Alina e a Chave do Infinito

By RodRodman

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Nascida e crescida na região da Valáquia, Alina Grigorescu é uma valente vampira secular que enfrentou inúmer... More

INTRODUÇÃO
Capítulo 1 - Provação tibetana
Capítulo 2 - A herdeira
Capítulo 3 - O último ocaso
Capítulo 4 - Legado de sangue e poder
Capítulo 5 - A dominação
Capítulo 6 - Elos
Capítulo 7 - Ferocidade e fúria
Capítulo 8 - No coração da selva
Capítulo 9 - Caárani
Capítulo 10 - Fraterno
Capítulo 11 - Batalha amazônica
Capítulo 12 - Por entre as eras
Capítulo 13 - Reencarnação maligna
Capítulo 14 - O Santuário de Belintash
Capítulo 15 - O retorno de Jæziel
Capítulo 16 - Antes do adeus
Capítulo 17 - A busca pela chave
Capítulo 18 - Momento de ascensão
Capítulo 19 - O mundo dos mortos
Capítulo 20 - Emboscada nas Pirâmides de Visoko
Capítulo 21 - Reencontro com a morte
Capítulo 22 - Aliança mortífera
Capítulo 23 - Embate
Capítulo 24 - Nas entranhas de Glenarm
Capítulo 25 - O filho de Archambault
Capítulo 26 - Jogos de guerra
Capítulo 27 - Negociações para o fim do mundo
Capítulo 28 - A Célula
Capítulo 29 - Sobre meninos e lobos
Capítulo 30 - O massacre de Uluru
Capítulo 31 - Impase
Capítulo 32 - Indução
Capítulo 33 - O necromante
Capítulo 34 - Guerra no Vilarejo de Belintash
Capítulo 35 - Coalizão fragmentada
Capítulo 36 - Entre mitos e lendas
Capítulo 37 - Perdão
Capítulo 38 - Tentado
Capítulo 39 - Dessabor em Zakynthos
Capítulo 40 - Como Lázaro
Capítulo 41 - Missão Praga
Capítulo 42 - Ouçam a nossa voz
Capítulo 43 - Revelações em Stuttgart
Capítulo 44 - Rendição ou morte
Capítulo 45 - O ardil
Capítulo 46 - O túmulo de Nikulei Stratan
Capítulo 47 - Inspiração espiritual
Capítulo 48 - O destino de Sephiræd
Capítulo 49 - Confronto decisivo em Rila
Capítulo 50 - Controle a sua ira. Acalme a sua raiva.
Capítulo 51 - A despedida
Capítulo 52 - A Chave do Infinito
Capítulo 53 - A quarta morte
Capítulo 54 - Além
Capítulo 55 - O depois
Capítulo 56 - O órfão
Epílogo

Prólogo

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By RodRodman

ALANNA DUBHGHAILL ESTAVA EXAUSTA quando se escondeu atrás de uma pilastra coberta de visco. Os pulmões ardiam devido ao ar cáustico que respirava há mais de uma semana. A desorientação pela falta de oxigênio limpo lhe causava alucinações constantes. As visões de seres alados a perseguindo, lhe rasgando a pele com suas garras pútridas, baforando enxofre em seu rosto, eram aterradoras. Não sabia mais a diferença entre realidade e imaginação.

O chão onde pisava era irregular. Ora parecia sólido. Ora movediço. Por vezes, engolia os seus tornozelos. A desequilibrando. Conforme procurava se manter ereta, não conseguia ficar parada por muito tempo. A uma distância segura de seus raptores. Precisava estar em constante movimento. Em uma fuga desesperada.

Eu não posso desistir. Preciso retomar o caminho para casa. A qualquer custo.

— Ela está por perto. Sinto o cheiro da mulher!

Os passos atrás de si e o farfalhar de asas decrépitas ecoavam pelo infindável salão pétreo onde ela lutava por sua vida há dias. Com as energias praticamente esgotadas, a bruxa guardava um último lampejo de magia a fim de reabrir o portal que, acidentalmente, a puxara para aquele labirinto infernal. Uma cadeia de corredores infestada de criaturas malignas.

— Lá está ela! Detenham-na!

