Um sentimento de dor e angústia só crescia no meu peito enquanto eu observava Richards conversando com um de seus amigos na sala de estar. Ele ria tanto que chegava a lacrimejar seus olhos, que logo pararam num ponto específico da sala e brilharam por um instante.
Era Scar.
Sorri vendo eles disfarçaram o que sentem um pelo outro. Só pelo olhar dava pra saber que havia muitos segredos pelas entrelinhas. Logo meu sorriso foi desmanchado só de pensar que eu podia falhar e acabar com aquilo.
Me levantei da poltrona respirando fundo pronta para escapar um poquinho dali.
— Elle, minha filha, precisa de algo? — Richards perguntou puxando meu braço com delicadeza para eu olha-lo.
— Não, não, eu estou bem só preciso ir ao banheiro. — Sorri para despreocupa-lo e ele assentiu ainda receoso.
Scar dirigiu um olhar de questionamento pra mim também mas apenas fiz uma careta boba para ela rir e ver que eu estava bem. Parecia que deu certo, sempre dava quando eu fazia aquilo.
Caminhei até o grande corredor, sentindo enjoos que estavam me incomodando desde que recebi aquela ligação de Jaden. Eu não me dava nem um pouco bem com relações entre a vida e a morte.
Depois que sai da agência com Rudy, Jaden ainda me ligou e pediu para conversar a sós com Rudy e sim nós dois achamos estranho mas eu queria que eles ficassem um pouco sozinhos também. Parece que deu certo porque quando fui buscar Rudy para virmos ao palacete os dois estavam rindo. Fico feliz porque os dois são um dos homens mais importantes da minha vida.
Eu e Jaden nos conhecemos desde que fui adotada, mas quando seu pai subiu mais na vida e eles foram morar em Chicago nós perdemos o contato. Nos viamos poucas vezes e além da perda de contato, perdemos um pouco a amizade que tinhamos no começo. Por esse motivo, ele não me reconheceu quando flertei com ele naquela festa. Depois que começamos a namorar vimos que ainda tinhamos aquela amizade e sim eu amo muito Jaden mas como um grande amigo. Nada se compara ao que eu sinto por Rudy, nada mesmo.
O enjoo veio mais forte embrulhando meu estômago mais uma vez o que me fez correr até o banheiro aos tropeços.
— Amor? — Rudy me chamou preocupado vindo na minha direção já que ele estava vindo do outro lado do corredor.
Não consegui falar nada, só colocar a mão na boca e abri a porta do banheiro com pressa já me ajoelhando em frente a privada e sentindo Rudy segurar meus cabelos no alto.
— Droga! — Murmuro limpando a boca e correndo para escovar os dentes.
— Tá melhor? — Rudy perguntou olhando pra mim enquanto dava descarga.
— Tô. — Respondi cuspindo a água e secando a boca.
— Vem cá. — Ele me puxou para si me aninhando em seus braços e enterrei a cabeça em seu peito fechando os olhos.
Ficamos um bom tempo em silêncio. Tentei me desligar por inteiro só pra relaxar ali com ele e não ficar mal de novo. Seus dedos faziam carinho pelos meus cabelos e seu coração acelerou um pouco perto do meu ouvido.
— Elle? — Me chamou e levantei o olhar pra ele. — Será que... Será que tem alguma coisa no seu forninho? Que eu posso ter feito? — Perguntou escondendo um sorriso.
— O que? — Arregalei os olhos. — Não. Não, Rudy não tem nada aqui. — Respondi mas no fundo eu tinha dúvidas. E se tiver mesmo alguma coisa aqui dentro?
— Qual é amor? Nem você acredita em si mesma. — Rudy abaixou até a altura da minha barriga e sorriu levantando um pouco minha blusa de mangas. O contato de seus dedos na minha pele me arrepiou.— Já pensou se tem um mini nós aqui? — Perguntou fazendo carinho na minha barriga.
— Rudy não viaja...
— Oi mini nós!
— A pronto. — Bati na minha própria testa quando ele começou a falar com a minha barriga.
— Mesmo que eu ainda não sei se você existe de verdade, saiba que o papai já te ama. Sua mamãe também mas ela tá com medo, depois ela se acostuma tá? — Dei risada com o mini discurso dele e ele com aqueles lindos olhos azuis beijou minha barriga olhando bem no fundo dos meus olhos. — Quando voltarmos para Los Angeles você vai fazer o teste.
