom gosto de sua mãe, apesar de que nada estava perto de se parecer com algo que ela faria. O ambiente aparentava estar mais vazio, com menos vida.

O maior massacre à realeza na história de Skyblower tinha acontecido ali, isso não seria esquecido nem nos próximos cem séculos.

O pequeno príncipe de sky alcançou seu mais novo trono de rei que fora restaurado em algumas partes. Elliot lembrou-se de quando viu a cadeira do rei queimada pela primeira vez, todos tinham ficados horrorizados. O trono que por longas eras disseram ser indestrutível, nem mesmo pela mais ardente chama. E ali estava ele, deformado.

O Grande Sacerdote dissera que o trono não deveria ser restaurado, ele era um grande símbolo na realeza como na religião, não deveria ser tocado ou modificado. Entretanto, Conde Butler achou que um aspecto abatido poderia apresentar mau agouro e Elliot não queria mais negativismo para seu reinado. Ele subiu as escadas sentindo suas pernas tremerem, tentava respirava fundo, quando alcançou o topo pareceu-lhe o grande alívio.

Richmond da casa Landwirts, mais conhecido como o Senhor do Vilar, subiu as escadas com solenidade trazendo o bastão do comércio em suas mãos. Ele colocou-se de joelhos e ergueu o bastão para o príncipe enquanto fazia seu juramento em nome de sua casa e de sua função. Em seguida foi a vez do general Marx da casa Northstein que entregou a manta que o rei deveria usar em todas as cerimônias, ela representava seu exército, e fez seu juramento numa voz carrancuda. Por fim, O Grande Sacerdote que representava a casa Holz trouxe a coroa, Elliot sentou-se no seu trono e ouviu somente a vibração da voz gutural de Gottfried, ele sentiu o peso do ouro em sua cabeça e seus olhos se fixaram no vácuo.

Ele poderia ter crescido naquele castelo, porém naquele exato momento, Elliot teve o sentimento do desconhecido. Não conhecia verdadeiramente ninguém que o cercava. Eram todos rostos familiares, mas sem afeto algum. Todos poderiam ter sido inocentes como culpados do massacre no Baile de Sangue. Ele olhou para todos os lados, esperando ver somente alguém que ele confiasse. A voz de Gottfried ainda fazia barulho, mas tudo que Elliot ouviu foi o desespero gritar dentro de si, aquilo era um perfeito golpe, com a família Norwood dizimada, ele estava sozinho. Sozinho com três pequenos irmãos para lutarem contra um reino inteiro, um continente inteiro.

– Eras atrás, a divindade Heilung percebeu que o povo do céu estava sendo corrompido pela ambição e cobiça, decidiu então roubar o excesso de ouro de seus fiéis e com ele construir uma cadeira que somente aquele que soubesse o verdadeiro peso da ambição e da cobiça seria digno de sentar.

Elliot ergueu sua cabeça e engoliu seco, parecia difícil respirar naquele momento. Sentiu o suor escorrer por seu corpo e quando menos podia estava arfando e tremendo. Todos os seus possíveis inimigos estavam o encarando.

Não mostre-os seus medos, uma voz sussurrou em seu ouvido. Elliot procurou de onde esta viera, mas tudo que viu foi o Grande Sacerdote velho e barbudo discursando. Elliot então ergueu seu olhar e viu um vulto nas escadas por onde entrara, um grande vestido rodado pintado de vermelho sangue e um longo cabelo enegrecido alcançou seu olhar pasmo.

– Esse seria o dono do céu, esse seria aquele que saberia guiar seu povo. Príncipe Elliot, filho legítimo de Rei Edwin Alksen Norwood e da Rainha Adelaide Hansen, hoje torna-se o rei Skyblower, senhor e protetor do Norte. Vida longa ao rei!

Elliot Norwood levantou-se num salto de seu trono, os batimentos de seu coração eram violentos, estremeceu do pé a cabeça ao ver perfeitamente que aquela que lhe falava era Amélia Norwood, perfeitamente idêntica ao dia de sua morte.

Boquiaberto, assistiu a princesa lhe dar as costas, subir as escadas solenemente, sem ninguém notar sua presença, até desaparecer lentamente na escuridão da porta.

– Vida longa ao rei! – Todos louvaram o rei.

II

Emily Winston encarava a cegante luz alva que adentrava a janela e refletia em seus olhos. Então, suspirou. Precisava arrumar o resto de suas coisas antes do crepúsculo. Ela continuou arrastando-se pelo caminho que a levava a Sala de Feitiços. Para chegar lá deveria subir a escadaria da Torre Estrela, dez luas tinham passado voando, e tudo que Emily fez foi se lamentar.

Muitas pessoas de sky acusaram-na de ser a culpada da magia negra utilizada no Baile de Sangue, acreditavam ou queriam acreditar que ela tinha sido a responsável pelos falsos dançarinos. Ninguém apontara o dedo e lhe culpara, mas ela conseguia pressentir os olhares acusadores e os sussurros maldosos. Até mesmo as crianças do castelo desviavam de corredor para não se aproximar dela. Ela era a única bruxa daquele castelo e foi incapaz de fazer sua função. Ela tinha falhado não somente na sua missão em proteger Mia, como no seu dever de salvar sua irmã que era prisioneira em Gardênia.

Levaram dez malditas luas para Emily decidir tomar uma atitude e essa era ir embora. Quis esperar até a coroação de Elliot para partir, deveria ao menos dá-lo esse conforto de ter seu apoio, mas quando colocou seus pés no salão, sentiu a pressão de ser rejeitado por todos. Antigamente ignoravam sua presença, mas agora eles a repudiavam. Uma nobre demonstrou seu ódio em voz alta dizendo que a bruxa deveria ter vergonha de colocar seus pés imundos ali, então uma onda de protestos contra a presença da maldita bruxa começou. As pessoas a odiavam em qualquer lugar que ela tentasse morar, fosse no Clã das Bruxas, fosse em Skyblower. Ela se afugentou e abandonou o salão.

Ao chegar na Sala de Feitiços, acreditou que poderia chorar sem que ninguém a ouvisse, quando se deparou com a presença do Conde Butler diante uma das estantes de livros. Emily segurou suas lágrimas e se locomoveu até a mesa no fundo da sala para que não a visse daquela maneira.

– Eu estava procurando por você a pedido do rei – ele disse, numa voz casual. – O rei gostaria de ter vindo pessoalmente encontrá-la, mas ele teve um mau estar após a cerimônia... Por falar nela, eu não a vi lá.

Emily limpou as lágrimas e mentiu:

– Não pude comparecer.

– Você está arrumando suas coisas – ele  . – Entretanto esse assunto que Sua Majestade me encarregou é de extrema importância.

– Diga – ela prosseguiu virando-se para ele. Conde Butler vestia um gibão preto que realçava a cor de seus olhos esverdeados.

– Você agora tem uma grande missão aqui, ao lado de Sua Majestade. Ele precisa de alguém para ajudá-lo durante o Conselho. A guerra ainda não foi declarada, mas logo será. E quando isso acontecer, o rei Elliot não tomará decisões sozinhas, tudo será decidido a base do voto, ele pode perder muito apoio de seus conselheiros. Por isso Sua Majestade tomou a sábia decisão de convocá-la, Lady Winston.

Emily encarou-o durante um longo tempo de silêncio. Conde Butler dizia tudo com sua naturalidade, sem esboçar expressão.

– Diga a Sua Majestade que eu sinto muito, mas meus serviços não estão mais disponíveis. Estou indo embora hoje mesmo.

– Isso não é uma decisão sensata.

Ela virou-se para se apoiar na mesa e respirou fundo porque já sentia as lágrimas subirem aos olhos.

– Logo você me falará de sensatez, Conde Butler?

– Você jurou seus votos para esta família, e agora que o rei Edwin está morto, você os abandonará? – a voz dele se engrossou.

– Eu jurei meus votos para princesa Amélia, para proteger Ceres! – Emily rebateu mirando um olhar furioso em Aspen. – E eu falhei! Eu falhei com ela, eu falhe com o pai dela, eu falhei com a mãe dela.

