Apenas Meu

By mjesssilva

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APENAS MEU - SÉRIE APENAS - LIVRO 1 Agatha Salazzar é incomum e carrega segredos em sua mala mental. Ela... More

Prólogo
Capitulo 1:
Capítulo 2:
Capítulo 3:
Capítulo 4:
Capítulo 5:
Capítulo 6:
Capítulo 7:
Capítulo 8:
Capítulo 9:
Capítulo 10:
Capítulo 11:
Capítulo 12 (parte 1):
Capítulo 12 (parte 2/3)
Capítulo 12 (parte 3/3):
Capítulo 13:
Capítulo 14:
Capítulo 15:
Capítulo 16:
Capítulo 17:
Capítulo 18 (parte 1/2):
Capítulo 18 (parte 2/2):
Capítulo 19:
Capítulo 20:
Capítulo 21:
Capítulo 22:
Capítulo 23:
Capítulo 24:
Capítulo 25 (parte 1/2):
Capítulo 25 (parte 2/2):
Capítulo 26:
Capítulo 27:
Capítulo 28:
Capítulo 29:
Capítulo 30:
Capítulo 31:
Capítulo 32:
Capítulo 33:
Capítulo 34:
Capítulo 35:
Capítulo 37:
Capítulo 38:
Capítulo 39:
Capítulo 40:
COMUNICADO.
Capítulo 41:
Capítulo 42:
Capítulo 43:
Capítulo 44:
Capítulo 45:
Capítulo 46:
Capítulo 47:
Epílogo:
Agradecimentos:

Capítulo 36:

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By mjesssilva

Agatha.

And there's a battle within that I'll never win, cause it's me I'm up against, i'ts my heart versus commom sense. Can I give you up?
E há uma batalha interna que eu nunca vou ganhar, porque sou eu contra eu mesma, é o meu coração contra o senso comum. Posso desistir de você? (Giving you Up – Miley Cyrus).

As roupas estavam espalhadas pela cama e Henrique estava saindo do banho. Era a noite da despedida de solteiro e eu estava absolutamente certa em estar animada, pois ainda não conhecia os planos de Cate e estava animada para descobrir.

Optei pelo pretinho básico e optei pelo mesmo só porque Henrique, antes de ir ao banho, salientou que não queria que eu o usasse. Subi o vestido de couro preto pelas pernas, notando o tecido das costas transparente e seu tamanho pouco acima da metade de coxa. Calcei os sapatos vermelhos assim que Henrique saiu nu do banheiro. Qual a necessidade daquilo? Só para me atormentar em me lembrar de que daqui a alguns minutos ele estaria no meio de várias mulheres seminuas? Mas ainda assim, não tinha como negar que ele era muito belo nu. Ostentando seu grande tamanho em tudo que estava à mostra. O tanquinho era bem definido, assim como os músculos dos braços e aquilo quase tirou minha atenção do pequeno incomodo que se locomovia sob minha pele.

- O que eu disse sobre o vestido? – Ele indagou, pegando uma cueca boxer vermelha e subindo-a com velocidade pelas pernas.

Ele sabia que eu adorava aquela cor de cueca. Ponderei.

- Eu não sei, Rick. O que você disse? – Indaguei, passando por ele e jogando perfume pelo meu corpo e pelo vestido.

- Pouco importa. Vou tirar ele com os dentes mais tarde. – Comentou, vestindo a camisa e me fitando de longe.

- Tchau para você. – Passei por ele puxando a bolsa da cama e indo a caminho da porta.

Antes que eu pudesse mover meus pés em dois passos, ele me agarrou com apenas um braço pela cintura, fazendo com que eu erguesse as pernas do chão, claramente irritada com ele.

- Tá mesmo irritada comigo? – Ele indagou, me colocando no chão diante dele.

- Nem um pouquinho. – Dei de ombros. – É só eu saber de algo errado e você perde a oportunidade de tirar esse vestidinho. – Provoquei-o com uma piscadela.

*

Todas as garotas próximas de Cate estavam animadas ao extremo. O interior da limusine era forrado de cetim rosa e um som eletrizante de uma batida eletrônica soava pelas caixas. A iluminação era baixa e eu estava movida pela bebida, claramente enciumada. Enruguei as sobrancelhas, notando Cate meramente entusiasmada.

