Na manhã seguinte, eu apenas queria juntar minhas coisas, deixar o hotel e pegar o primeiro voo de volta para casa. Eu não sabia descrever como me sentia, era como humilhação, raiva, frustração e rejeição tudo junto. Queria que Harry sentisse apenas dez por cento de como senti na noite passada, mas eu não era esse tipo de pessoa, eu nem ao menos sabia o que poderia fazer para causar tal sentimento nele.
Eu estava fechando a minha mala quando meu celular apitou, indicando uma mensagem.
"Vem tomar café com a gente."
Era Eleanor. O problema nessa frase era que o "a gente" incluía o Harry, a última pessoa que eu queria ver nesse momento.
"Não vai dar. Tenho que voltar para Nova York."
Mesmo que meu voo apenas saísse em algumas boas horas, foi o melhor que consegui pensar.
"Nós também precisamos sair em poucas horas, estamos todos no meu quarto, foi servido aqui, venha também, por favor. Não sabemos quando nos veremos novamente. Já sinto sua falta :("
Ela sabia quando apelar. Com um suspiro, eu vesti a roupa que deixei separada, prendi o cabelo e agarrei o celular e o cartão da porta, deixando o meu quarto em direção ao elevador.
"Estou subindo."
Em poucos segundos, eu estava batendo na porta com o número que ela me enviou.
- Ei, bom dia. - falou, abrindo a porta e eu a abracei.
- Bom dia. - resmunguei e ela me puxou para dentro, batendo a porta.
Niall, Liam e Louis me cumprimentaram com um breve abraço e eu me sentei ao lado da aniversariante, o mais longe de Harry. O café da manhã se desenrola com os meninos conversando sobre os shows que ainda acontecerão e eu respondo algumas perguntas direcionadas a mim, contribuindo muito pouco para a conversa. Quando Liam, Niall e Harry se levantaram para sair, eu me preparei também para deixar o quarto, porém, ela me chamou e eles saíram. Louis foi para o banho e nós duas ficamos sozinhas no quarto deles. Eleanor me puxou até que eu sentasse na cama e ficou de pé na minha frente com os braços cruzados.
- Me conte o que aconteceu.
- Não aconteceu nada. - tentei, mas não consegui olhá-la nos olhos ao responder, era o que eu fazia quando mentia, meu pai dizia isso.
- Conversar pode melhorar. Você ficou calada o tempo todo.
Eu respirei fundo algumas vezes antes de ter coragem de falar.
- Harry... - e parei novamente.
- Eu sabia que tinha alguma coisa entre vocês, ele estava estranho também. - ela se sentou ao meu lado e me olhou. - Posso ser amiga de vocês dois, mas eu sei guardar segredos e separar o certo do errado. Confie em mim.
E, então eu conto tudo. Desde quando ele me abordou na saída do hotel e foi comigo para o trabalho até o que aconteceu após o show.
- Eu confiei nele, entende? - ela confirma com um gesto de cabeça. - No entanto, tudo o que ele pôde fazer foi desconfiar de mim e me tratar como uma estranha. Aquilo foi humilhante, eu não sei, estou sentindo tudo junto.
- Você gosta dele, não gosta?
- Eu pensava que sim, mas agora eu não sei mais. - abaixo meu olhar para as minhas mão. - Ele esteve ao meu lado desde o minuto em que soube da morte do meu pai até depois que nos despedimos dele. Eu não sei se o que eu sinto é gratidão e estou confundindo as coisas, só que depois de ontem à noite...eu não sei o que pensar.
- Você está magoada. - concluiu e eu assenti.
- Ontem ele foi legal comigo o tempo todo só para desmoronar tudo no final.
- Talvez vocês precisem conversar quando a raiva desaparecer. - sugeriu.
- Eu não quero conversar com ele. Nunca. - balancei a cabeça em negação. - Já fui humilhada o suficiente.
- Vocês eventualmente vão acabar conversando, ainda tem alguns meses para cumprir.
- Eu vou evitá-lo o máximo que puder.
Eu me despeço de Eleanor e Louis alguns minutos mais tarde e deixo o quarto deles em direção ao meu. Assim que o elevador para no meu andar e abre as portas, o primeiro rosto que vejo é de Harry encostado na parede. Eu passo reto por ele, sem ao menos olhá-lo e enfio o cartão na porta para abri-la, porém, quando vou fechar ele está parado ali, me impedindo.
- Eu preciso pegar um avião, me dê licença, por favor. - peço e tento fechar a porta novamente, mas, agora, sua mão me impede.
- Nós precisamos conversar. - diz e eu suspiro, evitando olhá-lo. - Ontem à noite, eu não quis...
- Por favor, Harry. Eu estou implorando, vá embora. - sinto as lágrimas chegarem aos meus olhos e abaixo a cabeça para não deixá-lo ver.