Alanna botou a força que não tinha mais nos músculos cansados. Correu em direção a um túnel de arbustos que enxergava a dez metros de distância. Em meio ao que se parecia com a entrada de uma floresta, ela esperava reencontrar a trilha que a conduzira até ali. Não sabia quais eram as leis físicas que regiam a dimensão erma onde caíra, nem como podia canalizar energia mística das fontes naturais ali presentes, mas tentou alcançar as colunas de vegetação que se curvavam acima de sua cabeça mesmo assim.

Só mais alguns passos. Só mais alguns...

O chão grosso sob seus pés tremelicou antes de ceder em uma explosão que a arremessou com violência para a frente. O cheiro de enxofre intensificava-se à medida que a voz gutural atrás de si vibrava em seus tímpanos feridos. Ela estava caída sobre milhares de detritos do solo atingido por uma rajada incandescente. A brasa ainda acesa fervia em contato com a pele desprotegida. As suas vestes jaziam em frangalhos depois de tantas batalhas. Não havia um só osso em seu corpo que não doesse.

— Séculos se transcorreram em minha busca pela passagem que você, tão gentilmente, escancarou para Demophilus e as suas legiões, minha cara bruxa. Eu nem sei como agradecer.

O som agudo de risadas zombeteiras preencheu o espaço em torno de Alanna. A alucinação agora era táctil. Dedos imundos e fétidos tocavam o seu corpo. Perfuravam a sua carne. Rasgavam o tecido a cobrir a tez ferida.

— Ela é nossa...

— Sim, ela é.

— Vai nos levar de volta.

— Sim, ela vai.

Alanna viu-se, de repente, cercada por uma legião de mais de seiscentos demônios que avançavam sobre si. Os primeiros na multidão, menores que crianças em idade pré-escolar, puxavam-na em diferentes direções, ferindo-a. Gozavam-na com risos depreciativos. Com zombarias. Eram monstruosos a ponto de parecer que as suas peles se desprendiam do corpo. Como se a eles não pertencessem.

À frente das criaturas, o seu general observava a prisioneira com um brilho vívido em seus olhos carmesins. Os cabelos negros penteados para trás. A cútis alaranjada, quase incandescente. E o sorriso largo. Amarelo.

— Leve-nos de volta, bruxa.

— Sim, leve-nos à Terra. Aos domínios do Criador.

Sem que pudesse resistir, Alanna foi erguida do chão, agarrada pelas mãos sujas dos seres diabólicos que a rodeavam. O cheiro podre exalado por eles causava-lhe ânsia. Era como se estivessem cobertos de excremento.

— Reabra o portal que a trouxe para cá. Já é hora de Demophilus retornar ao mundo de onde ele jamais deveria ter sido expulso.

O ser que se referia a si mesmo em terceira pessoa era um misto de homem e fera. Deixara a sua humanidade de lado há muito tempo, porém, ainda mantinha traços de sua antiga existência terrena. O rosto era fino. O nariz anguloso. A testa proeminente. E os lábios eram carnudos, a borbulhar de um sangue cálido, viscoso.

Os soldados leais a ele subjugavam a mulher esguia que tentava escapar de sua obstinada perseguição. Ela se recusava a lhes dar a informação que tanto almejavam.

— Você chegou a nós trazida por uma fenda dimensional que há muito tempo não era aberta por um mortal — dizia o comandante infernal. — Deu-nos uma oportunidade de desafiarmos as hostes do Criador. A nossa porta de saída do Inferno. Agora, aponte-nos o caminho de volta para casa, mulher.

Garras afiadas lhes trespassavam a pele de braços e pernas, porém, Alanna se mantinha calada. Estava em profunda agonia e se recusava a ceder. Se o fizesse, condenaria o mundo que jurara defender com a sua experiência mística.

Demophilus, então, aproximou-se com passadas arrastadas e calculadas. Inclinou-se sobre ela a fim de intimidá-la, depois, lhe baforou um gás ácido conforme dizia as palavras:

— O que acha que vai conseguir além de dor e sofrimento com a sua mudez?

Parecia improvável, mas um esboço de sorriso escapou pelo canto dos lábios da caucasiana de cabelos negros, instantes antes de ela sentir a presença de aliados terrenos.

