𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 11

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Meus olhos dançavam completamente perdidos através de uma paisagem completamente escura que abitava além da janela do avião. Não sei definir se Fernando notou minha ansiedade em voltar para casa, mas ele não tem falado muito em nosso retorno assim como eu. Tento me manter remotamente afastada em meu espaço, tentando inutilmente entender o que aconteceu entre nós. Minha vontade era apenas falar que em minha vida não há espaço para mais ninguém, exceto a minha filha. Só que uma leve impressão toma conta de mim, que não era exatamente isso que ele queria ouvir, ou eu mesmo falar. Foi apenas uma coisa de momento, de euforia em ambas as partes. Simples assim. Um erro.

Como meu chefe não procurou tocar nesse assunto desde então, estando até um pouco irritado. Apoiei minha cabeça no vidro gelado sentindo minha pele refrescar, quando o avião levantou voo, meus pensamentos já estavam muito distantes. Como naqueles lábios macios que há poucas horas estavam sobre os meus. Aquela sensação de me sentir única no mundo...

Na viagem de volta para o hotel, Fernando e eu exibíamos grandes sorrisos em nossos rostos. A euforia adolescente que há muito não sentia, nesta ocasião tomava conta de mim. Agora que meu corpo parecia bem mais relaxado com essa aproximação entre mim, e esse homem lindo ao meu lado. Ainda não conseguia acreditar que havíamos nos beijado, mesmo que isso não me parecesse certo, me sentia extremamente feliz para pensar nas consequências nesse instante. Fernando cantava blues acompanhando uma musica que tocava no rádio, enquanto eu o admirava de soslaio. Nunca o vi mais exuberante, em sua melhor forma, nem parecia o chefe carrasco que chegou à empresa há pouco tempo atrás e assumiu a presidência. Ele parecia um homem comum. Consequentemente toquei meus lábios mais uma vez, pela milésima vez em pouco tempo. Não conseguia parar com esse hábito, era como se eu conseguisse sentir os seus próprios ali, quentes, macios e delicados, me reivindicando para si. Fechei meus olhos por um instante, tentando intender o conflito de sentimentos que crescia dentro de mim. Quando eu os abri, desviei meus olhos para o verde que estava sumindo da minha vista.

- Tudo bem? - A voz de Fernando me pegou de surpresa, me virei para ele rapidamente. Seus olhos se desviaram por um minuto da estrada para encontrar os meus.

- Hãm... Sim, está tudo bem. - um sorriso tímido surgiu em meus lábios, mesmo que ainda estivesse um pouco inquieta. Fernando relaxou instantaneamente.

- Achei que você poderia estar um pouco... Ah, tensa... Você sabe.

Relaxei na hora em que Fernando fez esse comentário bobo e eu nem sei dizer o motivo. Desviei-me de qualquer assunto que fizesse uma possível menção ao nosso beijo, não queria discutir isso agora. Então começamos a falar assuntos bobos dos nossos cotidianos, coisas que gostávamos de fazer, manias da nossa rotina. Lugares que amávamos ir, e é claro Beatriz.

A maior parte do trajeto Fernando me perguntou sobre ela, e mesmo com meu coração apertado de saudade, ele conseguiu arrancar diversos sorrisos do meu rosto enquanto mais me enchia com sua curiosidade sobre ela. Em determinado momento ele ficou quieto, pensando em algo. Para depois me fazer mais uma pergunta:

- Como foi à gravidez, sem ter o pai dela ao lado? - Meu corpo ficou tenso na mesma hora. Aquela defensiva habitual, que me enchia de pavor com a possibilidade mencionassem Guilherme tomou conta de mim. Mas Fernando não o fez, ele não sabia quem era o pai da minha filha, e sabia que eu cuidava dela sozinha. Soltei um suspiro, tentando me lembrar de tudo o que era bom naquela época não muito distante.

- Primeiro eu me desesperei bastante. Afinal não era algo que eu esperava ainda mais fazer tudo isso sozinha, sem ter alguém me apoiando. - confessei. Conseguia me lembrar claramente do meu desespero depois de ser humilhada por Guilherme, quando ele falava que era mais um golpe da minha parte. Mas ás imagens boas, e o lado pouco sombrio começou a surgir, e a tensão sumiu do meu corpo. - Depois percebi que eu não estava sozinha, tinha pessoas ao meu lado que me apoiariam em cada passo meu. Como a Ana...

 𝓤𝓶 𝓬𝓸𝓻𝓪𝓬𝓪𝓸 𝓹𝓪𝓻𝓪 𝓬𝓱𝓪𝓶𝓪𝓻 𝓭𝓮 𝓒𝓔𝓞 Where stories live. Discover now