Comecei a observar as meninas ao redor. Todas usavam aliança de compromisso e seus respectivos namorados, conforme a conversa desenrolava, estavam na despedida de solteiro com Eliot. Emily também estava animada.

- O que está acontecendo? – Indaguei olhando para as meninas.

- Você não contou para a sua melhor amiga? – Uma das garotas perguntou em um mini escândalo.

- Gata, você vai adorar. – Cate começou com sua ideia. – Não notou a mudança de horário?

- Eu sei lá. – Respondi, afundando no banco.

- Ai, ela está com ciúmes do namorado! – Emily disse e as garotas murmuram em tons fofos ao meu redor.

- E com quem namora? Quem te quis? – Ergui os olhos para uma das meninas que me olhara torto desde que subira no veículo. Fios louros, nariz empinado e expressão arrogante.

- Com Henrique DeLucca, meu irmão. – Emily respondeu em tom amargo.

As garotas caíram em murmúrios espantados. Provavelmente se lembrando do rapaz que se casara, que tivera uma filha, um dos mais ricos e mais gatos e blá, blá, blá.

- A gente vai experimentar as lingeries. E vamos fazer um show particular. – Cate respondeu erguendo as sobrancelhas, desviando o foco do assunto de mim.

Cate sempre sabia como agir, o que falar e fazer em momentos como aquele; e aquele era um dos motivos por ela ser minha melhor amiga, um dos milhões de motivos.

- Como assim? – Indaguei, me interessando enquanto a limusine fazia uma curva suave.

- Vamos à casa noturna em que eles estão. Eu pedi para fechar e ficar somente os garotos que Eliot convidou. Se ele acha que aquilo é provocar, ele não me conhecia direito.

Não mesmo, pensei.

- Você fechou uma casa noturna? – Indaguei, exasperada.

- Eu tenho dinheiro suficiente. – Cate deu de ombros. – Ainda deixei um show com umas garotas de brinde.

- Você não vale nada, Cate. – Disse, sorrindo.

- Ideia fabulosa, devo concordar. E foi fácil conseguir descobrir o lugar com Bruno. – Emily deu de ombros e todas as meninas riram.

- Correção à última frase: vocês duas não prestam!

A limusine fez uma parada suave e esperamos o motorista dar a volta na mesma e abrir a porta para que aproximadamente quinze mulheres falantes descessem do veículo.

Reconheci a loja onde o vestido de noiva de Cate estava encomendado e Cate guiou o grupo para dentro da mesma. A mesma vendedora estava lá para nos receber. Um sorriso treinado em seu rosto e fechou a porta com chave atrás de nós. Cate já estava caminhando com seu vestidinho dourado para a área intitulada “Last Night”.

Meus pensamentos estavam voltados ao homem que eu conhecia muito bem. Henrique provavelmente ficaria alucinado com a ideia e extremamente enciumado, pois não haveria apenas ele lá, haveria mais rapazes.

- Vamos às escolhas! – Cate disse animada.

A partir de sua fala, o lugar ao meu redor tomou forma e minhas preocupações dissolveram. Sabia que o irritaria, mas também sabia que iria agradá-lo. A iluminação estava mais forte, provavelmente para enxergarmos os corpos com as lingeries.

- As cores preferidas, por favor. – A vendedora pediu, diante de uma prateleira com várias cores salpicando-as.

Emily e eu sorrimos, identificando-as. Emily correu até a peça que olhou naquele dia e a vendedora acenou em positivo, puxando uma caixa de um canto escondido da loja com dizeres dourados. Emily foi a primeira a se vestir e deslumbramos seu belo corpo com curvas pequenas em uma lingerie de renda azul. Ela calçou o par de sapatos e as meias que paravam na metade da coxa, combinando com as rendas. A parte de trás do par era coberta por camadas de renda. Por fim, Emily vestiu um sobretudo de cetim preto.

Então, cada uma das garotas foi até a prateleira e nos divertimos com o pequeno desfile de cores diferentes. No final de tudo, sobraram-se apenas oito meninas que fariam parte da brincadeira com seus respectivos namorados. Por alguma razão, eu fui a última e por alguma outra razão desconhecida, a cor que sobrou foi a vermelha.

Assim como a cueca boxer de Henrique. Eu peguei o pequeno par de lingeries e me vesti sem entusiasmo, pensando na reação que meu homem teria e também pensando que ele olharia para mais seios que o normal e ainda ao mesmo tempo.

- Olha – Sai da cabine olhando a mim mesma com as roupas em uma sacola com letreiros dourados e todos os olhares das garotas sobre mim – acho que eu não quero ir...

- Ah, você quer sim! – Cate disse, se aproximando com passadas longas e firmes até mim, pegando a sacola de meus dedos.

Ela estava usando a única lingerie branca com um pequeno véu em sua cabeça, bem no estilo noiva.

- Essa metade de corpete caiu muito bem em você. – A vendedora comentou e todas as garotas concordaram

Baixei os olhos e vi o efeito que a metade de corpete com partes transparentes fazia com meus seios, levantando-os rechonchudos. Todas as calcinhas das garotas eram pequenos shorts, para não ficar muito vulgar. O meu tinha pequenas fendas nas coxas, e o da Cate uma mini cauda que deixava sua bunda mais avantajada.

- Só está com medo da crise de ciúmes do Henrique. – Emily deu de ombros. – Eu também estou, mas vale o risco. Bruno deve estar olhando para outra bunda bronzeada bem agora. É como eles dizem: olhar não tira pedaço.

- Está começando a me convencer. – Disse, olhando para Emily.

- Ninguém precisa te convencer. Lá no fundo, você está louca por isso. – Cate interveio com uma piscadela, jogando o último sobretudo sobre meus ombros e amarrando-o em minha cintura.

Todas nós caminhamos falantes e animadas até a limusine, enquanto nos despedíamos da vendedora. O motorista abriu a porta para menos garotas que da última vez, enquanto uma parte delas ia embora, acenando um tchau. A limusine tomou velocidade entre o fluxo contínuo de veículos nas ruas de Barueri.

- Eu já escolhi a música... – Cate se interrompeu com o bip insistente do seu celular. Ela atendeu. – O que foi? – Pelo tom, deduzi que fosse Eliot e todas as garotas ficaram parcialmente em silêncio, observando-a. – Ah, sim, Liot. Está me ligando para dizer que o show está ótimo? Se já escolhi a lingerie? Sim, meu amante adorou inclusive...

E então desligou. O acesso de risadas dominou o veículo e percebi a irritação em Cate ao jogar o celular contra a sacola de papel com hastes douradas.

- Me liga para avisar que o show está ótimo. –  Bufou cruzando os braços com indignação.

 - Desnecessário. – Comentei, segurando um riso.

- Pode parar com essa carinha. A voz de Henrique do outro lado da linha estava... arrastada. E ele estava gritando o nome de alguém.

Aquilo me desmoronou e foi o suficiente para atingir uma séria vontade de fazer o que viria a seguir.

- Sinto que criou uma vontade repentina. – Emily comentou.

- Ah, com certeza. – Acenei em positivo, balançando a cabeça.

A limusine estacionou com brutalidade e uma ansiedade contida se moveu por meu estômago. Fui a última a descer do veículo amparada pela mão do motorista.

 Estávamos todas em pé no beco que dava para os fundos de um local. Latas grandes de lixos caídas, garrafas de vidro quebradas e paredes esfoladas. Quando as garotas falavam, o ar quente escapava de seus lábios, se misturando a noite fria. Uma pessoa nos aguardava em uma porta e Cate guiou todas para dentro, ela andava firmemente em sapatos altos e rebolava os quadris.

- Estava quase cancelando, meus clientes estão fulos. – O rapaz que segurava a porta comentou.

- Ah, querido. O dinheiro valeu a pena. – Cate respondeu, tirando o sobretudo e dobrando-o para colocá-lo na sacola onde suas roupas estavam.

- Já anunciei o show, é só pedir que coloco a música.

Todas as meninas estavam tirando os sobretudos e colocando-os em suas respectivas sacolas. Eu era a única vestida. Cate passou as instruções ao rapaz e veio até mim.

- Baby. – Ela chamou minha atenção puxando meu queixo com um dedo. – Deixe de preocupações. Você só vai se divertir e dançar para o Henrique e não para todos os homens. É só uma brincadeira.

Eu concordei com a cabeça. Ainda alarmada.

- Hoje é um daqueles dias de merda. – Ela comentou e eu ergui as sobrancelhas, em dúvida. – Que você fica melancólica ao invés de animada com a bebida.

Sorri, concordando e vendo como ela me conhecia tão bem, até mais que eu mesma.

Então notei que as garotas estavam em um nível de altura maior que o nosso. Cate me puxou pela mão e subimos por três degraus, ela ficou ao meu lado e espiei em uma pequena fresta que se abria na cortina vermelha. Havia muitos rapazes, mais de vinte talvez. Todos estavam em uma longa mesa que seguia o percurso do palco improvisado. Todos conversando e rindo entre si e todos aparentemente alterados pela bebida, inclusive Henrique que olhava para o palco com expectativa.

Então a iluminação que percorria os rapazes diminuiu drasticamente e todos eles olharam para o palco iluminado, Cate me puxou com suavidade para trás, enquanto uma música que provavelmente deixaria Henrique irritado soou pelas caixas de som. Instantaneamente, Cate riu ao meu lado. Ela enfiou os dedos sob meu sobretudo e tirou-o, jogando no chão em seguida.

Entortei o pescoço e Henrique estava esparramado na cadeira, Bruno ria falando algo para ele, então as cortinas se abriram e gritos e urros soaram, a música subiu pelo meu corpo e a vontade de dançar serpenteou por mim. Os garotos estavam sorrindo, até que notaram quem eram as garotas. Os que conheciam levantaram-se imediatamente, chamando-as com as mãos. Mas as risadinhas deixavam bem claro que nada as tiraria dali de cima, a não ser elas mesmas.

Henrique era o único compromissado que estava sentado, eu continuei a dançar com Cate ao meu lado, sem tirar meus olhos dele. Então, uma locomoção se fez vir de cima do palco e a menina que me respondera pelo caminho na limusine, desceu do mesmo. Ela caminhou ameaçadoramente até um dos rapazes. O único compromissado sentado. Esperei, vendo o que aconteceria. Eliot já estava em cima do palco, puxando Cate pelo braço e Emily estava provocando Bruno.

Postei as mãos na cintura, sentindo olhos demais em cima de mim, mas não me importando. Henrique estava me fitando com uma sobrancelha erguida, o negro dos curtos fios contra a claridade da pele de sua testa. A garota, loura e com um corpo esbelto demais percorreu o caminho até ficar atrás da cadeira de Henrique e aos poucos enrodilhou o pescoço dele com os braços.

Ela sabia que ele tinha compromisso e Henrique estava tentando puxar os braços dela para longe, afastando-a, mas a garota estava bastante persistente. Desci do palco com pressa, enquanto os rapazes se erguiam nas cadeiras, a música ainda soava ao fundo, antes que o efeito do álcool se dispersasse, peguei a garota pelos cabelos louros e puxei com força para longe.

- Ai! – Ela gritou. – Você está louca? Ah, está bêbada.

- E você é uma vaca. – Gritei de volta.

- Ah, Henrique. Sempre sonhei em ver sua namorada de roupas íntimas. – Era a voz de Caio levemente arrastada.

Antes que eu pudesse me virar, uma comoção se fez ao redor de Henrique e Caio, quando me virei três rapazes seguravam Henrique com muita força e apenas um mantinha Caio no lugar...

Minha visão foi interrompida por meu cabelo sendo puxado com muita força, provavelmente com alguns fios arrancados à força do couro cabeludo. Me virei, tentando afastar a mesma garota, e antes que pudesse revidar, um braço segurou o dela e outro agarrou minha cintura, erguendo meus pés do chão.

Henrique segurava o baço da garota, mas...

- Se acalme. – Gustavo sussurrou em meu ouvido e minhas entranhas derreteram instantaneamente.

Não o via desde o dia em que ele alegou que estava se envolvendo com outra, então respirei profundamente, olhando enquanto Henrique conversava com a garota, afastando-a aos poucos.

- Caraca! Isso foi melhor que o planejado. – Cate se materializou diante de mim. – Olá, Gustavo. – Seus olhos se ergueram para a figura que me erguia com facilidade do chão, sua mão prendendo-me com força e me derretendo, me fazendo suspirar baixinho.

- Solte-a. – Henrique surgiu atrás de Cate, fitando Gustavo atrás de mim.

Burburinhos nos rodeavam e Gustavo me fez deslizar pelo seu corpo, sentindo seu peitoral e suas coxas firmes contra meu corpo, até que meus pés tocassem o chão.

