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12 de junho de 2013

Brighton, Inglaterra – Reino Unido

Estamos vivendo nesse castelo de cartas

Que puxa e empurra com o ar


Barbie deu uma carona para Charlie naquela quarta. Era incomum que as duas conseguissem sair no mesmo juntas porque Barbie, com a agenda mais leve, sempre batia o ponto alguns minutos mais cedo enquanto Charlie, não exatamente por vontade, acabava prorrogando o tempo o suficiente para finalizar o que quer que tinha em andamento no arquivo do Word que poderia ter sido recém-aberto ou já ter algumas semanas de duração. Naquele dia, porém, as duas puderam ser liberadas no mesmo exato horário. Houve uma grande reunião com um planejamento geral para as próximas semanas — e foi quando Charlie pôde mensurar o exato tempo que teria de folga — pouco depois do almoço e então, todos foram oficialmente liberados. Desde o final da semana anterior, o clima na edição do First Hour era muito parecido com o clima escolar que se instala logo antes das férias, quando os estudantes ainda não têm todas as notas e poucos podem ter certeza do que virá depois do recesso. Charlie ainda se sentia segura sobre o seu futuro dentro do jornal, embora todo o resto a deixasse para lá de receosa. Ainda não tinham dito o nome de quem comprara, mas não poderiam e nem deveriam manter isso em segredo para sempre — e Charlie, que não compartilhara a informação com ninguém além de Diana, sentia uma dose crescente de ansiedade e preocupação sobre o que poderia ser dito sobre ela.

Após serem liberadas, passaram na loja de cupcakes a um quarteirão do prédio do First Hour. Era um dia excepcionalmente quente — de modo geral, aquele mês recém começado de junho parecia mais quente comparado aos anos anteriores —e Charlie tinha pena noção de que faltava bastante para o sol se pôr. A loja era a mesma em que ela comprara o bolo de Jack e onde compraria qualquer bolo de aniversário sempre que precisasse. Sentou-se de frente para Barbie em uma das mesas pequenas e redondas perto da enorme vitrine de vidro que lhes permitia ver a rua. Não pediu café e não foi por ser metade da tarde; nos últimos dias, com a cabeça um pouco mais cheia do que antes, nem mesmo o cheiro da bebida fazia bem e Charlie não pretendia se forçar demais. Escolheu o milk-shake cuja associação entre nome e foto no cardápio parecia a opção mais apetitosa e Barbie pediu dois cupcakes. Elas passaram um tempo razoável ali, aproveitando a folga não esperada ou prevista. Depois, cada uma delas comprou uma das caixas com seis opções de cupcakes para levar e Barbie, movida tanto por gentileza quanto por curiosidade, dispôs-se a deixar Charlie em casa. Ficou verdadeiramente surpresa diante da construção e, rindo, disse que ela não brincara sobre o tamanho. As duas se despediram e Charlie tirou os sapatos assim que alcançou a grama. Aquilo parecia um padrão de rotina em desenvolvimento.

Percebeu a música do piano enquanto se movia, evitando a trilha só para manter os pés sobre a terra, e tentou espiar, lançando o corpo para o lado. Sabia que só poderia ser Jack apesar dos CDs e discos de música clássica que haviam sido postos na parte dele do escritório. A princípio, ficara claro que ele estava desenhando bastante ao longo das últimas semanas, mas, tão logo puderam se assentar, Charlie percebeu que ele também estava tocando bastante. Ele não tinha o papel com a pauta correta para a partitura, mas não se incomodava em arrancar folhas dos cadernos não usados dela ou de criar linhas tortas em folhas de ofício para começar composições. Charlie já vira inúmera delas e tinha a impressão de que ou ele tinha dificuldade para concentrar o foco e a energia em uma música por vez ou as ideias para começo corriam tão rápido que ele se atropelava; nenhuma das partituras estava completa e o número de linhas escritas com a caligrafia grosseira de Jack variava de caso a caso.

O silêncio das estrelas [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now