Depois do Ritual (romance gay)

By ramqsa

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[HISTÓRIA COMPLETA] Todos os anos antes do retorno das aulas, os alunos da Zaco Beach School se reúnem em vol... More

[APRESENTAÇÃO]
[UM]: O RITUAL NA PRAIA
[DOIS]: DEPOIS DO RITUAL
[TRÊS]: NAMORADOS
[QUATRO]: HORA DO BEIJO
[CINCO]: TIME PRINCIPAL
[DREAMCAST]
[SEIS]: AINDA SOMOS NÓS
[SETE]: O CONVITE
[OITO]: A FESTA DO ADAM
[NOVE]: O EFEITO DA MACONHA
[DEZ]: AONDE VOCÊ ESTAVA?
[ONZE]: É APENAS UM BANHO
[DOZE]: O QUE ÉRAMOS E O QUE SOMOS
[TREZE]: ESTAMOS JUNTOS NESSA
[QUATORZE]: PÉSSIMA CONFIRMAÇÃO
[QUINZE]: JUNTAR AS PEÇAS
[DEZESSEIS]: ADAM, ROMEU E LORENZO
[DEZESSETE]: O VÍDEO
[DEZOITO]: ACAMPAMENTO
[DEZENOVE]: EU E VOCÊ
[VINTE]: EU AMO VOCÊ
[VINTE E UM]: FRAGMENTOS
[VINTE E DOIS]: ADAM, NICHOLAS E VEGAS
[VINTE E TRÊS]: O RESULTADO
[VINTE E QUATRO]: SER VERDADEIRO
[VINTE E CINCO]: CONEXÃO
[VINTE E SEIS]: LIBERDADE
[VINTE E SETE]: DE VOLTA AO LAR
[VINTE E OITO]: YUNA
[TRINTA]: LORENZO
[TRINTA E UM]: DE VOLTA AO JOGO
[TRINTA E DOIS]: CAMPEONATO
[TRINTA E TRÊS]: RENDENÇÃO
[TRINTA E QUATRO]: SONHO DA CALIFÓRNIA
[TRINTA E CINCO]: MUDANÇAS
[TRINTA E SEIS] BEM-VINDOS À ANCHIETA
[TRINTA E SETE]: DOIS PEDAÇOS DE UM CORAÇÃO PARTIDO
[TRINTA E OITO]: A PROPOSTA
[TRINTA E NOVE]: NICHOLAS DANVERS
[QUARENTA]: PLANO EM AÇÃO
[QUARENTA E UM]: RONY E ROMEU
[QUARENTA E DOIS]: A DESPEDIDA E A QUEDA
[QUARENTA E TRÊS]: TREZE DE MAIO
[QUARENTA E QUATRO]: PONTO FINAL
[QUARENTA E CINCO]: ADEUS, SAN PIER
[FINAL]: PRIMEIRO O BAILE, DEPOIS LA
[EPÍLOGO]: PARA SEMPRE NÓS
[INFO]

[VINTE E NOVE]: QUEBRADO

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By ramqsa

NICHOLAS

Ainda não sei como responder aquela mensagem, mas agora tudo estava explicado. Me sinto gélido pelo que isso pode significar, mas tento absorver todos os meus pensamentos positivos para não me sentir tão incapaz ou estremecido em saber que eles estão juntos em um momento tão delicado para a Yuna. Me sinto fútil e babaca o suficiente para chegar no ápice da raiva por um outro alguém em um momento tão delicado assim. Eu conheço a Yuna, eu sei o quão manipuladora ela pode ser para conseguir o que quer. Ela é observadora, é intrometida e desde que descobriu a verdade se tornou capaz de tudo para puxar o Derek para o lado dela. Isso me assombra, mas eu desejo que tudo fique bem, a situação e ela.

