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19 de agosto de 2012

Sobre o Oceano Atlântico

De início pensei que você fosse uma constelação
Eu mapeei suas estrelas, daí tive uma revelação:
Você é tão bonita quanto é infinita

Charlie percebeu algo errado quando ele se levantou. Foram os olhos arregalados, a respiração superficial, os músculos travados. A corrente prateada com a placa metálica na ponta confirmou que ele não é um louco de fato; é como Sam e Charlie já havia visto o irmão daquele modo. A frequência desses episódios tinha diminuído desde que Jesse decidira que o psicólogo deveria ser um item-comum para a sobrevivência deles. Sam nunca questionou; ele sabia quando reconhecer que precisava de ajuda.

Ela imagina sua irmã, Sarah, sentindo medo ao ter que enfrentar aquela situação. Sarah é frágil, sempre foi, e Charlie nunca teve tempo para isso. Ela descobriu, quando era muito jovem, que tinha que gastar toda a energia que tinha para demonstrar segurança e ser segura. Nunca foi uma vida fácil e Charlie tem bastante orgulho por isso; não seria uma boa vida se não fosse difícil, Elliot lhe dizia nas visitas aos fins de semana, e, Deus, como Charlie detestava ouvir isso. Foi preciso muito tempo para que ele tivesse o mínimo de gratidão por ter uma vida boa.

Quando Charlie passa pelo pequeno espaço entre as poltronas, eles quase se esbarram e ela tem certeza que pode sentir a coisa ruim se agitando sob a pele dele. A vibração instável, a insegurança se agitando junto aos músculos. É um dia ruim, vovô diria só de olhar para o céu. Charlie não achou que o fosse ao sair do hotel atrasada. O dia está bonito, com o céu tão azul que poderia ser pintado.

Sabe que ele está em uma situação ruim, encurralado por opção e sem qualquer alternativa. Quando Sam começava a ficar desse modo, Charlie tinha muitas pessoas que interfeririam antes mesmo que ela pudesse respirar. Qualquer um conseguia o controle de volta — talvez porque Sam nunca tivesse chegado a pior versão de si mesmo ou talvez porque todos fossem bons em lidar com o ruim antes que piorasse. Então, estabiliza-lo e fazer a normalidade voltar era simples. Charlie quase sempre assistia, mantinha-se longe e buscava a água quando lhe mandavam. Sam não tinha um episódio sempre e Charlie quase nunca estava em Montana. Ela não precisava saber o que fazer.

Mas quando Charlie olhou para o lado e deixou sua mente vagar sobre todas as possibilidades, ela não gostou de optar por ficar quieta. Não seria justo — e também não era o tipo de comportamento que ela gostaria que alguém tivesse com seu irmão. Por empatia ou pelo puro egoísmo, Charlie decidiu que ele precisa e merece a sua ajuda. Não há nenhuma semelhança física entre ele, o homem com identificação do exército, e Sam que a faça sentir uma conexão sobre humana. Mas os olhos... Ah, como eles pesaram em Charlie.

A íris verde é marcada por sombras que a deixaram desnorteada. Não é saudável que alguém tenha tantas marcas, qualquer que fosse a idade. O estômago de Charlie se revirou. Uma parte dela quis evocar a imagem de seu irmão mais velho e usar como justificativa só que não foi possível. Em alguns momentos, a história é sobre ela e sua consciência. Todas as decisões de Charlie são para garantir seu sono porque ela não suportava o peso de um erro ou da inação; havia culpa em qualquer um dos dois.

Por isso, ela atrai sua atenção enquanto avião decola. A empatia bruta pressiona seu cérebro e ela se sente forçada a fazer algo. Cresce antes que ela percebesse e, então, estão conversando. É rápido e morre assim que o avião se estabiliza em um acordo tácito e mútuo. Charlie quer fones de ouvido, talvez um cochilo. O homem ao seu lado, porém, pede um whisky duplo.

— Não sei se beber tanto é uma boa ideia. — Charlie sussurra, comedida.

Ela entende que pressão é desagradável e não quer criar esse contexto. O homem com identificação do exército, Jack, está tão tenso quanto antes. Charlie nota que isso piora quando ele percebe como ela ainda tem a atenção nele. O copo de whisky paralisa centímetros da boca. Leva um tempo para que dê de ombros e depois vire o conteúdo pela boca.

O silêncio das estrelas [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now