- Olá, Cate. – Gustavo respondeu ao cumprimento. – Foi um prazer revê-la, lindinha. – Disse ele, vestindo uma camisa negra e jeans claros, com uma piscadela e uma olhada dos pés a cabeça, ele foi embora, saindo pela porta que dava como entrada.

- Porque ele te segurou daquele jeito? – Henrique indagou, puxando meu ombro até que eu o fitasse olho-a-olho.

- Porque você segurou a garota e não eu? – Indaguei, fitando-o profundamente nos olhos.

- Está bêbada. – Averiguou ele, puxando-me pelo queixo e fitando meus olhos.

- Você também. – Retruquei.

- Ela é sua ex, não é? Porque não conta para Agatha? Porque esconder? – Cate indagou, olhando-o até que o mesmo fitasse seus olhos.

Eliot chegou antes mesmo que Henrique pudesse responder, puxou-a delicadamente pelo pulso e entraram em uma portinha marrom que foi trancada atrás de seus corpos.

Com as palavras ecoando em meus pensamentos, me abaixei o suficiente para tirar os sapatos e Bruno chegou em seguida, tomando-os da minha mão.

- Vamos, docinho. – Ele me chamou, puxando-me pela mão.

- Não, Bruno. Agatha e eu precisamos conversar. – Henrique segurou a mão de Bruno, olhando-o com brutalidade nos olhos.

- Hoje não. Ela precisa conversar com um amigo. Um de verdade. – Bruno acenou em negativo com a cabeça, sem nunca deixar de olhá-lo nos olhos.

- Vamos, maninho. Eu levo você. Está alterado demais. – Emily se interpôs, já com o vestido que estava em sua sacola, puxando-o insistentemente pela mão e levando-o embora.

Só então me virei para Bruno e o abracei pelos ombros, sentindo o álcool surtir efeito em melancolia.

*

Bruno cuidou tão bem de mim que o assunto rolou pela noite toda. Ao chegar, ele me levou para tomar banho, encontrando algumas roupas minhas e conversando comigo enquanto andava pelo apê, depois achamos coisas interessantes em seu congelador. E comemos enquanto assistíamos a reprises de alguma série televisiva. Até então, o assunto da noite não tinha chegado.

- Vocês ficaram bravos? – Indaguei, deixando meu prato de lado e me virando no tapete para fitá-lo.

- Acho que “enciumados” é a palavra correta. Mas também acho que merecemos. – Bruno disse entre uma mastigada e outra.

- E Henrique? – Indaguei, erguendo os joelhos e apoiando o rosto no encontro dos mesmos.

- Ele parecia já saber disso. – Bruno deu de ombros. – Principalmente quando a música começou a tocar.

Sorrimos juntos com a lembrança bem acesa.

- Aquela garota... é mesmo ex-namorada dele? Ou algo assim? – Indaguei, com as sobrancelhas arqueadas.

- Quando Cate falou, Emily ficou com uma cara estranha, como se aquilo não pudesse ser dito. – Ele testou as palavras, analisando minha reação.

- Então é verdade. Mas porque ele não me contou? – Indaguei, os pensamentos tomando conta da minha boca.

- Você vai ter que perguntar para ele, docinho.

*

No dia seguinte, antes mesmo que Bruno acordasse e notasse a falta da minha presença, escrevi um bilhete às pressas e grudei-o na geladeira. Indo ao meu antigo quarto, encontrei boa parte das coisas intactas, e também encontrei algumas roupas que deixei por lá para imprevistos. Vesti um short de cós alto e uma camiseta rosa e larga, havia também um par de sapatilhas e o coloquei, encontrando um par de óculos escuros, eu o coloquei contra os olhos e sai do quarto. Encontrando as coisas pela bolsa e saindo do apartamento. Desci ao térreo sozinha e encarei o sol de Alphaville. Fazia muito tempo que não caminhava pelo meu lugar preferido e preferi ir para casa a pé. Tinha certeza que aquilo não agradaria Henrique, mas era capaz de cuidar dos meus desejos.

As ruas estavam abarrotadas de pessoas. Famílias caminhando com seus filhos. Risadas infantis se misturando a vozes de adultos. Aquelas visões de uma criança no meio de um casal, enquanto os mesmos a seguravam pela mão sempre me derretiam de uma forma inexplicável, e agradeci pelo fato de estar com os óculos, caso contrário as pessoas me olhariam torto pelas lágrimas repentinas. Não era sempre que ver aquelas coisas mexia comigo, mas naquele momento eu estava sensibilizada e nem sabia o porquê com convicção.