— Tudo bem, tudo bem você venceu. — Levantei as mãos em rendição.
— Se for verdade eu vou ser o cara mais feliz do mundo! — Rudy me puxou pela cintura a apertando de leve.
Será que agora são as borboletas ou o mini nós tá fazendo festa aqui dentro?
— Somos muito jovens pra isso Rudy e agora não é um bom momento não acha? — Perguntei com medo de aquilo tudo poder ser real.
— Eu não me importo com isso, eu te amo Elle, amo tudo o que eu to construindo com você e se vier um mini nós só mostrará o quanto nosso amor é grande. — Rudy sorriu e me fez sorrir com aquilo. - Eu te amo. — Sussurrou enfiando sua mão livre por dentro dos meus cabelos e capturando meus lábios como que demonstrando aquilo que guardava no peito.
— Eu também te amo! — Sussurrei terminando o beijo.
Saimos do banheiro de mãos dadas até a sala de estar que era usada como sala de reunião e parei de imediato quando vi um funcionário tirar o tecido grosso que protegia a grande redoma de vidro onde a Adaga Kunt estava a 756 anos guardada sem nunca sair de lá. Era o símbolo da paz, da rendição e política organizada. Era o símbolo do respeito e confiança com seus compatriotas.
— Minha nossa...
— Não olhe muito Rudy. — O interrompi.
Todos eramos proibidos de olha-la diretamente por mais que cinco minutos, principalmente se tocassemos nela. Quem a tocasse seria amaldiçoado para sempre pois a usou sem consentimento e com maldade. Era um objeto poderoso e...
— Senhores e senhorita, o senhor Arthur Washer e seu filho Jaden Washer segundo adentrarão a sala. — Engoli em seco quando o mordomo anunciou a chegada deles.
— Calma.— Rudy sussurrou do meu lado e todos se levantaram.
— Meu grande amigo, quanto tempo! — Richards abriu os braços em comemoração e me atrevi a olhar a porta.
Lá estava Arthur Washer, um senhor já com mais idade que Richards que era bem mais novo, seus cabelos quase grisalhos por completo estava extremamente puxados para trás, seu terno parecia caro e seus sapatos num brilho extremo de tão lustrosos. Só de lembrar que isso tudo é com o dinheiro de Richards me da nos nervos.
— Orá é mesmo. — Murmurou se aproximando e apertando a mão de Richards com um olhar nada amigo. Mas Richards era bom demais para perceber isso.
Olhei para Jaden e ele me dirigiu um olhar que dizia "Ah como eu odeio tudo isso"
Revirei os olhos em resposta e consegui arrancar um sorriso dele que foi cumprimentar Richards e o resto dos homens. Arthur fez o mesmo com certa má vontade e se assustou assim que me viu.
— Elle Crystal? — Perguntou sem acreditar que eu estava ali, totalmente espantado pela minha presença. Ele sabia que Rush não estaria aqui e tinha certeza que eu por morar em outro estado e ser ocupada não estaria aqui mesmo.
— Surpresa. — Pisquei pra ele e Richards riu, o contrário de Arthur que ainda estava chocado.
— O que faz aqui? Faz tanto tempo que não a vejo. — Riu para disfarçar ter se engasgado.
— Bom, vim visitar meu pai e esqueceu que sempre sou bem vinda aqui? — Perguntei apertando sua mão.
— Entendi... Ah espera ela é a garota que está namorando? — Perguntou para Jaden que se aproximou.
— Eu e Elle já namoramos pai agora ela está comprometida com o senhor Rudy Pankow. — Jaden apontou para Rudy e foi cumprimenta-lo com um sorriso que desta vez era verdadeiro em ambos.
— Ela o traiu? — Perguntou rindo e senti meu rosto ficar vermelho de raiva. — Ah mais que paspalho. — Jaden ficou sem graça e sabia que não podia responder seu pai mas eu podia.
— Acho que o "paspalho" — Fiz aspas pela palavra antiquada. — aqui me parece o senhor. Imagino que a noção agora tenha ido embora junto com sua índole. — Arthur me olhou com o pior olhar possível.
— Bom acho melhor irmos aos assuntos importante e deixar a vida pessoal dos nossos filhos para eles mesmos resolverem, já que são adultos e extremamente responsáveis. — Richards nos salvou e ainda deu uma piscadinha pra mim.
