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02 de fevereiro de 2013

Brighton, Inglaterra – Reino Unido

Os anos passaram e mudaram o meu coração
O papel principal para uma parte pequena


— Isso é trapaça. Qualquer coisa que tenha feito depois que o relógio apitou não vale mais.

Jack ergueu o olhar para ela, usando a lateral do mindinho para esfumaçar um traço no papel. Charlie estava encolhida na poltrona nova de Diana, joelhos dobrados contra o corpo, servindo de apoio para o caderno que ela usava como uma base firme. Suas meias — coloridas, embora esse não seja o par desenhado que, mesmo depois de tanto tempo, ainda faz Jack gargalhar — estão um pouco expostas para fora da coberta verde. Ela sorri, a mesma expressão que entrou na madrugada juntamente com eles dois, fios e mechas um pouco mais grossas escapando do coque frouxo no topo de sua cabeça.

Jack apontou para si mesmo, fingindo confusão. Ele está segurando seu lápis entre os lábios porque as mãos estão ocupadas demais em manter a pasta equilibrada ou em finalizar um detalhe. Ao contrário de Charlie, tudo que usou foi um lápis preto, apontador e a borracha. Ela está rodeada por canetas coloridas e lápis de cor. Embaralhou-se com eles diversas vezes, especialmente quando a pizza terminou de ser esquentado e precisou se levantar às pressas, deixando que dois dos lápis caíssem sobre a cabeça de Baloo. Pediu desculpas diversas vezes, mas Jack tem certeza que o perdão veio de fato quando o pitbull ganhou um biscoito.

— Estou vendo o que você está fazendo com as mãos. — Charlie afirmou.

Em resposta, Jack ergueu ambas as mãos, as palmas voltadas ela, a mesma falsa expressão confusa em seu rosto. Ele colocou o lápis sobre a mesa, aproveitando-se do momento para encher as mãos com os MMs. Charlie havia comprado uma quantidade razoável de comida para aquela noite, com uma variedade grande de doces. Dispensou Jack do jantar, pedindo duas caixas de pizza que, sendo apenas eles dois, sobrariam com total certeza. Às 2 da manhã, completamente despertos fosse pela overdose de açúcar ou pelo fato de que tudo está indo bem demais para dormir, eles ainda têm muita comida sobre os pratos dispostos na mesa.

— Tem que mostrar no três? — Jack inquiriu após terminar de mastigar.

— Sim. É bom que saiba que o fato de ser seu aniversário não me fez pegar leve. Foi uma competição séria.

Jack assentiu. Ele arrastou o corpo para frente, cortando um pouco da distância que havia entre os dois. Charlie se sentou distante para garantir que ele não espiasse o trabalho dela e nem que ela o fizesse. Quando o cronômetro começou, Jack ficou total e inteiramente focado nos rabiscos ainda sem forme sobre o seu papel. Charlie, porém, gastou uma parte do tempo com o rosto um pouco erguido, os olhos focados nele, apenas se divertindo em observá-lo. Vê-lo desenhar ainda era um evento extremamente recente e raro e, em todas as poucas oportunidades, fora incrivelmente divertido. Ela sabia que Jack estava gostando do que fazia pelo modo como quase nada desviava seu foco. Poucas vezes, vira-o direcionar tão completamente sua atenção — e poucas vezes vira o brilho nos olhos direcionado para o que fazia.

Charlie segurou com firmeza nas laterais do papel e do caderno. Assistiu Jack fazer o mesmo enquanto ela contava lentamente, o indicador descendo e subindo pela pasta escura que, agora, abrigava grande parte dos rascunhos dele. No exato momento que o três foi dito, Charlie estalou o papel ao girá-lo um pouco rápido demais. Jack demorou um pouco para notar a ilustração feita, ocupado em virar o seu com mais cautela. Ao perceber, ele riu, verdadeiramente divertido com os traços infantis e coloridos que recriaram Baloo sobre o tapete colorido. Charlie, em contrapartida, tombou o rosto, o cenho franzido em desgosto; sabia que o desenho não estava completo, mas a ilustração de Jack, sua versão incompleta de Baloo, era muito mais realista e bem feito que o dela.

O silêncio das estrelas [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now