- Me desculpa. Eu não estava pensando direito quando disse aquilo. - ele continua falando enquanto eu dou as costas, desistindo de bater a porta em sua cara. - Eu não quis dizer que você ia fazer isso, me aplicar um golpe, eu sei que você nunca faria isso.
- Não é o que parece.
- Mas eu sei. - ele suspira. - Eu sei que não tem explicação e, infelizmente, eu não posso voltar atrás, porém, você precisa saber que não é isso que eu penso de você. Para mim, você é uma pessoa incrível e interessante que eu gostaria muito de conhecer profundamente, de ser alguém importante na sua vida.
- Você perdeu sua chance. - falo e mordo o lábio para não chorar. - Você pode sair, por favor?
- Me perdoe, Claire. - ele se aproxima. - Por favor. Provavelmente, nós passaremos muito tempo sem nos ver, não posso ficar em paz sem ouvir que me desculpa. Eu realmente não quis dizer aquilo, você precisa entender. Eu estou muito arrependido.
- Tudo bem, Harry. - eu me viro para ele, finalmente olho em seus olhos pela primeira vez e consigo ver arrependimento neles, contudo, isso não muda o que eu estou sentindo. - Eu desculpo você.
- De verdade?
- Sim. Será que agora você pode sair? Eu preciso ir embora.
- Ok. - murmura e vira-se para caminhar até a porta.
- Ah, Harry. - chamo-o e ele para, olhando para mim. - A partir de agora, qualquer conversa ou aproximação entre nós será exclusiva e estritamente profissional.
- O que? Você disse que me desculpou há poucos segundos. - diz, indignado.
- Sim, eu desculpei, porém, isso não muda o que já foi feito.
...
Em quase dois meses eu não tive nenhuma notícia sobre Harry. Eu falava com os outros garotos e com Eleanor, mas ninguém tocava em seu nome perto de mim, não sei se ele contou, se ela contou, na verdade, não interessa, isso era exatamente o que eu queria. Até mesmo o que todo mundo sabia sobre ele através das mídias sociais, eu evitava saber. Porém, na semana passada eu não pude evitar e vi algumas especulações sobre o nosso término após as fotos dele com uma modelo. Espero que isso não me traga problemas.
- Claire, tudo bem? - a diretora pausa mais uma vez a gravação e eu balanço a cabeça, voltando ao mundo real. - Eu preciso que você se concentre e expresse alegria, felicidade.
- Ok. - eu respiro fundo e volto a minha posição inicial para regravar a cena pela quinta vez, ao menos foi o que eu pude contar.
Era um pouco difícil transparecer o oposto do que eu sentia naquele momento, mas eu não podia de modo algum deixar que a minha vida pessoal interferisse na profissional. Seria o cúmulo do absurdo se eu deixasse que um cara estragasse tudo o que percorri para estar aqui hoje, atuando e trabalhando com o que eu amo fazer. Harry claramente não se importa comigo, por quê eu deveria me importar com o que aconteceu?
- Será que eu posso gravar as cenas de hoje a tarde em outro momento? - pergunto a Rebeca enquanto almoçamos.
- Eu posso tentar remarcar. O que está acontecendo? Você está se sentindo mal? - vejo sua expressão preocupada e a culpa se instala em mim, afinal não é nada além de um pouco de distração.
- Não, não tem nada acontecendo. Eu estou bem. - garanto e ela se tranquiliza. - O problema é que minha cabeça não está aqui hoje, entende? Eu não consigo explicar, mas também não consigo me concentrar. Errei inúmeras vezes hoje, está ficando trabalhoso e exigindo além do que eu posso dar hoje. Eu quero descansar o corpo e a mente e tentar voltar melhor amanhã.
- Tudo bem, vou ver o que posso fazer.
- Obrigada.
O dia de folga serviu para que eu colocasse a cabeça no lugar. Deixei qualquer pensamento que envolvesse Harry Styles para trás e fiz o meu coração parar de relembrar os momentos que tivéssemos juntos. Fui à academia do prédio e malhei até não ter forças nos músculos, aquela dor substituiu a que eu sentia desde Las Vegas, tomei um banho refrescante, cozinhei meu próprio jantar e terminei a noite estudando minha personagem na companhia de uma ou duas taças de vinho.
No dia seguinte, eu realmente me sentia revigorada. Eu sentia como se nada pudesse me parar e que aquele capítulo da minha vida tinha ficado para trás, embora eu tivesse consciência também de que precisaria enfrentar Harry por longos meses até que o contrato acabasse. Liguei para minha mãe a caminho do trabalho e atualizamos uma a outra sobre o que acontecia em nossas vidas. Gravei minhas cenas com o máximo de concentração e, na pausa para o almoço, foi quando eu vi Rebeca novamente.
- Como se sente hoje? - perguntou.
- Renovada. - bebi um pouco do suco. - Eu precisava de um tempo para colocar a cabeça no lugar e lidar com tudo o que aconteceu na minha vida.
Ela também sabia sobre o que ocorreu entre eu e Harry naquela noite. Embora ele nunca fique sabendo, Rebeca o xingou junto comigo, o que me fez sentir melhor após chorar todo o voo até Nova York. Os meus sentimentos por Harry estavam ficando mais intensos e, do dia para a noite, literalmente, eu tive que aprender a sufoca-los.
- Eu sinto muito dizer isso, - ela começou dizendo e eu larguei os talheres para olhá-la. - mas você terá que encontrá-lo em breve.
- Como é?
- Eu tentei evitar, Claire. Sei que você está magoada, porém, foram ordens baseadas no contrato que vocês assinaram.
Eu suspiro e balanço a cabeça incrédula.
- Os boatos sobre o término e tudo mais, por causa das saídas dele com outras mulheres. É tudo sobre isso. - explica. - Eles querem que vocês desmintam isso, então ele vem para Nova York hoje à noite. Vocês precisam ser vistos juntos.
- Droga. - murmuro.
- Ele retornará aos shows apenas no final de semana, nesse tempo ele deverá ficar aqui. Fui informada sobre isso hoje de manhã. Sinto muito.
- Não é culpa sua. - ofereço um pequeno sorriso a ela. - É tudo culpa dele, como sempre.
O resto do meu dia é um completo borrão. Eu gravo as cenas sem tantos erros, mas não me importo com o que acontece a minha volta. Assim que termino, pego minha coisas, me despeço e sigo para casa na companhia de Beca. Nós seguimos cada uma para um banheiro, tomamos um banho quente e, quando eu retorno, ela está na cozinha atendendo o interfone que estava tocando há poucos segundos.
- Quem era? - pergunto, adentrando a cozinha e cortando alguns temperos para o jantar.
- Harry. - responde. - Ele chegou.
Eu respiro fundo e continuo com o meu trabalho. Em pouco tempo, nós ouvimos dois toques na porta e mesmo assim eu não me movo. Rebeca caminha para fora da cozinha e abre a porta para ele. Vejo pelo canto do olho que está com uma pequena mala na mão e meu corpo fica tenso quando percebo que ele está caminhando em minha direção.
- Claire. - diz baixinho.
- Beca, você pode, por favor, mostrar o quarto de visitas ao nosso hóspede? Estou um pouco ocupada aqui. - falo, ainda sem levantar meu olhar.
- Claro.
Eles saem do meu campo de visão e eu sinto que finalmente posso voltar a respirar.
- Você é patética, Claire. - murmuro para mim mesma e jogo os temperos que preparei dentro da panela.
Rebeca volta em poucos segundos e me pede para cortar algumas batatas, enquanto ela prepara algo no fogão. Eu começo minha tarefa, tentando distrair minha mente, mas tenho que respirar fundo três vezes quando sinto o cheiro do perfume de Harry.
- Eu posso ajudar em alguma coisa? - pergunta e Rebeca olha para mim.
- Estamos bem. - ela sorri um pouco em sua direção.
Eu desvio o olhar do seu e tomo consciência de sua presença bem atrás de mim. Não sei o que é, porém, aparentemente, meu corpo responde ao sentir o de Harry no mesmo lugar. Não consigo explicar nem se tentar, é uma sensação diferente. Com a proximidade que estamos agora, eu diria que seria perigoso até mesmo mudar de posição.
- Ai. - largo a faca e vejo o sangue pingar no piso claro.
O corte não foi muito grande, mas posso dizer que foi profundo, pois sangra muito.
- Coloca na água corrente. - sinto sua mão pegar a minha e enfia-la debaixo da torneira.
- Não toque em mim. - digo, tirando a mão do seu alcance. - Eu sei me cuidar. Me dá licença.
Ele dá um passo para trás e solta as mãos ao lado do corpo. Vejo algum tipo de dor passar por seus incríveis olhos verdes e viro-me para não que olhá-lo mais. Ainda dói.
- Eu só queria ajudar. - murmura.
- Eu não preciso da sua ajuda, Harry. - desligo a torneira e me viro para encará-lo uma última vez. - Eu não preciso de você.
Apenas com esse pequeno tempo juntos, dá para dizer que nosso jantar não foi nada agradável.
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Bom, foi um presentinho de Natal que eu pude fazer para vocês. Quero aproveitar para desejar um Feliz Natal a todos vocês e suas famílias, espero que todos estejam bem apesar do ano difícil pelo qual passamos. Ele, com certeza, serviu para nos fortalecer e dar mais valor nas coisas mais simples, nas pessoas que queremos por perto e também sobre aquelas que não precisamos tão perto. Espero que vocês tenham uma linda e abençoada noite de Natal, que Deus ilumine vocês e suas famílias. Obrigada por tudo. Beijos!
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