𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 26

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A vida é para ser vivida, é estranho parar e analisar esse pensamento mas ele faz todo o sentido agora, viver pode ser desgastante, cansativo e de uma forma penosa, isso depende do nosso ponto de vista; a vida é algo que quando estamos passando por momentos insuportáveis, acaba deixando de ser vista como algo importante, se torna um peso viver, eu me sentia assim todos os dias antes de conhecer a pessoa que mudaria completamente essa minha vida, ai que entra aquela frase “A vida é para ser vivida” seja ela em um momento feliz ou amargo, devemos viver o tempo que temos independente do que aconteça, sempre vai surgir um motivo para se viver… O telefone interrompeu meus pensamentos, os toques angustiantes mostravam um número desconhecido, atendo demonstrando confiança na minha voz, o som rouco ecoa de longe e eu consigo escutar a respiração afobada ao dizer:
_________ Você deve sair imediatamente temos a localização… - Sabe quando o seu coração para por alguns instantes, e você simplesmente sente a adrenalina aumentar, e então as batidas retornam de uma forma rápida e desesperada, quase como o ronco de um motor que recupera as forças, era exatamente assim que eu estava neste minuto, peguei a chave do carro, o meu casaco e a arma do meu pai guardada dentro do cofre, sai da casa com a sensação de que a esperança poderia voltar a surgir, no entanto, esse sentimento se misturava intensamente com o medo, não aquele medo bobo, como quando somos crianças e pensamos que existem monstros embaixo das nossas camas; neste momento enquanto eu dirigia em alta velocidade seguindo o GPS, o medo que me assombrava era aquele com sentimento denso, gosto amargo e ar pesado, o medo de perder quem mais amamos.
Um dia antes:
Olhar para Julia naquele estado acabava com meu coração, tudo o que estava ao meu alcance e com todas as minhas forças eu faria e suportaria, quero ser a rocha firme que a segura em momentos difíceis como esse, ela não estava se alimentando e até o momento não havia recebido mais nenhuma notícia a respeito da Bia; esse sentimento de impotência estava me torturando; contudo durante a noite algo surgiu na minha cabeça, contei aos policiais como era difícil a relação da minha namorada com o ex dela, que as únicas pessoas que poderiam fazer algo contra nós seriam Guilherme e alguém da família dele talvez, solicitei que o detetive investiga-se se havia alguma possibilidade daquele homem estar envolvido no desaparecimento da bebê, é claro que ele estava preso, e seria algo difícil fazer estando na cadeia; contudo sempre aprendi que não podemos descartar nenhuma possibilidade se existem fatores que nos levam a acreditar que seria possível, se existe um por cento de chance deve ser investigado, e é assim que se torna uma pessoa de sucesso; quando recebi a notícia na madrugada de que Guilherme havia sido solto a notícia não foi uma surpresa, o que realmente me surpreendeu foi o fato de que Julia o tirou da cadeia por vontade própria, na manhã seguinte quando levei o café para ela eu desejei perguntar quais motivos a fizeram soltar aquele mal caráter da cadeia; só que não tive coragem, ela demonstrava uma expressão triste e de pesar, decidi deixar quieto e seguir com as investigações. Os detetives me orientaram que se era meu desejo encontrar Bia então o alvo seria a própria Julia, Guilherme enquanto estava na cadeia foi diagnosticado como um sociopata, é alguém que tem transtorno de personalidade anti-social. Pessoas com este transtorno, também chamado de sociopatia, não possuem empatia. Eles não conseguem entender os sentimentos dos outros. Por isso ele age daquela forma estranha, só enxerga a si mesmo, e nunca amou Julia, pior do que isso ele pode chegar ao extremo sem ter dor na consciência, ou seja, ele pode matá-la que isso não fará diferença para ele, o plano era ficar de olho em Julia, as roupas que ela estava vestindo continham um localizador escondido, o celular dela se encontrava grampeado, assim como os brincos, sapatos, tudo que ela carregava se encontrava com um ponto de localização. Não demorou muito para que ela logo recebe-se uma ligação, os detetives me informaram logo em seguida que ela saiu, quando aquele monstro se aproximou dela no aeroporto eu estava lá escutando as ameaças e observando de longe, contudo no meio do caminho, enquanto o seguimos os dois antes que pudéssemos ver onde que Bia estava, ambos sumiram; a localização se tornou instável, e com o ambiente cheio de pessoas era impossível saber onde eles realmente estavam, quase enlouqueci, comecei a correr dentro do aeroporto, gritando pelo nome de Julia; sem saber o que fazer, como isso era possível? Ela se encontrava grampeada, o desgraçado era mais inteligente do que eu previa, o detetive me acalmou e garantiu que iria encontrá-la e então iria me avisar no mesmo instante, as horas corriam e nada; foi naquele momento enquanto pensava sobre a vida que recebi a ligação, e agora sigo os rastros do GPS, entrando em uma via cheia de árvores, e fechada pela mata, ao passar por uma estrada de terra a localização terminou em um morro alto e afastado de tudo, os policiais estavam no local quando cheguei:
__________ Detetive Gus.. - Chamei o homem corpulento e tatuado, ele trajava a sigla da policia militar quando se aproximou de mim soltando um suspiro.
