Depois do Ritual (romance gay)

By ramqsa

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[HISTÓRIA COMPLETA] Todos os anos antes do retorno das aulas, os alunos da Zaco Beach School se reúnem em vol... More

[APRESENTAÇÃO]
[UM]: O RITUAL NA PRAIA
[DOIS]: DEPOIS DO RITUAL
[TRÊS]: NAMORADOS
[QUATRO]: HORA DO BEIJO
[CINCO]: TIME PRINCIPAL
[DREAMCAST]
[SEIS]: AINDA SOMOS NÓS
[SETE]: O CONVITE
[OITO]: A FESTA DO ADAM
[NOVE]: O EFEITO DA MACONHA
[DEZ]: AONDE VOCÊ ESTAVA?
[ONZE]: É APENAS UM BANHO
[DOZE]: O QUE ÉRAMOS E O QUE SOMOS
[TREZE]: ESTAMOS JUNTOS NESSA
[QUATORZE]: PÉSSIMA CONFIRMAÇÃO
[QUINZE]: JUNTAR AS PEÇAS
[DEZESSEIS]: ADAM, ROMEU E LORENZO
[DEZESSETE]: O VÍDEO
[DEZOITO]: ACAMPAMENTO
[DEZENOVE]: EU E VOCÊ
[VINTE]: EU AMO VOCÊ
[VINTE E UM]: FRAGMENTOS
[VINTE E DOIS]: ADAM, NICHOLAS E VEGAS
[VINTE E TRÊS]: O RESULTADO
[VINTE E QUATRO]: SER VERDADEIRO
[VINTE E CINCO]: CONEXÃO
[VINTE E SEIS]: LIBERDADE
[VINTE E SETE]: DE VOLTA AO LAR
[VINTE E OITO]: YUNA
[VINTE E NOVE]: QUEBRADO
[TRINTA]: LORENZO
[TRINTA E UM]: DE VOLTA AO JOGO
[TRINTA E DOIS]: CAMPEONATO
[TRINTA E TRÊS]: RENDENÇÃO
[TRINTA E QUATRO]: SONHO DA CALIFÓRNIA
[TRINTA E CINCO]: MUDANÇAS
[TRINTA E SETE]: DOIS PEDAÇOS DE UM CORAÇÃO PARTIDO
[TRINTA E OITO]: A PROPOSTA
[TRINTA E NOVE]: NICHOLAS DANVERS
[QUARENTA]: PLANO EM AÇÃO
[QUARENTA E UM]: RONY E ROMEU
[QUARENTA E DOIS]: A DESPEDIDA E A QUEDA
[QUARENTA E TRÊS]: TREZE DE MAIO
[QUARENTA E QUATRO]: PONTO FINAL
[QUARENTA E CINCO]: ADEUS, SAN PIER
[FINAL]: PRIMEIRO O BAILE, DEPOIS LA
[EPÍLOGO]: PARA SEMPRE NÓS
[INFO]

[TRINTA E SEIS] BEM-VINDOS À ANCHIETA

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By ramqsa

NICHOLAS

Minha mãe estava me enchendo dos piores sermões desde que cheguei em casa. Minha briga com o Derek não foi digerida de uma maneira positiva, e o meu pai continuava encontrando motivos para dizer que o Derek estava certo, provando mais uma vez que ele era o filho perfeito que ele almejaria em ter, e isso fazia um belo sentido. Eu nunca liguei para carros, mas meu pai e o Derek sempre conversaram sobre diversos modelos, ele seria a pessoa perfeita para dar seguimento ao legado da família, assumindo a empresa que eu não quero. Sei que errei em ter batido nele, mas a pressão e a culpa estava me deixando mais enlouquecido que qualquer desafio do ritual. Uma coisa era lidar com a chantagem do Adam, e outra, extremamente diferente e mais difícil, era lidar com a desaprovação dos meus pais embora ambos dissessem a todo momento que estavam dizendo tudo aquilo por me amar e se preocupar comigo. Se ao menos eles soubessem quem o Derek se tornou e por tudo o que estou passando, tenho certeza que agora a situação seria outra.

