Walking For Silence - Insurre...

Per TwenTrevor

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Sinopse "A Grande República já fora uma forte nação, considerada a última esperança de uma sociedade decadent... Més

Concurso
Elenco
Capítulo Um: Juramento, Marcas na Memória
Capítulo Dois: Tiro, Um Último Adeus
Capítulo Três: Afeto, Prova de Amizade
Capitulo Quatro: Funeral, Amores Tomados
Capítulo Cinco: Revelações, Deixo de Ser Um Cão do Exército
Capítulo Seis: Vingança, Uma Promessa é Cumprida
Capítulo Sete: Fuga, Execução Adiada
Capítulo Oito: Salvadora, Vida à Mercê do Mundo
Capítulo Nove: Preso, A Garota Que Surge das Sombras
Capitulo Dez: Retorno, Projeto Reativado
Capítulo Onze: Esther, A Estrela da Esperança
Capítulo Doze: Sequestro, Esther Volta à Ativa
Capitulo Treze: Travessia, Salto Para Uma Nova Vida
Capitulo Quatorze: Queda, Anjo da Guarda
Capítulo Quinze: Sentimentos, Caçada Iminente
Capítulo Dezesseis: Socorro, De Volta ao Lar
Capítulo Dezessete: Despedida, Sentimentos Ocultos Revelados
Capítulo Dezoito: Perseguição, Alvo Localizado
Capítulo Dezenove: Reencontro, Confronto Decisivo
Capitulo Vinte: Beijo, Sentimentos Conflitantes
Capítulo Vinte e Um: Esconderijo, Refúgio dos Desesperados
Capítulo Vinte e Dois: Traição, O Amor Grita Mais Alto
Capítulo Vinte e Três: Fuga, De Frente para o Nêmesis
Capitulo Vinte e Quatro: Foragidos, Beijo de Dor
Capítulo Vinte e Cinco: Resgate, Prisão de Amor
Capítulo Vinte e Seis: União, Dupla Perfeita
Capitulo Vinte e Sete: Abnegação, Promessa Rompida
Capítulo Vinte e Oito: Execução, Morre um Herói
Capítulo Vinte e Nove: Medo, Traição de Um Líder
Capítulo Trinta: Carinho, Reencontrando Amores
Capítulo Trinta e Um: Adeus, Os Opostos se Encontram
Capítulo Trinta e dois: Ceifeira, Guerra Civil
Capítulo Trinta e Três: Sofrimento, A Sexta Tempestade Siruss
Capítulo Trinta e Quatro: Hall dos Líderes, Altair Perde um Pilar
Mensagem

Capítulo Trinta e Cinco: Inimaginável, Uma Nova Vida

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Per TwenTrevor


Desperto alerta, com um susto e sento-me bruscamente, já analisando tudo ao meu redor, então sinto a dor da queimadura em meu peito devido aos meus movimentos repentinos. Noto um ferimento com curativo em meu braço, bem em cima de onde a centìmetros abaixo da pele estivera meu chip de identificação, vejo que ele foi removido, nunca imaginei que fossem capazes de fazer isso, agora Altair não tem mais nenhum poder sobre mim.

Presto atenção em meus outros ferimentos, eles foram novamente tratados e agora tenho curativos em várias partes do corpo, que exceto as queimaduras feitas por Austin e o meu braço que há pouco foi baleado, todos estão em avançado processo de cura, mais algumas semanas e serão apenas mais cicatrizes.

Vejo que estou em uma sala, um leito hospitalar sofisticado igual ao que apenas a Sile Mëllen tem, mas também improvisado, o teto é baixo e de rocha pura, estou exatamente embaixo de uma lâmpada muito clara que me faz lembrar os prédios militares.

Logo percebo que devia estar morto, lembro que de alguma forma Marryweather me resgatou, lembro que ela matou a Comandante Kleyer. Por muitas vezes desejei sua morte para pagar por tudo de ruim que fez em sua vida, por tudo que fez comigo e com meu pai, desejei muito mais vezes que qualquer filho deveria desejar a morte da própria mãe.

Eu achava que seria melhor se ela morresse, mas não é isso que sinto, agora que ela está morta, sinto um alìvio em saber que nunca mais a verei, sinto-me livre dela para sempre, mas a criancinha de quatro, cinco anos que amava a mãe e acreditava que ela retribuìa ainda vive dentro de mim e ela lamenta mesmo a própria Comandante Kleyer por tantas vezes ter tentado matá-la.

Penso se a Trice sabe que eu estou vivo, lamento por ela ter perdido a mãe, sei que mesmo não sendo recìproco, ela a amava e queria apenas ter sua atenção, sei que ela está sofrendo, ela também perdeu quase todo mundo que ama e eu sei o quanto isso dói e nos faz se sentir sozinhos. Penso também na

Roxenne que agora é órfã de mãe, ela deve estar tão grande que provavelmente eu nem a reconheceria e ela não deve se lembrar de mim.

Mas o mais importante de tudo, eu lembro que Mellanie ainda está viva, e, para minha surpresa, a vejo em pé organizando um armário de remédios. Não sei como, mas ela está viva, está bem, quando ela vê que estou acordado vem até mim, ela é mais velha e mais magra que a Mell de minhas memórias, e ela não é mais uma garota, já é uma mulher, mas a principal mudança é que agora o sofrimento desse mundo marcou seu rosto angelical, seu sorriso ainda doce não é mais tão inocente.

Inicialmente parece acanhada, mas visivelmente feliz pelo reencontro após tantos anos, mais feliz que até eu mesmo. Ela tem uma recente cicatriz de um enorme corte no pescoço que pelo tamanho deve ter quase a matado, isso me faz pensar em tudo que ela viveu desde a última vez que nos vimos. Ela também está com o pulso enfaixado, a ARN aos poucos está conseguindo diminuir o poder de Altair sobre as pessoas, já não podem mais saber e controlar cada passo que damos.

– Faz tanto tempo que não nos vemos. – Minhas palavras soam vagas, vê-la me traz memórias de nossa infância relativamente feliz, porém de todas as memórias, a que mais se destaca são lembranças de seu enterro, mas estranhamente não é a Mellanie que permanece em minha mente, lembro-me da garota naquele vestido negro em seu funeral e percebo que era Marryweather, então me recordo que ela disse que já me conhecia, pela primeira vez junto a história da vida das duas.

– Para mim é como se fosse ontem, ainda me sinto como se tivesse treze anos. – É estranho vê-la viva, poder falar com ela depois de ter estado em seu velório e funeral, chega a ser entorpecedor, sinto como se fosse um sonho e ao tocá-la tudo racharia e se fragmentaria como o reflexo num espelho.

– Como isso é possìvel? Como você ainda está viva? – Não sei como ela não morreu, eu estranhei muito sua morte e agora sei que a Sile Mëllen e Altair estão diretamente envolvidas com sua falsa morte, mas mesmo que ela não tivesse morrido naquele dia não era para ela ter sobrevivido até hoje com o Siruss em seu corpo, o máximo de tempo que qualquer um já suportou mesmo usando o soro Sigma com frequência não passou dos cinco anos.

– Não sei direito, sinto como se tivesse passado dez anos em uma única noite, e agora tudo que eu conhecia não existe mais, você é tudo que restou do meu passado, do nosso passado.

Ficamos alguns minutos conversando, Mellanie me conta como foram os últimos tempos depois que despertou no laboratório da Sile Mëllen, até que um homem entra na sala, ele está vestido com um jaleco, o reconheço, é o pai de Mellanie. Achei que ele estivesse preso até hoje por um crime que eu nunca soube ou morrido na prisão, ele está magro e mais velho, mas está bem, logo que chegara assumiu um posto no corpo médico do complexo da ARN.

– Como ele está, pai? – pergunta Mell ao vê-lo entrando, ele traz consigo uma pasta que me entrega, vejo que são vários exames médicos meus.

– Removemos a Scorpion Needle de você – começa ele, é bom saber disso, Altair não tem mais essa arma contra mim. – E encontramos uma enorme quantidade do vìrus Siruss em seu organismo, maior do que qualquer pessoa que tem a doença há anos.

– Como assim? Isso não é possìvel, eu nunca contraì o Siruss. – Recordo-me quando estava em Dylan e horas depois do atentado tossi sangue em minha mão. – Quando tinha seis anos fui exposto a ele, mas logo recebi o Soro Sigma e os devidos cuidados.

– Se você fosse igual a todo mundo e se estivesse tendo hemorragias, não adiantaria mais receber o Sigma, mas o mais impressionante é que de alguma maneira ao longo de sua vida, você não desenvolveu nenhum dos sintomas, e o vìrus está entrelaçado a cada célula do seu corpo em uma forma estranha de simbiose, não sabemos o limite disso, mas um dos efeitos é que seu corpo tem uma regeneração celular acelerada e incomum.

Já percebi que meus ferimentos curam-se mais rápido do que o natural, mas nunca prestei atenção nisso.

– Como isso é possìvel? – pergunto um tanto incrédulo.

– Ainda não sei, precisamos de mais tempo, de mais pesquisas, há muitos anos Altair fez e faz experimentos para usar o Siruss de forma benéfica, você nasceu quando começamos as pesquisas do gênero, a Sharon, sua mãe injetava o soro no próprio corpo, nunca percebemos mudanças nela, mas você de alguma forma era diferente, e então, manipulando os resultados que conseguimos com você fizemos Mellanie e outras crianças, nomeamos de geração fantasma por todas as crianças nascerem com seus cabelos brancos.

Percebo que Mellanie se sente mal ao ele a mencionar como uma criação de laboratório e eu estranho muito tudo isso, eu não consigo não pensar o quanto essas crianças têm de mim, principalmente a Mell.

– Os lìderes de Altair tiveram medo do que estavam criando e mandaram destruir tudo, a sua mãe e outros lìderes das pesquisas decidiram esconder algumas crianças, ao todo eram cem e conseguimos salvar nove delas de ser sacrificadas. Nós as criamos como nossos filhos para não levantarmos suspeitos e alguns continuaram as pesquisas, foi por isso que Mellanie foi raptada, forjaram sua morte e eu fui preso para me obrigarem a dar continuidade às pesquisas.

Lembro-me de que quando eu tinha oito anos, a Congregação Ministerial desmantelou uma pesquisa com humanos e muitas pessoas foram presas, mas não sabia que a minha mãe estava envolvida nisso e nem a natureza real das pesquisas, não sabia que eu fazia parte das cobaias. Finalmente entendo porque todo mês minha mãe me levava na clìnica particular do pai da Mellanie para ele me aplicar injeções e fazer baterias de exames, ela deu continuidade às pesquisas secretamente, e agora sei porque extraiu uma amostra de meu sangue no dia de minha execução, ela tinha o objetivo de usar meu DNA para continuar suas pesquisas monstruosas.

– Por isso Mellanie adoeceu mesmo tomando o soro imunizador Sigma e sem ter contato direto com o vìrus ou com algum hospedeiro.

– Sim, na verdade ela já nasceu com o Siruss no sangue, mas ele se manifestou apenas quando ela completou treze anos. – Após um momento de reflexão ele continua – penso que por causa da puberdade, mas ele nunca a mataria, do mesmo modo que não a matou até hoje e nem a você.

– Se foram capazes de conseguir fazer nós vivermos até hoje e, no caso do Marshall ter chegado a impedir com sucesso que ele desenvolvesse os sintomas, então deve haver uma cura definitiva – diz Mellanie que se mantinha quieta, demonstrando em sua voz a esperança que ainda há em seu coração.

– Até onde eu saiba, não existe, mas vocês e o Soro Sigma são a chave para a conseguirmos.

– Então você sabia de tudo, você também está por traz da criação do Siruss. – Tento não parecer rude, pelo que o conheço, sei que ao contrário de minha mãe e de Thistell, ele nunca desejou fazer milhares de pessoas inocentes sofrerem com tudo isso.

– De tudo não, eu nunca soube que seria usada como uma arma, eu trabalhava pelo avanço da medicina, não para matar, mas confesso que eu sabia de muito e tive minha parte na culpa por tantas mortes, por outro lado, agora tento reparar mesmo que minimamente o mal que eu fiz.

Não confio totalmente em sua palavra, mas ele parece estar sendo completamente sincero e é o pai de Mellanie e de Marryweather, lhe dou um voto de confiança.

Achava que Altair não conseguiria mais me impressionar, mas ela se supera cada vez mais e sempre consegue ser mais detestável, imagino quanta podridão ainda não fora revelada.

Mellanie me deixa sozinho e vai ajudar seu pai em algo importante, como há muito tempo não fazia, fico apenas deitado com a mente vazia.

Mais tarde, Marryweather vem me visitar, ela está vestida como sempre, com uma camisa simples e a calça rasgada nos joelhos, cortes transversais que foram feitos intencionalmente e que a tornam diferente de todas as demais, mesmo não precisando mais, ainda usa as munhequeiras, mas agora é como um estilo próprio que apenas não está completo pela ausência de lápis preto nos olhos, que assim como tudo não essencial há sobrevivência humana desapareceu. Ela fica por algum tempo parada escorada na soleira da porta me observando e quando percebo sua presença, ela se aproxima, vejo que ela está com o ombro direito enfaixado e ele fica completamente exposto com a regata.

Sua expressão está tão séria que me pergunto se que está postada diante de mim é a doce Marryweather ou a fria Esther, depois da facada que me dera, tenho até medo de vê-la me olhar com toda essa seriedade.

– Oi! – diz ela com simplicidade e vejo que agora é a garota meiga que eu beijara, agora ela sabe toda a verdade sobre mim e isso me dá a esperança de que jamais a verei se fechar para mim e me tratar com frieza novamente.

– Oi... – eu lhe respondo em mesmo tom.

– Como você está?

– Melhor...

– Que morto com certeza. – Lembro que não posso usar frases pela metade com ela.

– Obrigado por me resgatar...

– Não precisa me agradecer – interrompe-me ela, mas eu continuo.

– Preciso sim... Obrigado por aparecer no momento que eu mais precisei, sinto como se por um momento eu tivesse realmente morrido e eu percebi que mesmo com tudo, eu estava feliz, porque eu soube que há algumas pessoas que estariam ao meu lado em minha morte e que chorariam em meu velório.

– Sempre é bom saber que alguém se importa conosco, mesmo que minimamente.

– E você está bem? – pergunto devido a seu ombro enfaixado, a última vez que a vi ela tinha apenas o ferimento do tiro que levara quando tentou me resgatar, penso se ela nesse meio tempo não se envolveu em encrencas novamente.

– Estou bem, isso foi uma cirurgia que eu fiz no nervo que estava lesionado por causa do soldado que quebrou meu ombro. – uma sequela que a segue desde criança e que agora, nove anos depois pode ser completamente eliminada, curando assim seu ombro para ela ter novamente um braço perfeito. – Estou fazendo a fisioterapia e se tudo der certo talvez em um mês eu estarei o movendo quase com perfeição.

– Fico muito feliz por saber disso. – Sei que isso a incomoda muito e atrapalha em quase tudo que ela precise de um pouco mais de precisão da mão e de seus dedos ou força do braço.

– Estou muito feliz, o mundo continua uma droga... Mas fora isso, ultimamente tudo está dando tão certo, parece surreal, acho até que a qualquer momento vou acordar e perceber que nada disso está acontecendo, repentinamente um a um todos que amo e perdi retornaram vivos e bem.

Fico em dúvida se ela me inclui nessa lista, sei que ela claramente fala sobre Mell e seu pai, que também é o pai de Mellanie. Ainda estou digerindo que elas são irmãs, penso como eu pude me aproximar tanto da Mellanie sem conhecer Marryweather, eu sabia que ela tinha irmãs, uma bebê e outra dois anos mais nova que era muito retraìda, entretanto jamais imaginaria que seria Marryweather e Whithelly.

– Não se preocupe, você não vai acordar porque tudo isso é real.

Ela iria dizer mais alguma coisa, mas Whithelly entra no quarto e ela se retrai, então pela primeira vez, vejo a garota tìmida que Mell me descrevia como sua irmã. Whithelly se aproxima sendo muito mais incisiva que Marryweather e senta-se na cama entre nós.

– Que bom que você está bem – diz ela com um sorriso puro e infantil, comum de uma garotinha tão doce. – Eu fiquei muito preocupada com você. – Seu tom torna-se melancólico, mas ela não deixa isso a abater, então me repreende – Nunca mais faça isso!

– Não se preocupe, eu tenho a sua irmã para cuidar de mim – falo lembrando quando ela trocou meus curativos e eu disse que prefiro ter ela como cuidadora.

– Já disse para você ir sonhando com esse dia – diz ela com dureza, mas ao terminar, ri.

Marryweather, cansada de ficar em pé e sem graça de sentar-se ao meu lado, ignora os bons modos e senta-se em cima de uma mesa próxima a nós, ela apenas nos observa e faz pequenos comentários enquanto Whithelly me conta com minuciosos detalhes como é tão maravilhoso esse complexo da ARN que ela chama de colônia. Ouvi-las me faz acreditar que tudo pelo que eu sempre lutei não é apenas um sonho inalcançável, que vale a pena lutar, que no final de tudo iremos melhorar o mundo, elas me fazem perceber que estou lutando pelas pessoas erradas, que não posso desejar vingar os mortos como sempre fiz e sim melhorar o mundo para os que ainda vivem.

Percebo que a vida toda eu procurei algum motivo para continuar a viver e agora vejo que minha vida apenas tem sentido se for para proteger quem eu amo e lutar contra tudo para fazê-los feliz. Busquei isso em minha irmã, no meu pai, na Mell, na garotinha do trem que não pude salvar e em todos que morreram pelo Siruss, mas agora as inocentes palavras de Whithelly falando com entusiasmo por ter uma vida um pouco normal, uma pequena amostra de como era a vida antigamente me traz esperança e um motivo mais forte para eu viver.

Há muito tempo todos nós nos esquecemos desses momentos de paz e inocência, eu irei fazer com que se tornem cada vez mais comuns e que eles se eternizem para sempre em todos os corações.

Mellanie termina o que estava fazendo com o pai e junta-se a nós se ajeitando do outro lado da cama. Whithelly pega um livro, dessa vez não é "O Anarquista" e sim um livro infantil, mas nem por isso menos longo, ela o lê para nós como meu pai costumava fazer comigo e com a Trice quando éramos crianças, e pela primeira vez em muito tempo eu estou em torno de pessoas que amo e confio e me sinto cercado por uma famìlia, minha nova famìlia.

Três dias se passam, Marryweather torna-se cada vez mais reservada comigo e ao longo dos dias eu vejo mais Whithelly e ela cada vez menos. Quero levantar e me virar por mim mesmo, sei que Altair irá contra-atacar com todas suas forças e quero estar preparado para quando esse momento chegar, mas Mellanie não deixa que eu sequer saia da cama por ter de me recuperar completamente, ela disse que estamos num esconderijo da ARN, oculta de Altair, há uma cidade no subsolo de alguns setores próximos à capital e que está sendo expandida.

Mellanie me disse que há muito tempo, quando as guerras da antiga civilização acabaram o ar estava muito contaminado pela radiação de suas bombas, tentaram criar uma cidade no subterrâneo como foi feito em Arcádia e em outras nações, mas que não deu certo e por isso elas foram abandonadas e eles construìram os domos. O tempo passou e todos se esqueceram disso, até que a ARN encontrou as construções inacabadas e as aproveitou, contudo o melhor de tudo é que faz tanto tempo que Altair não sabe que isso existe.

O pai da Mellanie colhe meu sangue para fazer mais exames e tentar descobrir mais sobre mim e sobre o Siruss, então vendo que estou melhor, ele e Mell aceitam que eu deixe a enfermaria para me alojar na colônia como todo mundo.

Levanto-me, Mell me espera ansiosa, a acompanho. A enfermaria não tem porta, apenas o arco que era para tê-la, ao sair eu vejo paredes de rocha negra e lisa. Quando Mellanie disse que estamos embaixo da terra, pensei que tudo era úmido e cheirava a terra e mofo, mas não, tudo é tão seco e firme, em vários pontos há castiçais com velas presos às paredes para iluminar tudo, como o local é fechado, sem isso seria um completo breu.

Estamos num ponto alto e descemos alguns metros num túnel com algumas bifurcações, ela me descreve onde cada um deles leva, o primeiro deles à saìda, outro a uma praça de alimentação, até que a um arsenal onde os Nacionalistas estão guardando as armas roubadas da base ΩMEGA que logo explodirão para Altair não as recuperar e pouco à frente um túnel que liga esta a outra colônia subterrânea muito parecida, com a diferença de ser mais antiga. Noto que a maioria dos túneis não é natural e sim aberturas estendidas braçalmente.

Passamos por um grupo de homens com picaretas que abrem mais um túnel. Sinto-me estranho por estar embaixo da terra, contudo o mais estranho é quando este termina, ele se abre em uma câmara gigante, onde há dezenas de pessoas trabalho juntas para erguer paredes até o teto alto e irregular, percebo marcas da antiga civilização, eles usavam mais do que nós os metais e muitas paredes e vigas são feitas de aço e obviamente são muito antigas.

Mellanie me conduz até um cômodo improvisado já pronto, ela diz que é meu, um quarto, duas das paredes são de madeira e as outras são o encontro entre duas paredes de rocha. No geral é aconchegante, o que por um momento me faz esquecer de que estou debaixo da terra. Há uma cama num canto, alguns móveis tìpicos de um quarto tentando fazê-lo parecer normal, eu vejo alguns livros para a distração num criado-mudo e velas derretidas pela metade, que me dizem que este quarto já fora de alguém, mas Mell me garante que ninguém estava hospedado aqui. Ela me deixa sozinho.

Olho à minha volta, sei que ela fez de tudo para eu me adaptar aqui, vejo algumas peças de roupas sobre a cama, como ela disse que tudo que tem aqui é meu, as visto, precisava mesmo é de um banho, mas por hora isso já basta.

Alguém bate na porta, assim que peço para entrar, Marryweather surge à minha frente, ela não usa mais o curativo da cirurgia no ombro, isso significa que está melhor, ficando apenas uma pequena cicatriz, um preço baixo demais para ter novamente seu braço perfeito de volta.

Ela está linda usando roupas novas, um vestido curto, como sempre preto, eu pensei que jamais a veria assim e quase não vi mesmo. Pela primeira vez a vejo maquiada, ela usa um batom vermelho nos lábios carnudos e lápis preto que destacam seu olhar intenso e animado, nem parece a mesma garota.

Ela sorri e fica mais linda do que eu imaginara ser possìvel, um sorriso tão feliz em seu rosto que combina inteiramente com ela, é tão mais bonito do que seu sorriso sarcástico ou frio. É evidente que a ARN é seu lar e a felicidade que ela sente em estar aqui entre amigos, por um momento chego a pensar como seria minha vida se eu deixasse tudo para trás e me assenta-se aqui, pela primeira vez na vida criar raìzes num único lugar, feliz e relativamente pacìfico, mas enquanto Altair existir, meu passado jamais me deixará viver uma vida comum.

– Alguém quer te conhecer, você vem?

Levanto-me e a acompanho, até o corredor em frente ao meu quarto, um homem de uns quarenta anos nos espera.

– Me acompanha numa caminhada? – pergunta ele, assim que assinto, ele se vira e dá um primeiro passo em direção ao túnel que me trouxe aqui, o sigo e Marryweather nos acompanha.

– Meu nome é Louiss, Smith Evance criou tudo isso e depois que Altair o matou eu fiquei em seu lugar. – Enquanto ele fala me mostra tudo como se fosse sua obra-prima. – Você não sabe o quanto é um prazer conhecê-lo Marshall, nos últimos três anos você ficou famoso.

– Aqui é impressionante – digo vendo Whithelly brincar com outras crianças num parque improvisado, a me ver, ela acena e sorri. – Aqui dá uma vida mais comum a essas pessoas.

– Há mais três colônias como esta – diz ele ao me ver impressionado. – As outras são mais antigas, e essa ainda está em expansão. – Nunca imaginaria que a ARN chegaria tão longe, estão não só criando uma revolução, estão criando suas próprias cidades. – No momento. Todos chamam essa de Colônia Quatro, mas logo será nomeada assim como as outras foram.

Passamos por um túnel que alguns homens prendem cabos e fios às paredes para conduzir eletricidade para a colônia, imagino como algo nessa magnitude poderia ficar escondido dos olhos de Altair.

– Marshall, nós queremos que você assuma o posto de Brayan como lìder da base móvel em Kessler.

– Nós quem? – pergunto tentando desvendar seus objetivos.

– A ARN é muito maior do que você imagina, temos uma resistência em cada setor de Altair e Arcádia, cada um com um lìder e as quatro colônias que são o centro de tudo, é daqui que controlamos nossas bases móveis e crescemos a cada dia. Quando Marryweather apareceu aqui com você duas semanas atrás vivo mesmo após aquela execução pública, fizemos uma votação e escolhemos você para substituir Brayan.

– Se a ARN é tão forte assim, por que esperam tanto para agir?

