Na semana em que eu voltei à Nova York, estive em constantes reuniões com Rebeca e vídeoconferências com o produtor e o diretor de elenco de um filme para o qual fui escalada. Ele não seria filmado antes do verão europeu, então ainda estávamos acertando todos os detalhes. Para fazê-lo eu terei de morar na Inglaterra até que as filmagens acabem, o que me deixou com um pé atrás, mas, convenhamos, quão grande é a cidade de Londres para que eu esbarre com Harry Styles na esquina? Qual o probabilidade de acontecer?
- Você vai comigo, não é? - perguntei a Rebeca no final de uma dessas reuniões.
- É claro. - sorri e senta-se ao meu lado, tomando minha mão nas suas. - Eu nunca deixarei você sozinha. E vamos combinar que você está facilitando minha vida, não é? - piscou e nós rimos. - Eu posso ir na frente, olhar alguns imóveis e, quando você estiver pronta para ir, nós teremos tudo pronto. Niall voltará para Londres em poucas semanas, posso aproveitar.
- Seria ótimo.
Os dias passaram voando e Rebeca estava embarcando para a Europa enquanto eu pegava um voo para a América do Sul, eu começaria minha viagem por lá e terminaria quando estivesse de volta nos Estados Unidos. Eu queria conhecer um pouco do meu próprio continente antes de ter a oportunidade de explorar outros e foi isso que eu fiz por um mês e meio, viajei e conheci pessoas, culturas e paisagens novas e o mais diversas possíveis. No dia do aniversário de Harry eu apenas evitei meu celular a todo custo e fui uma perfeita turista, percorrendo todos os pontos mais interessantes da Colômbia. Novamente em Nova York, eu comecei a empacotar minhas coisas, algumas eu levaria, outras eu doaria, porém, eu precisava entregar o apartamento, pois já tinham pessoas interessadas em mudar. Minha porta estava aberta, porque a empresa de mudança que eu contratei estava descendo algumas caixas que seriam levadas para a casa da minha mãe onde eu passaria os dias até a hora de ir para Londres, eu levaria apenas o que era importante e estava tirando do apartamento tudo o que os novos moradores não queriam ali. Ouço uma batida leve na porta e viro-me, vendo Kendall parada ali, na porta do apartamento que logo mais não seria meu.
- Oi. - acena e dá um pequeno sorriso. - Será que podemos conversar?
- Se é sobre o que estou pensando, então não. - respondo, voltando a enfiar na caixa meus livros que ficavam na estante da sala e alguns objetos de decoração. - Como você entrou?
- A garagem estava aberta. Desconfiei que você não me receberia, caso eu pedisse autorização. - ouço seus passos adentrando o lugar. - Por favor, nós precisamos desfazer aquele mal entendido.
- Está tudo muito bem entendido para mim, não há nada para falar.
- Há muito para falar, você não soube da verdade naquele dia. - diz e eu paro para olhá-la. - Tudo que eu peço é que me escute.
- Não vai resolver em nada. - afirmo.
- Você decide isso depois.
Suspiro e largo os itens que estava guardando, olho ao redor, tiro alguns objetos que estavam sobre o sofá e indico para que ela se sente.
- Eu não tenho nada além de água para oferecer. Estou deixando o apartamento hoje. - falo e sento-me num banco almofadado a sua frente.
- Tudo bem. - ela faz um gesto com a mão e respira fundo antes de voltar a falar. - Bom, primeiro eu quero que você saiba que eu não fiz nada pensando em prejudicar o relacionamento de vocês. Harry não mentiu naquele dia quando disse que não somos nada além de bons amigos.
- Ele escondeu de mim, não me respondeu, me deixou aqui preocupada e recebendo notícias de paparazzi.
- Eu sei, não estou defendendo-o, ele errou e precisa se desculpar sobre isso. Inclusive, eu disse essas palavras a ele antes de deixar sua casa naquela época. - diz. - Você deve saber que nós tentamos um namoro por um tempo.
- Não, eu também não sabia disso. - suspiro. - Viu, só? Harry nunca me levou a sério.
- Ele pode ter dificuldade em se abrir, em contar sobre sua vida a alguém, acho que faz parte do seu estilo de vida, meio que ele nunca sabe em quem pode confiar verdadeiramente, qualquer um pode vender a história para uma revista ou sabe-se lá o que. Você entende sobre isso. - de fato eu entendia, mas não significa que é fácil compreender. - Nós tentamos ter algo além da amizade por um tempo, nós somos bons como amigos, então por quê não? No entanto, nunca deu certo e chegamos a essa conclusão, felizmente, antes de estragar nossa amizade.
- Por que está me contanto isso?
- Porque eu quero deixar claro que não fui, não sou e nunca serei um obstáculo entre vocês. Eu gosto muito do Harry, quero muito que ele seja feliz e eu via que ele estava no caminho certo com você. - eu desvio o olhar do seu, olhando para minhas mãos. - Quando eu o chamei para viajar, nunca foi dito que era para ele ir sozinho, eu deixei implícito que ele deveria fazer o convite a você e eu nunca soube que ele não havia a avisado. Porra, eu teria brigado com ele por isso, do mesmo jeito que eu odiaria esse cenário comigo, não quero vê-lo acontecendo entre vocês.
- Acho que ambos temos problemas em confiar um no outro, não é? - ela assente lentamente com um aceno de cabeça.
- Eu entendi um pouco o motivo que o levou a ir sozinho. Ele conversou muito comigo sobre a relação de vocês, sobre como você é importante para ele, o quanto ele gosta de você e o quanto estava empolgado apenas com a ideia de você se mudar para Londres. Acho que ele queria pensar um pouco mais sobre isso, sabe? - reviro os olhos. - Não estou tirando a responsabilidade dele, mas talvez seja bom você pensar por esse lado também. Harry não está bem, Claire, ele está sofrendo.
- Eu também sofri muito, desde o início enquanto ele se divertia com você. - retruco, segurando as lágrimas.
- Vocês precisam ao menos conversar com mais calma.
- Duvido que ele queira me ver. - dou de ombros.
- Por que?
- Eu não estava mentindo quando disse que estive com outro homem. - respondo. - Foi um momento de raiva e descontrole, porém, não muda a situação.
- Diga isso a ele, Harry é a pessoa mais compreensiva que eu já tive o prazer de conhecer.
- Nada muda o fato de que ele não confia em mim, que ele mente ou omite informações de mim. - suspiro. - Não da para construir um relacionamento com isso.
- Tenho certeza que vocês conseguem passar sobre isso.
- Kendall, eu agradeço sua preocupação, sua disposição de vir até aqui e me dizer tudo isso, contudo, eu temo que tenha sido em vão, pois o nosso relacionamento chegou ao fim. - afirmo.
- Tudo bem, a decisão é sua. Apenas tente pensar sobre o que conversamos hoje. - pede e eu assinto quando ela prende o olhar em mim e não desvia até que eu o faça. - Foi bom vê-la. Até mais.
As palavras dela ficaram na minha cabeça até o momento em que eu cheguei na minha cidade natal. Os próximos dias eu caminhei pelas ruas de Gaffney, relembrando cada momento e tentando pensar em qual seria a próxima vez que eu a visitaria. Na lanchonete dos meus pais, eu comi meu sanduíche favorito antes que minha mãe se sentasse a minha frente.
- Você não vai comigo, não é? - perguntei baixo, olhando para o meu prato agora vazio, apenas com alguns respingos de ketchup.
- Por enquanto, não, querida. - ela sorri e pega minha mão entre as suas. - Durante esses meses eu, certamente, irei visitá-la e depois das suas gravações nós veremos como tudo vai ficar.
- Eu vou voltar para os Estados Unidos. - afirmei.
- Você já queria se mudar para lá antes, lembra? - ela olha em meus olhos. - Talvez seja sua oportunidade.
- Eu não quero deixá-la aqui, do outro lado do oceano.
- Eu vou ficar bem, filha. Em todo caso, eu estarei a apenas uma viagem de avião de você. - suspiro, assentindo. - Você também vai ficar bem, tudo vai se resolver como tem de ser.
Em pouco mais de dois meses eu sai do país. Receba já tinha acertado tudo sobre a locação de um apartamento em uma área da cidade indicada por Niall, ele disse que foi o primeiro lugar que morou em Londres. Não era luxuoso nem nada disso, mas era confortável, pelo menos foi isso que consegui sentir ao ver as fotos. O bairro não era exatamente do lado oposto ao que eles moravam, mas tinha que servir. Quando eu pousei na Inglaterra, minha amiga estava lá para me receber com um abraço apertado, ela ajudou-me com as malas e seguimos para o estacionamento onde Niall nos esperava em seu carro.
- Obrigada por tudo que vocês fizeram por mim. - falei, colocando o cinto de segurança no banco de trás.
- Não foi nada demais. - ele diz, olhando-me pelo retrovisor interno. - Os amigos servem para facilitar a sua vida, ficamos felizes em poder ajudar.
- Tudo bem nós almoçarmos na casa de Niall hoje? Eu ainda não fiz suas compras. - Beca diz.
- Comida de graça? Oba! - comemoro e Niall gargalha.
- Não vou bancar seu estômago, Claire. - reclama.
- Vai, sim. É para isso que os amigos servem. - pisquei e ele riu, balançando a cabeça em negação.
Na sua casa, o cheiro de comida já estava por todo o lugar assim que entramos. Fomos para a sala de jantar elegante do Niall e sentamo-nos para desfrutar da deliciosa refeição.
- Nós temos um pequeno detalhe sobre o filme, fiquei sabendo ontem e preferi dar a informação pessoalmente a você. - ela disse no meio do almoço.
- Tudo bem. O que houve?
Ela olha para o namorado, bebe um pouco do seu suco e, então volta seu olhar para mim, começando a falar novamente:
- O ator que faria o par romântico da sua personagem desistiu, por motivos pessoais. Eles foram comunicados no início dessa semana sobre a decisão dele e tudo virou uma correria para a busca de um substituto. A equipe de produção do filme e a do substituto preferiram manter em sigilo a troca, por enquanto, para todos os efeitos eles ainda não o encontraram.
- Qual o problema em tudo isso? - rio. - Ele é mais especial que outra pessoa nesse planeta para precisar esconder tal informação?
Ela e Niall não riram da minha tentativa de piada, Rebeca coçou seu pescoço e cruzou as mãos abaixo do queixo, encontrando meu olhar de novo.
- Digamos que sim, ele é especial.
- Quem é? - questiono, bebendo um pouco do meu suco.
- Harry Styles.
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All The Love <3 <3 <3