__________ Estamos preparando o cachorros, trouxe a roupa da Julia conforme solicitei?
__________ Sim, esta aqui.. - Entreguei o vestido verde florido nas mãos dele olhando com temor.
__________ Fique calmo, iremos encontrá-las com vida eu prometo.. - Levantei o meu olhar para o do homem e então concordei balançando a cabeça de uma forma positiva.
__________ Posso ajudá-los? - Ele me encarou nos olhos por alguns instantes e então soltou um suspiro, olhou para o lado e sinalizou para um dos policiais.
__________ Traga um colete para este senhor. - O soldado assentiu e então se afastou, minutos depois ele entregou um colete nas minhas mãos – Pode nos acompanhar, mas se o encontrarmos peço que mantenha a calma e não faça nada..
Concordei, no entanto, em minha mente o que se passou foi: “Não posso prometer nada” recebi uma lanterna e então comecei a seguir a trilha junto com os policiais que seguiam aos cachorros, tudo se encontrava escuro, a noite de inverno no sul pode ser fria e gélida, assim como meu coração nesse momento.
__________ Onde estamos? - Questionei baixo para o soldado ao meu lado.
__________ Entre Curitiba e Paranaguá… - Olhei para o rapaz com um ar irritado.
__________ Isso eu sei.. - Ele me olhou como se dissesse “Então porque perguntou?” - Eu quero dizer, estamos chegando próximos deles? - Ele me encarou como se finalmente tivesse me compreendido.
__________ Isso eu não sei.. - Parei perto de uma árvore imensa e então a soquei, o grupo de policiais seguiu em frente mata a dentro da serra seguindo os rastros que os carros seguiam, fiquei para trás tentando respirar, sentia como se não existisse oxigênio, mesmo ventando forte, foi neste momento que minha mente deu um clique, e se ele simplesmente quisesse nos enganar? E se tudo isso aqui fosse parte do plano dele? Nos distrair… Pisquei diversas vezes e então retomei o caminho de volta sem falar com ninguém, entrei no meu carro e então olhei para o volante.
Se eu fosse um lunático que está atrás de atenção, o que eu faria? E se eu quisesse reviver o meu passado sádico? Para onde eu deveria ir? Foi neste momento que liguei o meu carro e fiz meia volta, peguei meu celular, no entanto, ainda se encontrava sem sinal, acelerei ainda mais voltando para a cidade, quando finalmente a rede retornou, pesquisei na internet o nome de Guilherme, as notícias traziam desde a infância dele até o momento que fora preso; no entanto uma reportagem chamou a minha atenção, a antiga casa dele, era um chalé em um parque de conservação natural, bem perto de onde eu estava, a localização estava errada, tomei o caminho para o endereço torcendo para que esse fio de esperança e fé estivesse me levando até elas.