Caminhei sossegadamente até a área residencial de Alphaville. Casas gotejando de um lado ao outro. Os quintais personalizados, carros de tipos e marcas diferentes. As tinturas das paredes eram uma bagunça, mas aquilo tudo tornava o ambiente ainda mais caseiro.

Nossa casa era a pintada de amarelo, com os carros guardados na garagem e vários carros pretos no quintal dos fundos. Tomas estava diante da casa, falando ao telefone e diminui os passos, temendo chegar muito rápido ao local. Andei pela calçada até ficar diante do caminho de pedras que levava a porta.

Ao longe, Tomas estava – provavelmente suando – com um terno completo, inclusive a gravata escura. Ele me viu e desligou o telefone instantaneamente, sorri e ele me devolveu o afeto. Caminhei pelo caminho que já conhecia de cor, e ao passar por Tomas, o cumprimentei com um aceno.

- Olá, Senhorita Salazzar. – Cumprimentou de maneira formal, fazendo uma pequena – e quase imperceptível – reverência.

Abri a porta de entrada. Henrique estava atrás dela. Vestindo apenas uma bermuda larga nos quadris e Júlia estava sentada no sofá. Assistindo a TV.

- Oi, mamãe. Papai estava muito preocupado. – Ela afirmou, sem tirar os olhos da TV.

Passei por Henrique, pouco me importando com seu semblante de alguém que precisava conversar. Parei ao lado de Júlia e lhe dei um beijo na testa.

- Como foi a noite passada? - Perguntei, tirando seus fios de sua testa.

- Assistimos uns desenhos legais. – Ela sorriu.

Após notar que minha presença não tiraria sua atenção do desenho, percorri o caminho e comecei a subir as escadas. Eu não precisava olhar para trás para saber que Henrique me seguia. Entrei em nosso quarto e depois fui até o closet, abrindo as gavetas despreocupadamente, puxando algumas peças de dentro, como se realmente estivesse interessada. Levantei os olhos quando escutei o som da porta do closet sendo fechada.

Henrique estava encostado despreocupadamente nela. Os braços cruzados, sobrancelhas arqueadas e completamente despenteado, pronto para ser beijado.

- Você veio andando? – Ele indagou, me fitando ao longe, sem tirar sua pose de possessivo.

- Voando que não foi. – Respondi, encostando o ombro contra uma das portas.

- Sem escárnio. – Ele pediu, andando lentamente pelo caminho que nos separava.

- E sem omissões. Seria ótimo para começar uma conversa com você, sabe? – Indaguei, olhando-o enquanto se aproximava.

- Ela é uma ex, tá legal? – Ele disse, passando as mãos pelos cabelos, deixando os músculos em evidência. – Agora, porque aquele cara te segurou daquele jeito? – Indagou ele, tentando manter a compostura.

- Porque você estava ocupado segurando sua ex. E ele estava segurando a ex dele. – Respondi, erguendo os ombros. – Estamos quites. A não ser pelo fato que você sabia que ele era meu ex.

- Golpe baixo, princesa. – Murmurou em resposta, me fitando com suavidade.

- Por isso ela me irritou o caminho inteiro. – Comentei, erguendo as sobrancelhas. – Como ela sabia de nós?

- Nossas fotos estão em todos os locais de famosos. – Ele deu de ombros. – Deve ter visto.

Sua leve erguida de ombros mostrou-me o que ele não queria mostrar. – Você está mentindo. – Notei, tocando meu ombro nele ao passar por ele.

Antes que eu pudesse chegar a cinco passos de distância, sua mão firme e doce me puxou pelo braço. Ele encostou-se a mim e me fez fechar os olhos pela aproximação.

- Você quer brigar pelo passado? – Ele indagou bem próximo ao meu ouvido, ao final da indagação, ele beijou o lóbulo da minha orelha.

- Claro. Se você esconde o passado no presente, é porque não merece um futuro. – Tentei manter minha voz cética e normalizada, e esperava que tivesse acontecido aquele resultado, pelo menos aos ouvidos dele.

- Pare com isso. – Ele pediu em um sussurro beijando minha orelha.

Deixei que seus braços se enrolassem em minha cintura e me apertassem contra seu corpo. Agora, não havia uma parte de mim que ele não tocava. Seus joelhos tocavam a parte de trás dos meus. Suas coxas as costas das minhas. Seu peitoral acompanhava todo o caminho das minhas costas.

