𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 21

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Fiquei parada no meio da sala do Fernando, perplexa sem entender o que estava acontecendo quando o próprio saiu transtornado, e a sua mãe ao seu encalço. Quando as coisas ficaram desse jeito? Passei a mão pelos meus cabelos presos, tentando decidir o que deveria fazer.
Não fazia nem um segundo, que os dois tinham saído. E eu estava tentando segurar a camisa de Fernando, o que era inútil. Ele nem parecia perceber a minha presença. Parei na porta, olhando para todos lá dentro. Fernando estava furioso demais, nunca o tinha visto tão bravo assim, mas era uma calma gélida que me dava arrepios. A tensão era tão grande que eu nunca me perdoaria se não fizesse nada a respeito. Eu sabia que no fundo o estopim dessa briga me envolvia, mesmo que eu fosse à faísca que atingiu o ponto vital, e fez com que a ira entre os dois explodisse depois de anos de disputa, raiva e magoa acumulada.
Como um furacão, passei por todos aqueles olhares curiosos que me encaravam agora também, como se eu fizesse parte do show. Ignorei o olhar de Fernando sobre mim, quando toquei o ombro do Daniel.
 
— Vem, vamos sair daqui, precisamos conversar. — A atenção do Daniel se voltou total, e completamente para mim. Ele relaxou ao meu toque.
— Julia... — Fernando murmurou baixinho, como se não acreditasse que eu estava saindo com seu irmão.
 
Vi seus olhos magoados, quando olhei por cima do meu ombro. Murmurei um: calma, já conversamos, por cima do ombro. Ele pareceu se tranquilizar, assim como seu irmão que parecia estar perdido em seus próprios pensamentos. Olhei de relance para as pessoas ali presentes, e os murmúrios quando me encaravam me deixava mais nervosa que o normal, ali no meio, havia dois amigos do Guilherme, pessoas que faziam parte da minha vida. O calor aqueceu meu rosto, me virei mais para o lado, e observei o rosto da mãe dos garotos, minha sogra nos fitando perplexa.
Sempre gostei da Helena, mas agora senti certa raiva por ela sempre apoiar as decisões imaturas do Daniel, e assim como seu marido não imporem limites as suas ações, que não eram muito racionais. Isso estava me enlouquecendo, e minha fúria estava prestes a explodir, quando joguei meu amigo em sua sala, praticamente o derrubando eu seu sofá.
Daniel se ajeitou, piscou perplexo, sem nem intender o que eu estava fazendo.
 
— Que porra é aquela Daniel? — Gritei com ele. Nunca tinha explodido desse jeito com ele, e isso teve a reação esperada para a minha fúria, assim que ele recuou no sofá para ficar mais longe da minha ira.
— Do que você está falando? — Queria bater no seu rosto pela pergunta idiota.
— Aquela palhaçada de reunir os acionistas para escolher um novo presidente para a empresa, quando a construtora está em sua melhor fase. — dei uma pausa e tomei fôlego. — Isso é ridículo!
 
Daniel se levantou e começou a andar de um lado para o outro, passando as mãos pelo cabelo. Nós dois estávamos muito irritados.
 
— É sempre ele não é mesmo? — Dan apontou para a porta explodindo de tanta raiva. — Você vai apoiar ele, não importa o quanto estávamos felizes sem ele aparecer.
 
Parece que levei um soco no estômago. Recuei um passo para trás sem acreditar que ele estava falando isso.
 
— Meu Deus Daniel, o que há com você PORRA!? — Gritei me curvando e batendo minhas mãos em meu corpo. — Você está cego de ciúmes, não está nem aí para a empresa, não importa o bom trabalho que Fernando esteja fazendo, não importa nada se você — apontei o dedo em seu peito, o empurrando para trás. — não for o centro das atenções. Tudo tem que girar ao seu redor, mesmo quando isso trás consequência para o lugar onde trás todas as suas regalias. Você sempre foi o preferido dos seus pais, porque é arquiteto como seu pai e seu avô foi, porque tem o charme e o encanto da sua mãe. No fim sempre foi o mais paparicado, sempre teve as maiores regalias assim como o Ethan, mas agora está na hora de você parar com isso.
 
As lágrimas molhavam meu rosto, Daniel estava vacilante me encarando, sem saber o que me dizer ou o que mesmo fazer diante de tudo o que eu disse. Coloquei minhas mãos em volta do seu rosto, e o encarei nos olhos.
 