Era madrugada quando estacionei em um local próximo do chalé, sai de dentro do meu carro e então peguei a arma que havia trazido apenas por segurança, coloquei dentro do bolso da minha calça e então comecei a andar indo na direção da luz fraca, enquanto caminhava entre ás árvores consegui observar uma janela, existia uma cortina fina que se encontrava bloqueando a minha vista, no entanto, era possível ver uma pessoa se movimentando lá dentro, me aproximei devagar e então escutei o choro fraco de Bia, provavelmente ela sentia que a mãe dela está em pânico, me arrastei até chegar na janela e então espiei entre ás beiras, foi neste momento que consegui observar Julia sentada amarrada em uma cadeira, sua boca se encontrava amordaçada, e ela chorava sem parar grunhindo, Guilherme estava bebendo de uma garrafa diretamente enquanto que Bia estava deitada no chão frio chorando sem parar, agarrei o batente da janela desejando matá-lo naquele minuto, no entanto seria perigoso para ás duas se eu tenta-se fazer algo sem pensar, peguei meu celular e então enviei uma mensagem com a localização correta para o detetive, guardei meu telefone no bolso e então saquei a arma segurando-a com força, enquanto a observava bolei um plano em minha mente, peguei uma pedra, e então de onde estava joguei a mesma na porta, ao encontrar a madeira o som ecoou alto, chamando a atenção de Guilherme que no mesmo instante pegou uma arma, o observei sumir da vista, provavelmente ele estava indo até a porta, me escondi do outro lado da casa, foi neste momento que escutei o som da porta se abrindo com um ranger baixo, os passos dele eram lentos e quase silenciosos, no entanto de onde me encontrava era possível ver a sombra dele, me abaixei e então deitei no chão esticando meus bracos, a arma teve sua mira indo em direção a um dos pés de Guilherme que andou mais um passo até que o som do meu tiro soasse, a bala cortou o ar e antes que ele pudesse localizar de onde o som vinha, o pé dele recebeu um furo certeiro; ele caiu no chão, gritando e levando a mão para o local do ferimento, me levantei e então mirei na mão dele que ainda segurava a arma, um novo disparo aconteceu e esse dessa vez acertou os dedos dele, rapidamente o mesmo soltou o objeto que caiu no chão soltando outro disparo no ar, sai de onde me encontrava escondido atrás da casa, e então mirei no ombro dele, um novo disparo aconteceu e dessa vez ele caiu no chão com um furo próximo do peito, a madrugada se encontrava fria, os flocos de sereno caíam lentamente pelo ar, Guilherme me olhou mais nenhum sentimento era demonstrado, tudo o que ele sentia era dor..
___________ Eu sabia que você viria… - Ele riu soltando os braços no chão como se dissesse que desistiu.
___________ É claro que eu iria vir, por elas, entrego a minha vida se for necessário ao contrário de você.. - Neste momento ele começou a rir, a gargalhada era alta, com certeza estava insano e bêbado.
___________ Eu sempre tive inveja das pessoas que são como você Fernando.. - Já havia me virado para entrar no chalé quando ele falou aquilo, parei por alguns instantes – Sentir amor.. Como deve ser essa sensação? Desejei ser você por tantas noites naquela cela.. Mas não sou.. Eu não sinto.. então.. - Um estalo aconteceu.. - Ao matá-lo não vou sentir nada também..
Quando a bala bateu em meu peito senti um baque forte me atingir, caí no chão e uma dor insuportável inundou o local, Guilherme já se encontrava mancando até mim no chão, no entanto neste momento meu corpo estava paralisado por alguns instantes, ele mirou na minha cabeça; e então quando fechei aos meus olhos o som do estalo pode ser ouvido. Todos os momentos com Julia surgiram em minha mente em questão se segundos, passando tão rapidamente, a primeira vez que a vi, quando nos beijamos a primeira vez, os momentos com Bia, quando descobri que eu seria pai; tudo isso valeu a pena, viver até aqui foi mais que suficiente para mim, eu amei e fui amado e agora tudo isso era o que importava. Meus pensamentos se calaram quando senti algo pesado cair sobre mim, abri os meus olhos e então vi Guilherme caído em cima do meu corpo, ele estava morto; os policiais se aproximaram o tirando de cima e então me ajudaram a levantar.
_____________ Você está bem? - Me questionou um soldado, no entanto, não pude responder, simplesmente corri na direção do chalé, lá dentro às lágrimas escorreram pela minha face ao observar Julia com Bia em seu colo, quando ela me viu correu na minha direção me agarrando pelo pescoço.
___________ Graças a Deus você está bem.. - Ela sussurrou aos prantos – Me perdoa Fernando a culpa é toda minha.. eu..
Não pude deixar que ela continuasse, a calei com meus lábios no mesmo minuto a beijando como se minha vida depende-se daquilo para que eu continuasse existindo, quando me afastei tudo o que eu pude dizer foi.
___________ Vamos para casa… É só isso que importa agora.. - Ela assentiu e então entramos na ambulância e fomos levados dali. A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos. Eu nunca desejei que a minha vida terminasse assim sem aplausos, no entanto, durante um período acreditei que seria dessa forma, só até ela entrar em cena e transformar a minha peça na mais bela história de amor que já existiu, tudo graças a Julia, a única protagonista da minha vida.
 

 𝓤𝓶 𝓬𝓸𝓻𝓪𝓬𝓪𝓸 𝓹𝓪𝓻𝓪 𝓬𝓱𝓪𝓶𝓪𝓻 𝓭𝓮 𝓒𝓔𝓞 Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum