Trice
Ando apressadamente pelos corredores de ΩMEGA, a principal de nossas bases. Atualmente temos bases nos vinte e oito antigos estados da Grande República que pertencem à gloriosa Altair. Passo por alguns oficiais com postos mais elevados que eu, alguns de alta patente sempre em continência. Chego ao local de treinamento no centro do prédio e me dirijo para o centro de estratégia e comando tático.
Vejo Austin pressionando alguns subordinados que estão encarregados da patrulha de Kessler, Shail e Setores vizinhos, mas que até agora não tiveram sucesso em encontrar dois criminosos que coincidentemente decidiram sair de suas tocas quase juntos, isso significa uma provável união.
Desde a última missão do Austin, ele está apreensivo e visivelmente mais irritado, o prisioneiro que fugiu há quinze dias o deixou assim, naquele dia tivemos várias baixas, as maiores dos últimos meses causados por problemas internos.
O Austin ainda está bem ferido, com alguns cortes e uma queimadura que ele encobre, mas a vi abaixo da gola do paletó de seu uniforme, mesmo tendo passado tão pouco tempo da missão anterior e ele ainda estando de licença médica devido aos ferimentos mal recuperados ele venho trabalhar.
Aproximo-me e o comprimento com uma rápida continência.
– Capitão Austin! Os destacamentos quatro e dezesseis não tiveram êxito em suas buscas, 76% dos Setores suspeitos foram inspecionados e estão isolados assim como o senhor ordenou, em dois dias terminaremos as buscas, provavelmente os fugitivos estão nos setores norte.
– Muito bem subtenente, monitore agora os pelotões oito, nove e onze!
– Sim, Senhor! Capitão!
Antes de me retirar, um soldado entra apressado, sua farda é azul, isso indica que ele é do agrupamento de monitoramento e informações. Ele bate continência a mim e ao Capitão.
– Capitão Austin, Subtenente T. Kleyer, o caso 227. – é um dos Meus casos, aquele que estranhamente foi registrado como anônimo, ele era um prisioneiro, com certeza foi registrado no sistema de Altair ao ser capturado.
– Marshall Walker Kleyer. – diz ele, ouvir seu nome ser mencionado faz involuntariamente meu coração palpitar de felicidade. O Marshall, eu sinto falta dele mesmo ele sendo um rebelde e provavelmente Nacionalista, logo me lembro de quando o vi pela última vez, em uma cela sendo torturado. A imagem se desfaz em fragmentos de memórias, antigos sentimentos vêm à tona, eles sempre me atingem quando penso no Marshall, mas não podem me atrapalhar, não posso ser afetada por isso. Ele é um inimigo de Altair, meu inimigo, apenas isso, ele escolheu esse caminho.
– Ele foi rastreado em Salty. – ainda não verificamos esse setor completamente. – Sob a identidade do soldado 422 Samon Yanako.
– Entendido soldado, mantenha-me informado!
– Sim, Senhor!
– As ordens Senhor! – respondo em prontidão ao Capitão Austin quando o soldado se afasta.
– Reúna duas esquadras de elite da infantaria, eu cuidarei desse caso pessoalmente, agora se retire!
– Sim, Senhor!
Bato continência para me retirar e ele me diz: – Passe a informação a Comandante Kleyer!
– Sim, Senhor!
Retiro-me e mando um sargento sob meu comando organizar as esquadras, então vou para a sede do QG de planejamento e controle de operações, minha mãe a Marechal Kleyer, está em uma reunião com generais e outros oficiais superiores.
Conheço a maioria de vista em cerimônias militares, vejo o layout de uma base na capital de Arcádia em um projetor no centro da mesa, eles discutem os últimos detalhes da um ataque imediato.
A missão que eu tanto desejei, agora que quero permanecer com o Marshall fui escalada e irei amanhã, acho que isso é obra de nossa mãe, certamente ela não quer que eu me envolva com o Marshall novamente, desde que desertou todas às vezes que isso aconteceu ela teve que interferir para eu não ser considerada desertora e presa por acobertar e ajudar um criminoso de estado.
Bato continência para todos oficiais presentes.
– Eu dei ordens para que ninguém interrompesse! – exclama ela visivelmente nervosa, com seu típico olhar rígido e autoritário.
– Permissão para falar senhor! É de seu extremo interesse comandante. – como estamos em um prédio militar a chamo pelo titulo e com a formalidade que nossas patentes exigem.
– Permissão concedida!
– O criminoso 227, Marshall Kleyer, foi localizado. – ela sorri e seus olhos brilham entusiasmados. Um entusiasmo que ela só dirige ao Marshall. Ela admira tudo que ele faz, mesmo sendo contra Altair, quanto a mim, meus maiores feitos prodigiosos são deixados de lado, acho que ela sempre desejou que o Marshall tivesse ficado ao seu lado e eu me rebelado, mas nunca soube demonstrar isso a ele.
– Bem senhores, continuaremos com nossa reunião em breve.
Aos poucos eles vão se retirando, bato continência quando eles passam por mim, em cerca de um minuto fico sozinha com a Marechal Kleyer, agora as sós minha mãe.
– Então aquele verme não conseguiu se esconder por muito tempo. – diz ela enquanto eu guardo suas coisas em uma pasta, pego seu notebook e nós saímos da sala.
– Comandante, desculpe se eu estou sendo impertinente, mas por que tanto interesse seu e de Altair em casos como esse e principalmente no caso Marshall? – sei que ela odeia, mas acabo deixando que nossa intimidade afete a maneira como trato ela, logo que termino de falar me arrependo.