— Daniel eu amo você. — minha voz falhou por causa de um soluço. — Mas já está na hora de parar com isso. Lembra quando você reclamou uma vez que não tinha mais tempo para projetar as construções que tanto amava, então por que isso agora? Quando você vai ter tempo de fazer as coisas que realmente ama? Para com isso pelo amor de Deus.
 
Os braços de Daniel me envolveram e ele começou a soluçar em meu ombro, sentia seu corpo tremer. Mesmo que tivéssemos tido nossas desavenças, eu sentia sua falta, e para mim esse abraço era uma reconciliação em tudo o que tinha acontecido. Eu amava o Dan, e ele era a minha família, sempre seria.
 
— Desculpa, eu fui um idiota. Eu tinha que ter respeitado seus limites... Eu... Eu... — sua voz abafada em meu pescoço saia falhada.
 — Nós sentimos sua falta, Bia e eu. Mas por favor, volta a ser quem era não essa pessoa cheia de rancor que não conhecemos.
Ele se afastou e ficou encarando meu rosto manchado, enquanto eu limpava as lagrimas da sua face.
 
— Eu já sofri demais com o Guilherme, não me faça continuar me torturando por perder você. Mesmo que eu te ame como um irmão, eu não suportaria te perder, e eu sei que a sua afilhada também não.
 
Daniel não conseguia falar nada, apenas acenava incessantemente concordando com o que eu dizia.
 
— Sinto falta de vocês duas também, e me desculpe por tudo o que eu fiz. Fiquei tão cego de fúria quando você me rejeitou, achei que isso seria a pior coisa do mundo, mas a pior coisa do mundo foi acordar e perceber que eu tinha feito uma merda sem tamanho, e você jamais me perdoaria. — Seus olhos se encheram de lagrimas mais uma vez e eu sorri para ele. — Não posso ficar mais tempo sem ter noticias da minha baixinha.
 
Nós dois rimos, e eu me afastei um pouco para trás, ainda impondo um curto limite entre nós. Daniel precisava entender o quando era importante para mim também. E eu precisava esclarecer as coisas entre nós, mas eu não tinha coragem de contar a ele sobre meu relacionamento com seu irmão. Agora não era o momento.
 
— Agora é melhor você desfazer essa bobagem, do contrário as coisas vão ficar feias para seu lado. — apontei para ele de novo, e Daniel encolheu os ombros sem graça.
— Não posso, não depois de todos estarem aqui. Eu sinto muito, eu vou dar um jeito de...
— Shiuu! — Segurei sua mão e apertei. — Vai dar tudo certo. Vamos?
Daniel concordou, e depois de limpar meu rosto, e estarmos sem evidência nenhuma de que estávamos chorando. Entramos na sala da votação novamente. Os cochichos cessaram assim que me viram acompanhada do novo herdeiro rebelde dos Murbeck, todos estavam ainda mais curiosos depois dessa meia hora de espera.
Meus olhos seguiram direto para os de Fernando, aquela faísca de magoa parecia ainda maior, e ele desviou o olhar. Soltei um suspiro, era impossível manter os dois em minha vida.
A votação acabou mais rápido que o esperado, e como esperado Fernando tinha ganhado de lavada nos votos. Todos concordavam que ele foi o que melhor administrou a empresa nos últimos tempos, e estava superando até seu pai.
Fiquei ajeitando a sala quando todos saíram, mesmo que não fosse a minha função.  Me despedi de Daniel com um rápido abraço, e me encolhi diante do olhar da sua mãe, ela sempre tinha uma ideia errada sobre nós. Bom eu estava interessado em seu filho, mas a logica dela focava no errado. 
Quando Helena se aproximou eu ainda estava com raiva dela o suficiente para ter que morder a língua para não dizer umas verdades a ela.
 
— Ethan vai chegar de viagem, e vamos fazer um jantar para ele e a noiva sexta. Espero que você vá e leve a Bia junto. Se não for, vou ficar muito chateada.
 — Pode deixar, sei que Ethan me mataria se não fossemos. — A tranquilizei com um sorriso frouxo, e a vi dar meia volta e sair.
 
Abracei a vassoura controlando a minha raiva, e suspirei. Não adiantava explodir com a mãe de Fernando. Com a minha sogra repeti isso mil vezes para ver se entrava na minha cabeça, mas era difícil, ainda mais depois de todo o meu histórico com minha antiga sogra, só de lembrar o quanto ela me odiava e me queria mal, sentia meu corpo tremer. Pensando bem, foi bom Guilherme não ter assumido a Beatriz, sabe-se lá o que aquela cobra faria com a minha família.
Tem coisas que é um livramento em nossas vidas.
Quando tudo estava pronto, voltei a minha função. Fernando estava muito quieto, sem nada daquele fogo e desejo de horas atrás. Parecia bem ocupado não olhando os documentos que levei para ele, e simplesmente apenas mexendo em seu celular. Como se não houvesse um absurdo de trabalho.
Ele estava me ignorando por ter saído conversar com seu irmão, o problema dele é que Fernando tinha esquecido o quanto eu era melhor nisso, quanto ele.
 
— Vamos? — Já era tarde, e eu estava arrumando minhas coisas quando Fernando parou na frente da minha mesa, como se não tivesse me ignorado a tarde toda.
— Vou pedir um Uber, mas obrigada por oferecer carona. — sorri sarcástica olhando para ele.
 
Fernando recuou um passo, vendo um quanto eu estava irritada. Nem dei tempo para ele processar a informação e saí do escritório, parando em frente ao elevador, que para variar estava parado no térreo e nunca subia.
Meu chefe, ou meu namorado — nem sabia definir o que ele era— encostou ao meu lado, com a cara fechada. De relance enxerguei Victoria em sua mesa nos olhando com preocupações, era nítido o quanto estávamos irritados um com o outro.
A porta do elevador se abriu, e nós dois entramos. Apertei o botão do térreo sem dizer uma palavra ao Fernando. Mas quando olhei para ele, a faísca estava ali, e não era raiva, e sim ciúmes. Ciúmes e... Desejo. Muito desejo.
Em um piscar de olhos, Fernando estava me beijando, seu corpo estava colado ao meu me imprensando na parede, quando eu sentia sua grande ereção pulsar pressionada em mim. Soltei um gemido quando ele puxou meus cabelos e me beijou com ainda mais força. Eu estava sem ar, e queria mais. Bem mais...
O toque do elevador ressoou e nós dois nos afastamos rapidamente, nem tinha percebido que tínhamos parado já. Passei as mãos em minhas roupas, em meus lábios e nos meus cabelos, tentando não pensar o quando eu estava corada, apesar do meu rosto de culpa já me entregar. Ao contrário de mim, Fernando saiu sorrindo como se ele tivesse ganhado na loteria. Acho que nenhum funcionário o viu sorrindo assim, pois todos o encaram de boca aberta quando passava, e eu sentia o calor das minhas bochechas ainda mais fortes, se era possível.
No fim eu voltei para casa com Fernando, depois de passar pagar a Bia, e uma rápida passada no mercado, ele nem hesitou quando eu perguntei se queria ficar. Apenas se jogou no sofá com a minha filha no colo, colocando um desenho na televisão. Aproveitei o momento para ir tomar um banho, tinha tanta coisa para eu pensar, e tanta coisa para mim fazer. Estava exausta. Minha sorte é que a Mari tinha dado banho na Beatriz, e agora isso era uma tarefa a menos na minha lista.
 
— Eu sei que você fez compras, e eu amo a sua comida. Mas eu estou cansado, e você também. O que acha de pedirmos uma pizza? — Fernando me perguntou assim que me sentei ao seu lado. Apoiei minha cabeça em seu ombro e bocejei.
— Eu acho que é a melhor ideia do mundo. — mais uma vez bocejei. — Estou tão cansada que não aguento nem sair daqui. — murmurei sonolenta, observando Bia brincando no chão sobre o tapete.
 — Ainda bem que o que eu quero fazer com você depois que a Bia dormir não vai precisar que saia daqui. — Um sorriso sexy surgiu em seus lábios, e me contorci no lugar diante do efeito que teve sobre mim. — E vai te deixar ainda mais cansada do que está. — sussurrou em meu ouvido com aquela voz rouca.
 
Minhas bochechas coraram, e Fernando pareceu ainda mais satisfeito com isso.
 
— Você não tem que ir pra casa tomar banho? — Perguntei tentando desviar o assunto, mas eu só o fiz sorrir ainda mais.
 — Trouxe roupa para tomar banho aqui. — Fernando se inclinou e me deu um beijo casto, e depois sussurrou entre meus lábios. — Você não vai se livrar de mim tão facilmente assim Dona Julia.
 