Já não era sem tempo...

Da entrada da floresta sombria, duas figuras trajadas com veludo movimentavam suas mãos à frente do tronco, invocando uma magia há muito tempo esquecida. De suas bocas, escapavam palavras em um dialeto desconhecido que, de súbito, forçou a vontade dos seres diabólicos a cercarem Alanna.

Um dos visitantes, o de barba espessa e olhos escuros, aumentou o tom da sua conjuração, dando passos adiante, em direção à amiga aprisionada. Enquanto isso, o outro, mais esguio e de cútis amarronzada, mantinha uma espécie de elo com uma passagem fulgurante que brilhava atrás de si.

Demophilus reagiu ao que vira imediatamente.

— O portal está aberto. Ele se mostra, enfim!

Com a pele em carne-viva, valendo-se de seus últimos instantes de lucidez, Alanna pôs-se a correr em direção ao túnel de arbustos. O barbudo acenou para que ela continuasse em frente, em direção à entrada luminescente. O outro feiticeiro a recepcionou com uma breve reverência, apontando para a porta mística às suas costas.

— Thomas e eu vamos atrasá-los. Corra! Salve-se!

O vento que soprou das árvores, de repente, encheu-lhe os pulmões. Explosões ondulantes foram sentidas por ela. Thomas e André agora lutavam contra as forças de Demophilus. Naquele mesmo momento, um rastro luminescente azulado indicou-lhe a direção para onde devia fugir. Isolina, o falcão-peregrino fêmea que ela usava de âncora entre as dimensões, havia entrado em contato com seus aliados na Terra para pedir ajuda. Era hora de partir.

Um clarão vermelho-fogo trouxe de volta uma combalida Alanna. Exaurida, com as vestes fumegantes e os cabelos desgrenhados, ainda demorou até que pudesse reabrir os olhos escuros. O crocitar agitado de Isolina em seus ouvidos deu-lhe a certeza de que, após tanto sofrimento, ela havia mesmo retornado para seu lar.

O bosque em frente à casa onde morava estava exatamente como lembrava. Uma preciosidade intocada pela passagem do tempo. As árvores altas e majestosas, com suas folhas vibrantes, erguiam-se em torno de uma clareira. O solo cobria-se por uma tapeçaria de flores silvestres em tons de violeta, amarelo e vermelho, criando um cenário colorido que se estendia até onde os olhos podiam ver.

Um corredor de lírios se desdobrava em uma profusão de cores e perfumes delicados, serpenteando em meio ao bosque. As flores pendiam elegantemente de galhos e arbustos, em um túnel natural de beleza exuberante.

Videiras entrelaçavam-se nas árvores desenhando um dossel natural que filtrava os raios do sol. Pássaros canoros e borboletas coloridas flutuavam no ar, como se a natureza celebrasse a harmonia da região intocada.

— Alanna! Você conseguiu!

Uma mulher de aparência asiática surgiu correndo de dentro da residência humilde escondida por árvores de copas largas e vegetação densa. Isolina, o pássaro, desceu do alto de uma sequoia em um voo rasante, até ao lado da sua dona. Lhe bicou o braço ferido para forçá-la a se erguer. Mensagem que foi compreendida de imediato.

As mãos delicadas da asiática ajudaram-na a se colocar em pé. Seus membros tremiam pelo esforço feito para se chegar até ali, mas a bruxa conseguiu se arrastar até o interior da sua morada, apoiada pela outra. Mesmo ainda sem equilíbrio, sentindo a cabeça girar e o estômago embrulhar, começou a revirar as estantes de livros em busca de um tomo específico, o seu grimório. Observada de perto pela mulher e por Isolina, que andou da porta de entrada até próximo da mesa de carvalho, Alanna folheou as páginas antigas para encontrar uma anotação específica.

— Onde estão Thomas e André, Alanna?

Nenhuma resposta. A bruxa agora parecia obstinada em encontrar uma entre as centenas de notas do livro, todas escritas ao longo de décadas de sua imensa sabedoria mágica.