Lorenzo está me esperando do lado de fora naquela picape preta que o seu pai emprestou para que fizéssemos uma viagem para fora dos limites da cidade. Ele insistiu nisso, disse que faria bem para nós dois. E a minha vinda para casa também foi algo da ideia dele, segundo o Lorenzo, eu precisava conversar com os meus pais e tomar um banho para trocar de roupa, embora eu quisesse ficar com as peças dele e tivesse me recusado a devolver a camisa da sua banda que de qualquer forma já era um presente para mim.

Olhando no espelho do meu banheiro, consigo ver o quanto mudei em pouco tempo. Meus olhos azuis estão mais fortes, como se as situações estivessem me obrigando a deixar a calmaria do mar para me transformar em um tsunami. Estou usando aquela camisa preta do Wiped Out, meu álbum favorito do The Neighbourhood. Lorenzo sugeriu que fôssemos de bermuda devido ao calor que agora fazia, nem parece que passamos por toda aquela chuva toda. Típico de San Pier. Meu cabelo aparenta estar maior, o suficiente para que eu deseje corta-lo outra vez, e em meu pescoço está aquele colar que estamos dividindo. Ele tem sido meu amuleto da sorte agora.

— Espero que o passeio sirva para você refletir sobre suas decisões. — minha mãe alfineta quando desço as escadas e paro no último degrau para terminar de amarrar os cadarços do all star em cor preta. — E nada de dormir na casa do Lorenzo hoje, quero você aqui.

— Sem problemas. — é o que digo.

Não tenho mais coragem de lutar. Quero manter o mínimo de tranquilidade possível.

Ela não revida também. Não pode se estressar. A barriga está cada vez mais evidente e eu sequer imaginei um bom nome ainda. Cogitei inúmeras coisas, mas nenhum me atraiu. Vou gastar esse tempo ao ar livre para fazer isso. Vou pensar, refletir.

Vou estar longe dele também. Quanto mais longe melhor.

Lorenzo está do outro lado da pista quando saio de casa, ainda dentro do carro, com aquele óculos de sol escuro que deixa ele com cara de astro de Hollywood. Me pergunto como ele consegue usar aquela jaqueta jeans nesse calor, pelo menos não é a de couro.

— Imaginei que não fossemos sair hoje, Nico. — ele faz piada, abrindo a porta para eu entrar. — Não temos horas pra voltar, né?

— Eu só preciso dormir em casa dessa vez. — dou de ombros.

— Ótimo. Minhas costas não aguenta dormir no colchão de chão outra vez. — ele ri. — Coloque o cinto, janelas fechadas. Prometo te deixar em casa, mas não teremos limite de partida hoje. — faço tudo o que ele me pede enquanto o carro é ligado e ele acelera.

A paisagem vitoriana de San Pier vai passando pela janela. Poucos prédios, muitas casas, a praça central, a floricultura. Girassóis. Girassóis agora são lembranças do Lorenzo para mim, e a forma que eles brilham, tão amarelos, me fazem recordar das músicas que ele me dedicou. Eu sou tão brilhante. Ele também é.

— Música? — ele diz, movendo o dedo para ligar na rádio.

I Know You Were Trouble da Taylor Swfit. Me sinto como um verdadeiro adolescente outra vez, como em um dos aniversários da Alison onde ela nos obrigou a ouvir essa música milhares de vezes até a sua mãe interferir e deixa-la revoltada pelo resto da noite, mas no final deu tudo certo. Se antes a música só nos fazia gritar pela casa enquanto a hora do parabéns não chegava, hoje ela carrega uma mensagem mais pesada para mim.

É isso o que o amor traz. Qualquer letra de música se torna algo mais pesado.

Eu sabia que você era um problema quando apareceu.

— Isso não é muito meu estilo. — Lorenzo ri enquanto fico quieto.

— Eu esperava algo diferente também. — dou risada de volta.

Ele aproveita o sinal fechado para conectar o celular, e então damos adeus a aquele ar jovial para Gnash. Isso é bem mais Lorenzo.

— A propósito, eu adorei essa camisa. É algo que vou roubar quando tivermos oportunidade. — ele me encara depois de tirar o óculos de sol e guardar. — Eu deveria olhar o GPS, não é? Nem sei para onde estamos indo direito.

Agradeço. — Você está brincando, não é? — finjo espanto. Conheço ele o suficiente para saber que todos seus passos sem planejados. Lorenzo é aquele tipo de pessoa sem rumo, mas com uma direção.

— Você sabe que estou. — ele curva as sobrancelhas. — Ou não?

Aquilo me faz dar um tapa contra seu braço.

— Você é um clichê idiota.

— Você gosta disso, Nico.

— De onde saiu essa ideia de me chamar de Nico? Eu não entendi ainda.

— Nicholas é comum, Danvers é muito sério. — ele olha para mim por alguns segundos enquanto dirige. — Mas Nico é original. E só meu, não é?

— Por enquanto sim. Ninguém roubou ainda.

— E nem vão roubar. Você não vai deixar.

— Nesse caso eu preciso escolher outro nome para você. Lorenzo é comum, Hasting é sério, devo te chamar de Bruce? — faço uma pausa para pensar enquanto ele me questiona o motivo do Bruce. — Acho que não, você não se encaixa como o Batman.

— HAHAHA.

— O que foi? — agora eu tento ficar sério.

— Engraçadinho você, Danvers.

— Vou te chamar de Renzo, ou Sunflower. — o sorriso dele se estende na segunda palavra.

É isso. Lorenzo é o meu Sunflower.

Levamos uma boa hora até alcançarmos a estrada, e quando isso acontece, tudo ao nosso redor é uma combinação perfeita de montanhas e o mar azul de San Pier que se estende por toda Califórnia. Lorenzo tem o poder de transformar uma viagem de carro algo interessante, porque quando as músicas acabam e tudo se torna entediante, ele decide revisar nossas falas para a peça que deve acontecer nos próximos dias se tudo ocorrer pelo planejado. Agora eu já não estava com medo de beija-lo em público, agora isso era tudo o que eu queria.

O céu azulado está limpo, como se nem as nuvens positivas estivessem dispostas a aparecer para tampar o sol e estragar o nosso dia. Estamos longe o suficiente de San Pier, e pela indicação que o Lorenzo segue, perto o suficiente de uma cidade chamada Anchieta.

— Droga. — ouço a sua voz rouca enquanto ele diminuí a velocidade da picape para estacionar próximo ao posto de gasolina da estrada. — Vamos precisar encher o tanque outra vez, Nico. Por sorte é uma loja de conveniência também.

Por sorte mesmo. O cenário parece o mesmo de um filme de xerifes. Muita estrada, vários hotéis, um enorme vazio, postos de gasolina e algumas lojas distintas espalhadas pelos longos quilômetros que vamos percorrer.

— Posso ajudar? — um rapaz jovem de pele negra aparece quando Lorenzo desce o vidro da janela. — Estamos com algumas promoções se vocês forem comprar também.

— Só queremos encher o tanque. — Lorenzo pega a carteira para fazer o pagamento em dinheiro. — E pode ficar com o troco.

Burguês.

— Desde quando você se tornou caridoso?

— Desde quando você se tornou chato? — ele retruca enquanto guarda a carteira outra vez. — Meu pai tem uma grande economia. É tudo meu e do meu irmão.

— Isso torna você um clichê chato e burguês.

— Sabe o que me tornaria mais clichê? — seus olhos negros intensificam o brilho como se fossem capazes de fazer isso. — Se eu te desafiasse a entrar naquela loja — ele movimenta o queixo em direção. — E roubar duas garrafas de cerveja.

É impossível não rir com o que ele diz.

— Ficou louco? Chicletes até seria uma opção, mas aonde eu vou esconder duas garrafas?

— Então você ao menos cogitou a ideia, não é? — ele me deixa sem jeito.

— Não. Apenas analisei a situação. — dou meu ponto de vista.

— Balinhas de hortelã, Nico. Te desafio, mas se você não conseguir.. — Ele puxa cinco pratas e me entrega. — Você paga.

Sou rápido em tirar o cinto de segurança e abrir a porta. Lorenzo me espia de dentro do carro quando olho para trás. Meu coração palpita mais rápido enquanto termino de enfiar as notas de dinheiro no bolso. A porta da loja faz aquele som de sinos quando entro, e no balcão está um senhor de idade com cabelos grisalhos. Ele me observa entrar e caminhar até algumas prateleiras, e enquanto me entretenho nas olhadas dos matérias, ele parece se firmar na convicção de que sou uma boa pessoa.

E eu realmente sou, só estou sendo desafiado.

