𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 22

88 12 1
                                    

O problema do passado é que mesmo distante ele ainda se faz presente, muitas vezes desejamos esquecer algo, contudo se torna tão difícil e doloroso, que se assemelha a uma tortura, recordei no mesmo instante de vários momentos em que simplesmente desejei não existir, enquanto todos aqui soltavam risadas satisfatórias pelas lembranças de sua juventude, às minhas surgiram também, mas de uma forma perturbadora, na época em que meus irmãos estavam vivendo suas experiências novas, passando pela faculdade e se divertindo de tantas formas, eu; Fernando Murbeck me encontrava sendo enviado para um país totalmente diferente, sendo expulso de casa e dado como incapaz pelo meu pai. Essa época foi tão difícil que ter lembranças boas se tornou impossível, me encontrava tão inerte e concentrado perdido em minhas próprias dores que nem notei o silêncio que havia se tornado ao meu redor, apenas quando Júlia se levantou da mesa, no meio da jantar fazendo um barulho com a cadeira é que retornei para o presente, ela colocou Bia no colo de Daniel e então saiu cambaleante indo ao banheiro, meus olhos se voltaram para os meus familiares que cochichavam e se observavam de modo sério, Daniel estava com uma expressão de fúria, e eu simplesmente não entendi o que se encontrava acontecendo até Ethan brigar de modo baixo com sua noiva.
 
_________ Você sabe que não podemos tocar nesse nome, é doloroso demais para ela.. – Comentou com pesar.
 
_________ Eu sei.. – A expressão dela mostrava o quanto se encontrava atordoada pelo erro – Desculpa, estava tão concentrada relembrando do passado que me esqueci da relação conturbada que Julia teve com o Guilherme...
 
__________ Guilherme?! – Minha voz soou alta demais, todos me olharam surpresos, Ethan piscou várias vezes ficando sem graça por minha culpa.
 
__________ É Fernando, fala baixo.. A Júlia era namorada do Guilherme não se lembra?... – Ele pareceu se perder em seus pensamentos por alguns instantes – Há... Você não deve saber, não estava aqui nessa época... – Ele se calou enquanto que eu me sentia perplexo.
 
__________ Então o pai da Bia.. ? – Apontei para a pequena nos braços de Daniel e todos assentiram ao mesmo tempo e positivamente.
 
__________ É aquele desgraçado! – Exclamou Gisele tomando um gole de vinho seco logo em seguida.
__________ Vamos parar de falar sobre isso, Julia está desconfortável e provavelmente chorando no banheiro... – Daniel se manifestou nos olhando em reprovação.
 
Soltei um suspiro nervoso, então é por isso que ela se sentia tão desconfortável ao ver aquele desgraçado, levei a mão até meus cabelos passando os dedos pelos fios lisos, meus olhos se voltaram para a visão mais frágil e dolorosa que eu já contemplei desde que a conheço, Julia vindo do banheiro com seus olhos inchados e vermelhos, ao mesmo tempo ela tentava esconder o que estava sentindo, porém sua expressão e tristeza eram visíveis, ela pegou Bia no colo e então se pronunciou.
 
__________ Peço desculpas a vocês, mas eu preciso ir embora não estou me sentindo bem.. – Todos balançaram a cabeça positivamente para ela, Daniel se levantou para oferecer uma carona no entanto o interrompi imediatamente, levantando do meu lugar e indo na direção dela dizendo.
 
__________ Vou levá-la. – Todos nos encaravam surpresos, senti o olhar fixo da minha mãe nas minhas costas mais o ignorei. – Daniel não disse nada apenas voltou a sentar em silêncio, peguei Bia no colo, assim como a bolsa de Júlia, toda a minha família observava os meus movimentos em total e completo silêncio, sai dali com às duas guiando-as para o carro.
 