E com isso Fernando se levantou indo em direção ao banheiro, sem me dar alternativa alguma que não fosse suspirar por ele. Me ajoelhei no chão para brincar com a Beatriz, seus olhos brilhavam quando ela sorria para mim e me mostrava algo.
 
— É meu amor, impossível não se apaixonar por esse homem não é mesmo?
 
 
Acordei com um braço ao meu redor, me puxando para si, e me pressionando fortemente ao corpo de alguém. Estava meio desorientada, não tinha amanhecido ainda, estava escuro no quarto. E o calor me sufocava, Deus, eu não estava suportando como estava quente de baixo das cobertas! Tentei me remexer um pouco, para me afastar minimamente do Fernando, que segurava como se eu fosse fugir a qualquer momento. Mas toda vez que tentava me mexer, ele me puxava mais para si.
Mordi meu lábio para evitar suspirar, e o empurrei com toda delicadeza para não acorda-lo. Ele ressonou e virou para o outro lado, quando rolei fora da cama.
Precisava ir muito ao banheiro, e estava morrendo de cede. Não estava mais acostumada a dormir junto de alguém, e Fernando me sufocava ás vezes, como se eu fosse simplesmente desaparecer.
Passei no quarto de Bia para ver se ele estava dormindo bem, e depois fui para a cozinha.  Estava bebendo água, quando fechei a porta da geladeira e levei um susto, quase derrubando o copo. Fernando estava ali parado com um sorriso sedutor nos lábios.
 
— Jesus! Que susto Fernando! — Dei um tapa em seu peito nu e ele riu, me colocando sentada na bancada.
— Já faz tempo que está acordada? — Ele me perguntou beijando minha clavícula, fazendo com que eu perdesse minha linha de raciocínio.
— Hummm, não. — Fernando começou a distribuir beijos no meu colo, e depois pelo meu pescoço, até chegar a meus lábios.
 — Não consigo dormir quando você não está perto. Nem consigo mais me imaginar longe de você Júlia. — sua voz era tão rouca que arrepios familiares percorreram o meu corpo todo.
 
Céus! Como esse homem tinha tanto domínio sobre mim? Nem me lembrava de me sentir tão viva como nos últimos dias, ao seu lado. Era surreal estar vivendo novamente e ao mesmo tempo estar incrivelmente apaixonada por alguém.
Com uma grande expectativa do que estaria por vir, senti a mão de Fernando apertar a minha coxa, mas ele não fez nada do que eu estava esperando, e se afastou para pegar uma garrafinha de água na geladeira.
 
— Vamos com calma moça, só levantei para pegar água, não para saciar sua cede. — Ele piscou e eu corei na mesma hora.
 — Eu já saciei minha cede sozinha palhaço. — Levantei meu copo para que visse o trocadilho.
 
Nós dois rimos e ele se apoiou do meu lado, observando iluminação da cidade através da janela.
 
— Hoje tem o jantar na casa da minha mãe. Nós vamos logo depois que pegarmos a Bia na babá? — Ele se virou para mim.
 
Eu congelei. Arregalei os olhos, e fiquei travada, sem conseguir me expressar diante da sua pergunta. Fernando tinha concordado em manter em sigilo nosso namoro por um tempo, mas as palavras saíram tão naturais em seus lábios que um aperto muito grande surgiu em meu peito.
Abri minha boca, mas a fechei logo em seguida.
 
— Eu estava pensando em ir trabalhar com meu carro hoje, e bom... Passar em casa e tomar um banho antes de ir.
 — Claro, nós podemos ir com seu carro. Eu só vou ter que passar em casa e tomar um banho também antes de irmos. — Ele tomou um longo gole de água, e eu engoli em seco.
 — Na verdade... — Me virei para ele, para que entendesse o quanto para mim isso era difícil. — Eu estava pensando em irmos com carros separados amanhã trabalhar, e na sua casa também, para evitar especulação com a sua família.
— Ah! Claro, claro! Tinha me esquecido disso. — Fernando se desencostou parecendo atordoado, me enchendo de culpa. — Vou voltar a dormir, está bem?
Concordei em silêncio e o vi se afastar. O que eu estava fazendo com a minha vida? Tudo o que eu sabia fazer era magoa-lo. Segurei os meus cabelos e os puxei com força, com medo de voltar para o meu quarto e olhar para os olhos tristes de Fernando.
Durante o dia, Fernando agiu normal comigo, pelo menos aos olhos dos outros, porque na verdade parecia existir uma tensão do tamanho de um elefante entre nós. Mal conversamos; tudo parecia nos deixar constrangidos ao extremo. Nós só sentávamos e fazíamos nossos trabalhos, sem suas gracinhas que me deixavam constrangida, ou sem seus toques ousados, quando alguns dos diretores não estavam olhando na sala de reuniões. Era incrivelmente perturbador.
Mas pior do que isso, foi chegar à casa dos seus pais, abraçar seus irmãos, e tentar inutilmente não ficar encarando ele com suas roupas casuais e não pensar o quanto ele estava lindo. Era constrangedor Bia se jogando para querer ficar em seu colo, e chorar quando tanto Ethan se aproximava ou sua noiva, assim como quando Helena brincava com ela.
Daniel pareceu não notar, nem seu pai. Só que os olhos ávidos de Ethan que nunca perdiam nada me encararam sutilmente para saber o que ele estava acontecendo. Ele notou o que tanto eu queria esconder.
Na mesa de jantar, me sentei de frente para ele, e ao lado de Daniel, observando os olhos atentos de Fernando sobre mim, quando me deu uma piscadinha.
 
— Vocês se lembram daquela festa onde vocês dois disputaram a atenção da Júlia? — Gisele a noiva de Ethan comentou, nós todos começamos a rir. — Vocês ficaram de mal por dias.
 — A Júlia tinha bebido um monte, e estava cantando em cima da mesa com todos os caras da faculdade babando em cima dela. — Ethan não se aguentava. — Eu e Daniel apostamos quem ficaria com ela, mas eu perdi bonito.
 
Daniel cruzou os braços atrás da cabeça e sorriu nostálgico para mim.
 
— É eu ganhei a aposta, a garota, e um belo de um vomito no meu carro. Fui um tremendo sortudo.   — Nós trocamos um olhar confidente e rimos.
 
Daniel nem estava mais na faculdade quando acompanhou Ethan nessa festa, e nos conhecemos. Gostei dele no primeiro instante, e de cara o queria como meu amigo. Nós bebemos, e sobre as más influências exagerei na cerveja, pela primeira vez — E não a última. — quando a noite acabou e ele estava me levando para minha casa, passei tão mal no caminho, e quase morri de vergonha. Mas a única coisa que Daniel disse foi: Está tudo bem, passar por isso na faculdade é um ritual, é bom ter histórias para contar.
Nessa noite eu apresentei Ethan para a Gisele também, então tudo foi por uma boa causa.
A conversa ainda estava fluindo, e todos os podres da época em que nós estudávamos estavam sendo desenterrados, fazia tanto tempo que eu não ria com esses três, tanto, tento tempo...
 
— E aquela vez em que era a festa na mansão do Jorge e a Gisele sugeriu para que pulássemos sem roupa na piscina? — Ethan começou a bater a palma da mão na mesa em um ataque histérico como eu.
— A Júlia foi à primeira arrancar a roupa e ficar de lingerie e a pular depois de alguns coquetéis, todos da festa não acreditaram, os caras estavam malucos. — Daniel completou rindo.
 — Aí o Guilherme saiu louco de dentro da casa... — A voz da Gisele ficou abafada nos meus ouvidos com a menção desse nome. — E pulou na piscina, fazendo ela sair da lá na marra. Ele até colocou sua jaqueta ao redor dela, você nem se despediu, quando ele te arrastou para...
 
Eu fiquei em silêncio. Todos estavam me encarando preocupados, e eu nem conseguia olhar para ninguém, olhava fixamente para a mesa em estado de choque. Minha respiração travou com as lembranças que eu queria tanto esquecer. Como Guilherme quebrou tudo ao seu redor quando chegamos ao meu apartamento e como gritou comigo como eu tinha que amadurecer. Fazia vários anos que isso tinha acontecido, e não era menos doloroso por isso.
De repente eu não conseguia mais respirar. Fiquei em pé, e entreguei Bia para ele Daniel, que olhava de modo mortal para Gisele assim como Ethan.
 
— Preciso ir ao banheiro, cuide dela para mim. Já volto.
 
Quando saí do campo de visão de todos os tremores começaram, e eu me escorei na porta do banheiro, chorando baixinho com todas as emoções que eu queria tanto esquecer.
 

 𝓤𝓶 𝓬𝓸𝓻𝓪𝓬𝓪𝓸 𝓹𝓪𝓻𝓪 𝓬𝓱𝓪𝓶𝓪𝓻 𝓭𝓮 𝓒𝓔𝓞 Where stories live. Discover now