Por vezes meus dedos discam pela tela no intuito de escrever uma mensagem que apago todas às vezes. Prefiro deixa-lo, ele precisa respirar longe de mim, precisa cuidar dela embora ele não seja o responsável por toda essa situação. Derek tem o poder de gostar de pagar de herói, eu não conseguiria fazer isso sempre, não por todas as pessoas. Ultimamente eu tenho andado preocupado demais com o futuro, com os próximos meses, com a formatura e em como estaremos lá na frente. Todas as partes do meu corpo querem deixar San Pier para trás, mas nenhuma delas quer deixar de vê-los todos os dias. Não existe mais Fallwour, não existe mais time de futebol e eu sei que com o amadurecimento e o final desse ano, todos nós trilharemos caminhos diferentes.

Eu quero conseguir uma vida em Los Angeles, longe o suficiente de toda a merda do passado, mas perto o suficiente dos holofotes. Senão lá, me vejo em Nova York em meio aos carros e a vida corrida, no atrito diário que não me deixará pensar em nada negativo enquanto foco em minha carreira de ator. Eles disseram que me apoiariam nisso. Derek quer ser jogador, quer se tornar profissional e ter êxito o suficiente para orgulhar o pai, ele almeja isso, talvez não seja o seu sonho verdadeiro e sim uma conquista, ele quer se orgulhar em saber que o tio Fred estará orgulhoso porque assim ele se orgulhará também. Alison gosta de escrever, o suficiente para vender letras para cantoras famosas, ou criar um sucesso para Broadway se pudermos sonhar alto. Ela é uma escritora boa o suficiente para criar universos com paixão e dedicação, sei disso através das pequenas coisas que li devido a sua vergonha. A Kimberly também gosta das câmeras, não como eu. Ela gosta de informar, seja de forma visual ou escrita.

Não estaremos no mesmo lugar por muito tempo. Essa pode ser a última vez.

Pensar nisso me deixa quebrado.

— Nicholas? — sou movido à aquela vez, deixando de encarar uma foto de nós quatro em meu celular. Alison me encara, acompanhada pela Kimberly que quase é levada pela multidão que passa pelos corredores da Zaco. — Estamos no intervalo, não está com fome?

Não estou. Mas digo que sim.

— Antes de irmos, será que eu posso falar com a Kimberly? — minha voz soa trêmula. — A sós. Não vou demorar muito, eu prometo. — a feição da Kim não muda enquanto ela me encara. Tento desviar o meu olhar do seu, encarando seu moletom preto com cerejas espalhadas.

— Tudo bem por você? — Alison pergunta a Kim que concorda com a cabeça antes dela se afastar, se despedindo de nós. — Espero vocês no refeitório, não se matem.

Fico sério.

— E-Eu gostaria de te pedir desculpas pelo que aconteceu. — gaguejo pelo nervosismo. — Sei que fui um idiota. Você estava em seu direito naquela festa, todos nós estávamos bêbados e foi uma baita noite, aconteceram tantas coisas e eu sei o quão difícil foi estar lá, foi assim para mim também. — sou sincero. — Eu gosto de você, você é uma grande amiga e esse ano tem sido louco por causa dessa merda de ritual, não quero te perder.

— Eu te entendo. — suas palavras me fazem tremer. — Aquela noite foi horrível, mas eu sei que não fui justa com você. Eu estava louca, chapada, e eu me aproveitei da sua situação para ficarmos juntos, para transarmos. — sua destra toca o meu ombro. — Você é o meu melhor amigo, é irritante, já deixou o meu coração quebrado, mas é o meu melhor amigo. — ela sorri para mim. — Eu também não quero te perder, babaca.

Seu abraço me conforta até bem demais.

— Amigos? — eu a encaro quando se afasta.

— Sempre. Agora vamos comer porque eu estou morrendo de fome e soube que você tem um grande ensaio mais tarde, é melhor encher a barriga porque a Alison literalmente vai pegar pesado com vocês. Ela está louca. — Kimberly ri enquanto caminhamos em direção ao refeitório. — Notícias do Derek?

— Não me assuste mais que o necessário, eu já estou nervoso por causa disso. — essa é a sensação da Alison. Ela almeja que tudo isso fique para a história da Zaco. — E o Derek está com a Yuna, vocês já deveriam ter imaginado. — Kimberly concorda com a cabeça. — Ela abortou. Não era do Derek, era do Adam. — falar aquilo me dá alívio, mas ainda me sinto triste por ele estar lá ao invés de estar aqui.

— E como você está em relação a isso?

— Me sentindo egoísta. Ele está lá agora, deve passar todo o dia com ela porque segundo ele, ela precisa de alguém e eu acho que esse alguém deveria ser o Adam, não ele. Estamos bem agora, não quero que ela estrague tudo.

— Você não é egoísta por desejar que ele esteja aqui. — Kimberly quase me conforta. — É normal, vocês estão em um vínculo forte e a Yuna apresenta uma ameaça para você, mas você precisa confiar mais no Derek para que as coisas possam acontecer direito. — seus dedos encontram os meus, segurando a minha mão. — Eu estou com você.

Me sinto mais completo agora. Com os três.

Posso não tê-lo aqui nesse momento, mas fazer as pazes com a Kimberly é um grande passo para toda situação e risco que me imagino correndo. Quero que tudo termine bem, quero começar bem. As mensagens do Adam ainda não começaram a chegar, mas quando isso acontecer, quero estar pronto e com as pessoas certas para não me permitir cair. Ela é a pessoa certa, a Alison é a pessoa certa. Eles são as pessoas certas.

O refeitório está cheio com todos os tipos de animais de zoológicos que fazem um enorme barulho enquanto tudo o que eu quero é paz e silêncio. Antes eu amava estar aqui, enfiado em uma das mesas com toda aquela sensação de liberdade em estar longe de casa, atraindo olhares de pessoas desconhecidas e interagindo com pessoas diferentes das qual eu conheço. Eu gostava de fazer parte do time, gostava de ter um lance com a Kimberly e de me responsabilizar por todas as coisas boas que aconteciam em nossa vida. Agora eu quero fugir da Zaco levando todos eles comigo. Meus olhos passeiam por todos aqueles olhares que me encaram de volta, estamos buscando pela Alison enquanto eles me observam para atrair informações para o site da Zaco posteriormente.

Outra vez sendo a manchete do dia.

— Ali. — Kim aponta em uma direção que sigo com o olhar. Meus dedos apertam a bandeja metálica em minha mão. Estou levando uma caixa de suco de laranja, um sanduíche natural com pedaços de frango e cerejas com morango para comer.

Meu olhar encontra os cabelos ruivos da Alison, estão presos em um coque. Ela está sentada em uma mesa acompanhada por um garoto de pele negra e cabelos cacheados, Michael. Enquanto caminho com a Kim naquela direção, olhos negros encontram os meus e o cigarro tremula naqueles lábios que expõe um sorriso branco, é o Lorenzo, e ao seu lado está a garota coreana de cabelos na altura do ombro em cor branca, ainda não sei o nome dela.

— Nicholas! — ele é o primeiro a falar comigo, ainda sorrindo. — A Alison foi primeira que você. Estamos conversando sobre o ensaio depois do intervalo, estou um pouco nervoso. — ele ri enquanto tira o cigarro da boca para guardar no bolso da jaqueta de couro preta. — A propósito, você deve conhecer o Michael. — o garoto de cachos faz o sinal de paz com os dedos enquanto olha para mim. — E essa é a Mia, são meus melhores amigos. — a garota coreana apenas sorri em minha direção.

— Me assusta ela não ter te matado ainda. — dou risada enquanto me sento com a Kimberly do meu lado, sendo apresentado para os dois amigos dele. — E essa é a Kimberly, ela é minha amiga também. — Kimberly estende a mão para o Lorenzo que aperta, para o Michael e a Mia ela apenas troca olhares. — É mais fácil vocês encontrarem ela com a Alison já que eu vivo com o Derek, mas sempre estamos juntos.

Nossa conversa é interrompida pelo alto-falante que emite um som por todo o refeitório. Aquele ruído causa dor em meus ouvidos. Depois dele, a voz do diretor aparece. Primeiro ele nos dá bom dia, depois questiona como foi a nossa curta férias – como se pudéssemos responder –, e por último informa sobre o maior campeonato de futebol da Zaco contra a Legacy onde poderíamos nos classificar para algo mais forte e profissional caso ganhássemos. Essa mensagem não é para mim, para nenhum de nós, somente os garotos do time emitem um som, uma gritaria. O Derek gritaria também.

