Coincidências 2

36

MARATONA 1/5

Entramos no carro e não demorou muito pra Giovana apagar no banco de trás. O clima tava meio constrangedor depois que a filha dela pegou a gente no flagra, nem tocamos no assunto nem nada, só que eu sendo como sou já tava doido pra rir daquilo tudo.

— Eu sei que você quer rir! — ela disse lendo meus pensamentos.

— Quero nada! — menti.

— Pode rir, eu não ligo. — ela falou me olhando como se esperasse uma gargalhada.

Mas eu só neguei com a cabeça e continuei olhando pra estrada com um sorriso no rosto. Quando você é pressionado a fazer alguma parece que só de sacanagem você perde a vontade.

Não tinha muito assunto pra falar e por mais que a casa dela fosse na Barra, não era tããão próximo assim do meu apê, dava uns vinte minutinhos até lá e isso é chão pra quando o silêncio reino.

— Você disse que perdeu o jeito de chegar nas meninas, fiquei curiosa! — cortou o silêncio.

— Curiosa? — me virei rápido pra ela.

— Você não chegou a ficar com ninguém depois que voltou de fora? — perguntou.

— Já fiquei, mas o contexto foi diferente. — contei — Uma nós já estávamos bêbados, então foi só eu dar o olhar que só eu sei dar e começamos a nos pegar.

— Palhaço! — ela riu dando um tapa no meu braço — E as outras?

— E a outra foi minha ex que me beijou.

— Eita, recaída? — eu ri assentindo — Em falar nisso, você nem me respondeu se gosta dela ainda ou não.

De novo com esse assunto é de cair o cu da bunda. Pensei que tinha me livrado da maldita resposta, mas foi pura iludição.

— Pra quê cê quer saber? — perguntei sem tirar os olhos do volante.

— Ah, sei lá, eu sou curiosa, você já deve ter percebido. — riu sem graça — E pelo amor de Deus, não pense que eu sou uma surtada louca que quero saber de tudo da sua vida e que vou me apaixonar fácil por você, é só curiosidade mesmo.

— Ufa, tava desesperado já. — brinquei fazendo ela rir — Respondendo sua pergunta, eu não sei o que sinto por ela.

Ela assentiu e voltamos pro silêncio profundo, e depois dessa eu até preferia. Chegamos logo no condomínio, dei um selinho nela antes dela sair do carro e a observei pelo retrovisor levar a filha no colo até dentro de casa. Eu até me ofereci pra levá-la, mas ela insistiu de que tava tudo bem.

Fui o caminho todo de volta pra casa pensando naquela conversa e em como eu queria que aquela resposta fosse "não, eu não sinto absolutamente mais nada por ela", mas nem tudo na vida a gente ganha o que quer, só tenho que aceitar.

Cheguei em casa, tomei um banho, peguei Mike pra dormir comigo já que ele iria embora amanhã e eu ia ficar cheio de saudade do meu moleque e apaguei.

Acordei com meu telefone tocando pra caralho, dei uma resmungada porque eu odeio acordar forçado, também estranhei que Mike não estava mais do meu lado e por fim peguei o telefone.

— Ligação

Pedro: Alô?
Xxx: Fala tu puto, não tem mais meu numero não? É o João caralho.
Pedro: Acabei de acordar filho da puta, nem li no visor. Que que tu quer 10 horas da manhã?
João: Falar sobre o job né, não sou tão vagabundo assim.
Pedro: E não podia ser mais tarde?
João: Não. Se liga, tô planejando voltar lá pra setembro, será que tu me liberaria esse tempo todo?
Pedro: Liberar eu libero po, mas por que tu vai ficar esse tempo todo aí? Tá viajando hein.
João: Tô me sentindo benzão aqui mane, reconciliado com a galera toda, fazendo uma desintoxicação do Rio de Janeiro.
Pedro: Tratando a gente que nem lixo, que isso, é bom pra ver.
João: Tu entendeu filho da puta, dá pra ser ou não?
Pedro: Sinto cheiro de mulher nessa parada, deixa só Mariana saber disso.
João: Tá maluco, nem fala uma porra dessa na frente dela.
Pedro: eu ri — então suave! Só que se liga, lembra que eu ia passar uma empresa pra gente entrar em sociedade, né? Vou adiar pro final do ano então, já que tu tá todo amarrado aí.
João: Ok, mas qualquer coisa eu volto, oportunidade dessa não brota do chão.
Pedro: Falou!

Desliguei o telefone e meu WhatsApp tava cheio de notificação. Tinha que levantar logo porque eu ia passar o dia todo no hotel hoje, mas aproveitei pra dar uma olhada nas mensagens.

Mensagens

Sarah: Ô dorminhoco, tô na padaria comendo coxinha com Mike, não se assusta quando acordar! Bjs, vou levar uma pra você. (Hoje, ás 9h)
Eu: Assim que eu gosto. Trás duas que eu tô cheio de fome! (Hoje, ás 10h15)

Eu: E aí, bom diaa!
Madalena: Oiee, bom dia!
Madalena: Acordou bem?
Eu: Mais ou menos kkkk meio estressado. Mas já já fico de boa, e você?
Madalena: Dor de cabeça por causa da cerveja, não sou de beber muito.
Eu: Que isso kkkk.
.
.
.

Fiquei trocando uma ideia com ela e depois levantei da cama pra tomar um banho e colocar uma roupa mais séria pra trabalhar. Comi a parada que Sarah comprou pra mim, deixei Mike com Letícia e parti pro hotel pra resolver umas paradas pendentes.