𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 25

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- Bom dia. - Uma voz suave e rouca sussurrou em meu ouvido, e eu me remexi na cama. - Acorda amor...

Abri meus olhos completamente sonolentos para encontrar o amor da minha vida parado em minha frente. Com seus lábios formando um imenso sorriso.

- Me de mais cinco minutos... - Murmurei e fechei meus olhos me virando na cama. - Ainda é cedo. Meu chefe poderia me dar folga.
- Deveríamos estar na empresa há uma hora - Sua mão tocou minha cintura, fazendo com que eu me virasse para ele. Eu grunhi, mas me sentei mesmo sem vontade alguma. - Mas se quiser uma folga mamãe, seu chefe vai dar isso com muito prazer.

Aquele sorriso que Fernando me dava sempre fazia meu coração dar cambalhotas. Passei a mão pelos meus cabelos emaranhados e me levantei em direção à porta.

- Vou arrumar a Bia... - Fernando se colocou a minha frente e passou a mão na minha cintura mais uma vez.
- Já fiz o café, e já arrumei a nossa filha para ficar na casa da babá. Apenas vá se arrumar nosso dia será longo.

E com uma piscadinha, e um beijo na testa ele me deixou sozinha no quarto.
A culpa de não ter contado a Fernando sobre Guilherme já não estava mais me consumindo como dias atrás, meu único pensamento estava voltado para minha família.
Minha gravidez estava me consumindo aos poucos com os enjoos, e mesmo que minha barriga ainda estivesse plana, eu não conseguia evitar e ficava com a mão sobre ela o tempo todo. Esquecendo-me que isso ainda era um segredo.
E piorava quando Fernando estava perto, não conseguia ao menos disfarçar a sintonia que criamos, em uma simples conversa com um olhar rápido. Quando alguém me questionava, eu sempre tinha uma explicação: Eu era sua secretária. Simples assim. Passava meu dia ao seu lado, e claro que eu deveria saber decifra-lo apenas com um simples olhar.
Bom pelo menos era isso que eu estava tentando explicar para Vitória, que durante vários minutos se apossou da minha mesa enquanto nosso chefe estava em uma reunião importante. Incrivelmente o serviço estava tranquilo para nós duas, o que era extremamente raro.
Estávamos falando sobre a vida amorosa da nossa chefa de Recursos Humanos com um dos homens do financeiro quando ouvimos um pigarro. Vitória arfou e olhou para cima com um sorriso amarelo.

- Chefe! Eu e a Julia estávamos...
- Falando da vida dos outros funcionários claro. - Ele falou com o rosto sério, parecendo estar muito bravo, mas eu sabia que aquilo era uma farsa, e eu tive que me segurar para não sorrir. - Vitória, tenho uns assuntos pessoais para tratar fora da empresa, e preciso que você cuide das ligações que são feitas para mim. Quanto a você... - Fernando se virou para mim e seus olhos brilharam. - Venha comigo.

Franzi o cenho, mas não contestei o que ele estava planejando fazer. Apenas assenti, fiquei em pé e peguei minha bolsa. Fernando colocou as duas mãos nos bolsos enquanto aguardava o elevador ao meu lado, constantemente ele batia o pé no chão parecendo impaciente.
Mesmo com tantos olhares para nós, meu chefe não hesitou em colocar sua mão sobre a minha lombar, mantendo seu maxilar firme, procurando esconder um sorriso.

- Para onde vamos? - Perguntei impaciente quando ele abriu a porta do carro para mim e eu entrei.
- Resolver alguns assuntos pendentes... - Seu ar misterioso estava me fazendo enlouquecer.

Estranhamente Fernando não parava de assobiar enquanto dirigia no transito caótico do centro de Curitiba, ele não notou que estava me encolhendo no banco sentindo uma onda leve de vertigem me dominar, afinal eu não queria estragar o seu momento.
Nós paramos em um semáforo bem no momento em que Entrelaços da banda Scalene começou a tocar, e meu querido companheiro começou a cantar olhando vez ou outra para mim.
Assim que viramos em uma equina, e adentramos em um condomínio de mansões luxuosas, fiquei maravilhada olhando as extensões das propriedades, meus olhos brilhavam por cada uma que passávamos. Fiquei tão concentrada que nem percebi quando Fernando reduziu a velocidade e estacionou em frente a uma propriedade grande o suficiente para três famílias viverem.

- Por que estamos aqui? - Perguntei atravessando a porta gigante e olhando o chão lustroso.
- Ethan quer comprar essa casa... Vim ver, e achei legal te trazer junto. - Ele me olhou de lado e pegou a minha mão.
-Bom... uau. Ela é linda. - Suspirei olhando ao redor.

Fernando sorriu e me puxou para que eu conhecesse todo o espaço. Eram tantos cômodos em comparação ao meu minúsculo apartamento que fiquei embasbacada. Havia seis quartos, todos eles suítes, mas o cômodo principal tinha a vista para um pequeno jardim que me deixou encantada. Um lugar onde Beatriz e esse bebezinho que estava crescendo dentro de mim poderiam brincar. Fechei meus olhos por um momento, encarando a porta de vidro, visualizando meus dois bebês correndo sobre essa grama bem aparada.
Meu coração batia forte com essa possibilidade, mas eu estava sonhando muito alto. Minha vida não era assim, e quando chegou perto de ter uma propriedade igual essa, a pessoa não era quem eu esperava. E, além disso, era para o irmão do Fernando, não para nós.

- Bom, seu irmão vai amar essa casa. Ela... Ela... - Mordi o lábio tentando conter os hormônios da gravidez.
- Nossa. - Fernando falou e meus olhos marejarem. Dei um passo para trás sem entender o que acabei de ouvir, mas ele foi mais rápido e segurou a minha mão. - Essa casa é nossa Ju, eu assinei os papéis da compra hoje de manhã.
- Fernando, não precisava ter feito isso... - As lágrimas não paravam de escorrer pelo meu rosto. - Tem o meu apartamento, o seu e...
- E eu quero que nossos filhos pisem em grama. Tenham o conforto que nós podemos dar. Ju eu amo o seu apartamento, e amo o meu. - Seus dedos secavam as minhas bochechas enquanto eu concordava com tudo o que ele falava. - Mas eles têm uma história pesada demais. Solitária. E nós precisamos de um recomeço.

Sem deixar que ele terminasse qualquer outra coisa que ele fosse falar, meus lábios encontraram os seus, em um único jeito de demonstrar o quanto eu havia amado, enquanto as palavras me faltavam.
Eu o amava tanto, mais tanto, que não conseguia mais esconder esse sentimento. Não conseguia mais suportar essa ideia de convivermos e jamais demonstrar o quanto ele era importante para mim.
Mas tudo mudaria...
Era disso que eu me lembrava, enquanto eu estremecia desesperada nos braços de Fernando, enquanto eu gritava e implorava por minha filha. Minha pequena e doce filha.
Isso não podia estar acontecendo!
Não, não, não...
Nenhuma câmera captou o sequestrador da Beatriz, ninguém havia visto nada. A única hipótese era que alguém ligaria pedindo dinheiro em troca, tinha que ligar!
Tudo acontecia tão rápido que eu mal me dava conta do movimento ao nosso redor, os policiais isolando toda casa de Mariana, fazendo interrogatórios, buscando uma solução e uma pista que levassem há algum suspeito. Que me trouxessem a minha menininha.
Eu vi o desespero no olhar de Fernando refletido em meus olhos enquanto ele tentava agir racionalmente. Ele era forte por nós dois, enquanto eu sentia que meu mundo estava desmoronando.

- Eu quero a minha filha Fernando! - Eu gritei enquanto me ajoelhava no chão sem respostas.
- Julia, por favor, se acalma... - Sua voz embargada estava sumindo aos poucos enquanto eu parava de ouvir, igual aconteceu com os lamentos de Mariana.

Puxei os meus cabelos enquanto sentia uma mão sobre meu ombro tentando me amparar. Me levantar.

- Eu não quero me acalmar! Eu quero a minha filha Fernando, você não entende! Não entende!
- Ju... Amor... - Eu não conseguia respirar, e me encolhi quando ele deu um pequeno passo em minha direção.
- Fernando, deixa que eu fico com ela, enquanto você...

Mas não consegui terminar de ouvir o que Daniel dizia, mesmo tendo a plena noção que toda sua família estava ao meu redor, eu só conseguia pensar em como o meu mundo estava desmoronando, e com isso vi tudo escurecer.
O desespero te mata, e as lágrimas te destroem. Mas nada te consome mais do que o vazio em seu peito. Nada.
Desde que sai do hospital devido ao meu desmaio, entrei em estado de choque pela falta de notícias da minha filha. Nada conseguia fazer com que eu tivesse uma reação. Fernando decidiu que ficaríamos na casa dos seus pais enquanto as investigações estavam a todo vapor, e a imprensa se aglomerava diante dos portões da família Murbeck. Por isso meu tempo era gasto abraçando meus joelhos e olhando para o nada, tentado compreender como chegamos a esse ponto. O porquê de isso tudo acontecer com a minha família.
Três dias.
Três dias sem ela
Três tortuosos dias sem uma notícia sobre minha filha.
E já fazia dois dias que a família de Fernando tinha esquecido que eu tinha a capacidade de ouvir, algo que até mesmo eu duvidava.

- As ações da empresa estão caindo porque não têm ninguém para administra-la nesse momento. - Eu sabia que era a voz do pai de Fernando. Mas eu não conseguia compreender se era comigo.
- Antony talvez... - Eles estavam distantes? Porque a voz da Helena estava tão abafada?
- Eu não importo com as ações da empresa, eu não importo com nada além... - Quando Fernando chegou? Mas ele estava gritando, isso confundiu meus pensamentos. - A Beatriz pai é minha filha! Não me importa que eu não seja pai biológico, eu a amo como se fosse uma parte de mim. Amei ela antes mesmo de amar a Julia. Elas são as mulheres da minha vida, e meu filho que está no ventre de da minha mulher. Essas três pessoas são minha vida, então, por favor, entenda o meu desespero.

Eles não sabiam que eu estava grávida até agora, ninguém além de nós dois sabíamos. Minha sorte era que eu estava longe da vista de qualquer um. Mas sempre que estava me sentindo lucida, a culpa de ter deixado minha filha com sua babá me consumia, então eu seguia para mais uma batalha de tortura psicológica que causava a mim mesma.
Um zumbido forte ecoou em meu ouvido e fiquei em pé, encontrando Daniel em um canto com os braços cruzados, e olhos cansados me olhando preocupado.

- Você está bem? - Ele me perguntou. Não eu não estava bem. Assenti cruzando meus braços sobre o peito.
- O seu pai e o seu irmão estavam discutindo? - Minha voz estava tão fraca, parecia que eu estava perdendo a habilidade de falar.
- O Fernando está nervoso com toda essa situação. Todos nós estamos. - Daniel passou a mão no cabelo e suspirou. - Enfim, meu pai fez um comentário e o meu irmão se exaltou. Apenas isso, não o leve a mal, meu pai está gastando muito dinheiro com investigadores particulares, mesmo que você não estivesse com Fernando, eu e minha família faríamos de tudo para ver vocês duas bem.

Meus olhos estavam ardendo pelas lágrimas que já não vinham mais, um bolo de angustia surgiu em minha garganta. E eu não sabia o que fazer, então apenas anunciei que iria para o meu quarto, enquanto esperava por mais noticias. Essa era a minha rotina nas poucas horas em que não tinha meu coração esmagado pelas falsas esperanças da polícia.
Meus olhos não saiam da janela, aguardando quando chegaria alguém para nos dar outra novidade, enquanto jornalistas se empilhavam no portão cada vez mais.

- Ju... - A voz dolorosa de Fernando já anunciava o que eu mais temia...
- Nenhuma notícia não é mesmo? - Eu mal conseguia falar, mas mais uma parte de mim morria a cada minuto. Passei a mão em minha barriga, eu precisava ser forte, pelo menos o suficiente.
- Eles estão fazendo tudo que está ao alcance. Eles vão achar alguma coisa, vão encontra-la.

Os olhos fundos de Fernando, a dor neles, a sua preocupação, todas as suas ações demonstravam o desespero que ele estava sentindo. Mas ele era mais forte do que eu. Olhei para a bandeja de comida em suas mãos e logo em seguida desviei o olhar, não conseguindo suportar o mal estar.

- Você precisa comer Ju, não só por você, mas pelo nosso bebê. - A dor em sua voz que ele tentava desesperadamente esconder, assim como a magoa de que eu era alguém egoísta, que não estava fazendo o suficiente pela minha gravidez.
- Agora eu não consigo por nada no estômago, vou vomitar se fizer isso.

Ouvi o suspiro de Fernando quando ele deixou a bandeja em cima da mesinha e me deixou sozinha com meu remorso e culpa. E dor, muita dor.
Havia um celular vibrando no quarto. Meu celular.
Meio entorpecida, não estranhei o número desconhecido que me ligava, já que algumas pessoas da minha cidade estavam fazendo isso com frequência.
Decidi não atender, e na segunda vez seguida que o som dele vibrando me chamou atenção, eu o fiz.
Meu sangue gelou.

- Julia, achei que não queria falar com sua filha. - O resmungo choroso de Beatriz fez meu coração acelerar principalmente em saber com quem ela estava.
- Guilherme, o que você... -- Minha voz estava embargada, eu estava desesperada. Mas ele me cortou.
- Me encontre no aeroporto, em uma hora com seu passaporte em mãos. Não avise ninguém, nem a polícia e principalmente seu namoradinho. -Sua voz era pausada e calma, manipuladora do jeito que eu me lembrava tão bem. - Passe em sua casa e pegue algumas roupas. Troque uma muda antes de sair e coloque outra antes de chegar ao aeroporto. Não faça nada que me comprometa, ou você vai dizer adeus para sua filha.

Eu não conseguia respirar, sequer pensar a voz tenebrosa de Guilherme ecoava em meus pensamentos. Eu só queria a minha filha, e para estar com ela eu faria qualquer coisa.
Saí do quarto afoita, mas logo me recompus e encontrei Fernando lá embaixo ao celular, conversando com alguém baixinho com seu pai ao seu lado. Ele me olhou sobre o ombro com as chaves do carro na mão, enquanto colocava meu cabelo atrás da orelha com a outra.

- Aonde você vai? - Todos estavam me olhando preocupados.

Desviei meu olhar e respirei fundo contando as batidas do meu coração.

- Eu preciso dar uma volta, talvez parar para comer em uma padaria. - Meus olhos encheram de lágrimas. - Ficar em um ambiente que não seja aqui.

Fernando trocou um rápido olhar com Daniel, uma conexão que nunca vi entre os dois, e depois passaram a me encarar.

- Tudo bem, eu vou junto com você. - Meu melhor amigo disse pegando seu casaco sobre a poltrona, mas eu neguei.
- Não. - Hesitei dando um passo para trás, eu não podia arriscar e não ter a minha filha de volta em meus braços. - Eu só preciso ficar sozinha por algum tempo.
- Julia você não está bem com tudo o que está acontecendo meu amor. - Porque Fernando tinha que se aproximar e tocar o meu rosto, e quase ver a mentira diante dos meus olhos? Eu queria pedir a sua ajuda, mas a culpa de Beatriz estar sozinha com Guilherme era minha pelas coisas que escondi desse homem a minha frente - e se você desmaiar?
- Eu não vou - Engoli em seco o bolo de culpa e me afastei do seu toque. - Preciso de um tempo para reorganizar os meus pensamentos, essa falta de notícias está me matando. Eu só preciso ficar sozinha.

Antes que mais alguém contestasse, eu dei às costas a família que tanto me acolheu com lágrimas nos olhos. Embarquei no carro, com as mãos tremulas coloquei a chave na ignição, e engatei a ré saindo da garagem com meu carro popular.
Os jornalistas estavam tão preocupados em ter uma entrevista com a família Murbeck, que não se interessaram em fotogravar um carro mais velho passando pelo portão, e nem com quem dirigia, e isso por si só já era uma conquista. Afinal era meu dever passar o mais despercebida possível.
Segui tudo o que Guilherme me disse, eu faria tudo para poder ficar com ela.
Passei a mão em minha barriga enquanto dirigia, era pelos dois que faria isso, pois eu não ficaria bem enquanto eu não estivesse com Beatriz em meus braços. Eu que retirei a queixa contra Guilherme e jamais contei ao Fernando. Mas era mais do que isso, eu sabia que meu ex-marido nunca me deixaria por completo, que ele voltaria. E ele voltou: tirando tudo de mim.
Minha vida.
Mordendo meus lábios pálidos, com os olhos embaçados das lágrimas relembrando tudo o que eu vivi nos últimos anos, peguei meu celular para fazer uma última coisa: fazer com que Fernando me odiasse pelo resto da vida.
Ele atendeu no segundo toque.

- Ju? Está tudo bem? - Sua voz preocupada estava me mantando aos poucos.
- Preciso te contar uma coisa... - Houve um minuto de silencio.
- Você está dirigindo? Encoste o carro para conversar, você pode se perder no volante, você está nervosa e ofegante. - Mesmo que ele quisesse me passar calma, eu sabia que ele estava transtornado.
- Ela está com o Guilherme... A culpa é minha Fernando. - Solucei, enquanto mais ondas e lágrimas faziam com que eu me sentisse desorientada. - Eu retirei minha queixa sobre ele... - E então sobre palavras mal ditas contei parcialmente sobre o dia em que encontrei a mãe de Guilherme, tudo o que eu escondi dele durante longos dias. - Eu, eu... Eu não posso deixar a Beatriz sozinha. Eu vou fazer tudo o que estiver em meu alcance. Mas saiba, que eu ainda amo você.

Muitas vozes ressoaram ao fundo da ligação e o desespero na voz de Fernando partiu meu coração.

- Por favor, Julia... Julia não faça nada. Me diga onde você está indo... Eu não posso ficar se vocês...

Coloquei o meu celular sobre o peito e sussurrei:

- Eu amo você. - E com isso finalizei a ligação e desliguei o celular colocando-o sobre o banco passageiro.

Assim que passei pelo saguão do aeroporto eu o avistei. Tentei ao máximo agir naturalmente, andar com calma, mas fiquei afoita olhando para todos os lados buscando pela minha filha.

- Cadê a minha filha?- Minha voz chorosa fez os lábios de Guilherme se curvar enquanto ele me abraçava.
- Haja naturalmente Ju. Não queremos que ninguém perceba que você não quer ser meu par romântico. - Seu lábio roçou minha orelha e a bile ameaçou subir pelo meu estômago com toda a repulsa.
-O que você fez com ela? - Estava a beira das lágrimas.
- Vou te levar até Beatriz, mas você tem que se comportar. - Ele se afastou e colocou meu cabelo bagunçado atrás da orelha. - Haja naturalmente amor.

E com isso ele pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos com força, pegando minha bolsa e me guiando rapidamente para a direção oposta dos voos. Quando chegamos ao estacionamento, ele destravou o carro e o desespero me consumiu.

- Entra aí agora. - Ele exigiu praticamente me empurrando na porta passageira de trás, eu até tentei resistir, mas assim que vi minha filha, praticamente me joguei dentro do carro.

Minhas mãos tocaram seu rostinho adormecido, e seus olhos inchados pelo choro que devia ter sido incessante. Meu peito apertou, e minhas próprias lágrimas não paravam quando tentei tirar ela da cadeirinha e sair apressada do carro, mas as portas estavam travadas.

- É melhor você parar de tentar fazer isso Julia, ou vai se sentar aqui na frente comigo. E não vai ter nenhum contato com a Beatriz. - Meu corpo se enrijeceu, enquanto eu tentava engolir meu choro e assentia.
- Para onde estamos indo? Por que pediu meu passaporte? - Seu sorriso sombrio me causava medo. Toquei minha barriga com a mão livre enquanto Guilherme dava partida no carro e saia pela estrada principal.
- Nós vamos para casa Julia. - Como ele conseguia agir como se nada estivesse acontecendo? Mas o que ele falou logo em seguida fez com que eu me encolhesse sobre o banco querendo desesperadamente pegar minha filha em meu colo. - Não se preocupe não vou fazer nenhum mal a vocês três, então preciso que se comporte e não decida fazer nenhuma graça enquanto eu dirijo.
- Como você sabe que estou grávida? - Ele apertou as mãos no volante com raiva.
- Eu sei tudo sobre você desde que decidiu acabar com nosso casamento, uma história que não pode e não terá fim. - Ele ligou o som do carro como se não estivesse acontecendo nada em um rock pesado. - Então eu sugiro que cale a boca e aproveite seus momentos com sua filha e não faça mais nenhuma pergunta o resto da viagem.

Olhei para minha filha ressonando baixinho. E depois para o homem ao volante, como a minha vida chegou a esse ponto? Todas as minhas ações me levaram a essa situação.
Por um bom tempo olhei o asfalto, e o observei quando a estrada virou terra e as arvores eram a única referencia da distancia em que estávamos percorrendo.
A culpa era minha, apenas minha.
Que Fernando me perdoasse.

 𝓤𝓶 𝓬𝓸𝓻𝓪𝓬𝓪𝓸 𝓹𝓪𝓻𝓪 𝓬𝓱𝓪𝓶𝓪𝓻 𝓭𝓮 𝓒𝓔𝓞 Where stories live. Discover now