Depois do Ritual (romance gay)

By ramqsa

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[HISTÓRIA COMPLETA] Todos os anos antes do retorno das aulas, os alunos da Zaco Beach School se reúnem em vol... More

[APRESENTAÇÃO]
[UM]: O RITUAL NA PRAIA
[DOIS]: DEPOIS DO RITUAL
[TRÊS]: NAMORADOS
[QUATRO]: HORA DO BEIJO
[CINCO]: TIME PRINCIPAL
[DREAMCAST]
[SEIS]: AINDA SOMOS NÓS
[SETE]: O CONVITE
[OITO]: A FESTA DO ADAM
[NOVE]: O EFEITO DA MACONHA
[DEZ]: AONDE VOCÊ ESTAVA?
[ONZE]: É APENAS UM BANHO
[DOZE]: O QUE ÉRAMOS E O QUE SOMOS
[TREZE]: ESTAMOS JUNTOS NESSA
[QUATORZE]: PÉSSIMA CONFIRMAÇÃO
[QUINZE]: JUNTAR AS PEÇAS
[DEZESSEIS]: ADAM, ROMEU E LORENZO
[DEZESSETE]: O VÍDEO
[DEZOITO]: ACAMPAMENTO
[DEZENOVE]: EU E VOCÊ
[VINTE]: EU AMO VOCÊ
[VINTE E UM]: FRAGMENTOS
[VINTE E DOIS]: ADAM, NICHOLAS E VEGAS
[VINTE E TRÊS]: O RESULTADO
[VINTE E QUATRO]: SER VERDADEIRO
[VINTE E CINCO]: CONEXÃO
[VINTE E SEIS]: LIBERDADE
[VINTE E SETE]: DE VOLTA AO LAR
[VINTE E OITO]: YUNA
[VINTE E NOVE]: QUEBRADO
[TRINTA]: LORENZO
[TRINTA E UM]: DE VOLTA AO JOGO
[TRINTA E DOIS]: CAMPEONATO
[TRINTA E TRÊS]: RENDENÇÃO
[TRINTA E QUATRO]: SONHO DA CALIFÓRNIA
[TRINTA E CINCO]: MUDANÇAS
[TRINTA E SEIS] BEM-VINDOS À ANCHIETA
[TRINTA E SETE]: DOIS PEDAÇOS DE UM CORAÇÃO PARTIDO
[TRINTA E OITO]: A PROPOSTA
[TRINTA E NOVE]: NICHOLAS DANVERS
[QUARENTA]: PLANO EM AÇÃO
[QUARENTA E UM]: RONY E ROMEU
[QUARENTA E DOIS]: A DESPEDIDA E A QUEDA
[QUARENTA E QUATRO]: PONTO FINAL
[QUARENTA E CINCO]: ADEUS, SAN PIER
[FINAL]: PRIMEIRO O BAILE, DEPOIS LA
[EPÍLOGO]: PARA SEMPRE NÓS
[INFO]

[QUARENTA E TRÊS]: TREZE DE MAIO

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By ramqsa

NICHOLAS

Dezoito. Quando eu era menor, sempre me imaginei alcançando essa idade, e ainda menor, sempre imaginei o que esse número traria para a minha vida, afinal, sempre me disseram que os dezoito anos mudam a vida de qualquer adolescente para sempre. É chegada a fase adulta, do começo das principais responsabilidades, embora eu ainda não esteja sentindo nenhum efeito positivo ou negativo diante a isso. Me sinto normal, apenas Nicholas e apenas Danvers, enquanto meus olhos tentam se acostumar com a claridade da luz que avança através da grande janela do meu quarto, eu me enrolo mais em meu edredom, preguiçoso para iniciar mais um dia, embora esse seja a mudança de tudo, fechando o ciclo anterior, de semanas atrás, para iniciar algo que eu posso ditar da maneira que quero.

Se o Derek estivesse aqui, ele já teria invadido o meu quarto. Pensar nele já não dói tanto, e embora estejamos conversando pouco porque o treino é intensivo e as aulas também, sabemos que as coisas estão bem, e também sabemos que a saudade está grande. Ele se certificou em ser o primeiro a me enviar uma mensagem de parabéns, por vídeo, antes que eu fosse dormir para não me afogar na imensidão de mensagens que sabia que receberia depois. Ele sempre age de maneira especial, e ele sempre me põe em primeiro lugar, mesmo de longe.

Luto o máximo que posso contra aquele impulso de levantar da cama para tomar uma ducha. É sábado e eu havia prometido para o pessoal – em especial ao Lorenzo –, que iríamos para aquela festa em uma balada pela primeira vez. Ele não esqueceu a promessa que me fez, embora eu preferisse que tivesse esquecido. A ideia de me ver em uma balada dançando com outras pessoas durante uma música alta não é algo que me empolga o suficiente, mas talvez seja justamente isso que os dezoito anos significa, quebrar regras e ir contra a maré dos seus próprios pensamentos, ao menos por enquanto – não quero passar dos limites –, e é assim que vou fazer.

A água gélida caí por minha pele branca. Fecho meus olhos por longos minutos, respirando de maneira controlada enquanto meus pensamentos me levam para aquela paisagem da Golden Gate e do belo sol que fazia quando atravessávamos o oceano para irmos em direção ao Aeroporto de San Francisco, foi uma vista perfeita para uma despedida perfeita. São nesses pensamentos que me pego pensando que, na maior parte do tempo, embora eu esteja vivendo a minha vida, sempre penso nele ou crio comparações que o envolva, essa é a maior prova de que Derek Haze sempre estará presente em minha vida, mesmo que eu não queira.

Meus olhos azuis brilham diante ao espelho. Acho que estou mais magro, embora meu corpo ainda tenha algumas linhas de definições e aquela curva em v que segue a toalha em cor branca. A festa que o Lorenzo me levaria seria pelo entardecer, quando a lua estivesse prestes a surgir no céu, mas agora, pela manhã, a Alison havia dito que tinha algo para todos nós e que precisávamos ir até a casa dela para a surpresa, não tive como me opor, nem posso, ela está dando o melhor de si para mudar as coisas e conquistar o seu próprio espaço antes que tudo termine, e acho que estarmos juntos dissipa os meus pensamentos de não ter ninguém, embora eu sempre esteja rodeado de pessoas.

— Você deve ter sido uma garota em sua outra vida, Danvers. — ela reclama quando chego, abrindo a porta para mim. — Ninguém demora tanto para se arrumar e sair de casa com uma bermuda surrada e uma camisa do Batman.

— É assim que você me parabeniza?

— Você sabe que eu te amo. — ela revira os olhos antes de me abraçar.

Em sua casa, logo na sala, estão o Lorenzo, a Mia, a Kimberly e o Michael.

— O que é isso?

— Meu pai estava trabalhando em uma lanchonete, vamos inaugurar amanhã. O dinheiro da compra do seu pai ajudou demais no investimento, então teremos a El Fieds. — consigo sentir o orgulho em suas palavras. — Chamei vocês aqui porque queremos que o Lorenzo toque na inauguração. — ela olha para ele. — E antes disso, quero fazer uma inauguração só com vocês lá, agora mesmo, minha mãe preparou algumas coisas, deveria ser uma surpresa para o Nicholas. — agora ela olha para mim.

Agora sou eu quem me sinto extremamente orgulhoso.

Passar por todo aquele processo de abraços e beijos me deixa sem saber como reagir, mas quando a vez dele chega, seus dedos apenas avançam para o meu pescoço, passeando pelo colar que dividimos e unindo o seu lado com o meu lado. Sem me dizer nada, Lorenzo sorri, e então seus lábios me tocam logo depois. Hortelã. Sua língua percorre por dentro da minha boca, e temos aquele pequeno tempo a sós para que isso aconteça antes que sejamos interrompidos.

— Nojento. — ouvimos o Michael dizer.

— Quero vomitar. — a Kimberly completa, me fazendo rir.

Lorenzo revira os olhos.

— Feliz aniversário, king of my heart, body and soul. — ele faz referência à aquela música da Taylor Swift que eu havia o enviado uma vez durante nossas conversas. Nunca gostei tanto de músicas em gênero POP, mas com ele, qualquer letra me lembrava a imensidão que estávamos mergulhando.

Eu queria me afogar mais.

— Obrigado, Sunflower.

— Vocês vão ficar nesse clichê ou podemos ir? — agora é a Alison quem diz, retornando da cozinha.

— Te dou seu presente quando eu for lhe buscar de noite. — Lorenzo pisca e logo se afasta.

Ele deveria saber que já é um presente.

A Alison nos guia pela casa. Ela tem uma porta de acesso que dá diretamente à lanchonete, El Fieds. O ambiente é moderno, com diversas poltronas vermelhas e banquetas em cor preta. Pegamos uma das primeiras mesas, em cor branca, e então uma mão cobre meus olhos enquanto tateio-a.

— Kimberly.

— Como você sabe que sou eu?

— Unhas grandes. Anel em formato de flor. — falo o óbvio.

Ela ri.

— Calma. A Alison foi buscar as coisas e você deve fingir surpresa quando ela trouxer e organizar tudo na mesa. Vamos gritar surpresa, e então você deve fingir estar surpreso também.

— É uma atuação?

— É que você é um ótimo ator.

Eu obedeço. Esperando até que tudo seja revelado e que todos gritem juntos enquanto tiram fotos e gravam minha reação. Tento não rir diante a aquilo, e não é por ser taurino, mas a única coisa que me importava no momento, além da presença deles, era o bolo de chocolate de dois andares que ainda estava com as velas estreladas acesas.

— Faça um pedido. — Lorenzo se adianta a me lembrar.

Fecho meus olhos outra vez.

Eu sempre peço a mesma coisa desde os meus seis anos.

Que a minha amizade com o Derek seja eterna. — penso antes de assoprar a vela, e então eles gritam outra vez, me deixando ainda mais risonho enquanto o Lorenzo faz pressão para estourar aquele champanhe e enche as taças para brindarmos.

— Obrigado, gente. E o lugar está lindo, Ali. — sou péssimo para cortar fatias de bolo, ainda mais enquanto ainda estou trêmulo e conversando. Mia se oferece para fazer isso por mim.

— Dezoito anos é uma idade importante. Está preparado para a noite? — Kimberly me interroga e quando nego com a cabeça, ela ri. — Então se prepare, o Lorenzo quer transformar isso na noite mais insana da sua vida. Já estou louca para isso.

Meus olhos encontram os dele. Preto no Azul.

Me pergunto se fiz a escolha certa dessa vez. Estou avançando rapidamente com o Lorenzo, e embora sequer tenhamos um pedido formal de relacionamento, é basicamente nisso que estamos, embora ele sempre tenha me dito para não termos pressa, justamente porque ele não quer me colocar em uma situação de pressão – devido ao Derek e tudo o que aconteceu entre nós dois. –, me sinto bem assim, com ele, com a sensação de que ao menos uma pessoa em todo esse mundo está feliz em me ter por perto e está disposto a se queimar em chamas intensas por mim. Sei que ele não é o único, mas gosto de colocar dessa maneira, aprendi a dar mais valor as coisas desde que sejam assim, desde que eu me lembre do quão ele é grandioso para mim. Foi uma determinação própria. Eu me entreguei desde que o Derek se foi.

O entardecer chega rápido, e com isso, o momento de comemorar de verdade os meus dezoito anos. O Lorenzo acabou voltando atrás em sua decisão de irmos de maneira gótica, e então me deu a chance de usar aquela calça jeans com rasgos e a camisa preta da sua banda. É uma homenagem a ele. Me sinto mais confiante agora que anoiteceu, e digo isso porque pela manhã eu tive o melhor momento da minha vida enquanto eles estiveram comigo, me empantufando de comida até que eu pudesse retornar para casa outra vez, decidido a tomar grandes decisões, sendo uma delas, a escolha do nome do meu irmão mais novo. Minha mãe e eu havíamos nos sentado para aquilo, e embora eu ainda não soubesse ao certo como defender a minha sugestão, no final acabamos por chegar no consenso de chama-lo de Matteo, já que a mesma é um pouco – realmente pouco – religiosa e eu adorei aquela combinação que teríamos no alfabeto, antes do N, vem o M, fizemos o inverso, mas sabemos que ele será tão grande quanto eu, essa é a esperança. Quero que o Matteo enxergue o mundo da melhor forma possível e que tenha experiências profundas no exato momento em que chegar aqui, e eu me dedicarei para ser um bom irmão, mesmo sem nenhuma experiência.

— Nicholas. — meu pai me chama quando desço o último degrau. — Sabemos que você é um homem agora, mas, por favor, não exagere na bebida. — seu tom é sério. — O Derek não está aqui para cuidar de você, e você não tem juízo algum.

— Falar que o Derek é mais responsável que eu, é uma piada. — finalmente desço o último degrau, atravessando a sala. — Mas não se preocupem, vou me controlar e prometo não chegar tão tarde, mas é o meu aniversário, quero aproveitar isso.

— Juízo! — minha mãe grita pouco antes que eu bata a porta.

Ele está me esperando ali fora. Lorenzo sorri quando desço os degraus de casa, e eu me sinto em um estúpido filme clichê quando percebo que ele está segurando um buquê de girassóis em mãos. Ele percebe minha timidez, e isso nos faz rir um para o outro enquanto eu me aproximo e ele estende a mão para mim.

— Você é horrível. — minhas bochechas formigam.

— Somos o girassol um do outro. — ele dá de ombros antes de me entregar o buquê. — Podemos deixar ele no banco de trás, eu mesmo colhi lá em casa, e eu mesmo plantei eles com o meu pai. Acho que é algo bastante especial, uma parte do que mais amo para você, mas ainda não é o seu presente. E obrigado por divulgar a The Darkness Moon. — ele dá um tapinha contra minha camisa.

— Eu amei.

Lorenzo se dá ao dever de buscar as meninas em casa, e o Michael teve uma grande complicação chamada preguiça, para não querer nos acompanhar. Lorenzo dirige naquele percurso enquanto eu estou ao seu lado, e nos fundos do carro, as meninas começam a discutir sobre tudo o que faremos quando chegarmos na festa. Me sinto como uma criança prestes a sair da bolha, até porque a Alison já havia ido para baladas inúmeras vezes, eu havia acabado de entrar na linha do garoto anti-festa que nunca fui.

O céu está começando a ficar mais estrelado.

É um longo tempo até o local. A princípio, iríamos mais longe, mas segundo o Lorenzo, ele teve tempo o suficiente durante as semanas para procurar um bom local, não tão longe de San Pier, para comemorarmos, e como nem todos nós éramos maiores de dezoito, ele precisou liberar um valor mais alto para que conseguíssemos entrar, o que não foi nenhum pouco difícil, até porque as coisas têm sido bastante acessíveis desde que você saiba como usar o dinheiro que tem. O primeiro caminho que percorrermos é por um corredor escuro com luzes neon, e em poucos minutos, uma porta é aberta para aquela sala com luzes neon e uma música extremamente alta enquanto as pessoas gritam e pulam mais alto que a música. De um lado, uns estão bebendo, do outro, se beijando. Me sinto em um mar em fúria, em um continente desconhecido. É a minha primeira experiência.

Lorenzo me puxa logo quando chegamos. As meninas seguem atrás e temos aquela promessa de não nos separarmos devido a quantidade de gente no local. A Mia se propõe a pegar as primeiras bebidas, e quando recebo o meu copo azul, o álcool escorre dentro dos meus lábios, esquentando o meu corpo, me deixando ainda mais animado enquanto uma nova música começa a tocar. Hallucinate da Dua Lipa.

Ele me faz pular, embora eu não tenha jeito. E então tudo ao meu redor é uma animação de pulos e gritarias, principalmente da Kimberly, que gira um outro copo e se anima mais, jogando seus cachos para todos os lados possíveis enquanto segue a música. Esse é o estilo favorito dela. Meus pés seguem o do Lorenzo, e conforme mais copos seguem para meus lábios, mais animado e propenso a pular eu fico, rindo daquele som, me agarrando a sua jaqueta jeans com uma rosa bordada na parte de trás. Ele me abraça enquanto pulamos, e seus olhos negros seguem meus olhos enquanto nossos corpos se tornam mais próximos.

Seu cheiro de álcool é quase o suficiente para me deixar excitado, mas ele faz isso com o seu beijo, me deixando molhar. Com meus olhos fechados, damos aquele beijo intenso em que ele me aperta e minhas mãos acariciam o seu peitoral. Preciso daquele corpo quente contra o meu outra vez. Talvez no final da noite.

Seus lábios seguem pelo meu pescoço, me mordiscando, me fazendo arrepiar, subindo até alcançar a minha orelha onde ele sussurra coisas que me fazem rir.

— Eu te amo demais, Nico. — ele finaliza, selando a minha bochecha.

— Eu também amo você, Sun.

Tudo estava perfeito, mas ele fez questão de deixar mais. Em poucos mais minutos de festa, o Lorenzo sumiu, e minutos depois, a música parou para que ele aparecesse em um palco, com o microfone próximo aos lábios enquanto informava para todos naquele local que alguém que ele amava muito estava fazendo aniversário naquela noite e que ele gostaria de cantar uma música para esse alguém.

É algo da minha autoria. — ele disse.

Seus lábios se moveram enquanto seus olhos me encontraram naquela pequena multidão que estava logo à sua frente. Era impossível não nos encontrarmos assim. E então ele começou, fazendo a combinação dos meus olhos com o mar, e cantando que havia encontrado um motivo para deixar o seu coração ser partido uma outra vez.

— Ele ama você. — Kimberly fez questão de me lembrar.

— Eu sei.

E eu sabia bem demais. Eu sabia que aquele dia, treze de maio, ficaria gravado em minha memória para sempre. Antes do Lorenzo descer do palco, os aplausos começaram e ele agradeceu, nesse exato momento o seu celular tocou e ele se direcionou para os fundos do local quando as luzes se apagaram outra vez e tudo se tornou neon durante a nova música.

— Nicholas. — ele tenta me gritar quando se aproxima. — Eu preciso ir.

— O quê? — eu e a Mia falamos juntos.

— Para casa, minha mãe me ligou e eu preciso ir, não se preocupe, se divirta, certamente é alguma besteira. Eu ligo para vocês caso seja algo sério.

— Não. A gente vai com você. — grito de volta.

— Não. Por favor, aproveite a festa, é um dia especial, eu prometo que se for algo eu aviso. — seus dedos tocam o meu pulso e seu olhar negro me faz aceitar em ficar.

— Me avise.

— Eu prometo, eu aviso.

E ele some na multidão.

— Agora eu fiquei preocupado, Mia.

— Não deve ser nada, às vezes a mãe do Lorenzo tem esses surtos repentinos de querer que ele volte para casa, acontece às vezes, até porque ele some demais, acho que se tornou uma forma dela se precaver antes que ele decida fugir por dias e só aparecer depois como se nada tivesse acontecido. — ela dá de ombros. — Vai ficar tudo bem. Toma. — Mia me oferece um outro copo onde reluto por uns instantes antes de aceitar e dar um gole.

— Dance, Danvers. — Kimberly me puxa. — Não seja um amigo chato para ficar de vela, deixe elas se divertirem, se divirta comigo. Não sou mais atraente desde que você se apaixonou por garotos? — ela faz graça.

— Você sempre terá um pequeno pedaço do meu coração. — respondo de volta.

— É bom saber disso, você pode recompensar esquecendo os problemas nessa noite, assim eu vou saber que me ama de verdade. — Kimberly segura os meus ombros, tentando me mover durante a música. — São dezoito anos, torne isso bom.

— Eu vou tornar isso bom.

Eu sigo aquela indicação. Aceitando copos, girando conforme a música, pulando outra vez e sentindo o suor escorrer por minha testa enquanto cantamos a letra e temos aquela diversão que há tempos necessito. Não é apenas meu aniversário, é uma vitória por tudo o que aconteceu desde que o jogo começou.

É por mim. É por nós. É pela queda do Adam que ainda está preso. É por Depois do Ritual.

É por tudo até que horas depois aquela mensagem chegue e me faça tremer.

Lorenzo: — Preciso de você. É urgente.

Não lembro de ter desligado o celular, apenas peguei o primeiro táxi que encontrei e quando estava próximo da casa do Lorenzo joguei o dinheiro do motorista no banco da frente e a última coisa que me lembro é de bater à porta depois de sair e correr até chegar aqui. Meus pulmões estavam queimando e embora eu não estivesse bêbado, eu estava começando a sentir uma tremenda dor de cabeça. Eu não sabia o que fazer em situações assim, eu sequer queria fazer algo, eu só queria dormir por alguns anos e acordar quando tudo isso estivesse acabado.

A porta da casa do Lorenzo está aberta e eu entendo o motivo disso porque do lado de fora está o carro do serviço médico que provavelmente cuida do seu pai.

Não tem ninguém na sala. E então eu subo as escadas enquanto crio palavras dentro da minha cabeça para conseguir dizer alguma coisa caso o pior aconteça.

— Lorenzo? — eu chamo após alcançar o último degrau, estou próximo ao corredor de quartos. — Tem alguém aqui?

E então ele aparece. Já não está usando a roupa da festa, seus cabelos aparentam estar molhados e ao invés das roupas sujas de bebida, está usando uma camiseta xadrez vermelho e preto e uma bermuda jeans também preta.

— Ele ainda está acordado, mas temos apenas alguns minutos, não adianta levá-lo para o hospital até porque o movimento seria ainda mais prejudicial. — ele diz enquanto as lágrimas escorrem pelo rosto.

Eu poderia fugir desse problema como sempre fujo de todos os outros, mas eu não quero fugir dessa vez, e ele precisa de alguém.

Meus braços o envolvem em um abraço apertado e então sua cabeça é encaixada no espaço que existe entre meu ombro e pescoço enquanto ele aperta minhas costas com as mãos e desaba naquele choro que parece não ter fim.

— Eu estou aqui. — sussurro baixinho. — Isso não vai amenizar a sua dor, eu sei, mas eu estou aqui, eu estou aqui com você.

Seu aperto fica mais forte e eu tenho a sensação de estar quase perdendo o ar com aquilo, mas às vezes é bom perder o ar por alguém.

— Venha conhecê-lo. — ele diz quando afasta o rosto do meu ombro. — Eu quero que ele saiba quem é você.

Embora a situação pareça ser embaraçosa para mim, não recuso. Eu limpo suas lágrimas com as minhas mãos e até arrisco a dar um selo em seus lábios antes que ele me guie até aquele quarto repleto de pessoas.

— Minha mãe. — ele diz, apontando com o queixo para ela. — Meu irmão, a noiva dele, a irmã do meu pai, o marido dela, os três filhos e os médicos. — ele aponta para cada um deles. — E aquele é o meu pai.

Ele mantém a sua mão na minha, os nossos dedos entrelaçados. Acho que a sua família realmente aceita muito bem a sua opção sexual porque enquanto nos aproximamos do seu pai, ninguém se dispõem a falar nada ou tentar impedir.

Ele se ajoelha frente à cama e então eu analiso o estado do seu pai, deveria ser um rapaz muito belo quando jovem, e agora está aqui, em leito de morte, desviando o olhar do meu rosto para o rosto do próprio filho que já começa a chorar outra vez.

— Nicholas. — ele me chama e eu me ajoelho também. — Pai, este é o Nicholas, o garoto que eu vivia falando para o senhor, ele é uma boa pessoa e a gente se conhece há poucos meses, mas estamos tentando fazer com que algo aconteça entre nós dois, eu queria que você soubesse disso. — ele segura a mão do próprio pai e eu tenho medo de que algum movimento acabe machucando-a.

Novamente o seu pai olha para mim, sem movimento de pescoço, apenas com os olhos, e então esboça um sorriso acolhedor, agora eu sei de quem o Lorenzo herdou isso.

— Garoto bonito. — seu pai diz em tom de voz baixo. — Ele é um garoto bonito, vocês formam um casal bonito. — seu sorriso aumenta um pouco mais. — Você tem que cuidar do meu garoto, não o deixe afundar.

Eu só consigo concordar com a cabeça, porque qualquer palavra que ameaçar sair da minha boca será ridícula ou interrompida por minhas lágrimas que já estão rolando pela bochecha, essa situação é ruim, muito ruim.