O diretor pigarreia longe, se desculpando depois para dar uma ressalta em algo que até cogitei que ele havia esquecido, nossa peça, Romeu e Romeu. Ele diz que o planejamento para a peça está a todo vapor e que os ensaios estão ocorrendo da melhor forma possível para dar a Zaco um espetáculo de sucesso que transformará todos os lucros obtidos em doações para instituições. – ao menos algo positivo.

E agora, finalmente por último, ele se despede pedindo para voltarmos ao que estávamos fazendo antes. Outra vez o ruído é emitido.

— Caralho. — Lorenzo diz enquanto põe as mãos no ouvido.

Eu tento não rir, até porque meus ouvidos doem também.

— Parece que ele nunca vai aprender a usar isso. — Alison diz antes dar uma mordida em sua banana. — Mas pelo menos ele citou a peça.

— O Lorenzo estava me falando sobre a peça e acho que eu poderia ajudar. — a voz suave é da garota de cabelos brancos. — Eu faço artes. Gosto de pintar, ilustrar, até de forma digital. Posso ajudar vocês com alguma divulgação de pôster que seja fiel aos personagens. — ela dá a ideia para a Alison que ouve enquanto termina de comer.

— Ela é incrível. Ela fez o logo da nossa banda. — Lorenzo se adianta a dizer.

— Você tem uma banda? — minha voz sai junto a da Alison que agora interroga a Mia sobre o talento dela enquanto eu encaro o Lorenzo, mais interessado em saber sobre a sua possível banda.

Ele tira uma camiseta preta de dentro da mochila, exibindo para mim o símbolo de uma . .

— Não faça essa cara de abobado. — ele ri. — Não é algo muito grandioso, a gente ensaia na garagem de casa e eu componho algumas músicas. Eu toco a guitarra, o Michael cuida da bateria e a Mia faz nossa divulgação e às vezes age como vocal também. — ele dá de ombros.

— Isso é incrível. — realmente me interesso naquilo. — Você poderia me mostrar alguma música sua qualquer dia. Eu gosto de estilos diferentes, gostaria de ouvir o seu.

— E a arte é incrível. — Kimberly diz enquanto bebe o  suco de uva.

— É. Eu sou um pouco envergonhado nesse quesito, são coisas profundas. Meus shows são basicamente para a minha mãe e o meu pai. Nunca sai da garagem ou expus minhas letras para ninguém. — ele coça os cachos negros enquanto me observa.

— O Lorenzo é um idiota. — ouço a voz do Michael. — Ele compõe muito bem.

Antes que possamos iniciar uma discussão sobre aquilo, o sinal toca outra vez. Agora é o nosso momento de ensaio e meu nervoso começa a ficar evidente quando a Alison se desliga do assunto com a Mia para me encarar de forma animada enquanto se levanta.

— Finalmente! — ela expõe um sorriso largo. — Você pode vir com a gente, Mia. Talvez eu precise da sua ajuda para elaborar algumas coisas no design das roupas. É só notificar a sua ausência na aula depois, a Sra Viena pode resolver isso para você. — ela quase apela para levar agora que se levanta sem ter muita reação antes de concordar e encarar o Lorenzo depois.

— Certo. Já que todos vamos para lá, podem esperar eu ir no banheiro primeiro? — a voz dele me faz levantar também. — Nicholas, você pode vir comigo?

Meus olhos percorrem da Alison para a Kimberly e é como se elas insinuassem algo com aquilo quando me devolvem o olhar e o Lorenzo me espera, ajeitando a mochila de pano vintage em um dos ombros.

— Hum. Pode ser. Encontro vocês daqui há alguns minutos. — me despeço das meninas e da Mia que acompanha o Michael que se afasta também, deixando-nos a sós.

Lorenzo se limita nas palavras. Apenas caminha à minha frente, passando pelos corredores bem movimentados da Zaco. Ele sobe a primeira leva de escadas que nos leva para o primeiro andar, então mais uma e mais uma, e mais uma, até finalmente chegarmos.