– Isso não quer dizer que você falhará com Elliot, ninguém esperava o massacre daquele baile.

Emily desviou seu olhar quando lágrimas pularam de seus olhos.

–  Eu não posso fazer isso Aspen, eu apenas não consigo mais. Eu não tenho forças para proteger nem aqueles que amei, nem aqueles que eram meu dever.

– E agora você simplesmente desistirá dessa maneira?

– Você não tem ideia do quanto eu venho tentando não desistir até hoje.

– Talvez você não tenha tentado o suficiente.

Emily fixou o olhar sobre ele, incrédula com seu julgamento. Ela virou o rosto, cansada de discussões, até mesmo o julgamento de Aspen Butler, o homem que lhe abandonou com um filho, doía.

O conde aproximou-se e atreveu-se tocar com uma mão seu ombro e com a outra seu rosto, fazendo-a olhar para ele.

– Se eu pedi para o rei Edwin trazê-la para esse castelo, foi unicamente porque eu não tenho dúvida do seu potencial, Winston. Você não somente segue seu dever como ouve seu coração. Você é completamente capacitada de ser forte e ser uma excelente conselheira de Elliot, com você essa guerra não estará perdida. Ele precisa de você aqui. Esse reino precisa de você aqui. – Aspen pronunciou cada palavra olhando em seus olhos.

– Fique, por favor.

Emily balançou sua cabeça em negativa e Aspen apertou sua mão no braço dela com mais força, como se não capaz de deixá-la. Emily o via de perto como há muito tempo não o fazia.

– Diga ao menos que você pensará na proposta e ficará aqui mais uma noite.

Antes que ela negasse mais uma vez, a conversa foi interrompida com a entrada do rei. Sua pele estava pálida, os olhos, que desde do Baile de Sangue tinham as pálpebras meio caídas pelo cansaço, estavam arregalados e a boca entreaberta dando ênfase à sua expressão assustada. Imediatamente Emily se afastou de Aspen, o rei nunca deveria ter visto aquela aproximação, uma aproximação que primos provavelmente não teriam.

– Vossa Majestade – Aspen disse com cordialidade, colocando suas mãos as costas.

– Eu preciso falar com vocês – ele anunciou numa voz preenchida de incerteza.

– O que aconteceu, meu rei? – usar aquela formalidade com Elliot era estranho para a bruxa.

– Não diga isso. Não diga rei – ele exigiu, adentrando a sala. Demonstrava estar completamente desnorteado.

Emily olhou para Aspen que também estava receoso com a expressão do rei.

– Não está certo...

– Por que não é certo, Elliot? Você teve sua coroação. 

Elliot seguiu até um lavabo e lavou seu rosto, estava arfante, em seguida apoiou suas mãos e pareceu se perder em seus pensamentos com os olhos fixos no nada.

– O que há de errado, Elliot? – Emily insistiu aproximando-se dele.

– Eu a vi durante a coroação... Eu a procurei por todo lado e eu não a encontrei.

Emily novamente direcionou seu olhar para o Conde esperando encontrar algum sentindo nas palavras do rei, mas ele também parecia estar a par da situação. A bruxa tocou o ombro de Elliot e tentou outra vez:

– Do que você está falando, Elliot?

Ele se aprumou e olhou para eles, assombrado.

– Nem um de vocês a viu?

– Quem, Elliot?

– Mia. Ela estava lá. Estava assistindo à coroação e falou comigo. Mas ela desapareceu e agora eu não consigo encontrá-la.

Emily não pôde evitar olhar o Conde, tão surpreso quanto ela.

– O que ela disse? – A bruxa perguntou, com cautela.

– Ela apenas disse para não permitir que eles vissem meus medos e então ela saiu do salão. Vocês não a viram?

Emily não sabia o que poderia responder sem parecer rude, os restos mortais de Mia tinham sido encontrados e enterrados na cripta há dez luas. Machucava saber que ela não voltaria, mas mesmo a bruxa viu o fogo arder na tribuna, onde ela estava. Sendo queimada viva.

