Acordei e abri um enorme sorriso ao ver Harry adormecido ao meu lado. O quarto ainda está escuro devido as cortinas fechadas, mas eu consigo ver seus olhos suavemente fechados, os lábios levemente entreabertos e a mão direita pousada sobre o abdômen nu. Levanto a minha mão e vejo a pedra do meu novo anel, sorrio mais uma vez e reviro os olhos mentalmente para mim mesma, a típica boba apaixonada habitando em mim. Cruzo os braços sobre o travesseiro e pouso o queixo nas mãos unidas, observando mais um pouco o rosto sereno do meu noivo.
- Eu permito que você tire uma foto. - diz com a voz rouca e baixa, tentando conter um sorriso.
- Não preciso de fotos, a partir de agora, essa imagem será a primeira de todas as minhas manhãs. - levo minha mão para o seu cabelo e ele volta a fechar os olhos. - Bom dia, preguiçoso.
- Bom dia, querida. - rio ao contemplá-lo tão relaxado.
- O que acha de me acompanhar em uma corrida? - proponho. - Tenho que manter a forma para o meu próximo trabalho. O que, por sinal, lembra-me de uma coisa: você tem um personal, não tem?
- Tenho, sim. - finalmente abre os olhos. - Por quê?
- Vou precisar roubá-lo de você. - abro um sorriso doce para ele. - Vou interpretar uma modelo, preciso de todo aquele corpinho.
- Se você emagrecer mais um grama, vou começar a ficar preocupado. - franze o cenho.
- Está no contrato. - sussurro.
- Eles realmente podem fazer isso? - levanta-se, apoiando o peso no cotovelo com os olhos presos em mim.
- Harry, eles nos fizeram um casal. - rio. - Acha que perder peso é muita coisa?
- É a sua saúde.
- Eu sei. - suspiro e pego sua mão. - Rebeca está procurando os melhores profissionais da saúde do Reino Unido para me ajudar a fazer isso com saúde. Por favor, não se preocupe. Isso não é nenhuma surpresa para mim, já fiz isso antes.
- Eu sei disso. Quando encontrei você no trabalho que fizemos juntos, você já estava visivelmente com menos peso e não o recuperou até hoje. O que tem mais para perder?
- Prometo que não vai ser muito. Tudo bem? - ele suspira. - Não fique bravo, por favor. É o meu trabalho.
- Não estou preocupado com a quantidade que você emagrece ou engorda, quero saber da sua saúde.
- Eu vou cuidar disso. - forço sua mão para baixo, puxando-o em minha direção.
- Não é só a indústria musical que é suja, não é? - afunda o rosto no meu pescoço.
- Não. - sussurro, abraçando-o contra o meu corpo. - O quanto você já sofreu com ela?
- Muito. - confessa e rola para o lado, deitando de lado para me olhar. - Eles sempre ditaram a maneira como eu deveria me comportar, me vestir, viver e, se possível, até o que eu deveria pensar e sentir.
- É, eu entendo.
- Fazer essa pausa foi a saída que encontramos para viver um pouco como queremos, fazer nossas próprias músicas, cuidar de nós mesmos e não apenas dos artistas que existem dentro de nós. Foi gratificante ao mesmo tempo que foi desgastante.
- Vocês não faziam a própria música? - questiono confusa.
- Nós escrevíamos, porém, sempre tinham um detalhe para acrescentar ou retirar e acabavam saindo de outro jeito, nunca como tínhamos imaginado. - explica. - Isso quando não rejeitavam inclusive a letra.
- Isso parece horrível. - comento.
- E era. - sorri, tristemente. - A amizade deles é tudo o que me manteve firme durante esses anos.
- Pelo menos vocês tinham um ao outro. - comento.
- Sim. - suspira. - Sabe, a única coisa que eu gostaria de ter feito diferente é ter prestado mais atenção no Zayn. - ele pega a minha mão. - Ele teve problemas emocionais, ansiedade, e eu sequer notei que estava piorando ou que ele precisava de ajuda. A saída que ele encontrou foi sair de tudo isso. Mesmo que ele esteja bem agora, eu só queria tê-lo apoiado mais quando ele precisou.
- Não se sinta assim. - peço. - Eu tenho certeza que você fez tudo o que pôde para ajudá-lo e ele sabe disso. Zayn nunca deixou de vê-los como amigos, irmãos. Não acho que você deva se preocupar com isso.
- É, você pode estar certa. - murmura, correndo os dedos para cima e para baixo no meu braço e com o olhar perdido em algo atrás de mim.
- Você está pronto para gastar energia comigo? - sento-me na cama, jogando as pernas para fora.
- Eu posso pensar em outras formas de gastar energia com você. - puxa-me para trás e eu grito de surpresa.
- Você está muito safado esses dias. - provoco e ele gargalha.
- Prometo que é só por você. - beija meu pescoço e leva suas mãos para minha coxa.
- Você sabe que a minha mãe está lá embaixo, provavelmente, esperando-nos para o café da manhã, não é? - suspiro com suas carícias percorrendo o lado interno e externo da minha coxa esquerda e subindo vagarosamente para a parte de baixo da minha barriga, rondando a minha calcinha sempre que pode.
- Nossas famílias estão lá embaixo e eu garanto a você que eles sabem que a gente transa. - sussurra e morde meu pescoço.
Desisto de discutir e fecho os meus olhos, jogando a cabeça para trás no seu ombro.
- Por Deus, vocês já estão assim antes da lua de mel? - pulo, afastando-me de Harry e abro os olhos para ver Kendall entrando.
Puxo o lençol para cima do meu corpo e encolho-me.
- O que você faz aqui? - Harry pergunta sem se abalar.
- Eu disse que, quando você se casasse, participaria de cada detalhe e aqui estou eu. - dá de ombros. - Desculpe, Claire. Encontrei sua mãe, Anne e Gemma saindo e elas disseram que eu poderia esperar dentro da casa.
- Esperar dentro da casa não significa invadir o meu quarto, Kendall. - meu noivo reclama, sentando-se. - Você pode sair?
- Você não pode estar com vergonha de mim agora. - revira os olhos.
- Oh, qual foi a última vez que vocês transaram? - pergunto, levantando-me da cama e puxo o lençol junto comigo.
- Claire. - Harry repreende-me.
- O que? - viro-me. - Ela é sua amiga agora, não é? Quero saber sobre a sua vida também, qual o problema?
- Quando foi que eu perguntei sobre o último homem que você esteve antes de mim?
- Isso quer dizer que ela foi a última mulher com quem você transou antes de mim? - passo minhas roupas para tentar escolher uma. - E eu nunca disse nada sobre a última pessoa com quem estive, porquê você nunca perguntou.
- Foi antes de nos conhecermos. - Harry murmura.
- Eu não estou acusando-o de nada, meu bem. - sorrio. - Eu fico feliz em ser a última que vai tocar o seu corpinho nu.
Ouço Kendall gargalhar atrás de mim e vejo Harry com o rosto afundado no travesseiro.
- Ele é tímido, Claire. Não faça isso. - pede.
- Bom, então acho que não devo contar sobre a minha última pessoa antes de conhecê-lo. - suspiro e caminho para o banheiro. - Não sei qual seria a reação do meu tímido futuro marido ao saber que eu estive com outra mulher.
- O que? - ele grita, boquiaberto e eu paro na porta do banheiro, observando o olhar de divertimento em sua amiga.
- Vai dizer que você nunca beijou um homem antes. - cruzo os braços.
- Eu não disse isso. - murmura e eu arqueio a sobrancelha. - Eu só não sabia que...
- Que eu tinha a mente aberta? Faz parte. - dou de ombros. - Se vocês não se importam, eu vou tomar um banho e recuperar a minha dignidade depois de ser flagrada nua na cama do meu noivo pela melhor amiga dele.
- Desculpe por isso. - Kendall diz e eu ofereço-lhe um sorriso. - Temos muitos assuntos para discutir sobre o seu casamento.
- Eu sei. Volto em alguns minutos.
...
Quando saio do banho, não há ninguém no quarto e eu encontro-os na cozinha, sentados na bancada com todo o café da manhã pronto depois que me troco. Sento-me ao lado da amiga do meu futuro marido enquanto ele corta algumas frutas do outro lado do balcão.
- Então, já que você está aqui. - começo e tomo um pouco do café que Harry coloca a minha frente. - Eu vou interpretar uma modelo dentro de alguns meses, quais são suas dicas?
- Postura, treine seu sorriso e sua cara de paisagem. - gargalho.
- Indique seus médicos para ela. - Harry pede, subindo num banco a nossa frente para iniciar sua refeição.
- Harry tem medo que eu fique doente se emagrecer mais um grama. - comento.
- Você ficaria surpresa com os casos que as agências mantêm por debaixo dos panos sobre esse assunto. - murmura. - Quando você começa a gravar?
- No início do próximo ano.
- Bom! Temos tempo para treiná-la. - ela fica de pé. - Desfile para mim.
- Nunca. - rio. - Não sei fazer isso.
Ela revira os olhos e anda até o fim da cozinha, gira em seus tênis e caminha de volta para nós, jogando seus quadris para o lado e mantendo o rosto impassível. Chega a nossa frente, para e apoia as mãos na cintura.
- Viu? - sorri. - Agora vai!
Tento o meu melhor e só faço ambos rirem da minha cara.
- Vocês são horríveis. - murmuro, tentando controlar minha própria risada.
- Amor, desiste do trabalho. - mostro língua para Harry.
- Eu tenho uma top model famosa para torturar até ficar perfeito. - dou de ombros.
- Nós trabalharemos isso enquanto você prova vestidos de noiva. - pisca e eu assinto, sentando-me para comer novamente.
Saímos os três para uma corrida ao ar livre e conversamos sobre alguns detalhes da cerimônia e da festa. Ela fica conosco até próximo a hora do almoço e sai para um compromisso, dizendo que trocaremos mensagens sobre o casamento. Ouso dizer que a empolgação está mais alta nela do que em mim no momento. Ainda que Harry e Kendall tenham tido um relacionamento no passado, eu não sentia nada negativo vindo dela e estava tudo bem tê-la por perto, a piada que fiz sobre os dois não foi nada além de pura descontração, eu estou bem com o fato de ter uma ex-namorada do meu noivo ajudando-me com os detalhes do casamento, pois eles são amigos. Harry sempre deixa claro o que sente por mim, o quanto me respeita e me quer a longo prazo em sua vida assim como eu o quero. Kendall nunca faltou com respeito ou insinuou qualquer coisa, também sempre deixou claro o quanto está feliz por nós e que está sempre pronta para apoiar o amigo. Fico feliz que eles tenham esse tipo de relação, apesar de não ter dado certo como um casal.
- Ei, mãe. - bato na porta de seu quarto no fim do dia e vejo-a arrumando as malas.
- Oi, querida. - sorri e faz um gesto para eu entrar.
- Você não quer mesmo ficar? - sento-me na cama e ajudo-a a dobrar devidamente as roupas.
- Não, meu bem. A lanchonete está indo bem e eu estou empolgada agora que temos shows de artistas locais à noite. - conta. - Roger ficou tomando conta, mas não quero abusar.
Roger Lambert é o novo vizinho da minha mãe, eles se reúnem com mais alguns amigos às sextas e foi ele também que a incentivou a abrir a lanchonete no período da noite e dar oportunidade para bandas e cantores locais. Os lucros triplicaram e minha mãe está muito feliz. Até agora ela diz que Roger é apenas um bom vizinho e amigo, mas, se ele for tão bom quanto ela diz ser, torço para que algo mais surja dessa amizade. Mamãe merece uma nova chance, sei que é o que meu pai ia querer também.
- Mãe. - chamo e suspiro antes de abraçar um travesseiro. - Você acha que é muito cedo?
- Cedo para quê? - franze o cenho e me observa.
- Para casamento. - murmuro.
- Você o ama? - pergunta, sentando-se ao meu lado e pousando a mão em minha perna cruzada.
- Mais do que sou capaz de descrever. - respondo.
- Está ai a sua resposta, então. - sorri.
- Nós não deveríamos namorar por um tempo, digo, longo tempo, então noivar e casar? - questiono. - Nos conhecemos há pouco mais de um ano. Tudo aconteceu tão rápido e ao mesmo tempo que parecem anos, mas foram alguns meses e, entre eles, ainda há os que ficamos separados.
- Querida, a maneira como rotulam seu relacionamento não importa. Sejam namorados, noivos ou casados, vocês passarão o resto das suas vidas se conhecendo. O nome de um relacionamento é uma mera formalidade que a sociedade inventou, o sentimento só fica mais forte ou até desaparece, é verdade, no entanto, seja lá como vocês desejam nomear a relação, estarão fazendo a mesma coisa, se amando como manda o momento, e o que tiver de acontecer vai acontecer independente da forma como são rotulados perante a sociedade.
- Eu não quero que acabe nunca. - sussurro.
- Essa decisão não está nas nossas mãos, filha. - ela acaricia meu cabelo. - Fui casada com o seu pai por mais de vinte anos e mesmo assim não o conhecia por completo. Garanto a você que ainda tinha muito mais o que desvendar, assim como ele tinha mais para me conhecer, porém, não tivemos muito tempo e, por mais que isso tenha acontecido, eu não me arrependo de absolutamente nada. Para falar a verdade, queria tê-lo conhecido antes para passarmos ainda mais tempo juntos, descobrindo os desejos, segredos e manias mais profundas de cada um.
- Você o amava muito, não é?
- Mais do que sou capaz de descrever. - repete minhas palavras e pega minha mão direita entre as suas. - E eu ainda o amo, isso nunca vai passar. Assim como você amará Harry, não importa o que aconteça, por mais que algum dia possa existir uma dor, ele sempre terá um lugar especial no seu coração e isso é maravilhosos, pois significa que valeu a pena cada momento. Por isso, Claire, não perca tempo tentando imaginar o que as pessoas vão dizer ou pensar, elas sempre estarão por aí para especular a sua vida, para dizer o que você deveria fazer ou não e elas só fazem isso, porquê não são felizes ou não têm coragem para ser. Se é isso o que você quer, case-se com Harry amanhã e vivam intensamente cada segundo.
- Obrigada, mãe. - jogo-me em seus braços e ela me aperta.
- Seja feliz, meu amor. É tudo o que eu quero e tudo o que eu peço a você.
- Eu vou ser. - prometo.
- Bom, agora, deixe-me eu terminar de arrumar minhas coisas e começar a arrumar minha agenda do outro lado do oceano para voltar para o seu casamento. - ela beija minha testa. - Eu amo você.
- Eu também amo você, mãe.
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Desculpa a demora, gente!
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