𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 7

171 38 20
                                    

Estava olhando espantada para Fernando nesse exato momento em que fiquei em pé e me afastei um pouco. Seus olhos me interrogavam em uma pergunta silenciosa que eu mal entendia.

- Essa é a minha filha, por isso tem um bebê na foto. - Dei uma pausa um pouco constrangedora para que ele assimilasse o que estava falando. O que claramente não deu certo. - Essa é a Beatriz.

Apontei para o celular que agora estava em cima da mesa, ainda com a imagem de Beatriz sentadinha no sofá apoiada por almofadas, com um laço rosa na cabeça, e um enorme sorriso banguela. Seus olhos encaravam a foto como se tentasse entender como isso tinha acontecido.
Mas se Fernando falou que não era contra eu ser mãe, então porque estava me olhando de maneira esquisita? Como se o que acabei de falar fosse uma equação nada simples... Até pagar os custos adicionais do nosso plano suspeitava que fora ele ele quem pagou, então agora era eu que estava confusa com essa sua reação pouco normal.
Com um pigarro Fernando fez com desviasse meus olhos até ele novamente.

- Mas... - Sua voz estava baixa, um pouco sem graça eu diria.
- Mas? O que? - Meus olhos estavam presos nos seus, e só conseguia me lembrar de uma coisa, que custava a sair da minha cabeça. À noite na sacada. Por mais que eu quisesse esquecer, olhar para seus lábios entreabertos era tentador demais e...
- Beatriz não é a sua parceira? - Arregalei os olhos, estava surpresa com a sua pergunta e o seu embaraço completo com as palavras. - Ou... Ou... Melhor dizer, companheira. Eu pensei que você...

Sem querer interrompe-lo, mas já entendo perfeitamente o que Fernando queria dizer, comecei a rir deliberadamente. Não era uma risada calma, em que você dá por educação, e sim daquelas que você chacoalha o ombro e chega a chorar. Era isso que estava acontecendo nesse momento.
Sei que Fernando estava constrangido, pois ficou em pé em um salto rápido e caminhou mais para longe. Estava passando a mão frequente em seus cabelos. Isso me lembrou da cena do elevador, só que agora ele estava vermelho e sem graça. Fernando estava corado! E sem qualquer ação, isso sim era uma coisa inusitada de se ver.
Para não o ver ficar irritado comigo, contive meu excesso de risos mordendo meus lábios.

- Por mais que sua conclusão seja estranha, e que eu não entenda como você chegou a essa dedução, vou deixar uma coisa bem clara... - seus olhos estavam atentos em mim quando sorri. - Eu gosto do sexo oposto ao meu.

Fernando estava tão sem graça que abriu a boca muitas vezes para me falar algo, mas fechava todas às vezes. Ele estava medindo o que iria me dizer disso não me restava duvida alguma.

- Desculpa isso foi constrangedor da minha parte. - Seus ombros estavam tensos, e ele não parecia nenhum pouco a vontade. Não o culparia por isso, também ficaria.
- Já passei por situações e perguntas piores que essa. Só relaxe - Passei os olhos ao redor, e observei a bagunça que ele fez ao derrubar o café, e minha avaliação parou em sua calça, onde estava o maior estrago, bem próximo ao... Senti meu rosto esquentar e mais uma vez mordi meu lábio tentando não pensar no caminho perigoso que estava vagando minha mente. Sei que não devia, mas direcionei ao Fernando um meio sorriso, que era considerado sexy por outras pessoas. E nem sei por que fiz isso. - Acho que vou voltar ao meu serviço, e pedir para alguém limpar essa bagunça, e você... Deveria ir para casa tomar um banho e descansar. Não está com a melhor das aparências, e daqui a seis horas você tem uma reunião importante.

Mais uma vez Fernando passou a mão pelo cabelo. Agora parecia meio irritado, e seus olhos brilhavam com certa ferocidade. Talvez ele não tivesse gostado do que eu falei só que tinha um, porém: eu não dava à mínima. Tinha mais é que cuidar de sua aparência. Ouvi quando murmurou algo, como: "Certo... Certo...", porém eu já estava fechando a porta do escritório para ter certeza absoluta.
Cinco minutos depois ele já tinha saído, sabiamente tinha ouvido meu conselho e isso me deixou ainda mais vitoriosa.
Corri meus olhos para a porta da sua sala que estava aberta enquanto o zelador a limpava. Eu tinha limpado sua perna, nem hesitei por nenhum segundo, mesmo tocando próximo a uma região que não devia. Que era proibida. Mais uma vez estava rindo de como as coisas estavam desenrolando no dia de hoje. Certa curiosidade me invadiu quando repassei em minha cabeça a pergunta que ele fez de Beatriz, como chegou a suspeitar de tal coisa? Era muito estranho, já que Fernando era tão discreto em suas ações e conversas. E tão observador, contudo tinha falhado drasticamente hoje.
Não conseguia evitar pensar em seu constrangimento e todo o resto... Como ele tinha ousado pensar que não gostava de homens depois de sábado? Parei de sorrir.
Logo após ter visto Guilherme aquele dia, fui levada de uma emoção ruim a outra. Fazia tanto tempo que ninguém chamava a minha atenção, só que Fernando conseguiu isso. Logo após ele me levar para a sacada e quase nos beijarmos, meu coração saltou em meu peito. Não podia, nem queria me lembrar dessas coisas agora. Pensar que estava rolando um clima entre mim e meu chefe era de longe a coisa mais absurda do universo. Mas porque meu coração ainda estava disparado? Não existia fundamento para isso. Passei minhas mãos em meus cabelos freneticamente. Um ligeiro desconforto estava me deixando assombrada.
Peguei meu celular e corri os olhos pela tela. Havia uma ligação perdida de Ana, senti um calafrio em minha pele, com medo de que algo estivesse acontecendo com Bia. Que a febre tivesse retornado.
Liguei para casa imediatamente. Ana atendeu no segundo toque:

 𝓤𝓶 𝓬𝓸𝓻𝓪𝓬𝓪𝓸 𝓹𝓪𝓻𝓪 𝓬𝓱𝓪𝓶𝓪𝓻 𝓭𝓮 𝓒𝓔𝓞 Where stories live. Discover now