Whithelly
O Jimmy trabalhou o dia todo no Lide do Marshall preso em meu braço e por isso não vi a Marryweather nenhuma vez desde que acordei hoje de manhã, o Brayan disse que ela saiu novamente, mas não acho que ela iria me deixar aqui sem nem mesmo falar comigo.
– Terminei. – Assim que o Jimmy fala eu ouço um estalo mecânico e os três fechos internos do Lide se destrava e ele finalmente solta meu pulso, já estava cansada dele me privar de fazer outras coisas que não ficar trancada no laboratório do Jimmy.
– Estou livre! – comemoro, há muito estava entediada.
– Isso é muito bom. – olho na direção da voz e vejo o Brayan em pé apoiado na soleira da porta. – Whit, vamos dar uma volta?
Não o respondo, apenas levanto e pego em sua mão, há muito eu o conheço e confio inteiramente nele, como um irmão.
Nós saímos do laboratório e andamos pelo complexo de prédios que o Brayan nos trouxe e nós passamos os últimos dias. Eu praticamente não explorei esses corredores e quartos por ter que ficar presa com o Jimmy, mas agora estou livre para brincar e me divertir, eu espero que agora a Marryweather fique um tempo aqui já que não podemos voltar ao prédio que incendiamos.
Repentinamente paro de andar tomada por um súbito acesso de tosse, tenho medo de que seja o Siruss, que eu esteja doente, esse é o primeiro sintoma a aparecer.
– Whithelly você está bem? – pergunta ele com um tom natural, mas percebo uma tensão em sua voz.
– Estou bem. – digo quando paro de tossir.
– Você anda tossindo muito...
Não o respondo e nós ficamos novamente calados.
– Whit, eu me preocupo muito com você e com a Marryweather, por que gosto de vocês e gosto muito da sua irmã. – começa ele enquanto voltamos a seguir o corredor que leva ao pátio externo do prédio. – Eu gostaria de saber o que você acha de eu namorar a Marryweather.
Eles se conhecem há muito tempo e nunca namoraram por que a Marryweather nunca quis, até eu sei que ela não gosta do Brayan assim.
– A minha irmã não vai namorar você, ela gosta do Marshall, eles até já se beijaram.
O Brayan tenta disfarçar, mas eu percebo que ele ficou com raiva de minha resposta. Olho para o céu, hoje está uma noite muito bonita, não tem nem uma nuvem para cobrir a lua que está cheia e muito clara, o vento está forte, mas não como antes de uma tempestade. Repentinamente o Brayan para de andar, olho para ele e vejo alguns homens saírem de onde estavam escondidos e se aproximam de nós, eles não são seus homens, estão fardados como militares, acho que são nossos inimigos, que vão nos prender ou até mesmo nos matar, no entanto eles não fazem nada ao Brayan, vêm direto para mim e um medo me toma, mas eu sei que o Brayan vai me defender com sua vida, ele sempre fez tudo por mim e pela Marryweather.
– Podem levá-la. – diz ele aos soldados. – Mas não a machuquem.
Um soldado se aproxima de mim tento correr, porém ele me pega muito facilmente, debato-me sem resultado.
– Brayan! Brayan me ajude! – grito desesperada, com medo de nunca mais ver a Marryweather, com medo do que me aguarda, sei que sou muito nova, mas isso não é o suficiente para impedir que eu sege executada por envolvimento com a ARN. – Brayan por que você está fazendo isso? – pergunto com inundado em lágrimas de medo.
– Não se preocupe tudo vai ficar bem, é o melhor para todos.
Não acredito em suas palavras, nunca mais vou acreditar nele.
Uma mulher se aproxima de mim, ela usa um uniforme diferente dos outros e parece muito importante.
– Não machuque nenhuma das duas, se isso acontecer nosso acordo estará desfeito.
– Já estou cansada de ouvir suas ameaças, cale a boca ou vou mandar meu exército destruir com tudo isso que você construiu!
– Você não se atreveria.
– Me dê logo os mapas das bases.
O Brayan entrega uma pasta para ela, a mulher a abre e parece se satisfizer com o que vê. Ele não traiu apenas a Marryweather e eu, ele traiu todos os Nacionalistas.
– Está faltando o das colônias.
