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PEDRO

Acordei desperto demais, coisa que era foda de acontecer, era bem de vez em nunca. Minha mãe costumava na minha adolescência dar nome pra isso como "fogo no cu" e não discordo. Hoje é dia de doideira com maluquice.

Levantei logo da cama sem nem pegar no celular nem nada, tava cheio de fome. Sai da casa do Bruno umas 1h da manhã, deixei Madalena em casa e quando voltei pra minha apaguei em dois segundos, nem comi nada.

Abri minha geladeira e pra minha felicidade Sarah tinha feito compras no dia anterior, porque se não fosse por isso, ia continuar com fome. A linda não tinha acordado ainda, resolvi fazer uns agrados assando uns pãezinhos de queijo + suco de laranja, as únicas coisas que eu sabia fazer.

Sarah se tornou uma pessoa especial pra caralho pra mim, tinha essa política de homem não é amigo de mulher e nem mulher de homem, mas depois das meninas terem vindo morar pra cá mudei um pouco essa concepção, e depois que me aproximei de Sarah mudei mais ainda. E por isso que eu fico puto quando Bruno faz desfeita dela, óbvio que sei que é porque ele ainda tá ressentido, mas não precisa, desnecessário demais.

— Que milagre é esse você na cozinha? — ela perguntou entrando na cozinha com aquele barrigão vindo na minha direção.

— Porra, era pra eu fazer um café da manhã maneiro lá na mesa, levantou antes e estragou tudo. — reclamei terminando de cortar as laranjas pra espremer no bagulho que tinha lá.

— Jura? — eu assenti e ela gargalhou.

— O que foi? — perguntei confuso.

— Sei lá, só não esperava você fazendo isso pra mim, até que você dá pro gasto, viu Pedrinho? — bateu nas minhas costas.

— Hãm, tá pensando que só Bruno e Luan que cozinham? Aqui é masterchef po. — falei jogando o pano de prato por cima do meu ombro.

— Ah tá. Ah tá. — ela debochou negando com a cabeça — Vou esperar na sala.

Aproveitei que agora era só esperar os pães de queijo ficarem prontos no forno e fritei uns ovos mexidos também, pra comer como eu não sei, mas era isso ou nada.

— Café da manhã chegando! — avisei levando o prato com os ovos e o tabuleiro com o pão.

— Cadê o suco?

— Já vou pegar ué, quer que eu carregue tudo ao mesmo tempo? — ela riu.

— Melhor amigo check. — fez um sinal no ar.

— Pronto! — coloquei o suco com os copos na mesa — Será que você vai conseguir comer?

— Com sorte vou. Senão é só tragédia no banheiro, amigo. — ela fez careta — Como foi lá depois que fui embora?

— Viramos vodca pura, aí a galera começou a se animar mais, dançar, depois ficamos trocando uma ideia na mesa e aí nem sei mais, fiquei só com a Madalena depois. — contei — Aliás, resenha hoje lá no Bruno, bagulho doido, bora?

— Vou nada, tá doido? Além de eu estar evitando ele, tô com esse barrigão aqui. Você acha mesmo que eu vou ficar no meio de um bando de bêbado? — fez que não com a cabeça e eu ri.

— Então chama alguém pra ficar aqui contigo, sei lá, pra não ficar sozinha. — falei preocupado.

— Para de doideira, sua afilhada não vai deixar de ser sua afilhada só porque você me deixou sozinha por uma noite. Eu não me tornei incapaz, tá? Só grávida. — mordiscou o pão de queijo.

— Afilhada? — arregalei os olhos e ela assentiu — Sério Sarah?

— Sim, não teria pessoa melhor! — disse me puxando pra um abraço por cima da mesa.

— Mas e o doidão do pai? Não vai querer escolher alguém?

Ela fez careta. — Não vou dar nem essa opção pra ele, eu hein.

Eu ri e dei mais um abraço nela. Não demorou muito pra ela começar a ficar enjoada e ir pro quarto. Arrumei a mesa, lavei as paradas todas e fui tomar um banho que eu tinha coisa pra fazer.

Precisava passar na casa de Letícia pra ver o Mike, era final de semana dela, mas o molequinho tava doido pra me ver, então decidi dar uma passada lá.

Coloquei qualquer bermuda e blusa de manga cumprida que tava um friozinho, calcei uma havaiana branca de lei e meu perfume caro pra caralho que eu tinha até pena de usar.

Cheguei na casa da madame, estacionei na fachada e fiquei esperando ela trazer ele pra fora. Não gostava de entrar porque eu tinha preguiça de ser recebido pelo pai dela, sempre é aquela coisa de querer me empurrar pra filha dele e cobrar favores, sendo que isso é mais que passado.

— Papaiiii! — Mike gritou correndo na minha direção.

— E aí filhão, como cê tá? — peguei ele no colo. O bichinho tava pesado.

— Bem, posso ir pra sua casa hoje? — pediu futucando minha barba.

— Hoje não dá, mas prometo te pegar pela semana e o final de semana também é nosso. — ele fez biquinho — Papai promete!

— Aí posso ver a Vaninha? — eu assenti rindo. Era assim que ele chamava a Giovana. Por que? Eu não sei.

— Oi Pedro. — Letícia avançou com aquela cara de cínica dela — Tenho algumas notícias pra você.

Continuei a encarando.

— Vou voltar pra Califórnia com o Mike mês que vem, aí você decide aí o que você vai fazer. — disse com a cara mais mal lavada do mundo.

Meu coração até disparou de raiva, ainda mais quando Mike começou a choramingar e se apertar contra o meu corpo. Todo o ódio que eu tinha de Letícia começou a despertar ali mesmo.

— Tu acha mesmo que eu vou deixar tu levar meu filho pra longe de mim assim, Letícia? — segurei ele mais forte — Se depender de mim vai ser briga na justiça, porque eu sou pai dele e você não pode sair mudando de país assim do nada, ainda mais quando o combinado foi passar uns anos por aqui.

Ela riu sarcástica. Franzi a sobrancelha.

— Você não vai conseguir nada na justiça, Pedro! — disse com aquela voz dela mansa que me dava nos nervos. Eu ri debochado — Foi o combinado até eu perceber que minha vida é mais feita por lá, fora que eu não quero meu filho misturado com essa gentinha que você anda.

— Eu não vou com você! — Mike falou.

— Filho, volta lá pra dentro, papai vem te buscar quando a semana começar, pode ficar tranquilo. Te amo muito! — falei colocando ele no chão e dando um beijo na testa dele.

Ele assentiu e saiu correndo de volta, sem nem olhar na cara da filha da puta da Letícia.

— Você pensa duas vezes antes de falar dos meus amigos. Quem é você pra falar deles? — disse alterando um pouco minha voz — Uma filha da puta que mentiu pra todo mundo falando que te assediei, quase me colocou na cadeia, e ainda escondeu meu filho quase dois anos de mim, acabou com meu relacionamento por causa dessa mentira, a mulher que eu amo eu perdi pra aturar a tua fissura por mim. Você é doida garota, completamente maluca, nem teu próprio filho te quer e se você pensa que eu vou deixar tu pegar um avião com ele você tá muito enganada.

Ela sempre soube sair por cima, mesmo depois de eu jogar tudo aquilo na cara dela, ela ainda manteve a pose com aquele sorriso falso estampado no rosto. Dei de ombros e atravessei pra entrar no carro, não ia perder nem mais um segundo com aquela louca do caralho.

Entrei no meu carro, puxei o celular do bolso pra dar uma esfriada na cabeça antes de pisar no acelerador, senão seria estrago de tão puto que eu tava.

Coincidências 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora