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10 de agosto de 2013

Brighton, Inglaterra – Reino Unido


Jack hesita ao voltar para o interior da casa. Ele tem uma cerveja em mãos, a segunda da noite, e vê Charlie abraçar Diana. Ela é última convidada a se retirar e, ao contrário do que pensou inicialmente, a saída daquelas pessoas não faz com que se sinta melhor. Agora, além do sonolento Baloo, deitado sobre o tapete em uma fraca tentativa de manter-se desperto para o caso de ser necessário, estão apenas eles dois naquela enorme casa. O silêncio, os presentes e a incerteza de Jack compõem o cenário. Já faz um bom tempo que ele perdeu a euforia que o mantinha desperto em troca de um espaço vago no peito que tem se expandido calma e lentamente ao longo dos dias. Então, mesmo que saiba que Charlie estar ali deva ser um sinal positivo, ele não consegue ser otimista.

Ele queria ter se preparado melhor, ter imaginado com mais clareza tudo que pretendia dizer para ela. Os dias haviam se tornado excepcionalmente longos na última semana porque a calmaria tinha se tornado duradoura e Jack gastou muito tempo fazendo promessas sobre o que faria de diferente: levaria Charlie para dançar mais mesmo que fosse péssimo nisso, não criaria mais nenhum tipo de segredo, não esconderia histórias mesmo que se sentisse assustado com elas. Conforme os dias passavam, eles foram perdendo a forma e a dificuldade nas comunicações o colocou em um cenário totalmente imprevisível. As mensagens dela, por mais distantes que fossem, ainda eram algo e, quando Jack perdeu até isso, ele se sentiu incapaz de validar as promessas e planos ou de ser minimamente positivo. Seus amigos faziam isso por ele e Jack, numa mistura dolorosa de ansiedade e angustia, só queria que o tempo se movesse mais rápido, que aquele período fora acabasse e ele pudesse voltar. Se pudesse fazer isso antes do aniversário dela — só para não criar uma marca ruim na data — seria ainda melhor. Fez isso em cima da hora e, com certeza, não soube como afetou a situação. Sabe que não tornou mais fácil; só que isso não delimita o quão mais complicado deixou.

Talvez, sem os analgésicos — que não estão aliviando a dor no corpo —, sem os antibióticos e sem a mistura perigosa que criara com álcool, ele poderia pensar um pouco melhor. Talvez, com várias noites de sono, sono de verdade, pudesse encarar de outro modo. Naquele momento, porém, Jack só sentia a enorme incerteza crescendo em seu estômago, bem alimentada pelo novo gole de cerveja, e a dificuldade em decifrar a expressão de Charlie ao longo da noite. Ele viu que Diana cochichou, os olhos se erguendo para ele enquanto os lábios ainda se moviam. Tornou-se um segredo apenas delas duas, porque Jack não foi capaz de decifrar nenhuma palavra que fosse. Imaginava que tinha alguma relação com ele e com o fato de que seriam apenas os dois naquela casa — e que Charlie conseguira pensar por tempo o bastante para ter uma decisão sobre o que faria a seguir. Diana tinha sido bem gentil com ele ao longo daquela noite, sentando-se com ele para uma conversa que rapidamente esfriou para um monólogo. Jack a considerava uma amiga, mas não poderia ter certeza se tinha o apoio dela. No final das contas, nem todo o tempo e distância poderiam mudar as escolhas que ele fizera.

Charlie abraçou Diana apertado mais uma vez e, quando a soltou, também respirou com alívio. Foi capaz de sorrir antes de acenar em despedida para amiga, mantendo a porta ainda aberta só para que Diana movesse a mão e dissesse tchau também para Jack. Ele apenas ergueu a cerveja em resposta, mantendo-se em pé próximo as portas de vidro do deck. Com os pés bem fixos no chão, perguntou a si mesmo como até aquilo poderia estar doendo tanto. Fixou o olhar nas costas de Charlie, observando o cabelo, o movimento dos ombros a cada respiração. Sentiu os dedos trêmulos, uma onda súbita de náusea, uma expressão clara do nervosismo dele, quando a porta foi fechada, a chave girada. Parecendo estar em câmera lenta, Charlie girou até encará-lo de frente. Tirou os sapatos e, ainda presa a lentidão, deu alguns passos a diante, os braços se cruzando de forma frouxa em frente ao corpo. Encarou Jack, os lábios se abriram e fecharam sem que dissesse nada.

O silêncio das estrelas [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora