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02 de fevereiro de 2013

Brighton, Inglaterra – Reino Unido

Esta postura torta é tudo que você sabe
É a consequência de viver entre
O peso da família e da força da gravidade

Malcon passa o braço ao redor do pescoço de Jack. Ele sente o solavanco quando é içado para fora e colocado sobre a cadeira. Não precisa sentir do rim para baixo para ter percepção do desconforto que é outra pessoa forçando seu corpo. Depois, Jack ajuda Malcon a ajeitar as pernas e tranca o carro. Ele era péssimo nisso no começo, mais forte que Clay e muito mais sem jeito. Agora, depois de inúmeras vezes saindo juntos, sendo o motorista de Malcon, Jack quase consegue tirar e colocar o homem na cadeira de rodas com uma eficiência assombrosa.

Jack suspira, destrancando a porta do prédio e deixando o caminho aberto. Ele passa a mão na parede lateral, acendendo as luzes e nem um pouco surpreso pelo primeiro andar completamente vazio. Já é tarde e, aos sábados, a academia só funciona até 1h, quando a última turma, que é sempre de Charlie exceto quando ela precisa fazer uma troca, vai embora. Não foi bem o dia que Jack tinha em mente, acompanhando Malcon em cada vez mais compromissos. Na verdade, ele nem pode afirmar com certeza sobre como se sente, porque, foi divertido — e, no restaurante, por cortesia, ele ganhou uma enorme fatia de bolo — mas Jack se pergunta se perdeu muito em estar longe, porque Charlie é ótima fazendo planos e ela deveria ter alguns para hoje.

Depois de carregar a cadeira e Malcon para cima, subindo os degraus, Jack fecha a porta. Ele olha para os lados, as salas de aula pouco iluminadas, aproveitando-se apenas da luz vinda pelos postes na rua, tornando a sua imagem um reflexo desfigurado no espelho.

— Obrigado, Jack. — Malcon diz, virando-se para encará-lo. — Fizemos muito mais do que eu tinha planejado. E, por isso, eu me sinto disposto a te dar seu presente.

— Você não tem qu...

— Não tenho escolha. Vem, está nos fundos.

Malcon vai na frente e, sem opções, Jack o segue. Na porta fechada, eles param. A mão de Malcon está na maçaneta, esperando por algo que Jack não sabe o que é.

— Sinto muito por isso.

— Não precisa se desculpar. Não foi um dia ruim.

— Não é por isso que estou me desculpando. — Malcon abre a porta. — Primeiro você.

Jack olha sobre o ombro enquanto se move porta a fora. Ele acha engraçado o modo como Malcon está agindo, ainda que não entenda — a expressão desgostosa de lamento no rosto dele. Sua mão tateia pela parede em busca do interruptor. A luz se acende e não por trabalho de Jack. No mesmo instante que o lugar clareia, há um coro gritado de parabéns. Antes mesmo de entender o que há, vendo figuras em sua frente, Jack grita pelo susto. Ele pula para trás, encolhendo-se, a mão indo para a lateral da perna, um pouco abaixo da cintura, procurando por uma arma que não está ali. Jack tenta processar a surpresa, momentaneamente esquecido de onde estava e com quem estava. Existem poucos pensamentos em sua mente: o primeiro é que não é uma situação segura e o segundo é que, onde quer que ele esteja, é melhor encontrar algo para defesa.

O som da risada de Charlie o traz de volta. Ela passa pela multidão até Jack e então o abraça, beija, coloca suas mãos ao redor dele. De repente, Jack aterrissa na realidade. Não, não. Ele é atirado contra ela, caindo sobre o momento e engolindo em seco, sentindo as mãos frias e úmidas, o coração ainda batendo tão rápido que faz suas costelas doeram. São só seus amigos ali. Estão rindo pela reação de Jack e só viram a parte cômica. Então, na tentativa de parecer normal, coloca o braço ao redor do corpo de Charlie.

O silêncio das estrelas [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now