Relutantemente, eu me afastei dele. Me virei para fitá-lo. Um olhar confuso era o resumo de seu semblante.

- Não pense que tudo se resolve com sexo, Henrique. Isso pode ter funcionado com Melissa e essa outra, mas não sou elas. – A raiva, de alguma forma, havia aumentado, mesmo sabendo que aquilo fazia parte de seu passado, uma pergunta ainda me rondava: porque então esconder?

- Não queria resolver com sexo. – Deu de ombros com as sobrancelhas arqueadas, as mãos prensadas em punhos cerrados grudadas nas laterais de seu corpo.

- Então o que era aquilo? – Gesticulei para o que tinha ocorrido há pouco.

- Sexo não é daquele jeito. Até parece que nunca fez. – Revidou em tom irônico, os ombros se erguendo imperceptivelmente.

- Deixe de ser ridículo. – Arqueei as sobrancelhas.

- Não estou sendo ridículo. – Ergueu os ombros novamente, seu olhar perdido no meu.

Um cansaço percorria meu corpo. A vontade de resolver e a vontade de esquecer, mas ambas não podiam ser cessadas naquele instante. Ele teria que fazer algo para reverter as omissões. Teria que fazer como o quarto, ou quando me convidou para morar com ele. Teria que me convencer não só com palavras, mas com atitudes. Eu amava aquele homem e ele sabia disso, então ele tinha de se lembrar como era conquistar uma mulher a cada dia.

- Você está deixando a desejar. – Murmurei, resumindo meus pensamentos em poucas palavras.

- Como assim? – Indagou, levemente chocado.

- Não está fazendo nada para mostrar que realmente me ama. – Dei de ombros, meu coração acelerado contra o tempo. – Não está fazendo como fez no início, tá legal? Eu... sei lá, estou sentindo saudades.

Vi seus ombros despencarem, e senti uma queda suave dos meus, acompanhando-o.

- Você está de TPM. Toda mulher normal tem isso. – Revidou, virando-se de costas.

A mágoa subiu por mim e empurrei os cabelos para trás das orelhas. Sem que eu notasse, minha garganta apertou e não consegui segurar as lágrimas. Suas palavras rodopiando em minha mente e ganhando um sentido mais forte a cada investida contra meu coração. Henrique foi ficando levemente embaçado e só ficou abertamente visível quando as lágrimas escorreram.

- Eu disse. Está chorando agora. – Reforçou a última frase e deu de ombros.

- Você realmente escuta o que eu digo? Ou está pensando na minha boca no seu pau? Ou em algo do tipo? Você sabe escutar? – Indaguei rispidamente, atirando todas as pedras que conseguia num momento de mágoa.

Henrique percorreu o espaço entre nós e antes que ele pudesse tocar em mim, dei passos vacilantes para trás, até que minhas costas encostassem contra o vidro gelado do espelho do closet.

Repentinamente, o ambiente pareceu pequeno para um espaço de discussão entre nós. Henrique pareceu distante e eu ainda mais conturbada.

Foi quando ele passou as mãos pelos cabelos que compreendi que ele havia revivido suas palavras e unindo as minhas para descobrir o porquê das lágrimas. Não sabia se ele tinha algo a dizer, eu só precisava sair dali, ir para o mais longe possível dele. Pelo menos por um tempo. Abri uma das gavetas e puxei uma bolsa de mão. Corri com pressa até o meu lado do closet e coloquei peças necessárias dentro da bolsa, lotando e amarrotando tudo dentro da mesma. As lágrimas percorrendo meu rosto com pressa. Meu peito doendo. Os momentos se revivendo na minha mente. A raiva consumindo e tomando o lugar da tristeza momentânea.

Com as mãos trêmulas, pendurei a bolsa em meu ombro. Minhas pernas estavam flácidas, ameaçando me derrubar a qualquer momento, mas tinha de mostrar que era forte.

- Eu sabia que havia algo de errado. – Iniciei, sem conter as palavras. – Sabia desde o início, mas eu te dei uma chance. Dei uma chance para nós. E você praticamente rasgou em picadinhos e queimou-as para se certificar de ter acabado tudo. Essa é a certeza. A merda foi grande dessa vez, Henrique DeLucca.

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