– Estamos esperando o momento certo, se atacarmos agora, certamente Altair perderá a guerra e Arcádia invadirá nossos setores, como você sabe, quando a Grande República foi dividida, ao oeste foi criada Altair onde foi posto um regime militar que isolou o novo paìs e fecharam-se o comercio internacional.

Ele para por algum tempo para tossir, é inegável que ele esteja com o Siruss no corpo e aos poucos os sintomas estão aparecendo, mesmo ele ainda parecendo tão bem de saúde.

– Mas por outro lado, Arcádia foi criada por uma grande corporação que se beneficia dos bens naturais e da pobreza para ter mão de obra barata e assim lucrar cada vez mais da dependência das outras nações, Arcádia vive do comércio e por isso ambiciona nossos recursos preservados até hoje.

Chegamos a outra colônia de onde a energia elétrica está sendo distribuìda, ela é muito maior que a quarta e realmente se parece com uma cidade, há diversas, casas, ruas e praças, até poderia acreditar que não estamos embaixo da terra se não fosse pelo teto de terra sobre ela e algumas vigas que o sustenta.

– Altair não para de fazer propaganda sobre isso – digo. – Nossas terras são tudo que Arcádia deseja e por isso não usam armas que devastariam todo o paìs, todo mundo sabe disso. – Como a nação se tornou completamente fechada há muito, não temos notìcias do mundo exterior, é como se nem ficássemos no mesmo planeta. – Arcádia deseja ao máximo nos dominar, deseja nossa tecnologia e riqueza natural. Lá as cidades também foram acometidas pelo Siruss, mas não é como aqui, lá está muito pior, a fome e a pobreza são muito maiores. O pouco de água que tem é usado na indústria para manter a produção em massa e todos que não aguentam sustentar os altìssimos impostos tornam-se escravos em fábricas ou minas para sustentar a corporação Arcádia que comanda o paìs e mantém a guerra.

Olho para Marryweather, ela não diz nada, apenas espera por minha resposta, tão ansiosa quanto Louiss, sinto que ela já teve essa conversa antes.

– Smith Evance pensava como você e olha como ele terminou. Altair criou o Siruss, culpou os Nacionalistas, criou um esquadrão para nos eliminar e quase conseguiu, Evance conseguiu apenas morrer. Antes de derrubarmos o sistema, Altair precisa vencer Arcádia, essa guerra tem que terminar. – Isso que Louiss diz é verdade, não deu certo para Smith Evance, mas ele não tinha o apoio geral do povo revoltado como agora.

– Se esperar demais, Altair se tornará forte demais – concluo, já esperamos demais, já sofremos demais com tudo isso.

– Não esperaremos tantos, apenas mais alguns meses e daremos o golpe final, Arcádia já está prestes a se render. – Louiss tem uma ótima lábia e facilmente convence a maioria, mas não a mim.

– Eu recuso sua oferta, não vou lutar por nenhuma bandeira. – Agora tenho pessoas por quem lutar novamente. – E a quantidade de pessoas que morrerão até lá? Nós podemos em pouco tempo levar essa guerra sangrenta ao fim, que Altair caia em poucos dias por que esperar mais tempo? Como será quando Altair cair? Quem será o novo lìder? Qual é a garantia de que não estamos lutando para derrubar um tirano e colocar outro no lugar?

– Assim que Altair e Arcádia caìrem, irei reestabelecer um único poder e reunificá-las, abrirei novamente o comércio internacional, então vou ceder a liderança a um lìder eleito democraticamente. Confie na revolução, Marshall, ela nos guiará a um dia melhor.

– Agora confio na revolução e sei que dias melhores virão, mas não consigo ver esse dia chegando se todos continuarem se escondendo como vêm fazendo desde que Evance morreu.

– Não me dê uma resposta agora, pense no que eu te disse.

– Não há no que pensar, Altair cairá por minhas mãos, mas também não acho que a ARN seja a solução definitiva.

Marryweather sorri quando digo que destruirei Altair, sei que há muito ela também deseja isso.

– Se é assim que pensa, por hora não adianta conversarmos, aproveite a estadia.

Afasto-me dele e Marryweather me acompanha.

Marshall! Uma hora você vai ter que escolher um lado! – grita eleenquanto nos distanciamos, sua voz ecoando pelo túnel.

Continua llegint

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