– Eu sei o que vocês estão pensando, que estou maluco. Mas, falo a verdade, ela estava no salão nas escadas olhando para mim.

– E quando vocês se falaram?

– Quando ela estava nas escadas... – Elliot pareceu ter um surto de volta para a realidade. Se calou subitamente e sua feição se fechou. Era lógico, se ao menos aquela situação pudesse ter uma gota de realidade, seria impossível Mia conseguir falar com ele de tal distância.

– Ela não estava lá – ele sussurrou.

– Não, Elliot. A princesa morreu meu rei – Aspen disse.

Ele balançou a cabeça e pareceu ainda mais perdido que anteriormente.

– Talvez você tenha sentindo falta deles, por isso achou tê-la visto. Eu sinto muito Elliot.

Ele absorveu todas as palavras sem nada dizer, apenas ofegando. Em seguida, fitou os dois primos com um ar desnorteado, balançou a cabeça lentamente e tentou mudar a situação:

– Está bem, devemos ir para o conselho agora. – O rei notou a feição hesitante de Emily, então indagou: – O conde Butler já falou com você, não é mesmo?

Ele encarou os dois esperando uma resposta, mas enterrou seu olhar especialmente nela. A bruxa podia ver além do desespero dele.

– Sim. Ficaria honrada com a escolha meu rei – Emily falou num tom baixo, engolindo a seco. Ele acenou com a cabeça.

– Ótimo.

– Mas talvez creio que eu não estou apta a este cargo – ela se apressou a dizer.

Elliot firmou o peso sobre os pés e suspirou, fatigado.

– Emily, eu acredito que se você foi recrutada por meu pai quando ainda estava em vida, ele tinha planos de reimplantar a magia em Skyblower. Se este era o desejo dele, desejo realizá-lo e não vejo ninguém melhor e de minha confiança para fazer isso. Eu preciso de você aqui. Ainda é a pessoa mais próxima que tenho nesse momento, a única talvez. Então, por favor, fique.

Ela balançou a cabeça em afirmativa, sem nem mesmo ter certeza do que acharia melhor. Não queria negar ajuda para Elliot, tinha o decepcionado, mas ele ainda estava ali, esperando que ela não o fizesse novamente.

– Estarei sob suas ordens, majestade – a bruxa jurou.

__________

Primeiro Capítulo Parte I do terceiro livro da série As Adagas de Ceres

5084 Palavras

Dedicado a todos os meus LINDOS, DIVOSOS, DEDICADOS LEITORES!!!!!!!!!!! Caraca galera, eu fiz a promessa e vocês levaram a sério, em um mês o primeiro livro ganhou 1k votos!!!!!!!! E como promessa é promessa, aqui está a primeira parte do primeiro capítulo do terceiro livro.

Vale lembrar que vou começar a fazer as postagens em agosto! Afinal, acabei de sair das provas dos finais do ano e ainda tem muita coisa que preciso escrever e colocar no lugar. Apenas postei hoje promessa feita é promessa comprida <3 Mas acho que vocês querem me matar porque não viram os outros personagens rsrsrsrs

Como eu estou super doente, peço desculpas pelos erros de ortografia. Não consegui revisar a história com atenção. Para vocês terem uma ideia do meu amor por vocês, fiz o book trailer e a lenda hoje mesmo doente!!!! Tudo em gratidão a força e do carinho que recebo de vocês.

A única coisa que não pude resolver hoje foi a nossa capa, a capa oficial ainda está em andamento. Mas espero que vocês gosteeeem!!!

Instagram: erika_vilares < solto muita novidade sobre a história por lá.

E em breve vou começar um canal maravilhoso no YouTube sobre minha experiência de vida em Paris , dicas de como escrever um livro, como recuperar o ouro do Brasil, passo um: namorar um português hahahaha! E muito mais!!!!
Então vai lá no YouTube e procura o meu canal: Erika R Vilares
Em breve no ar!!!

AADC também no facebook >>> links no meu perfil!!!

Beijãaao

Erika R. Vilares

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