Nenhuma palavra fora dita durante a trajetória até o apartamento dela, Boa dormia na cadeirinha, Julia fitava a janela em silêncio e eu me concentrei na direção, me controlei para não fazer perguntas ou questiona-la de forma nenhuma, ela deveria ter suas razões para não ter me contado sobre Guilherme e pelo visto havia acontecido coisas ruins neste relacionamento, pois o que eu sei sobre o ex dela é que fora um trauma; ao parar na frente do condomínio, estacionei o carro e finalmente o parei, contudo Julia estava tão concentrada em seu mundo que não se moveu, levei meus dedos até a mão dela segurando de modo gentil e trazendo conforto, o rosto dela virou observando os meus olhos e ali eu consegui ver tristeza, isso partiu meu coração em pedaços.
 
__________ Pode ir, vou para casa hoje e lhe darei espaço.. – Ela assentiu na minha direção e então sem dizer nada se levantou e pegou a Bia no colo adormecida, sai do carro para observar o caminho que ela iria fazer até entrar no apartamento, no entanto enquanto estava olhando para às duas de longe, vi uma silhueta se aproximar rapidamente delas, o sangue subiu para a minha face no mesmo instante, Guilherme estava esperando por elas próximo ao saguão de entrada para o apartamento, ele agarrou ao braço de Júlia que segurava Bia, eu observei o início de uma discussão, porém não consegui escutar o que diziam, aquele ser desprezível! Além de acabar com a vida dela ainda a estava perseguindo?! Não pensei duas vezes, meus pés começaram a andar na direção deles rapidamente, assim que me aproximei o suficiente pude ouvir o que ele gritava para ela enquanto seus dedos ainda se afundavam no braço dela.
 
___________ EU AINDA AMO VOCÊ JULIA! NÃO ENTENDEU?! – Eu não acreditava no que estava ouvindo – Eu errei! Me perdoa, a Bia é minha filha! Eu também tenho direito! – Ele exclamou de modo feroz na direção dela, Júlia já abalada pelo jantar, e agora por aquela situação apenas se manteve agarrando a bebê que chorava alto pelos gritos do “homem que se dizia pai" enquanto que a mãe dela apenas tentava se livrar das garras dele, quando finalmente me aproximei o suficiente deles, não pensei duas vezes, desferi um soco certeiro na face de Guilherme, ele imediatamente soltou o braço de Júlia levando a mão ao nariz que sangrou imediatamente, Julia me olhou assustada.
 
__________ Entra Julia, cuida da Bia, deixa esse vagabundo comigo. – Ela assentiu na minha direção rapidamente e então com a bebê para dentro do saguão, minha atenção logo mudou para Guilherme que desferiu um soco no meu rosto como resposta ao anterior, contudo ao retornar meu olhar para o dele, um sorriso sarcástico se fez nos meus lábios.
 
___________ Eu sabia que você era um covarde, mais além de tudo é um fracote desgraçado! – Dei outro soco nele que o fez cair no chão pela força projetada do meu corpo, subi em cima de Guilherme e então dei outro soco, o nariz, e a boca sangravam, segurei o colarinho dele puxando sua cabeça pesada para cima obrigando-o a me encarar.
 
____________ Você vai pagar por ter roubado a Júlia de mim! – Ele cuspiu sangue no meu rosto, dei outro soco em resposta.
 
____________ Eu não roubei nada de você! Foi você quem abandonou as duas, se tivesse ficado e cuidado delas, eu não teria espaço.. – Falei com amargor na voz – Contudo eu agradeço a você Guilherme, agora elas são minhas... só que diferente de você, eu vou cuidar, amar, e estar ao lado delas para sempre. – Soltei a cabeça dele que bateu no chão fazendo um barulho baixo, ele se contorceu no chão gemendo pela dor, limpei o sangue dele na minha roupa, porém antes que eu pudesse sair, a polícia chegou.  
Desde a minha adolescência rebelde eu não entrava em uma delegacia, recordei de quando tive que prestar serviço público após ser pego pixando um dos muros do colégio em que estudava na época, meu pai quase enlouqueceu de ódio, saiu nos jornais as notícias do filho rebelde dos Murbeck sendo levado pela polícia, hoje o motivo era diferente, defendi a mulher que amo e não me arrependo, por mim socava mais vezes a fuça deste desgraçado, sentei na cadeira da qual o policial me empurrou com os pulsos algemados, o homem me encarou batendo seu dedo indicador na mesa e analisando as minhas roupas.
 