Meus dedos passeiam pelas balas. Morango, hortelã. Lorenzo não citou pacotes, poderia levar duas ou três, mas quero me arriscar mais. Primeiro, o olhar vai para câmera, apontada para outra direção, e depois ele segue até o senhor, agora lendo um jornal qualquer. Minha ação é rápida embora minha mãe esteja tremula e eu me sinta nervoso, enfiando o pacote pequeno dentro do meu bolso da bermuda jeans que é parcialmente coberta pela grande camisa preta. Ele tem poucas chances de perceber o volume.

— Posso ajudar? — uma voz feminina aparece logo atrás de mim. Uma garota morena de cabelos cortados em estilo militar.

— É-É — gaguejo. — Duas cervejas, por favor.

Sinto o desdém. A garota aponta para o refrigerador onde caminha comigo e tira duas cervejas da qual escolho.

— Cinco pratas. — ela diz quando coloca ambas no balcão e o senhor fecha o jornal para me encarar. — E identificação.

— Eu esqueci a carteira em casa, estou em uma viagem com amigos.

— É. Sempre usam essa história aqui. — ela ri. — Sete pratas então, e eu deixo você ir beber livremente com o rapaz que está te esperando no carro.

— Lyla! — o senhor repreende. — Deixe o rapaz. São cinco pratas, filho. E tenha consciência do que está fazendo. Eu nunca te proibi de beber, Lyla. — ele diz para a garota que revira os olhos enquanto eu faço o pagamento. — Só seja responsável. Vocês jovens esquecem que as ações trazem resultados. Vá. E vou esquecer a bebida.

— Obrigado. E eu realmente esqueci a identidade.

— Tudo bem. Não se preocupe. Para onde vocês estão indo? Anchieta tem um belo parque de diversões ao anoitecer. É a minha recomendação.

— Acho que é justamente para lá. Tenha um bom dia.

Tenho um grande arrependimento por tê-lo roubado.

Lorenzo me encara de forma sarcástica enquanto retorno para a picape segurando a sacola em mãos. Ele ri quando eu entro, e então fecho a porta e volto a colocar o cinto.

— Roubar não é para você, Danvers.

— Paguei as bebidas. — falo enquanto ele dá a partida no carro outra vez. — Mas também trouxe suas balas de hortelã, o pacote. — tiro do bolso e jogo contra o colo dele.

— HAHA! Eu sabia que não podia te desafiar. — Lorenzo gargalha enquanto pega o pacote de balas da bermuda jeans preta. — Você é genial, Nico. É por isso que você é brilhante como o Harry Styles diz.

— Você me fez roubar e agora está me elogiando?

— Eu sei. Mas foi pela diversão, não foi? E você pagou o mais caro. — ele dá de ombros.

— Você está destruindo a minha reputação de bom moço, Lorenzo.

— É o meu dever.

— Estamos indo em direção à Anchieta, não é? Esse é o trajeto, e o vendedor disso que lá tem um parque incrível com uma vista melhor ainda. — me animo só em falar. Preciso disso, de diversão, de calmaria.

— Um homem já não pode criar um belo encontro em segredo.

Minhas bochechas formigam.

— Um encontro?

— Nosso primeiro oficialmente.

— Você não me falou que era isso. — confesso estar um pouco sem jeito.

— Porque era pra ser surpresa, Danvers.

— Eu quero parar de te chamar de clichê, mas você é infinitamente clichê e não há nenhuma outra palavra que te defina tão bem quanto isso. — encaro minhas mãos, os dedos ainda avermelhados por ter socado o nariz do Derek.

— Não é clichê desejar um dia longe de todo o caos de casa. É sábio.

— Cala a boca.

Consigo ver ele revirar os olhos quando digo isso.

Meus olhos permanecem a percorre-lo por inteiro. Aquela jaqueta jeans clara por cima da camisa preta da sua própria banda. O colar, yin yang. Seus cabelos escuros estão embolados em uma tentativa falha de cachos, seu cigarro de menta está dentro do bolso da jaqueta e ele parece estar tão concentrado naquele percurso, com os dedos apertando o volante para que ele siga a direção que está nos levando. Vez o outra, seus lábios se entreabrem para que ele consiga respirar fundo, e vez ou outra, suas pupilas se dilatam quando ele desvia o olhar para mim.