Parte de mim gostaria que Altair se esquecesse da existência do Marshall de uma por todas e deixa-se ele viver em paz, a parte que da última vez me fez ajudá-lo a fugir, mas a outra parte, a Trice militar que deseja reconhecimento me manda não deixar sentimentalismos e laços sanguíneos afetarem minha razão e minhas ações, assim como eu fui ensinada e assim como um soldado deveria agir, porém confesso que não quero vê-lo preso ou morto.
– Sim você está sendo muito impertinente. – não espero receber uma resposta, então ela continua. – As maiores revoluções foram causadas pelas menores pessoas, não precisamos de pessoas se rebelando contra Altair e nem de uma guerra civil. – no final das contas ela não me respondeu por que o Marshall em especial, ela não tem tanto interesse nem pelos maiores inimigos de Altair como os lideres da revolução, a não ser por ele e pela aquela desprezível que a fez de refém junto com a Roxenne.
Quando saímos do prédio principal da base, vejo dois caminhões do exército, já carregados de soldados fortemente armados e vestidos de branco, a esquadra de elite, nosso melhor agrupamento tático. A sua frente um jipe militar nos espera. O Capitão Austin já está no banco de trás, a Comandante senta-se ao seu lado, fico no banco da frente com o primeiro tenente Clark, ele era amigo do Marshall e agora ocupa seu antigo posto.
"– Por que ele teve que seguir esse caminho?" – me pergunto pela milésima vez, era para estarmos juntos, ele teria um cargo alto no exército, a mamãe se tornaria a líder suprema e nos mudaríamos para a Grande Capital, teríamos a vida que todo mundo deseja e ele trocou isso pelo o que? Uma vida de criminoso e foragido? Não consigo entendê-lo.
Logo chegamos a Kessler, é lamentável ver Salty assim, minha cidade natal em ruínas, como todos os Setores abandonados, este se mostra em completa destruição, desmoronando gradativamente, nos últimos anos o número de fábricas triplicou e a fome se alastrou por todos os Setores pobres de Altair.
Sinto tanto por seus cidadãos carentes, mas não posso fazer nada, sei que sou a única daqui que pensa assim, vejo a Comandante Kleyer, minha mãe olhar para os cidadãos com repulsa e nojo, ela só sente desprezo pelos civis que não vivem nos Setores desenvolvidos.
Não é diferente da maior parte das pessoas que conheço, mas sei que é de lideres assim que Altair precisa. Não podemos desperdiçar tanto tempo e dinheiro com civis ou com a reconstrução de nossas cidades, a verdade é que apenas os Setores que dão algum valor político, financeiro ou estratégico são conservados em bom estado e em alguns casos até tem progressos significativos, nossos recursos devem ser usados na guerra, quanto mais rápido a vencermos, melhor será para todos.
O jipe para em frente a um prédio no centro de Salty, vejo em um letreiro desbotado escrito The golden gaiden. Altair cometeu um grande erro em me manter na ignorância quanto à identidade de nosso foragido, é obvio que o Marshall viria para cá, seria o primeiro lugar em que eu procuraria, mas não sei se conseguiria entregá-lo, se eu fosse pega ajudando-o novamente não seria perdoada, provavelmente seria presa novamente.
Esse é o apartamento que morava antes de ingressar no exército, onde papai morreu quatorze anos atrás, lembro-me do sangue dele escorrendo pela escadaria à minha frente, volto a mim com o som de um bipe no meu Lide.
– Sim, Senhor! Comandante! Ele está em movimento! – responde Clark no meu lugar a uma pergunta que eu estava distraída demais para ouvir. Assim que ele termina os nossos Lides emite um som e se desativam simultaneamente.
– Munição sonora. – reconheço, vi isso acontecer uma vez, quando estávamos perseguindo um grupo de Nacionalistas pelas ruas de Crux Down, o projétil se fragmenta liberando nano-ondas de som que desliga todas as tecnologias a seu alcance.
– Qual a localização? – pergunta o Capitão Austin.
– De acordo com as últimas coordenadas, está apenas cinco minutos na nossa frente, para o leste! Se movendo a 58 km por hora, pela Avenida Walt Mile Street.
– Está recebendo ajuda. – ele deve estar certo, de acordo com o relatório anônimo que li sobre o prisioneiro que havia fugido, ele está muito ferido, se for realmente o Marshall esse tempo não foi o suficiente para ele se recuperar totalmente.
– Subtenente! Assuma o controle do jipe e coordene o destacamento prata na perseguição!
– Sim, Senhor! – o Clark para o jipe e eles descem rapidamente.
Eu obedeço às ordens da Comandante e vou para o banco do motorista, dou a partida e um dos caminhões começa a me seguir, enquanto os soldados do outro descem e cercam as saídas do prédio em chamas. Mesmo daqui as labaredas são visíveis nos andares superiores, sei que não posso, mas independente da minha razão, meu coração torce para que o Marshall realmente não esteja mais no prédio e consiga fugir.
Sigo pela Walt Mile Street, meu Lide ainda está desativado, não consigo entrar em contato com o quartel general e por isso não posso coordenar barreiras militares mais a frente e nem mandar a patrulha da fronteira setorial fechar os portões de acesso aos Setores vizinhos.
Assim que entro em Denlez meu Lide volta a funcionar, porém o veículo suspeito não aparece mais no radar, em nenhum momento tenho contato visual com ele. A perseguição acabou.