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Quando enfim encontramos uma parte do pessoal, permanecemos onde tínhamos que ficar. Tudo era organizado por uma maluca que Mariana tinha contratado, disse ela que era uma das melhores cerimonialistas do Rio de Janeiro, mas eu tinha dúvidas quanto a isso. A mulher só sabia gritar e tudo que eu fazia era rezar pra que ela não o fizesse perto dos convidados.

Estávamos todos muito ansiosos. Luan nem tanto, principalmente pelo fato de que a cerveja em sua mão mostrava bem o quão insignificante era aquele momento pra ele. Karine não olhava nem na cara dele, preferia ficar em outro canto do ambiente que nos encontrávamos. É, a perda da filha deles abalou todo nosso sistema de união.

FLASHBACK ON

— Por favor doutor, me deixa entrar com você! — disse Luan segurando o jaleco do homem.

— Luan, isso se tornou uma cirurgia de emergência. Você não pode. — o médico disse se desvincilhando dele — Segura ele aqui! — acenou pra um dos enfermeiros que estavam ajudando a levar a maca.

Os gritos de dor de Karine ecoavam pelo corredor. Não tinham muitas pessoas ali a não ser os médicos que circulavam e uma recepção vazia. Meu coração parecia se espremer impiedosamente e meu rosto torcido de tanta tristeza.

O enfermeiro conseguiu tirar Luan de perto e assim entraram no elevador pra ir direto até uma sala de cirurgia. Ele acalmou Luan que se virou pra mim como se pedisse ajuda. Fui em sua direção e o abracei. Suas lágrimas molhavam toda manga da minha blusa, mas era óbvio que isso não importava.

João permanecia imóvel atrás da gente, como se não acreditasse na cena que tinha acabado de ver, e eu nem sabia o que ele tinha visto. Eu estava na academia quando ele me ligou avisando que estava a caminho do hospital, ouvi por detrás Karine gritando e Luan tentando acalma-la, não tinha entendido nada, até ver ela toda ensanguentada em cima da maca.

Coloquei Luan pra se sentar na sala de espera e fui na direção de João que ainda sim olhava pro elevador sem quase piscar.

— Ela vai ficar bem! — eu disse segurando em seu ombro.

— Ela.. ela sangrou.. sangrou muito! — ele gaguejou se virando devagar. Aí eu entendi, João tinha pavor de sangue.

Eu não tinha muito o que fazer senão mandar ele sentar pra aguardar. Uma hora passava a agonia que estava sentindo. Eu queria entender o que estava acontecendo melhor, mas não tinha nem coragem de perguntar.

— Meu Deus, cadê ela? — Mariana disse eufórica seguida de Bruno e Sarah — Por que vocês dois estão todos cheios de sangue? É sério? — ela arregalou os olhos.

— Ela entrou pra uma cirurgia de emergência! — contei.

— Mas o que aconteceu? — Sarah perguntou.

Luan fechou os olhos, bebeu um pouco da água que eu tinha pego pra ele minutos antes e respirou fundo como se quisesse se acalmar.

— Ela foi lá em casa pegar as coisas dela, a gente brigou porque eu não queria terminar assim, ela estava nervosa por causa da gravidez. Vocês sabem, a infecção, a perda de peso, enfim, ela estava nervosa. Aí quando começou a arrumar as bolsas ela começou a sangrar muito, no início ela insistiu que tava tudo bem, mas era visível que não tava nada bem. João me ajudou a levar ela pro carro e viemos. — ele contou.

— Puta que pariu! — Bruno disse passando a mão na cabeça e levando até a boca.

Eu estava quieta, mas não significava que dentro de mim eu não estava quase tendo um treco. Mariana sentou ao lado de João pra conversar com ele sobre o sangue e eu fiquei ali abraçada com o Luan.

Obviamente ficamos inquietos enquanto o médico não aparecia, mas quando ele apareceu.. preferia que não tivesse.