— Isolina nos procurou quando percebeu uma perturbação no elo místico entre vocês duas. Não sabíamos por onde começar, por isso, usamos o falcão como ponte para chegar até você — dizia a feiticeira de cabelos lisos. — Desta vez, você foi longe demais, Alanna. Até os seus dons têm limites. Você podia ter morrido naquele ambiente!

As mãos trêmulas da búlgara continuavam em sua busca implacável. Página por página. Seus dedos percorriam linhas conforme lia de maneira dinâmica as conjurações, fórmulas e feitiços que ela mesma havia criado.

— Uma chave... — balbuciou, então. — Preciso confeccionar uma chave... tenho que lacrar aquele portal...

A de olhos monólitos foi até a outra e a deteve por um instante. Agarrou seu pulso e a forçou a encará-la.

— Thomas e André ainda não voltaram. Não podemos fechar a entrada antes de os tirarmos de lá. Nós sacrificamos metade das nossas forças só para localizá-la naquele lugar, Alanna. Eles não vão aguentar por muito mais tempo. Você sabe muito bem que não teríamos aberto o portal se Isolina não estivesse servido de âncora. Precisamos tirar os dois de lá. Agora.

As horas se passaram conforme ambas as magistas uniam seus esforços em uma tentativa desesperada de encontrar lampejos metafísicos de seus dois parceiros além do . Sentadas em posição de lótus em meio ao bosque afastado da floresta em Plovdiv, elas canalizavam a energia gerada pelos quatro elementos que as cercavam; a água que corria de um riacho, a brisa de ar fresco que soprava, a chama das tochas que as ladeavam e a terra onde jaziam sentadas. Tornavam-se mais fortes, mais focadas em seu objetivo num equilíbrio harmonioso com a natureza.

Isolina, o falcão-fêmea, sobrevoava a região, vigilante. Em suas penas, encontrava-se a assinatura energética que as mulheres pretendiam usar para a abertura de um novo portal até as fossas escaldantes. Até o Inferno.

De repente, o contato.

A essência espiritual dos quatro feiticeiros se conectou, enfim. Do outro lado, enquanto explosões de enxofre dilaceravam as suas vestes e a sua carne, Thomas Blackwood e André Nascimento ouviram o chamado psíquico das suas amigas. Imediatamente, se uniram em um esforço quase lancinante para se deixar conduzir por elas e, finalmente, abandonar o círculo infernal comandado pela criatura chamada Demophilus.

Os dois homens voltaram exaustos para a sua realidade. Enquanto a feiticeira mirrada de cabelos negros cuidava de seus ferimentos, Alanna concentrou-se, outra vez, em fechar temporariamente o portal que jamais devia ter aberto.

— Foi um erro atravessar por aquela passagem... um erro que pode custar toda a vida no planeta.

Uma hora se passou antes mesmo que a experiente feiticeira tivesse noção do que estava prestes a realizar no interior da sua casa. Durante décadas, ela havia inspecionado o Entremundos, mapeado áreas onde o tecido entre as dimensões era mais tênue, identificando passagens para além do plano terreno. Todavia, a fossa infernal era, de longe, a abertura mais perigosa de se manter acessível.

— Eu... eu tenho que bloquear aquela passagem... antes que seja tarde!

A realização daquele último feitiço e a confecção do artefato que ela chamava chulamente de chave, esgotou completamente as energias da mulher. Sob o olhar atento da sua ave de rapina de estimação e após semanas a fio, Alanna caiu em sono profundo diante da sua maior criação. Ficou estatelada em frente à mesa de carvalho onde executara o seu trabalho. Não acordou por um longo período.

Sobre a estrutura plana de madeira, um objeto de não mais do que intocado. Inerte. À espera de selar, de uma vez por todas, a porta que, se aberta, permitiria a invasão de uma legião de seres demoníacos à Terra.

Isolina ficou a vigiar o sono quase mortal da mulher, e de lá, não arredou mais o pé. Protetora, guardiã. A ave não possuía a consciência de o quão importante era o artefato pousado sobre o tampo de madeira acima de sua cabeça, mas sabia que a sua própria existência enquanto âncora estava atrelada a proteger Alanna.

Durante a sua longa vida, a mulher que a acolhera estaria segura. E assim seria por um longo tempo.


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