— Richards é o melhor. — Jaden suspirou rindo e vindo me cumprimentar com um abraço. O abraço demorou mais do que o esperado e parecia diferente.
— Com toda certeza! — Rudy concordou e fomos nos sentar com o resto do pessoal.
— Creio que essa seja uma reunião privada e que intrusos... — Arthur olhou para Rudy e para mim. Sejam descartáveis.
— Já que diz isso, que são descartáveis, apenas finja que não estão aqui aos seus olhos porque com muito orgulho estou vendo minha inteligente e talentosa filha com meu genro brilhante. — Richards respondeu Arthur sem olha-lo nos olhos já que lia o contrato que Arthur estendeu uns minutos antes para ele. — Querida pegue uma caneta pra mim? — Richards pediu para Scar.
— O senhor não acha melhor ler com mais calma? — Scar perguntou estranhando e Richards olhou em seus olhos por um minuto.
— Também acho que mais uma lida seria prudente em relação ao que se deve esse contrato. — Me virei para Arthur. — Aliás, o senhor mesmo acabou esquecendo de exteoriza-lo.
— Garotinha insuportável. — Ouvi Arthur resmungar e Rudy pigarreou olhando com raiva para ele. — O contrato diz a respeito de financeiramento da empresa, mas não deve ser muito discutido com você já que é um contrato e não um roteiro. — Respondeu com irônia.
— Capaz da senhorita Elle saber mais de políticas do que você senhor Washer. — Scar se intrometeu já cansada de Arthur e pude ver Richards escondendo a risada.
— E o que uma secretária como você pode se intrometer em assuntos de gente de verdade? — Arthur chocou a todos nós, mas quem se doeu mais foi Richards.
— Senhor Washer eu exijo que não se dirija dessa forma e nem de outra a senhorita Scarlett, ela não é apenas uma secretária, ela que faz tudo nessa empresa se mover, enquanto você fica sentado o dia inteiro na sua cadeira, ela já resolveu inumeros problemas. — Richards falou com raiva assustando Washer.
— Muito obrigada. — Scar agradeceu Richards, com os olhos cheios de lágrimas. Scar era muito sentimental e ser insultada daquele jeito mexeu com ela. Com certeza Richards percebeu já que a tentou reconfortar apenas com um olhar já que com gestos ele não conseguiria.
Não agora.
Fiquei esperta nos movimentos de Arthur e de seus outros dois companheiros que viviam mexendo no celular o tempo inteiro. Não importa o que acontecesse, os agentes estão implantados pelo palacete inteiro principalmente no sistema onde eu consegui um hacker para bloquea-lo. O apagão duraria no máximo um minuto já que meus agentes o controlaria. Não daria tempo de achar o alvo no escuro, pegar a adaga e mata-lo. Seria quase como que impossível. Daria tudo certo e Arthur seria preso.
— Bom, pelo o que li antes do contrato pelo e-mail parece estar tudo certo, só basta eu assina-lo e acabaremos com toda essa tensão causada pelo senhor. — Richards ainda não perdoara Arthur.
Quando Richards pegou a caneta, meu coração acelerou, minhas mão ficaram mais soltas, meu corpo pronto para pular daquela cadeira e correr a qualquer momento, meus olhos estavam em todos os lugares, mas minha cabeça era a única que ainda tinha dúvidas. A caneta parou de deslizar no papel e todos olhamos para Arthur.
— Muito obrigada, agora estou muito afortunado! — Arthur deu uma risada maléfica e então as luzes se apagaram.
Não dava pra enchergar nada, mas consegui sair de minha cadeira ouvindo barulho de passos, um estouro de vidro caindo no chão e o pior de tudo...
Um grito de dor muito apavorante.
As luzes se ascenderam e meus olhos já se encheram de lágrimas. Eu perdi Richards, eu falhei. Eu cometi o maior erro de toda a minha vida, eu... Ai meu deus!
— NÃOOOOOO — Gritei assustada cobrindo a boca com a mão e vendo a pior cena da minha vida.
Arthur com suas mãos cheia de sangue, seus olhos esbugalhados e corpo trêmulo vendo o que acabará de causar. E a sua frente Rudy estava caido no chão como se tivesse sido empurrado por alguém que preferiu o salvar e esse alguém agora...
— Filho! — Arthur correu até Jaden caido no chão com a adaga bem em seu peito, ele resfolegava, seu corpo chacoalhava, sangue sujava todo o seu corpo, ele mesmo tentava estancar o próprio sangue.
Meu coração se partiu.
— É... A pri... Primeira vez... Que me chama de filho. — Jaden tentou falar e chorei ainda mais.
— Eu sei, eu sei filho. Me desculpa, por favor. O dinheiro subiu na minha cabeça, eu... Eu to errado mas por favor fica comigo, eu prometo não ser mais assim. — Arthur implorava para Jaden que começou a cuspir sangue.
— Mesmo que o senhor nunca me amou, eu o amo. Seja uma pessoa melhor. — Sua voz começou a abaixar o volume e eu não tava aguentando aquilo. Ele não podia. Ele não podia morrer. — Adeus. — Jaden sussurrou fechando os olhos e deixando a mão cair.
— NÃO. — Gritei vidrada no sangue. — Não. — Sussurrei em meio as lágrimas vendo o corpo de Jaden agora sem vida bem na minha frente.
Ele não merecia, não. Ele era tão bom. Nunca fez mal a alguém. Ele ainda tinha uma vida inteira pela frente, ainda teria uma linda família com alguém que o amasse profundamente como ele ama as pessoas. Ele... Ele não pode morrer. Ele...
POOOOW!
— NÃOOOOOOOOOOOOOOOO. — Ouvi Scar gritar com o barulho do tiro e olhei para o lado.
— PAI! — Gritei correndo até Richards que havia caido no chão. Seu ombro sangrava e ele tentava estancar mas a dor devia estar insuportável.
— Não, não, Richards fica comigo por favor. Ei, olha pra mim querido. Não me deixa... — Scar pedia chorando e segurando o rosto de Richards no seu colo.
— Eu vou ficar bem, minha Scar. — Ele ainda conseguiu sorrir para ela. — Elle, minha filha? — Richards me chamou e fiquei a sua vista. — Não chore minha pequena, seja forte e corajosa como sempre foi e pegue esse cretino. — Pediu e solucei em meio ao choro concordando e pegando a arma em sua cintura.
— CHAMEM A AMBULÂNCIA. — Gritei e os agentes infiltrados apareceram para pegar os dois ajudantes de Arthur que atiraram em Richards enquanto Arthur fugia.
— Vamos atrás dele senhorita Elle. — Diane falou mas neguei.
— Deixem esse filho da puta comigo. — Falei com todas as forças que eu tinha e corri abrindo a porta com tudo e vendo Arthur tentar correr pra longe. Atirei no lustre a frente dele e com o tiro certeiro ele caiu atrapalhando Arthur de seguir e o encurralei.
— VAMOS ME MATE. VÁ, ACABE COM ISSO. — Gritou desesperado e eu estava pronta para mata-lo mesmo.
— Não. Eu não vou me rebaixar ao seu nível. Pelo contrário, eu vou deixar que pessoas como você te mostrem o gosto do teu próprio veneno. — Sussurrei bem próxima a ele que chorava. — Acabou Arthur. — Dei um tiro eu sua perna e o mesmo caiu enquanto Kisha vinha algema-lo.
Fiquei vendo ele sendo levado e nesse momento parada e sozinha eu senti o peso, o peso da derrota. Eu perdi mais uma pessoa. Jaden, meu grande amigo, se foi. Por um erro meu, ele se foi. E só agora percebi que o fato dele estar diferente é porque as pessoas sentem quando vão morrer. Quando meus pais se foram, me deram um abraço inesquecível e o que eu dera uma hora antes em Jaden não foi diferente. Ele estava se despedindo. E ainda salvou Rudy, se não fosse Jaden eu teria perdido Rudy. Não importa qual das duas situações eu perderia as pessoas mais importantes do meu mundo. E ele sabia disso, ele me poupou achando que eu não sentiria tanto se fosse com ele.
Mas eu senti. E a dor é insuportável. Era como se meu coração se quebrasse mais uma vez.
Eu o perdi e quase perdi Richards e Rudy.
Eu me perdi.
Assim... Sem palavras para descrever o quão triste foi esse capítulo.
Tenho certeza que vocês estão me odiando mas logo vocês vão entender.
Espero que tenham gostado do capítulo de hoje e não é se esqueçam de votar e comentar ❤
Até o próximo capítulo...