____________ Porquê vocês estavam brigando? – Questionou mastigando um chiclete invisível.
____________ Ele quem chegou me batendo senhor sem motivo algum. – Soltei uma risada alta roubando a atenção de todos na delegacia.
____________ Sem motivo algum? Tá de brincadeira com a minha cara? – O policial socou a mesa no mesmo instante chamando a nossa atenção.
____________ Parem com isso! – Soltei um suspiro irritado.
____________ Ele estava agarrando o braço da minha mulher enquanto a mesma segurava em seus braços a minha filha, se fosse o senhor teria socado a cara dele também. – Comento olhando para o homem mais velho.
____________ Isso é verdade senhor? – Questionou agora olhando para Guilherme firmemente, no entanto o outro se manteve em silêncio sem dizer uma única palavra então continuei.
 
____________ Além disso ele a persegue, hoje mesmo estava esperando por ela dentro do condomínio, nem sei como conseguiu entrar... – O policial olhava vez ou outra para mim e para aquele imbecil – Se quiser confirmar o que estou falando pode ligar para quem fez a queixa.
____________ Não precisa... estou aqui.. – A voz de Júlia me fez olhar e então levantar da cadeira, ela juntamente com o meu advogado me olharam.
____________ Porquê está aqui? – Sussurrei na direção dela.
____________ Hora para tirar você disso... A culpa não é sua, fique quieto e espere eu terminar. – Soltei um suspiro nervoso. – É verdade, fui eu quem liguei para a polícia, esse homem me persegue a dias, além disso... – Ela apontou para o braço roxo pelos dedos de Guilherme – Se não fosse pelo meu namorado nem sei o que teria acontecido. – O policial fez um gesto com o dedo e então outro veio na nossa direção.
____________ Levem esse paspalho para a cela, quem sabe passando uns dias lá dentro ele aprenda uma lição.. – Guilherme arregalou os olhos e então furiosamente começou a gritar enquanto era puxado.
 
_____________ Eu deveria tê-lo matado aquele dia no acidente de carro! Odeio vocês dois! Viu sair daqui e me vingar.... – A cada grito a situação dele com a justiça pilotava, soltei um suspiro tranquilo enquanto o policial retirava as minhas algemas.
_____________ O senhor vai responder em liberdade por agressão física, terá que cumprir com serviço públicos obrigatórios. – Assenti já imaginando que isso iria acontecer.
 
_____________ Meu cliente poderá pagar uma multa para a justiça se assim preferir também. – Meu advogado o senhor Silva começou a conversar e a resolver o problema enquanto eu saia da delegacia com Júlia ao meu lado.
 
_____________ Obrigado. – Agradeço enquanto andamos lado a lado indo em direção ao carro dela.
_____________ De nada, na verdade eu quem agradeço, naquele momento me senti tão atordoada que nem reação eu tive, o medo de acontecer algo com Bia me fez só agarra-la e protegê -lá com às minhas forças. – Entramos dentro do veículo no entanto ela não deu partida no motor.
_____________ Sinto muito que você tenha passado por tudo isso.. – Falei de modo abrangente, sobre o relacionamento dela com aquele cara, sobre os problemas que eu trouxe juntamente com a minha família, levei a mão até minha face tentando acalmar meus pensamentos, contudo um toque confortável e quente me fez acalmar, a mão de Júlia agora se encontrava na minha apertando e ao mesmo tempo aquecendo ao meu coração.
______________ Não sinta. – Essas duas palavras me fizeram sorrir isso porque me senti profundamente tocado e ao mesmo tempo aliviado. – Vamos para casa. – Concordei positivamente, isso porque agora onde ela fosse, eu iria também, Julia se tornou a minha casa e e o único lugar onde eu quero estar, ela é o meu lar.

 𝓤𝓶 𝓬𝓸𝓻𝓪𝓬𝓪𝓸 𝓹𝓪𝓻𝓪 𝓬𝓱𝓪𝓶𝓪𝓻 𝓭𝓮 𝓒𝓔𝓞 Where stories live. Discover now