— O banheiro do quarto andar? — dou uma risada de lado quando alcanço o último degrau. — Ninguém usa esse banheiro, é longe demais para isso. — faço o lembrete da realidade. O Quarto andar da Zaco só é utilizado pela tarde, é o andar proibido para nós, alunos, servindo para reuniões e assuntos mais importantes em um auditório privados, salas de reuniões e outros cantos que jamais desvendei ou cheguei a ter conhecimento.

— Eu sei. É por isso que eu gosto daqui. Sempre venho para cá quando quero ficar sozinho ou quero cabular aula. É um lugar de paz, eu choro aqui. — seus olhos negros me encontram. — Às vezes é aqui que eu fumo, foi o local da minha primeira tragada e dos meus piores e melhores momentos comigo mesmo.

Seus dedos passam pelo azulejo em cor branca. O ambiente é totalmente dessa cor, branco, com grandes espelhos, um piso polido no chão e pias de mármore. A luz é um tanto fraca, como se a qualquer momento fosse desligar pela ausência de reparos, e embora pisque uma ou duas vezes, consegue se adequar ao fato de nós dois estarmos ali dentro, respirando aquele cheiro de naftalina e desinfetante barato.

— Entendi. — me sinto seco. — Você pode usar o mictório agora, eu espero você.

— Na verdade eu não quero usar o banheiro. — ele me olha através do espelho. — E-Eu queria saber se você quer ir à minha casa hoje de tarde. Estaremos lá, a Mia, o Michael e eu. — ele vira o rosto para me olhar diretamente agora. — Vamos fazer um trabalho em grupo e seria legal que nós dois nos conhecêssemos fora da Zaco para dar mais conforto aos personagens que vamos viver, seria como um treino extra depois da aula. — ele propõe.

A ideia não é nenhum pouco ruim. Eu preciso distrair minha mente enquanto o Derek não está aqui, enquanto seus braços estão envolvendo o corpo de uma outra pessoa, a pessoa que não sou eu. Não posso pensar nele, não posso pensar na Yuna. Não hoje.

— Certo. Eu acho que essa é uma boa ideia. — sinto o gelo do mármore atravessar o tecido da minha camiseta e deixar as minhas costas fria quando me encosto contra a pia, bem próximo dele. — A Alison está se dedicando muito para que essa peça seja incrível, eu não posso decepcionar ela de jeito nenhum.

— Você não vai. — sua mão toca o meu ombro, dando-me um aperto enquanto a luz do banheiro pisca outra vez. Me sinto constrangido, tímido. — Você está sendo incrível nessa evolução artística, eu tenho certeza de que você será um ótimo Romeu e também tenho certeza de que a sua amiga vai se orgulhar muito de você e do trabalho que você entregar, pode acreditar em mim. — seus dedos massageiam somente aquela região.

— Obrigado por ser tão acolhedor.

— É que amigos são pra isso. — ele responde de volta. — E chame suas amigas para ir com você, não quero que pensem que estamos flertando. — aquilo me faz rir enquanto Lorenzo choca o braço contra o meu, começando a caminhar para a saída do banheiro outra vez.

Ele só queria um momento a sós comigo. Ele me trouxe no seu local.

— Vamos, Romeu. Eu tenho que beijar você ainda hoje antes que a sua amiga rasgue minha jaqueta como ela prometeu. — ele me apressa para sairmos.

Alison estava frenética, correndo de um lado para o outro enquanto segurava uma fita de medida nos lábios e várias canetas de marcações em mãos. Duas garotas acompanhavam ela, com pranchetas enquanto desenhavam diversos modelos após eu e o Lorenzo termos nossas medidas tiradas. Vestíamos quase o mesmo, a diferença era a sua altura. Ele era mais alto. O resto do elenco foi apresentado para nós, e Clareza, uma garota negra com black, ficou responsável pelo papel de Julieta. Os outros eram atores coadjuvantes e auxiliares de cena.

Longos minutos depois, lá estava eu, acompanhado do Lorenzo. A caracterização ainda não era a final, mas o Lorenzo fez um comentário remetendo que estaríamos similares a bobos da corte e aquilo não me deixava ficar sério em nenhuma outra cena que tentássemos fazer. Eu o encarava, vendo aquela roupa espalhafatosa em cores vivas. Estávamos quase iguais. De última hora, Alison fez uma troca dentre o nome dos personagens, ele seria Romeu, Clareza seria Julieta e eu seria Rony, o amor descoberto de Romeu que foi prometido a Julieta.

— Com o beijo e emoção. — ela diz enquanto a professora Patrisha nos acompanha naquela cena. Minhas bochechas tremulam, quero rir do que ele falou minutos atrás. — Nicholas. — Alison faz uma reclamação.

Os olhos negros dele invadem o meu. É como o céu escuro, sem luar, navegando por meu mar azulado enquanto seus lábios rosados sussurram para que eu mantenha a calma e tenha concentração. Acredite em você mesmo. — ele sussurra por último.

Preciso respirar fundo. Seus dedos envolvem meus dedos e a sua mão encaixa por cima da minha. Ele está quente e sua feição muda, entrando no personagem para darmos vida a história que estamos criando juntos.

— É doloroso deixa-la por mim, Romeu. Se tu mereceis o amor, serás com ela que deverás ter. Não quero que machuque-se, não quero ser o responsável por suas cicatrizes por amar alguém como eu, não és justo para ti. — minha destra percorre até alcançar a sua bochecha direita e o meu polegar passeia pelos lábios molhados do Lorenzo.

— Estou apaixonado por ti, Rony. — sua mão encontra a minha por cima do teu rosto, onde ele afasta para selar e voltar a me olhar enquanto leva a minha mão contra o próprio peito. — A despedida é uma dor tão suave, que te diria boa noite até o amanhecer. — consigo sentir as batidas do seu coração, uma atrás do outra enquanto nos encaramos.

— Amar ti é navegar em uma doce e profunda escuridão da qual não quero me salvar.

Lorenzo desce a própria mão esquerda até a minha cintura para me fazer girar no ambiente, tocando meu queixo com os dois dedos da sua destra para me fazer elevar o olhar e a cabeça para encara-lo diretamente naqueles olhos que me perco.

— Beije-me então, Rony. De uma vez e para sempre, caso seja esse o meu fim, beije-me até que a lua encontre o sol pela última vez para nunca mais vermos um novo luar. Permita-me que sinta cada batida do teu coração, tu és do mais belo para mim, és o motivo de não ter partido essa noite, não permitas que eu vá sem sentir teu sabor. — seus dedos sobem, encontrando meus lábios onde ele passeia a ponta dos dedos.

Estamos nos empenhando para isso. É uma química quase real.

Meus lábios tremulam. É o nosso primeiro momento nessa cena, a nossa primeira vez traçando esse vínculo como um casal e a Alison queria que não só nossas falas, mas que todo o beijo, fosse perfeito.

Lorenzo move a cabeça para frente, tocando seus lábios nos meus. Primeiro é um selo, normal, bom o suficiente para sentirmos o frescor das balinhas de menta que dividimos no caminho para cá. Seus lábios se movem, meus lábios se abrem. Nossa respiração está quente, abafada uma pela outra, e então minha cabeça se move em uma direção oposta à dele, dando guia para aquele beijo em que não usamos a língua. Deixaríamos isso para a apresentação final.

Quando nos separamos, ouvimos os aplausos.

— Incrível. Impecável! — a professora Patrisha diz, com um largo sorriso estampado em seus lábios tingidos de vermelho. — Vocês são incrível, que química, que romance, que dicção. Por um segundo eu consegui mergulhar nesse amor e acreditar que ele fosse de fato real. Estou orgulhosa de vocês dois, muito orgulhosa. — ela me constrange enquanto o Lorenzo permanece naquela feição de "sorrio ou não sorrio" que sempre tem.

— Obrigado. — digo por nós dois. — Ali?

A aprovação dela é essencial para mim.

— Estou sem palavras. Você foi esplêndido, Nicholas. Vocês dois sem dúvida alguma foram as escolhas perfeitas para esses papéis. O Rony é um forte personagem e envolver ele dentro dessa trama de Romeu e Julieta foi tudo o que eu sempre quis fazer, faremos um grande espetáculo em time e eu tenho certeza que isso vai ficar para a história da Zaco.

— Eu só gostaria de repetir a cena com a Clareza antes de sermos dispensados. — a professora pede para que ela entre outra vez. — Todos juntos, do começo. — eu e o Lorenzo damos passos para trás, esperando o espetáculo começar outra vez.

Me sinto orgulhoso de mim mesmo. Estou tento um progresso, um grande progresso. Ainda me sinto quebrado, dolorido, sem rumo para seguir mas sendo puxado para uma boa direção. É assim que quero estar, seguindo uma direção, mas não quebrado. Eu queria que ele estivesse aqui hoje para assistir o meu primeiro treino com o Lorenzo, queria que me aplaudisse e me falasse o quão bom estou indo em todo esse trabalho.

Talvez na próxima.

O céu se tornou nublado quando o final dos ensaios chegou. Ainda não estava chovendo, mas eu conseguia sentir o frio do que aquela tempestade iria se tornar quando caísse. A Kimberly foi embora com a Alison e ambas prometeram me encontrar para irmos até a casa do Lorenzo mais tarde. Ele também sumiu, me deixando sozinho na Zaco.

É por isso que o Derek deveria estar aqui.

No meu caminho de volta para casa naquela caminhada, a brisa fria roça a minha pele e faz a minha camiseta voar junto aos cabelos, desejando me puxar para trás enquanto eu caminho em direção à casa. Parte de mim se sente confortado com tudo o que aconteceu durante o ensaio, com o orgulho projetado em mim mesmo. A outra se perde encarando o mar ao longe, as ondas azuis se quebrando contra a areia. Esse é o único benefício da Zaco Beach, a praia.

Em longos minutos de caminhada, o meu celular vibra no bolso, pausando o álbum Evolve do Imagine Dragons que antes tocava em meus ouvidos.

Derek: — Soube que você foi muito bem no ensaio de hoje. A Alison está espalhando isso em todos os cantos. Queria ter visto você, mas estar aqui é de grande importância para a Yuna.

Sou tentado a revirar os olhos.

Derek: — Você deve estar chateado.

E eu realmente estou. Tenho direito de estar.

Derek: — Eu prometo te encontrar amanhã pela manhã para conversarmos.

Finalmente meus dedos tocam a tela.

Nicholas: — E eu não sou importante para você? Eu entendo a situação da Yuna, mas você está suprindo um papel que não é seu, você deveria estar aqui hoje, sempre estamos presentes nos momentos mais importantes um do outro, Derek.

Ele demora para me responder, o suficiente para eu estar mais próximo de casa.

Derek: — Estou fazendo o que acho certo fazer.

Nicholas: — E está sendo um tremendo babaca mais uma vez.

Outras mensagens chegam, mas eu me recuso a ler cada uma delas.

Quando entro em casa, encontro a minha mãe com a tia Rouse conversando sobre algo aleatório que não ouço muito bem. Reparo na mesa de centro, repleta de revistas sobre gravidez, decoração de quarto de bebês e enormes caixas de compras espalhadas pelo chão.

— Tia Rouse. Mãe. — faço um rápido cumprimento. — Vou subir porque estou um pouco ocupado, mas, boa sorte em tentar ajudar a minha mãe. — ambas riem quando digo isso.

Eu herdei a sua indecisão.

— Tem notícias do Dek? — tia Rouse grita enquanto eu subo alguns degraus da escada que me leva para o segundo andar.

— Não sei onde ele está. — minto, terminando de subir os últimos degraus para passar por aquele corredor amplo e finalmente adentrar o meu quarto.

Livre.

Alison demorou uma eternidade para chegar, o suficiente para eu trocar de roupa duas vezes como se aquela fosse uma ocasião de grande importância para mim. Não era. Eu só iria na casa do Lorenzo ensaiar um pouco mais, me preparar para que tudo ocorresse de forma perfeita para o dia da apresentação, ainda assim, me sinto nervoso.

— Você fica estranho de qualquer forma, Nicholas. — ela se joga deitada contra a minha cama, cansada de esperar. — Enfia uma calça jeans e uma camiseta, isso já basta.

— Eu não vou sair por ai parecendo um louco. — encaro ela através do espelho. Estou terminando de fechar o botão daquela calça jeans com rasgos. Por último, visto a camisa de botões em cor vinho e calço o par de all stars também em cor vermelha. — E agora?

Ela se senta outra vez, me encarando através da lente dos óculos escuro.

— Péssimo. — ela ri logo depois. — Está parecendo alguém se preparando para o primeiro encontro. É isso mesmo que está acontecendo, Rony? Será que você está afim de beijar Romeu fora dos palcos? — ela caçoa. Nem parece a pessoa que foi desafiada a me separar do Derek.

Até havia me esquecido disso. Do jogo do Adam.

Ao menos ela havia sido sincera.

— Não seja idiota. — forço uma feição de chateado enquanto a Alison se levanta, ajeitando o shorts jeans em com preta. — Ele me mandou o endereço aqui.

Desbloqueio o celular para checar a informação que entrego para a Alison.

— Não é tão longe. E por que você não respondeu o Derek? — ela me encara de volta.

— Porque responder ele significa estragar o meu dia com você e com o Lorenzo. — dou de ombros, puxando o celular de volta. — Ele está com a Yuna e se diz ótimo fazendo isso, não sou eu quem vai ficar em casa triste. Eu odeio tudo isso, eu não quero me sentir quebrado outra vez, eu quero ocupar a cabeça com a peça, com vocês, não quero precisar pensar em coisas ruins que possam me colocar para baixo.

Alison me abraça de canto, juntos de frente ao espelho.

— Você cresceu tão rápido. — seus dedos apertam minha bochecha.

— Ah! Vai se foder. — me desvencilho daquele abraço de forma rápida enquanto ela ri da própria idiotice. — Vamos, não quero demorar para chegar. É a primeira vez que ele convida a gente e o máximo que podemos ser é pontual já que a Kimberly não vai estar lá.

— E eu preciso voltar cedo para ajudar meus pais.

— Você definitivamente não está me ajudando, Fieds.

Foram longos minutos dentro do carro até chegarmos ali. O rapaz estaciona diante uma casa grande, com um enorme portão em cor preta que dá visão para um jardim com flores e girassóis. Quando saímos, informo ao Lorenzo que chegamos, e por uma mensagem ele nos envia a senha para colocarmos no portão que se abre automaticamente.

Lorenzo: — Minha mãe sabe que vocês dois estão aqui, ela vai abrir a porta. O Michael não conseguiu vir hoje então somente eu e a Mia estamos aqui no quarto, estou esperando vocês.

Foi a Alison quem apertou a campainha e esperou a mãe do Lorenzo abrir. Uma senhora jovial de cabelos negros na altura dos ombros e olhos em cor mel. Ela sorri para nós dois e então estende a mão para a Alison.

— Você deve ser a amiga do Lorenzo, Alison. — sua voz é doce. — Soube que você está organizando a peça, o Lorenzo está tão empolgado. — seu sorriso se alarga enquanto ela termina de falar com a Alison e finalmente olha para mim. — E você deve ser o famoso Nicholas, o Lorenzo tem falado muito sobre você nas últimas semanas, e você é mais bonito ainda pessoalmente. — aquilo me constrange.

Então ele me acha bonito?

— Obrigado por nos receber em sua casa. — Alison diz antes que a mãe do Lorenzo dê espaço para entrarmos, avisando para subirmos até o quarto dele.

Terceiro andar à esquerda, eu sigo a Alison. A casa tem uma decoração vintage, bem mobiliada e com um cheiro similar a baunilha. É um ambiente calmo demais para uma família, me pergunto onde estaria o seu pai, já que somente a sua mãe estava ali.

— Você bate. — falo para a Alison quando chegamos na porta do quarto dele.

— Por que eu? E de novo? — ela me encara.

— Porque eu estou mandando e você é a minha amiga.

— Mas o amigo é seu.

— Então a gente bate juntos. No três.

Ela concorda. Um. Dois.

E a Alison bate sozinha.

— Você é um filho da mãe, Danvers. — ela afasta a mão rapidamente depois das três batidas rápidas que me deixam ainda mais constrangido.

E então ele abre a porta.



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