Estar com o Lorenzo me transmite uma sensação diferente.

Com o Derek as coisas eram incríveis, mas pesadas. Havia medo e culpa e eu sempre me sentia incapaz de ser amado de verdade porque eu sabia que estávamos daquela forma por causa de um desafio. Senão fosse o Adam, nunca teríamos ultrapassado a linha, não foi por querer, foi por consequência. Aqui não. Eu não precisei ser desafiado a beijar o Lorenzo, eu conheci o Lorenzo, cada pedacinho dele, em cada ensaio, em cada comportamento e ação que me trouxe para mais perto enquanto o Derek fazia questão de me jogar para longe. Não posso me dizer apaixonado, mas estou. Apaixonado de forma amiga, e começando a adora-lo de forma romântica. Com calma, respeitando meus sentimentos.

Lorenzo foi bom o suficiente para me dizer que não preciso ter pressa e que ele me entende. Seu entendimento deixa tudo mais leve, não preciso forçar um amor que ainda não existe, não preciso corresponder palavras ou gestos. Estou livre.

Ativando a câmera do meu celular, tiro fotos deles, uma atrás da outra.

Ele parece sério e concentrado na primeira. Na segunda também, na terceira a foto sai tremida e na quarta ele já percebe o que está fazendo porque seus lábios tremulam até ele rir na quinta e na sexta olhar para mim. Na sétima ele sorri com os olhos e com os lábios, os dentes brancos, na oitava sua mão tenta tampar a câmera, e na nona tudo fica preto por ele ter conseguido tirar o celular da minha mão.

— Você vai estraga-lo dessa forma. — ele me devolve o celular.

— Impossível. Você ficou lindo em todas elas. — sei que aquilo constrange ele.

— Eu odeio fotos. Acho que me sinto estranho em todas elas, mas aprendi a amar fotografar porque a Mia adora fazer isso. — ele conta aquilo enquanto diminui a velocidade.

Bem-vindos à Anchieta! — diz a placa pela qual passamos.

— Chegamos? — pergunto ao notar a placa.

— Chegamos. Não ao parque, mas a cidade.

Anchieta parece uma versão gêmea de San Pier. É isso que significa estar na Califórnia. As casas também são em estilo vitoriana, e enquanto adentramos a cidade, pontuo todas as diferenças que consigo encontrar. Um cinema física enquanto em San Pier só temos o dos pais da Alison, ao ar livre. Lojas em estilo francesa e milhares outras coisas que me chamam à atenção, uma até mais que outras.

Pronto para uma leitura que mudará a sua vida? Venha conhecer a Madame Maggie e fazer sua consulta de tarot. — dizia um os posters com endereço onde obrigo o Lorenzo a ler enquanto ele estaciona.

— Você quer ir? — ele pergunta enquanto trava o carro e guarda a chave no bolso, enfiando uma balinha de hortelã roubada na boca logo depois. — É bem próximo daqui.

Quando concordo, Lorenzo cede a mão.

— O que? — ele indaga.

— Eu nunca andei de mãos dadas com um outro garoto na rua.

— Não precisa se preocupar, não vou soltar a sua mão. — seus olhos negros encontram meus olhos azuis. Ele me passa segurança.

Eu aceito.

O clima de Anchieta é diferente. Enquanto San Pier é seco em seus dias de sol, Anchieta tem um ar fresco o suficiente para não me fazer suar. Pessoas correm para se exercitar pela calçada enquanto outras apenas seguem o próprio fluxo de suas vidas, e vez ou outra posso encontrar alguns olhares em nossa direção, são nesses momentos que a mão do Lorenzo me aperta com mais firmeza e ele me guia até o local que desejo ir, aquela casa onde damos duas batidas na porta antes de descobrirmos que tem campainha.

— Pois não? — uma garota de pele branca, olhos azuis e cabelos em tom rosa abre a porta para nós dois.

— Você é a Madame Maggie? — Lorenzo questiona.

— Tenho cara de velha? — ela encara a gente de volta, ficando séria por longos segundos para depois rir. — É brincadeira, essa é a minha avó, entrem. Me chamo Thamy, Thamy Queni.

— Lorenzo. — ele levanta o indicador. — E Nicholas. — aponta para mim enquanto entramos e a garota concorda com a cabeça, guiando nós dois para a sala de casa.

— Vovó? Temos clientes. — a garota de cabelos rosas diz.

No ambiente da sala, uma senhora de pele clara e cabelos negros presos para trás aparece. Usa óculos de armação lilás e um grande sobretudo colorido. Ela olha para mim primeiro, e depois para o Lorenzo, balançando as mãos cheias de pulseiras e cordões.

— Sentem-se, por favor. — ela aponta para as almofadas no chão, próximas a mesa de centro que está vazia. — Estou tentando me conectar a vocês. Thamy, você está dispensada.

A garota sai da sala imediatamente.

Meus olhos acompanham a Madame Maggie que outra vez balança as mãos, causando um barulho do choque das pulseiras. Ela pega cartas em uma estante, e velas aromatizantes em outra. Duas velas são acesas na mesa, trazendo para o ambiente um cheiro bem agradável enquanto ela se senta também, olhando para nós dois.

As cortinas estão fechadas, permitindo apenas uma parcial da claridade do dia consiga adentrar a residência que tem um tom alaranjado.

— Tudo bem. Me digam mais, o que vocês querem saber?

— Sobre nós dois. E sobre nossas vidas, algo importante para ser dito.

Ela sorri.

— Certo.

Seus dedos com anéis misturam as cartas antes de espalha-las pela mesa. A madame fecha os olhos por breves segundos, pondo as mãos por cima das cartas para sentir algo, como se fosse a vibração ou energia daquilo, e então abre os olhos outra vez.

— Você primeiro. — aponta para mim. — Três cartas, puxe, não vire.

Me sinto nervoso.

Puxo uma.

Agora me sinto indeciso.

Puxo outra.

Mais indeciso ainda.

Puxo a última.

— Pronto. — encaro o Lorenzo antes de olha-la.

— Sua vez, rapaz. — Madame Maggie fala para o Lorenzo.

Uma. Duas. Três.

Ele é bem mais rápido do que eu.

— Ótimo, ótimo. Determinado. — ela elogia. — Vamos começar pelo primeiro rapaz, deixe-me ver. Qual é o seu nome?

— Nicholas. E ele é o Lorenzo.

Ela concorda.

— Primeiro vocês devem saber que minhas cartas são personalizadas por mim mesma, para melhorar minha forma de interpretação. — ela nos encara. — Por isso, aqui está a primeira para o senhor Nicholas, o amor.

Um homem e uma mulher. Um coração no meio.

— O que isso significa?

— Saberemos. — sua voz é serena. — Vamos para a segunda. — ela vira a carta. — O grande muro. — percebo sua negação com a cabeça. — E por último, — faz uma pausa. — O trouxa. — seus olhos retornam para mim.

Até parece que entendi.

— Tire uma última carta, filho. — Madame Maggie pede. — puxo a última da fileira que sobrou. — Guarde-a para o final, mas não vire. Vamos para a sua interpretação. A primeira carta diz que há um grande amor em seu coração, talvez seja algo jovial ou mais antigo, mas ele é tão crescente que nem você consegue lidar com essa imensidão, por isso o grande muro. Você se sente preso, indeciso, sem saber para onde ir. Você quer se libertar de si mesmo, das amarras que a vida lhe colocou, e por último, o trouxa. Sua indecisão atrapalha vidas, principalmente a sua. Você se sente usado constantemente e por isso tem medo de acreditar no seu merecimento quando um novo alguém aparece para te mostrar que você não é o único que é representado pela primeira carta. Está tudo bem amar e ter incerteza, somos falhos, você só precisa encontrar o caminho dentro de você mesmo e não permitir que.. — ela ergue a carta do trouxa para mim, um cavalheiro dando a mão para um outro, enquanto esse outro esconde uma espada nas costas. — Que o trouxa vença. Que você se torne ele.

— Obrigado. — ela pisca para mim quando agradeço.

— E agora você, filho. — Primeira, a serpente.

Lorenzo ajeita a postura ali sentado.

— Segunda, o fosso. E por último, o fruto proibido. — Madame Maggie sorri. — Interessante. Muito interessante. — a fumaça das velas continua subir enquanto ela une as três cartas do Lorenzo. — Você é constantemente traído, a cobra representa o seu atual estado, venenoso, tentando manter tudo sob controle enquanto está sozinho, mas o fosso te entrega. — seu olhar se torna mais firme. — Você cai. Você quebra com facilidade e sabe da existência desse seu lado frágil que se sente sufocado em sempre tentar ser forte, o fosso representa seu lado frágil que precisa ser tratado por você mesmo.