— Eu vou esperar no corredor, tudo bem? — eu toco o ombro do Lorenzo e espero que ele entenda o meu pedido para me retirar, eles estavam em família e o clima pesado do quarto estava apertando o meu coração. — Eu estarei lá.

São longos minutos ali parado até que eu ouço o primeiro grito, é uma mulher, provavelmente a sua mãe, e eu sei o que isso quer dizer. Ele se foi. O segundo grito é de uma voz masculina, mas ela é totalmente diferente da voz do Lorenzo, é o seu irmão, e então ele aparece na porta com o rosto cheio de lágrimas e o coração totalmente partido.

— Ele se foi, Nicholas. — ele diz em lágrimas. — Eu pedi para ele ficar e ele foi embora, eu estou sozinho, ele me deixou. — a cada palavra um pedaço meu morre também, e eu não sei o que fazer além de correr para abraça-lo com força. — Ele se foi, ele se foi. — Lorenzo repete as palavras enquanto me aperta com força, chorando cada vez mais.

— Lorenzo. — tento pensar em algo e quando percebo, já estou em lágrimas também. — Eu não sei o que falar, me perdoe. — meu abraço se torna mais forte, eu queria livra-lo daquela dor. — Ele não te deixou, ele sempre cuidará de você e eu sei o quanto você orgulhou e orgulhará ele.

— Você não entende, Nicholas. — ele olha em meus olhos. — Ele era a única coisa que eu tinha, eu não posso ficar sem ele, eu não posso. — suas mãos encontram meus braços e ele me aperta com força enquanto caí de joelhos e me leva junto. — Está doendo, eu não quero sentir essa dor. — agora suas mãos escondem o próprio rosto e então sobe para os cabelos em seguida, puxando os fios negros.

É a primeira vez que algo assim acontece comigo, e embora eu queria demais permanecer ali, a minha vontade de fugir e me esconder continua sendo a maior de todas, eu queria chorar, eu queria distrai-lo e eu queria fazer qualquer outra coisa ao invés de ficar ali vendo-o naquele estado.

— Eu estou aqui por você, eu sou insuficiente em diversas coisas, mas eu prometo tentar ser mais que o suficiente para suprir suas necessidades, você pode contar comigo também, Lorenzo. — as palavras saem em tom alto para tentar acalma-lo enquanto seus gritos de "O que eu fiz" e "Por que os céus fez isso comigo" ressoam pelo corredor.

E eu permaneço aqui parado.

Quando olho para os lados, consigo ver diversos guarda-chuvas em cor preta que nos protege da forte chuva que está caindo e eu me pergunto se isso é normal, afinal, aqui em San Pier os dias são sempre quentes ou abafados.

Eu nunca vi tantas pessoas em um lugar só, aparentemente, o pai do Lorenzo tinha uma grande família e bons amigos, esse é o motivo do cemitério estar mais do que cheio, talvez, se juntássemos todas as lágrimas, poderíamos criar uma nova tempestade que duraria de dois ou três dias, aposto.

Ele está ao meu lado sem dizer nada, e conosco estão a Alison, a Kimberly, a Mia e o Michael, até algumas pessoas do colégio arriscaram a vir também.

Eu não consegui dormir e o processo para o enterro foi o mais rápido possível já que a família tinha dinheiro o suficiente para fazer isso acontecer da melhor forma. Ele permanecia em um silêncio terrível e aquilo estava me preocupando demais. Era nítido seu sofrimento, a sua dor. Lorenzo sempre falou do próprio pai com amor e orgulho, ele era a sua inspiração de vida, o seu alguém, e embora eu jamais tenha sentido uma perda tão significativa, imagino que uma parte de mim consiga sentir o que ele está sentindo. É frio. É estranho e é um tremendo vazio.

Quando o caixão finalmente desce, os principais familiares se aproximam para jogar os primeiros grãos de terra por cima, o primeiro é o Lorenzo, que pega uma boa quantidade de terra nas mãos envolvidas por luva preta e então joga dentro do buraco, o próximo é seu irmão e a última pessoa é a sua mãe.

Uma família destruída.

— Eu sinto muito. — sussurro quando ele volta para o meu lado.

— É. — ele me responde de maneira seca. — Eu também sinto muito, Nicholas.


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