– Esses mapas você não terá, as colônias são o nosso real poder e se elas cair nas mãos de Thistell você não conseguirá o que deseja por que ele iria destruir com toda a ARN.
– Levem-na daqui!
Um soldado me joga sobre seu ombro a obedecendo e me carrega sem dificuldades para longe deles que continuam conversando, mas não posso mais ouvir. Os soldados me colocam em um veículo e eu sou levada para longe de minha única conexão com a Marryweather, sei que quanto mais nos distanciamos menores são as chances dela me encontrar, de nos vermos novamente.
O veiculo demora a parar novamente, e por isso sei que não estamos mais no mesmo setor, quando sou tirada à força dele vejo por um instante uma cidade muito desenvolvida e três enormes prédios brancos, eles são murados e iluminados então sei que estou em algum setor no centro de Altair, pois são os únicos com energia elétrica e vejo soldados demais no pátio do prédio central á minha frente, ele parece aumentar de tamanho conforme me aproximo.
Mesmo que a Marryweather descubra onde estou, ela não conseguirá chegar até mim para me resgatar, não com tanta segurança.
Sinto muito medo por mim e pela Marryweather, sei que assim que ela souber que fui pega irá fazer de tudo para me resgatar e vai ser muito perigoso, ela pode se ferir ou até mesmo morrer.
Eles me levam para uma sala branca que se parece muito com uma clínica médica, eles me trancam e não voltam a abrir a porta, olho a sala à minha volta, tem uma maca de metal, alguns armários trancados com utensílios médicos e uma enorme janela recoberta por uma parede de vidro que não se abre. Por ela apenas posso ver o lado de fora, uma cidade muito desenvolvida e luminosa, eu sei que só posso estar na Grande Capital.
A sala tem duas portas e a outra está aberta, mas ela dá em uma sala com uma mesa e um armário. Encolho-me em um canto, sei que a Marryweather vai vir me salvar e por isso não me desespero, confio inteiramente nela e sei que ela não me deixará aqui por muito tempo.
Acabo pegando no sono encolhida num canto e acordo com a luz acessa incomodando meu sono. Ao abrir os olhos vejo a mulher que me trouxe aqui e outros dois soldados.
– Não se preocupe, eu serei breve, mas se resistir sofrerá, entendeu? – pergunta ela, apenas balanço a cabeça intimidada, sei que essa mulher é muito ruim e não hesitará em me machucar.
Ela pega uma seringa cheia pela metade com um líquido escarlate, é evidente que é sangue e a completa com uma ampola do soro sigma, reconheço o símbolo grego no cilindro.
– Fica quietinha.
Sinto medo de resistir a ela, mas sinto mais medo ainda do que seja isso. Ela faz um gesto de cabeça e um dos soldados se aproxima de mim, ele tenta me segurar, mas não deixo, debato-me em seus braços, o empurro e o chuto, então novamente tenho um acesso de tosse, mas agora é mais duradouro e termina com um pouco de sangue saindo de minha boca com a tosse.
– A minha irmã vai mata-la!
– A sua irmã, quer dizer a Esther? Ou melhor, Marryweather Silence?
– Como você sabe o nome dela? – pergunto ao ser pega de surpresa, quase ninguém sabe que ela é a Esther.
– Acho que você não sabe né? A sua queridinha irmã já foi capturada e agora está passando por uma cirurgia agora mesmo e está entre a vida e a morte.
– É mentira! – grito sendo tomada por lágrimas incontroláveis ao pensar nisso, eu sei que viria me resgatar e que seria muitíssimo arriscado.
– Se não é verdade então porque está chorando?
Não resisto mais, choro muito abatida por suas palavras, pela possibilidade da Marryweather realmente estiver morrendo ou de ter sido capturada e estar esperando a execução, pelo medo de não a ver mais.
O soldado me coloca sentada na maca da sala branca e me segura enquanto ela injeta o líquido da seringa em meu braço.
– Você nem precisa se preocupar, já estou contaminada com o Siruss, eu estou fazendo um favor para você.
O solado me larga e eu corro de volta para o canto em que eu dormir até eles me acordarem. Eles apagam a luz e voltam a trancar a sala me deixando sozinha novamente
Choro com medo por mim, pela Marry e pela Marshall.