Minha mão encontra a dele naquele tapete, entrelaço meus dedos e aperto firme porque consigo ver o quão incomodado ele está com as palavras.

— O fruto proibido. — Madame Maggie mostra a carta. É representada por uma maçã mordida no alto e três homens jogados mortos pelo chão. — Você tem medo de se arriscar, medo do que o futuro pode reservar para você quando se fazer de forte já não for o suficiente, tem medo de perdas, de se perder principalmente, isso te transforma na cobra, e quando você se torna a cobra, você decaí para o posso de onde não consegue sair.

Lorenzo aperta minha mão com mais força.

— Uma última carta, filho.

Ele puxa a antepenúltima, antes da qual eu puxei.

Madame Maggie vira a minha.

— A Esperança. — depois a do Lorenzo. — O Sol. Isso representa o que esperar do futuro de vocês, tanto juntos quanto separados. O Nicholas busca por paz interior, pelo crescimento pessoal e amadurecimento, isso pode acontecer desde que você aceite quem você é e se ponha em linha de frente em seus próprios combates. — ela espera eu concordar com a cabeça. — Lorenzo. Assim como o sol, você quer brilhar e ser visto por todos. Essa carta me mostra certa ganância da sua parte, como alguém que não se satisfaz com poucas coisas e é bom o suficiente para conseguir tudo aquilo que pretende alcançar. No final, vejo duas pessoas cheias de buracos que juntas completam os pedaços uma da outra. Vocês emanam uma energia positiva o suficiente para que as mensagens sejam recebidas com êxito por mim, trabalhem individualmente a forma espiritual e mental de vocês, expandam a mente e a alma, isso vai torna-los grandes o suficiente para qualquer coisa.

Lorenzo agradece por mim.

É nítido que de algum modo, a conversa com a Madame Maggie mudou algo no Lorenzo que tínhamos quando chegamos e o Lorenzo que está dirigindo agora. Sua expressão está triste, com uma grande preocupação enquanto o entardecer começa a chegar em Anchieta. Desde a saída da casa dela, paramos em milhares de locais da cidade para comprar besteiras ou simplesmente tirar fotos. Lorenzo me fez ficar esperando por bons minutos enquanto ele entrava em diferentes lugares à procura do girassol mais amarelo para me dar, e agora esse mesmo girassol nos observa nos fundos do carro.

E é ele quem chamo de Sunflower, ele é quem deveria receber isso.

— As palavras afetaram você, não afetaram? — consigo dizer depois de todo aquele tempo de silêncio que temos. — Por sua história de vida, e seu pai.

Ele permite mais segundos de silêncio entre nós dois.

— Um pouco. E eu me sinto estupidamente fraco por demonstrar isso diante de você, mas está tudo bem. Hoje é um dia para curtirmos juntos, não para chorarmos ou pensarmos em coisas ruins, deixamos as bagagens de peso em San Pier, Nicholas, aqui, para hoje, só trouxemos as coisas leves. — ele me encara enquanto faz a curva para entrarmos na avenida do parque.

— Você é mais forte do que poderia ser. — ele me olha outra vez quando digo aquilo. — Você só precisa ter um pouco mais de confiança em si mesmo. Acho que a sessão foi boa o suficiente para nos direcionar para o que já sabemos, também causou um efeito estranho em mim, mas é por isso que estamos aqui, para conversarmos caso alguém precise, para nos apoiar como sempre nos apoiamos, somos amigos também, não somos?

— É claro que somos, Nico. — ele estaciona.

— Então conte comigo, certo? Se precisar chorar, chore comigo.

— Eu não vou chorar. — Lorenzo diz aquilo com uma voz debochada, me fazendo rir com ele logo depois. — Está tudo bem, são só esses pensamentos.

— Ei. — seguro sua mão antes que ele saia do carro.

— O que?

— O que a Madame Maggie te disse antes de sairmos? Aquele sussurro entre vocês.

— Que eu voltaria. Que ela me veria outras vezes aqui em Anchieta. 

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