— Fala doutor! — Luan pediu inquieto.

— Karine tá bem... — suspiramos aliviados — Quanto a bebê... infelizmente Karine teve um aborto espontâneo.

Não precisou nem que ele terminasse a frase pra que todos ficássemos acabados. Olivia já era parte da nossa família, e mesmo sem nascer causou uma dor imensa dentro da gente com sua perda.

Luan não disse nada, só saiu pisando fundo porta a fora.

— Vou atrás dele! — Bruno avisou.

FLASHBACK OFF

Depois daquilo era Luan bêbado e mulher diferente todo dia ou Karine fria socada em trabalho e livros toda hora. Nada muito emocionante mesmo depois de três anos do acontecimento.

— E aí, como tá minha neném? — perguntei pra Sarah passando minha mão por sua barriga.

Já estava entediada de tanta demora pra esse casamento começar. E sim, Sarah estava grávida, mas não, não era do Bruno. Em um dos seus inúmeros términos com ele, ela teve um casinho com um moleque mais novo - devia ter uns vinte anos - e engravidou. Bruno como não vive longe dessa mulher aceitou numa boa, eles moram até juntos no mesmo apartamento, que quer dizer, na nossa antiga sede.

— Tá bem amiga, cinco meses já essa criaturinha. — sorriu pra barriga.

— Tem tempo que eu não visito vocês, desculpa tá!? Cê sabe que eu tô atolada com a obra da agência, tá foda! — bufei.

Eu e Karine estávamos finalmente começando a realizar nosso sonho de ter uma agência só nossa. Tudo estava indo bem, e se tudo desse certo no fim do ano estaria pronta a mais nova melhor agência de viagem "Kalu Travels".

— Relaxa Ma, você tem licença familiar. — rimos — E onde tá o Gui?

— Ele não é padrinho, esqueceu?

— Ah, lembrei bem quem é o padrinho. — ela disse sem citar o nome. Neguei com a cabeça rindo de nervoso — Você que vai entrar com ele?

— Cê acha mesmo que eu ia deixar Mariana fazer essa sacanagem comigo? Nem pelo caralho, vou entrar com Luan. — ela riu.

— Cadê esses garotos que não chegam porra? — Karine perguntou irritada.

— Acho que os amigos de vocês de Porto já estão vindo, eles mandaram mensagem no grupo. — Beatriz, irmã do João, avisou.

— E cadê a amiga deles que vai ser a madrinha? Ela é a única madrinha faltando. — falei.

— É gostosa? — Luan perguntou sentando em um banco de madeira que tinha.

Karine revirou os olhos e eu simplesmente ignorei.

A garota chegou seguida de Lobão e Magalhães. Beatriz entraria com Lobão e a menina com Magalhães. Pelo menos alguns já tinham se formado.

— Agora falta quem? — Magalhães perguntou.

— Falta Bruno que tá com João. E Pedro que eu não faço a mínima ideia de onde tá. — Sarah disse me olhando.

Meu corpo até se estremeceu ao ouvir aquele nome. Não deu outra. Sarah me olhou nervosa com os olhos arregalados tentando me fazer olhar pra trás. E quando enfim eu olhei e ele apareceu na minha frente minha garganta ficou seca, meu coração disparado, engoli a seco e tentei manter ao máximo a normalidade dentro de mim.

O pessoal indo abraçar ele me fez ganhar tempo pra me recuperar do choque que foi ver ele pela primeira vez depois de anos. Me lembro como se tivesse sido ontem a cena no aeroporto ou de até escrever aquela carta, que aliás, eu nunca obtive resposta e nem sei ao certo se ele leu.

— Desculpa o atraso, procurei o lugar com Letícia e Mike, aí acabei encontrando uns amigos da faculdade. Foi mal! — ele se desculpou e depois se virou pra mim.

Meu estômago se embrulhou em um completo nó.

— Oi Maria Luiza! — ele deu um sorriso de lado.

Coincidências 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora