DEREK
Acordo com uma das maiores ressacas da minha vida. Minhas pernas doem, meu nariz dói, e minha cabeça parece estar prestes a explodir. Levo um tempo para me acostumar com a claridade daquele quarto, mas quando consigo, é fácil perceber que estou em um lugar que não é meu, mas que conheço mais do que deveria conhecer. Xingo internamente ao notar isso, sou estúpido o suficiente para fraquejar quando o álcool e as merdas acontecem.
Quando finalmente me levanto, percebo que estou somente de cueca. Minhas peças de roupas estão jogadas pelo chão, meu peitoral está arranhado e em pleno piso do quarto está o pacote aberto do preservativo que devo ter usado na noite, pelo menos dessa vez tive essa precaução, não aguentaria passar por toda a tensão outra vez.
Em meu celular, checo o horário daquela manhã de vitória, 9:12. Minhas notificações são diversas, algumas com fotos da festa do time, outras dos meus pais, e quando chego as mensagens enviadas e recebidas, dói saber que não há nenhuma dele. Não vão haver mais.
Fiz o necessário para manter o Nicholas bem, mas embora a proteção dele seja o principal para mim, meu peito queima por saber que ele está destruído nesse exato momento, nos braços de outro alguém, beijando outro alguém. Eu também fiz isso, estou usando a Yuna como as mensagens que lhe enviei na noite anterior pedindo para ela ir me buscar na casa do Adam indicam. Estive bêbado demais, cansado demais.
Não é com ela que quero estar, mas as coisas precisam permanecer assim para que o Adam não mude as regras do jogo e acabe por liberar aquele vídeo por toda San Pier. Gostar de outros caras não deveria ser um erro, mas o medo do Nicholas ainda me aflora, quero que ele se sinta pronto ao invés de ganhar uma exposição, prefiro lidar com o fardo sozinho, com a dor das minhas decisões em pró daquilo que mais amo.
Eu jurei proteger ele, e embora doa, estou protegendo.
A mãe da Yuna pediu para que um grande café da manhã fosse preparado para nós dois, e nos últimos dias, ela tem se acostumado bastante em me ver em sua casa e até brinca com a ideia de que aquilo poderia se transformar em algo maior, mas eu sei que não vai. Mordo um pedaço da torrada com geleia enquanto elas conversam, o clima ainda é tenso como sempre, e como das vezes anterior, o seu pai não está em casa e ninguém se preocupa em dizer o real motivo disso acontecer, embora quase todos na cidade saibam que essa não é a única casa que ele frequenta. Não é apenas ambição por dinheiro, é traição também.
Estou usando a mesma roupa do dia anterior, e por sorte, elas ainda estão com um cheiro bem agradável, embora Yuna tenha dito que não seria um problema se ficássemos sem roupa em seu quarto. Meses atrás eu adoraria essa sugestão, hoje acho ela mais estúpida do que nunca, eu sequer deveria continuar aqui. Preciso ir para casa e resolver as coisas.
Preciso conversar com meus pais, comemorar a minha vitória em família, e também preciso cuidar do Nicholas, mesmo que de longe. Todas essas mudanças não podem tornar o que temos em algo irreal. Eu estarei com ele, de longe, mas estarei.
Após o café da manhã e a minha vontade de retornar para casa, Yuna consegue me prender por mais um tempo, prometendo que me deixaria sair se eu assistisse um filme qualquer com ela, e como das vezes anterior, eu me sinto na obrigação de fazer isso só para não deixa-la sozinha com seus próprios pensamentos depois de tudo o que aconteceu.
— Ainda dói? — ela pergunta ao tocar meu nariz.
— Agora doeu. — dou risada. — Mas pouco, antes estava pior.
— É triste que você e o Nicholas precisem estar assim, o Adam realmente é um babaca, mas não foi difícil descobrir todo o joguinho dele. Ele é assim, ele faz jogos.
— O que aconteceu entre você e ele de verdade? Você pode me contar?
Yuna fica em silêncio por alguns segundos antes de se virar de frente para mim naquela cama onde estávamos deitado lado a lado.
— Tudo. Logo quando entrei no primeiro ano, o Adam não tirou os olhos de mim, em partes eu sei que é por causa do meu pai, o pai dele sempre quis fechar alguma coisa com a minha família. O Adam se aproximou de mim através disso, a gente conversava sobre nossas famílias e o quanto era difícil para nós dois, eu comecei a gostar dele depois desses papos. — ela afasta os fios loiros do rosto. — Eu sempre soube que ele era um galinha, sabe? Não é tão difícil de perceber, esse tipo deixa tudo bem evidente, é como você. — ela me cutuca e eu me defendo.
— Eu não sou um galinha.
— Você sabe que é, Haze. Agora deixe eu continuar. — reviro meus olhos enquanto ela fala. — Ele era um galinha, mas ele também era o garoto mais desejado de toda a Zaco e ser filho do prefeito de San Pier e capitão do time de futebol só aumentava esse desejo, eu tive a chance de sair com ele graças a amizade dos nossos pais, às vezes eu precisava ir para casa dele por causa dos jantares de negócios, e assim a gente ficou mais próximos. A vida dele era um inferno cheio de pressão, a minha também é assim, você sabe. — ela me encara. — Em uma tarde nublada eu estava saindo da Zaco e estava chovendo muito, meu pai ia me buscar, mas ficou preso no trabalho, o Adam me trouxe para casa e eu convidei ele para entrar, ele aceitou e estávamos a sós, ele me beijou. — Yuna emite uma risada meio sem jeito. — Eu fui tão idiota, sabe? Eu realmente me entreguei de verdade.
— Isso acontece, não te torna idiota. — meus dedos envolvem seus dedos da mão direita.
— Isso não é nem o começo. O tempo passou e continuamos nessa, apenas nos beijos, mas eu queria mais. Eu havia comentado com o Bryce que estava insatisfeita, ele levou tudo isso para o Adam e ele me pediu em namoro, eu aceitei e três semanas depois soube que ele me traiu com duas garotas. Doeu. — agora ela afasta a mão da minha. — Eu precisava de mudanças, e eu disse para mim mesma que não cairia no charme do Adam Lavin outra vez, mas cai. Eu sempre caia. A gente tinha terminado, mas eu sempre voltava quando ele queria, até que eu conheci você. O Adam ficou enfurecido quando a gente se conheceu porque depois de você, eu finalmente esqueci ele.
Me sinto idiota porá cacete ao ouvir tudo isso. Ela realmente gosta de mim.
— E o que ele quer com esse jogo todo, cacete?
— Te machucar. Me machucar. — Yuna firma as palavras. — Você não percebeu ainda? O Adam é como um garoto mimado que surta quando não consegue o que ele quer, é só isso o que ele sabe fazer, surtar e manipular. Ele se acha a pessoa mais forte do mundo porque o pai dele controla San Pier, mas ele esquece que San Pier é pequena e não representa o mundo todo.
— Você tem sido forte demais esse tempo todo.
— Tenho tentado.
— Eu já teria surrado a cara dele. Quero fazer isso.
— Esse tipo de jogo não é válido para o tipo de pessoa que o Adam é. Ele merece perder tudo também, tirar as coisas dele é a melhor forma de fazê-lo sentir dor, ele não aguenta perder, Derek. — suas palavras são como um incentivo para mim.
E eu disse para ele lembrar das minhas.
Eu vou derrubar ele.
O caminho de volta para casa é feito em silêncio naquele carro vermelho que certamente terei que devolver. Para o Nicholas e os demais, nosso namoro acabou, o desafio também. Agora ele acha que estamos livres, longe das amarras que o Adam nos forçou a colocar em nossos pulsos. Queria que realmente estivéssemos assim, vamos estar quando tudo acabar e eu finalmente conseguir encaixar as peças que estão fora de lugar.
Estou determinado a mudar tudo isso antes que cheguemos ao fim antes da hora. Nada pode acabar assim, o Adam não pode vencer por muito tempo.
Encontro minha mãe na sala assim que entro, ela está terminando de desempacotar algumas caixas que chegou de Vegas. Ainda terá que ir lá outra vez, só para resolver pequenas questões que não conseguiu adiar por telefone. Se eu tivesse permanecido lá por mais tempo, nada teria dado errado. Estávamos bem, eu estava com ele e até tínhamos ultrapassado aquela linha tênue que eu sonhava em ultrapassar de novo. Precisava do Nicholas, de cada partícula do corpo dele por cima do meu me lembrando o que é estar vivo, queimando, ao invés de permanecer gélido como estou agora, feliz pela vitória de um sonho, mas triste pela perda de algo maior ainda.
Ele sempre vai ser algo maior para mim.
— Estou começando a me preocupar com você. — minha mãe diz ao notar minha presença. Ela está dobrando suas próprias roupas e ajeitando-as por cima do sofá. — Sai em um dia e volta no outro, tem brigado diversas vezes com o Nicholas, o que está acontecendo com você, Dek? Vocês não estavam assim em Vegas, você estava apaixonado.
Ainda estou apaixonado.
— Eu estava errado. — sou duro nas palavras. — Foi apenas uma fase, não estou me conectando com o Nicholas agora e sinceramente, não quero ser forçado a falar sobre isso porque não vai estar me fazendo bem.
— Eu não sou apenas sua mãe, você sabe disso, não sabe? Também sou psicóloga, e antes de tudo, sua amiga. Posso sentir quando você não está bem, Dek. Você não precisa e nem consegue esconder as coisas de mim. Está no sangue. — ela deixa as roupas de lado para caminhar até onde estou, parado contra a parede encarando ela. — Você pode ficar emburrado o quando for, mas eu sei que algo grande está acontecendo.
— Sei resolver minhas coisas, mãe.
— Sei que sabe. Mas quero que saiba que você não está sozinho e que eu te amo demais. Independente do que seja, pare para pensar direito, respire, analise todas as situações presentes e seja sábio ao se decidir, você sabe tomar decisões melhor do que ninguém, não maltrate seu coração, não maltrate sua saúde mental. — suas mãos pousam por meus ombros, massageando ambos. — Seja sincero com quem você é, Derek.
Eu realmente preciso ser.
— Obrigado. — aceito aquele seu abraço que chega logo depois.
Minha mãe tem um cheiro de lavanda, talvez por estar manuseando as roupas. Suas mãos passeiam por minhas costas, de cima para baixo, e me sinto tão confortável naquele abraço que as lágrimas ameaçam cair. Preciso manter a postura, fingir que está tudo bem.
— Agora suba. Você precisa de um banho para trocar essa roupa, e depois quero checar esse nariz. — ela ri enquanto se afasta.
Meus pés são rápidos na escada, e no último degrau as notificações que recebo em meu celular me faz querer recuar para trás e desistir de tudo.
Adam: — Haze! Chegamos na fase final do nosso game. Não achou que eu fosse perseguir você por toda a eternidade, não é? HAHA!
Adam: — Agora é hora de provar o gostinho da derrota. Soube que você tem trepado com a minha garota e não estou gostando nenhum pouco disso. Posso saber por que ela foi te buscar ontem? E por que você saiu com a mesma roupa da casa dela hoje pela manhã?
Adam: — Isso tem me deixado puto, Haze. Estou querendo divulgar um vídeo que você não gosta muito, você não me ajuda mesmo, não é? E eu tento ser bacana com você.
Derek: — Agora você fica me perseguindo? Checando meus passos?
Tenho tempo o suficiente para entrar no quarto enquanto ele não responde a mensagem.
A foto do babaca de pele bronzeada, olhos castanhos e cabelos loiros bem cortados aparece na tela do meu celular em uma ligação.
— Você acha que isso é uma brincadeira qualquer, não é? — Adam diz enquanto mastiga algo do outro lado da linha. — Não quero continuar brincando, acabou a brincadeira. A primeira fase foi destruir a sua amizade com o seu amigo, continue longe do Nicholas e ele estará fora do meu jogo, a segunda fase é destruir o coração da Yuna, termine, se afaste, faça o possível para ela não querer olhar na sua cara nunca mais, caso contrário, não será só o Nicholas que irá sofrer. Tenho o vídeo dele, tenho belas fotos dela, será legal divulgar isso tudo só porque você se apôs? Você realmente quer magoar quem você ama?
Inferno.
Tenho vontade de explodir tudo.
— Ficou surdo, Haze? — ele reforça.
— Não se preocupe. Vou fazer o que você quer contato que você mantenha essas merdas só para você. Mas não se esqueça do que eu disse antes, isso não vai ficar assim, falo sério. — chantageio também.
— Você está me ameaçando? — Adam tem sarcasmo na voz.
— Lide como quiser, Adam. Você vai foder a minha vida e eu vou foder a sua, vamos ver quem consegue jogar esse jogo melhor. — tem raiva em minha voz. — Vou encontrar uma falha sua, a menor que seja, e vou jogar toda essa bosta no ventilador depois.
Adam gargalha do outro lado.
— Cara. Você é hilário. Entregue a chave do meu carro para o Bryce amanhã, você perdeu isso também, voltou a ser o ninguém que sempre foi. Viu? Eu tenho tudo, você não tem nada, sem amigos, sem amor, e é claro, sem o carro dos sonhos. Bom dia, Haze.
E ele desliga.
Meu celular voa para o outro lado do quarto. Não sei lidar com tudo isso. Com toda raiva que estou sentindo sem poder descontar em algo. É tudo demais para mim.
As mudanças precisam acontecer agora.